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Coluna

Os três estágios da Música Baiana: Céu, Purgatório e Inferno. Qual o seu?

Normalmente, fico sempre contemporizando em falar mal ou de algo ou de alguém. Não sou de ficar o tempo todo dando porrada em algo, primeiro porque não resolve e, mais do que isso, ao invés de ajudar o sujeito(a) a resolver o problema, acaba prejudicando. No final, ninguém entende que sua intenção era atingir o problema e não a pessoa, o que, convenhamos, nem eu acreditaria, diga-se de passagem.

Mas sempre acabo esbarrando no dia a dia com produtores comerciais (vendedores de show) e, entre um papo e outro, entrando no assunto que nunca quer calar: como anda a nossa música!

Sinceramente falando, ficar se repetindo em um assunto é chato, mas parando para ouvir essa galera que vende shows, não posso ficar calado em emitir mais uma vez a minha opinião.

Para não ficar um texto repetitivo, vou transpor a historia do meu modo lógico: o que ouvi outro dia da galera de venda de shows.

Para quem não sabe, existem, no linguajar de quem vende show, três níveis de classificação para a venda: Céu, Purgatório e Inferno. Pensou que eu fosse falar de bom, regular e ótimo? Seria muito fácil, mas os caras que vendem show de axé hoje, regulam o mercado assim.

Dentro dessa definição, foram criadas fórmulas para identificar em que nível anda um produto proposto para venda. O mais engraçado dessa divisão é que, por mais incrível que pareça, no decorrer das conversas – até porque não foi somente com uma pessoa, mas com varias – alguns produtos oscilaram do Céu ao Inferno com uma velocidade impressionante.

Mas, daí, você leitor pode e deve estar perguntando: como faço para analisar em que nível o produto que gosto ou admiro está? Qual fatores foram levados em conta na análise do mercado feita por essa galera?

Bem, para não deixar ninguém na curiosidade, vou aqui cumprir o meu dever cívico de descrever cada nível e cada um que tire as suas conclusões. Apenas informo que a diferença entre o melhor nível e o pior pode ser um pequeno detalhe, bem pequeno por sinal.
Começando por cima, o Céu é o paraíso do artista. Normalmente quem está nesse nível tem muitos anos de estrada, carros, casas e tudo mais que o luxo e a fama podem dar. Digo anos de estrada porque é raro um novo produto fazer um sucesso da noite para o dia. No Céu quase tudo é na base do pirlimpimpim: você pensou, acontece, sem precisar fazer força. O que fiquei mais impressionado no papo com a galera de vendas é que hoje, na ótica de alguns deles, já não se conta em umas das mãos os artistas que estão no Céu. Soube inclusive que grande(s) estrela(s) de nível Céu estavam fazendo show para somente duas mil pessoas, fora outras besteiras que rolam mídia afora.
 
E aí vem o nível Purgatório. Amigo, pense em um nível estilo corda bamba. Se no Céu o que mata é o cansaço do público com o artista, no Purgatório o que mata é o cansaço do próprio artista ($$$$$$). Pense em um nível sacana. Olha, a coisa é tão ruim, tão ilusória, que nesse nível estão todas as boas sensações do sucesso: holofotes, a paparicação dos fãs e da produção, passando pelo momento óculos escuro (hora em que o artista começa a andar no shopping e põe a lupa crente que vai ser reconhecido) e pelo carro importado financiado. 

O Purgatório é a hora do sonho. Mas, diferente do que se pensa, nada é real, ou é quase tudo é real. É o lugar onde você dorme rei e acorda plebeu num piscar de olhos. Nesse lugar, é bom saber, só lhe tratam bem enquanto você tiver “fôlego”. Quem sai do céu e cai nesse lugar, normalmente, ou se recicla ou vai parar no andar de baixo.

E aí, finalmente, vem o Inferno. Nesse nível, amigo, pode estar qualquer um. Do(a) artista que tem dinheiro e estava no céu, mas tem ciúme dele – o dinheiro – e não mostra nem dá para ninguém, à grande promessa da música, que de tanto se achar, se perdeu, passando pelo empresário que ainda pensa que tem nome ou vive somente dele. No Inferno o esquema é pior que ônibus em fim de tarde em terminal rodoviário. Quem está tentando subir é puxado, e quem está dentro, não quer sair de jeito algum. Quem chega no Inferno vindo de cima só volta por milagre e se não voltar vai gastar no desespero tudo o que juntou de dinheiro no Céu. Vale tudo nesse nível. Pense em uma desgraça, no Inferno tem. Pense em um esperto, no Inferno está cheio. Banda nesse local apanha mais que mala véia ou mulher de vida fácil e mesmo assim sorri o tempo todo. A coisa é tão braba neste lugar que, para subir, vale tudo. De presente caro às pessoas certas a te chamar de parceiro a convites para jantar e almoçar e dizer que está fechado com você. Tudo é válido.
Se você, leitor, conseguir ver alguma banda ou artista em um desses níveis e quiser me falar, é só me escrever. Prometo que só conto para Natalia Comte.

E pra quem está começando e sonha em chegar no Céu, só posso dar um aviso: quanto maior a altura, maior vai ser a queda.

Lá ele!


Luis Ganem
 
Twitter: @luis_ganem