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Entrevista

“Eu acho que os meus companheiros não vão me trair”, declara Paulo Rangel, ao dizer que não teme surpresas na eleição do TCM

Por Carine Andrade

 “Eu acho que os meus companheiros não vão me trair”, declara Paulo Rangel, ao dizer que não teme surpresas na eleição do TCM
Foto: Carine Andrade / Bahia Notícias

Filiado ao PT desde os 18 anos, o deputado estadual Paulo Rangel nunca viveu a experiência de “troca, troca” de partido, como é comum na política. No sexto mandato na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Rangel vive a expectativa de ser alçado ao cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) para ocupar o posto deixado pelo jornalista Fernando Vita, que se aposentou oficialmente em dezembro, ao completar 75 anos de idade. 

 

A favor de Rangel, conta o apoio dos 38 colegas que assinaram a lista que lhe deu o aval para protocolar sua inscrição na Mesa Diretora da AL-BA, na última quinta-feira (8). Contra, pesa o fato de o governador Jerônimo Rodrigues nunca ter declarado publicamente sua preferência, muito embora o PT já tenha feito. O deputado, que ao que tudo indica, deve ser confirmado como conselheiro após votação secreta, prevista para o mês de março, mas ainda sem data definida, diz estar empolgado com a possibilidade de exercer o cargo e com o apoio que tem recebido dos colegas.  

 

Em entrevista ao Bahia Notícias na última terça-feira (6), Rangel deixou claro que o desejo de ocupar o posto nasceu porque as pessoas “são mutáveis” e que, portanto, a mudança faz parte da vida. “Eu só não mudo ideologia partidária. Eu nunca mudei, acho muito difícil mudar agora”, cravou. Ele também revelou que segue humilde na disputa, sem sentimento de “já ganhou”, e que embora respeite o seu opositor, Fabrício Falcão (PCdoB), seguirá batalhando para ter o apoio dele, o que possibilitará que ele seja o candidato único do bloco do governo, apoiado de forma unânime pela Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), que é composta por 17 deputados estaduais, mais os 26 deputados de outros partidos que integram o governo Jerônimo Rodrigues.  

 

Perguntado se preparou o espírito para possíveis surpresas, uma vez que a eleição é secreta, Paulo Rangel foi categórico: “Eu tenho que confiar nos meus colegas. Então, eu creio que não haverá surpresas”, frisou. 

 

Para vencer a eleição de conselheiro do TCM, Rangel precisa ter o mínimo de 32 votos favoráveis na urna. Até que se concretize o pleito, os bastidores dessa ferrenha disputa prometem movimentar os corredores da AL-BA de forma eletrizante e o Bahia Notícias estará lá para acompanhar todos os capítulos. Confira a entrevista: 

 

O PT é o único partido que o senhor já esteve filiado. Como iniciou a sua relação com a legenda?

Minha vida inteira eu fui um militante do movimento estudantil, já militava na esquerda, mas alguns amigos, inclusive, se filiaram, e eu não tinha nem idade para me filiar. Talvez eu tivesse me filiado dentro da célula que eu estava, no MDB, mas quando eu completei 18 anos foi o ano que o PT foi fundado. Então, eu já me filiei ao PT. Eu fui fundador do Partido dos Trabalhadores e sigo na legenda até hoje. 

 

E como é essa relação com o partido? Eu imagino que de vez em quando deva ter alguns aborrecimentos, algumas insatisfações.

Você tem aborrecimentos pontuais de certas disputas, mas eu me sinto muito satisfeito porque nós trabalhamos um projeto vitorioso e eu tive essa oportunidade de ser um construtor. Eu conheci Lula ainda muito novo até porque a minha cidade, Paulo Afonso, depois da greve do ABC [Paulista], salvo engano em 1978/1979, Lula foi em Paulo Afonso. A cidade teve a segunda maior greve porque tinha um contingente muito grande [de grevistas], junto com Recife/PE, então Lula ia até Paulo Afonso, que foi uma das primeiras cidades da Bahia a ter um diretório do PT. 

 

O senhor já tem seis mandatos de deputado estadual e um nome forte em Paulo Afonso. Por que não disputar as eleições para prefeito, ao invés de conselheiro do TCM (Tribunal de Contas dos Municípios)?

É, eu tenho seis mandatos. Eu concorri para deputado estadual em 1994 e fiquei na 3ª suplência. Em 1998, eu fui candidato a deputado federal, também fiquei na suplência e assumi o mandato no lugar de Waldir Pires [ex-governador da Bahia, falecido em 2018]. Depois, eu concorri em 2012 e, novamente, fiquei na suplência, mas com a eleição de Luiz Caetano e Moema Gramacho [em Camaçari e Lauro de Freitas, respectivamente] eu assumi o mandato. Além da parte política, eu tive uma carreira técnica também na Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco).  

 

E porque não disputar à Prefeitura?

Eu fui um dirigente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), tive um período que fiquei muito tempo no Rio de Janeiro. Então, eu vivi muito a construção do partido. Aqui, eu fui presidente do Sindicato dos Eletricitários da Bahia, que tinha a Chesf e a Coelba. A Coelba tinha escritório em quase todas as cidades da Bahia, então nas centrais sindicais eu aproveitei para fazer contatos e ajudei no processo de organização do partido também. Então, eu virei uma liderança muito plural e isso altera muito a minha votação. Tem época que é mais forte em Juazeiro, tem época que é mais forte em Paulo Afonso, mas agora [na eleição de 2022] na Chapada Diamantina, eu tive 10 mil votos. Eu já tive muita vontade de ser prefeito de Paulo Afonso, teve uma época que eu estava numa situação boa, mas eu estava exercendo um cargo na Chesf e se saísse e perdesse a eleição eu não voltaria, então preferi continuar porque eu estava, inclusive, na coordenação do projeto Luz Para Todos, eu fui um dos primeiros coordenadores na Bahia. Esse foi o trabalho do ponto de vista social mais importante que eu fiz na minha vida e depois, para dizer a verdade, eu não estava com possibilidades eleitorais, de acordo com as pesquisas. 

 

Como surgiu o desejo de disputar o TCM?

O TCM não foi uma escolha por não ser candidato em Paulo Afonso. Como eu poderia ter sido também candidato a deputado federal, e não fui. Surgiram pessoas, nesse meio tempo, que falaram que eu deveria ser, e eu tinha dúvidas e não queria ir, mas agora eu resolvi encarar. A oportunidade apareceu, eu estou com 62 anos e, se vencer, assumo com 63 anos e fico mais de 10 anos no cargo [o limite é até 75 anos]. E espero fazer um bom trabalho. 

 

Quantas assinaturas o senhor conseguiu reunir? Quantos apoios o senhor tem?

A quantidade de apoios aumentou. Eu tenho 37, e tem mais uma pessoa que deverá assinar amanhã [quarta-feira, 7 de fevereiro]. Tem outras pessoas que estão comprometidas. Então, a lista do ponto de vista de conversa, a gente deve ter em torno de 41 apoios. 

[Ele registrou a candidatura ao TCM, na última quinta-feira (8). Cada candidato precisa ter, no mínimo, 13 apoios subscritos; a lista de Rangel foi protocolada com 38 assinaturas. As inscrições seguem abertas até o dia 27 de fevereiro]. 

 

O deputado Eures Ribeiro estava resistente em assinar em seu favor. Como o senhor conseguiu convencê-lo?

Eu tive uma longa conversa com ele, uma conversa muito boa no gabinete na semana passada, no dia que o governador começou os trabalhos [semana retrasada, na reabertura do Ano Legislativo, no dia 1ª de fevereiro]. Todos os deputados do PSD assinaram a lista em meu favor. 

 

Embora tenha o apoio do seu partido, que é o maior da Federação Brasil da Esperança [PT, PCdoB, PV] , o seu nome não é uma unanimidade no grupo porque tem o candidato comunista Fabrício Falcão. Até pouco tempo atrás, o PV tinha como candidato ao TCM o deputado Roberto Carlos, que decidiu apoiá-lo. O senhor tentou fazer o deputado Fabrício Falcão desistir desta empreitada ou chegou a conversar com dirigentes do PCdoB com esse intuito?

Eu cheguei a conversar pessoalmente, mas eu respeito o direito de Fabrício. É o desejo dele, ele vai batalhar por isso, então eu respeito o direito dele de tentar ser candidato. Inclusive, a conversa nossa foi muito educada, e não teve também uma posição final dele, se vai ter diálogo, se não vai ter, mas eu conversei com ele e foi uma conversa boa. Então, eu vou perseguir esse apoio até o fim, até porque eu que sempre fiz política a vida inteira e o PCdoB sempre foi um aliado. Eu não teria problema nenhum, se Fabrício tivesse acumulado mais apoios do que eu, eu estaria apoiando ele. Até do ponto de vista ideológico não existe diferença [entre os partidos]. Na última eleição [em 2023] eu estava apoiando Fabrício até que surgiu o nome da ex-primeira-dama Aline Peixoto e aí mudou todo o jogo. 

 

Como o senhor vê a candidatura de Marcelo Nilo? Muito embora esteja sem mandato, ele ainda goza de certa influência com alguns deputados, tanto é que conseguiu o apoio de 19 dos 20 deputados da oposição. O senhor acha que pode ter alguma surpresa, já que a votação é secreta?

Olha que pergunta você faz. Eu respeito muito Marcelo Nilo, uma pessoa que foi presidente da Assembleia Legislativa por dez anos, teve sete mandatos de deputado estadual, um de deputado federal e não chegou a se reeleger deputado federal [em 2022] porque quando se candidatou já estava muito tarde. Agora, se eu disser para você que na atual situação eu vou me surpreender, eu estarei dizendo que companheiros meus vão me trair. Eu não vou dizer isso, eu tenho que confiar nos meus parceiros. Eu prefiro confiar nas pessoas até porque ninguém foi obrigado, mas as pessoas estão me apoiando por livre e espontânea vontade. Então, eu creio que não haverá surpresas. Eu prefiro trabalhar confiando nas pessoas e não acreditar em traições. 

 

O deputado Vitor Bonfim (PV) tem sido um fiador da sua candidatura. Qual é a sua relação com ele e como se deu essa aproximação entre vocês?

Eu fui colega por três mandatos do pai de Vítor [ex-deputado estadual e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), João Bonfim] uma pessoa, inclusive, muito decente. O Vitor, eu considero muito. Hoje o Vitor, eu considero, não posso dizer revelação porque ele está indo para o terceiro mandato, mas é um dos deputados mais influentes, um dos mais competentes, e uma das pessoas que mais conhecem o regimento da Casa. E eu tenho uma relação muito boa com o Vítor. Ele é da Federação, nós temos conversado e ele abraçou [a candidatura] e, realmente, tem sido uma pessoa que tem me ajudado, tem me auxiliado. Isso não é nada além do normal, assim como eu já auxiliei outros colegas também. É uma relação de parceria. 

 

Vamos falar um pouco sobre as voltas que o mundo dá. Em 2015, o senhor presidiu a comissão que tinha o objetivo de extinguir o TCM. Nove anos depois, é candidato a conselheiro da Corte. O que mudou na sua percepção, de lá para cá, a ponto de agora querer tanto ocupar esta vaga? 

Olha, eu entendo que na atual composição o TCM tem feito um trabalho diferenciado. Se você for ver o meu discurso, era muito na linha de estrutura. Eu defendia que uma única estrutura, um tribunal só, não daria conta. Nós temos um tribunal, inclusive, que é o Tribunal de Contas da cidade de São Paulo que tem o terceiro maior orçamento do País, e eu fui convencido, a partir de vários debates, eu fiz uma reflexão, e eu hoje defendo um órgão específico para fiscalização de contas das prefeituras. A partir disso vai ser feito um trabalho maior de formação e qualificação dos prefeitos e técnicos. Então, existe uma necessidade de mudança e eu posso ajudar muito nisso, até porque as pessoas são mutáveis. Sobre o meu perfil de conselheiro, eu sou contra a visão punitiva que algumas pessoas têm porque isso acaba fazendo com que as pessoas se corrompam ainda mais. 

Tem casos aí de multas de R$1 milhão de reais e fica o questionamento: Como é que as pessoas pagam, quem vai pagar esse valor tão alto? Agora, eu vou ser rígido frente à corrupção existente. Eu conheço prefeitos honestos, pessoas direitas e pessoas que até hoje estão respondendo na justiça. Então, eu estou empolgado com essa possibilidade, com o apoio dos colegas e espero contribuir.