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Coluna

Bem mais de trinta segundos!

Algum tempo após ser lançada uma campanha no BN para descobrir novos talentos da música baiana, finalmente algo diferente me chamou aos olhos. Verdade que tenho recebido uma quantidade de indicações e sempre que posso vou ver. Claro, em sua maioria, bons profissionais, mas nada que possa dizer que seja uma revelação. 
 
Mas eis que tive a minha caixa postal invadida por uma quantidade imensa de e-mails falando que eu precisava ver, nos dias de quinta-feira, a menina pop do 30 Segundos. Engraçado é que a maioria das correspondências só dizia isso: que eu precisava ver a menina e mais nada. E olha! Estou falando de e-mails entusiasmados, dizendo que eu não iria me arrepender, que a voz dela era imensa, que eu iria ficar encantado. Foi tanta história que resolvi pagar para ver se realmente veria um novo talento na terra de iaiá, e lá fui eu ouvir o que tanto agradou aos ouvidos dos jovens sotero e politanos, ao ponto de me escreverem muito, falando dessa moça.
 
Faz tempo nessa terra que não surge algo pop que se possa degustar. Depois de Pitty, nada mais interessante surgiu no cenário, por isso fiquei mais curioso ainda. Se bem que, não vou mentir, ir ao bar 30 Segundos não era a coisa mais interessante que eu queria fazer em um dia de quinta em Salvador. Não que o bar seja ruim ou mal frequentado, muito pelo contrário. Mas a minha inegável má vontade em pegar a enorme fila que fica na porta do bar me deixou com pouca vontade de ir. Mas, como a curiosidade era maior, lá fui eu.
 
No local, sou recebido por um dos sócios da banda, que me leva para conhecer um pouco mais do espaço. Movido pela curiosidade e pelo receio de lugares fechados, ainda mais depois da tragédia de Santa Maria, observo, como quem não quer nada, se as regras de segurança foram cumpridas, como  a presença de letreiros luminosos que informam a saída e a quantidade de hidrantes. Até porque, se tudo não estivesse em perfeita ordem, ia ser outro a ficar lá dentro, não eu.
 
Depois da visita ao espaço, finalmente conheço a “menina do 30 Segundos”. Aí abro um parêntese: para a coisa ficar mais “tensa”, eu sempre gosto de me apresentar ao artista e explicar que estou ali para vê-lo, que fui somente pra assistir a apresentação dele, e que talvez disso saia uma matéria ou algo assim. Faço isso porque acredito que quem tem potencial, quem canta de verdade, o faz sob intenso stress, e nada melhor para deixar um artista novo nervoso do que dizer que está ali somente para vê-lo cantar.
 
Júlia é o nome da cantora. Confesso que a primeira impressão que tive foi de uma menina, menina mesmo. Ela me recebe em um acanhado e calorento espaço. Com voz suave, e de fala baixa, Júlia pouco passa a impressão de que canta, parece mais uma adolescente envergonhada. Começo perguntando sobre seu universo musical, e consigo saber que ela já cantou até forró mas montou uma banda pop porque tinha mais identificação com o ritmo. Conversando com ela, fico imaginando se ela cantava realmente, ou se os amigos resolveram dar “aquela força” me mandando os e-mails. Aos poucos vou descobrindo um pouco mais. Descubro por exemplo que o nome da banda é TazziVanila sendo que o Tazzi é o sobrenome dela e Vanilla uma bebida (Vanilla é um gênero de plantas trepadeiras pertencentes à família das orquidáceas. É encontrada em zonas tropicais e congrega cerca de 109 espécies. A partir dos frutos de algumas espécies obtém-se a especiaria comercialmente conhecida como baunilha /fonte: Wikipédia), que foi criada há pouco mais de um ano, que todos os músicos que fazem parte da banda são formados na área musical (Salvador - teclados, Paulo - bateria, Felipe - baixo e Daniel - Guitarra), que ela é fã de Daniela Mercury e que, daí, veio o gosto pela música. Soube também que ela e eles chegaram ali no bar, na cara e na coragem.  Enfim, tudo o que precisava saber.
 
Na conversa, ela me fala de um repertório pop, com muita Britney, Shakira, Beyoncé passando pelo rock do AC/DC. Pergunto se ela não teria algo autoral e em português para eu ouvir. Ela me responde que naquele dia não, mas que eu não iria me decepcionar com o repertório. Essa baixinha está tirando é onda de água com gás, penso eu.
 
Logo nas primeiras notas se percebe o potencial de Júlia. Olha, confesso que há muito tempo não encontrava uma voz tão boa de se ouvir. Sério mesmo, inversamente proporcional à altura dela (Júlia deve ter 1,5m), a voz da “menina” é impressionante. No começo pensei até que por estar ali e ela sabendo, deu tudo na primeira música, mas ao longo do repertório, ficou claro que Júlia canta mesmo. A cada música, minha curiosidade se aguçava e pensava: na próxima ela vacila! E nada. Na música seguinte, ficava surpreso de novo. Vendo-a no palco, segura, tranquila, vi em Júlia uma característica das grandes estrelas: o gesto do rosto. Isso mesmo! A forma de cantar com uma série de expressões faciais, de olhos fechados como que vendo a música na mente, são característicos de quem canta com a alma. Sarah Vogel, Ivete Sangalo, Elis Regina são exemplos mais explícitos dessa forma de cantar, e, amigo, quem canta assim o faz porque gosta muito, mas muito do que faz, e todas foram e são divas de sua geração.
 
Imaginei que ela fosse ficar preocupada com a minha presença pois, sendo o espaço pequeno, fiquei a não mais do que três passos do palco. Ledo engano. A menina pequena da voz grande nem me deu ousadia, cantou como se eu não estivesse ali, cantou pelo prazer de cantar. Olha, do começo ao fim do show não fiquei nem um pouco entediado. Nem com o som ruim, que atrapalhava a voz dela, nem com o batera tocando alto, nada disso me fez perder o interesse em ouvi-la. Quem diria que aquela garota de voz doce e suave tivesse uma extensão vocal tão linear e afinada como poucas que vi nesta terra de ioiô.
 
Sai maravilhado e extremamente extasiado com aquela voz. Me deu até vontade de voltar pra ouvir de novo, e vou voltar. Pensei que fosse de começo encontrar mais uma patricinha querendo ser cantora, mas vi que encontrei uma estrela, faltando ser descoberta, ou mostrada ao mundo.
 
Uma estrela com, me perdoem o trocadilho, bem mais de trinta segundos!
 
Luis Ganem
 
twitter @luis_ganem