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Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

Nagib fala dos seus empreendimentos e revela porque a boate Fashion mudou o nome para Madrre


"Toda casa noturna tem um tempo de vida"

Tem gente que nasce com “tino” para os negócios, ou que, simplesmente herda algum empreendimento da família e existem ainda casos que são puramente obra do acaso, coisa do destino e por que não dizer sorte? E foi justamente este último fator que fez com que Nagib entrasse para o mundo dos negócios, em especial, para o ramo de bares e casas noturnas. Porém, em todos esses casos, o empreendimento, por um motivo ou por outro pode não dar certo e chegar ao fim. Mas isso não foi o que aconteceu com Nagib. Ao contrário, ele deu tão certo, que hoje, é dono de casas badaladíssimas como a Boate Madrre, o Bohemia, o Caranguejo do Sergipe e por aí vai... O segredo? Está revelado nesta entrevista concedida à Coluna Holofote.

Coluna Holofote: Como é que você entrou nesse ramo (bares e casas noturnas)?
Nagib:
Há 9 anos atrás eu  me reencontrei com um amigo meu, o Hamilton, que já era sócio do Caranguejo do Sergipe da Barra. Ele tinha outro sócio e não estava muito satisfeito com a sociedade. E aí eu fiz uma proposta pra ele de comprar o lado do outro sócio e eu ficar junto com ele no negócio. Foi daí que a gente começou. Porque eu enxerguei que o Caranguejo do Sergipe era um bar que tinha um grande potencial de crescimento. Eu vi que era uma casa que tinha uma localização muito boa, privilegiada, já existia um movimento e que, se déssemos um tratamento na casa, tínhamos condições de ampliar muito o faturamento e melhorar muito o negócio. Enfim, tudo se iniciou aí, há 9 anos atrás.

CH: Mas antes você trabalhava com quê?
N:
Já fiz muita coisa. Eu sou formado em Administração. Antes de me formar, eu era atleta profissional. Eu nadava. Participava de campeonatos brasileiros, sul-americanos... Por isso, eu comecei a minha carreira de administração muito tarde. Eu já trabalhei com meu pai, que era o dono das lojas Daya. Depois iniciei a minha carreira com o grupo Serra da Pipoca que era o grupo da Odebrecht, sendo que eu era subgerente do posto de gasolina e lojas de conveniência. Depois fui para São Paulo gerenciar esse projeto, e lá era um complexo. Tinha a Pizza Hut, a loja de conveniência, distribuidora da Peixe, posto de gasolina, enfim, um complexo grande. Aí passei 1 ano em São Paulo, criei uma experiência boa lá. De lá eu montei outra loja, uma loja de roupas no shopping Barra, era uma loja chamada Iones. Aí fui gerente de marketing do Correio da Bahia por um ano. Saí de lá e comecei o projeto dos bares.

CH: Você realmente já trabalhou com muita coisa. Esta questão de estar trabalhando com bares é porque você viu uma forma de ganhar dinheiro aí, ou realmente você se identifica com isso? 
N:
Na verdade eu gosto de fazer as duas coisas: gosto de trabalhar para empresas grandes, bem estruturadas e gosto também de ser empreendedor. É por isso que muitas vezes, na minha carreira, eu mesclei essa coisa de ir para um lado e depois ir para o outro. Isso eu acho que é bom porque me dá experiência nos dois lados e eu sempre fui comerciante e querendo ou não bar é comércio, é negócio, é lidar com gente e eu sempre fui uma pessoa de network bom, sempre tive muitos amigos e tenho um relacionamento bom no mercado. Eu gostava do bar e resolvi apostar nessa idéia. Mas nunca foi sonho meu, entendeu? Aconteceu. Uma oportunidade de negócio que eu enxerguei ali, naquele bar e disse: “- Pô, isso aqui vai dar certo.”

CH: E a Madrre? Você começou com a Madrre como? Na verdade começou como Fashion, né?
N:
Na verdade, depois que as coisas no Caranguejo deram certo, Hamilton tentou me convencer que ao invés de virar sócio do Caranguejo, eu deveria abrir um bar novo. Eu não quis, preferi ficar no Caranguejo e ele abriu junto com Maurício... O Bohemia. Na realidade o Caranguejo de Sergipe reinaugurou já com minha participação e um mês depois Maurício e Hamilton inauguraram o Bohemia. E durante um ano ficou Hamilton e Maurício no Bohemia e eu com Hamilton no Caranguejo.

CH: Só o da Barra?
N: Só o da Barra. Até que a gente começou a trabalhar no escritório, os três juntos, aí a gente resolveu montar o terceiro negócio juntos. E começamos a procurar um outro ponto pra botar: ou um outro Bohemia ou o Caranguejo na Pituba. A idéia era essa. E aí, nesse meio tempo nós fomos convidados a virar sócios da Fashion Club, que er,a na época, um grupo de Maringá e já tinham 7 boates no Brasil e aí convidaram a gente para abrirmos uma filial aqui em Salvador. Na época a gente começou com 10 % do negócio e aí foi crescendo a nossa participação, até que a gente comprou o negócio todo. Eu, Hamilton e Maurício juntos.

CH: Você está falando da Fashion... Mas e o Caranguejo da Pituba, como surgiu?
N:
  Quando estávamos fazendo as obras da Fashion, a gente sempre comia no restaurante Porto Madeira, que é onde está localizado hoje, o Caranguejo da Pituba. A gente viu que o cara não estava bem e aí fizemos uma proposta para transformar o restaurante no Caranguejo da Pituba. Só que, na época, o cara achava que ele estava bem. Um ano depois ele saiu do negócio e aí a gente montou o Caranguejo do Sergipe da Pituba.

CH: Qual a fórmula para fazer tudo isso dar certo?
N:
Primeiro que todos esses negócios tem algo em comum que é você trabalhar com alimentos e bebidas. Uns tem mais entretenimento, outros tem mais qualidade. Mas, basicamente a gente enxerga que se você cria um produto com a localização boa, você dá produtos diferenciados, com boa qualidade e um bom serviço e, se você reinveste nesse negócio, ele tende a ser bom. A gente acha que muitos empresários não reinvestem no negócio e também não tem o mesmo cuidado e, talvez também, não estejam preparados para a época de baixa que todo negócio tem. Qualquer negócio tem oscilação, período de baixa e a gente tem que estar preparado.

CH: O que você chama de reinvestir?
N:
Uma parte do resultado do negócio você tem que reformar, fazer ampliação. Então, toda vez, a gente mexe nas casas, reforma, pinta, ajeita, porque o cliente está sempre observando se você está reinvestindo, está trazendo ou um visual novo ou produtos novos. Porque como a concorrência hoje é muito grande, se você não tiver diferencial, não tem porque as pessoas irem para a sua casa.


"Querendo ou não, o pagode traz um público de poder aquisitivo baixo"



CH: Antes você tinha a Fashion Club, que depois mudou para Madrre. Por que essa mudança na nomenclatura?
N:
Toda casa noturna tem um tempo de vida, na minha opinião. E a Fashion já tinha passado por muitas reformas sem contar que, depois da última temporada da Fashion, a gente começou a trabalhar com banda de pagode e isso, querendo ou não, começou a trazer um público de poder aquisitivo menor. Então, para a gente mexer e trazer um público mais qualificado, a gente achou melhor mexer no conceito da casa e no nome. Seria mais fácil do que a gente relançar a Fashion e tentar trazer de novo o público de poder aquisitivo bom.

CH: A antiga Fashion fazia muitos eventos com grandes artistas. Foi palco de ensaios semanais de artistas “de nome”. Hoje, o pagode e bandas que estão começando parecem prevalecer na grade da programação de vocês. A que se deve isso?
N:
As melhores bandas de axé passaram por lá, mas só que as bandas de axé, hoje, estão num patamar de valores muito altos. Não se pode hoje contratar mais Jammil, Eva... Essas atrações, porque o cachê delas é muito alto. Então, tem que readaptar. Porque, se você voltar no tempo, nós lançamos o Babado Novo. Na verdade, nós sempre tivemos essa característica de bandas que estavam começando. Só que hoje, que elas estão estouradas, as pessoas ficam com a imagem de que elas começaram grande. O Jammil, até quando o Jammil estourou, estourou com os ensaios da Fashion. Na verdade, é uma impressão que se dá de que antes tinham bandas maiores, só que, na realidade, é o mesmo trabalho. São produtos novos de grandes produtoras... A Mina, por exemplo é do Cerveja & Cia, Via Circular é da Pequena Notável, que é a mesma de Claudinha e por aí vai...

CH: Ok. Mas você disse que mudou o nome da Fashion porque implantou o pagode e o público começou a cair. Mas agora, a Madrre também tem o pagode em sua grade... E aí?
N:
A gente resolveu fazer isso porque a gente chegou à conclusão de que a casa precisa ter uma agenda eclética. Sempre teve e vai ter. O que eu não posso é fazer quatro dias de pagode, como a gente fez na última temporada de verão, que a gente tinha vários dias só com banda de pagode e praticamente era essa a agenda da casa. Essa é uma opinião nossa, pode ser que esteja errada: você tendo num dia de terça-feira uma banda de pagode, você não vai comprometer tanto o resultado dos outros dias. Tanto é que a gente tem tido festas, como as que rolam no sábado com música eletrônica, em que o público A está freqüentando e, às vezes, ele vai até dia de terça-feira pro camarote. Porque a festa de pagode também tem uma área mais reservada, que é mais cara, que é o camarote. Na verdade a gente fez um projeto bem sucedido na Madrre em relação à Fashion que, hoje, a gente tem as áreas vips muito mais definidas e com o serviço muito melhor do que tinha antes. Então, isso faz com que o público, mesmo no dia que tenha uma atração mais simples, ele sinta vontade de vir pra cá, porque ele sabe que ele vai ser bem atendido e sabe que vai ter uma área reservada pra ele. Resumindo, a gente conseguiu manter o público selecionado em harmonia na casa, mas também tem que ser eclético e tentar fazer um pouco de tudo, até porque a casa não tem condições de abrir 6 dias ou até 4 dias com o público A. Ele não vai freqüentar todos os dias da casa. No máximo, ele vai dois dias.

CH: Mesmo assim, você não acha que isso pode prejudicar a imagem da boate ou influenciar de maneira negativa?
N:
Influencia, mas a gente acredita que a forma correta é essa. Cabe a gente, agora, voltar com uma grade mais limpa depois do verão, sem pagode e com eventos mais bem classificados. Pra chegar em julho e poder, talvez, arriscar um dia de novo com um produto mais popular e, no verão, mais uma vez. Sendo que sempre mais comedido, jamais pesando a mão de uma forma errada.

CH: As pessoas reclamam muito da brutalidade dos seguranças de bares e casas noturnas, em especial os da Madrre. Como você encara isso?
N:
É, a gente chegou a ter alguns problemas com seguranças. Mas eu acredito que, em particular, nós tivemos problemas muito sérios com uma pessoa e o pai desse menino é advogado e ele colocou todos os processos que estavam correndo à tona e mostrou à toda a imprensa. Mas, sinceramente, entre pesquisas feitas por nós em delegacias e tudo mais, a quantidade de problemas que a gente tinha na Madrre era muito pequeno em relação ao volume de gente que passa pela casa. E você há de convir que, em uma casa que se tem bebida, paquera, sempre vai ter algum tipo de problema. E os seguranças estão lá para fazerem o papel deles. E o cliente, por sua vez, não gosta de sair da casa, seja qual for o problema. Então, existe uma convergência que é muito séria. O cara bebeu, mexeu com a mulher de outra pessoa... Ele vai ter que ser expulso da casa e, nesse momento que ele é expulso, ele vai criar problema e o segurança não tem como tirar uma pessoa que não seja de uma forma mais abrupta.

CH: Então você está de acordo com essa atitude desses seguranças?
N:
Veja bem, qualquer que seja a forma, vai gerar um processo contra a casa. Então assim, eu achar que os seguranças agiam de uma forma mais violenta que os outros, eu não acho. O problema é que existe um segurança que recebeu um murro de um cliente e revidou. Só que segurança é gente também e não tem o nível que a gente gostaria que tivessem. Então, acontece.

CH: Como é que feita esta contratação? Existe um treinamento?
N:
Por mais que a gente pare e faça um treinamento, são pessoas que não tem o mesmo nível que a gente. A gente sempre mexeu em treinamento, a empresa exige que tenha, a empresa é toda regulamentada, tudo isso, mas exceções acontecem. Hoje é a mesma equipe, o mesmo treinamento, mas só que as coisas tem acontecido de forma mais natural e a gente teve esse problema pontual que o cara cutucou 6 processos, levou à imprensa e foi um desgaste muito grande pra casa. Inclusive, esse foi um dos fatores da gente ter mudado o nome da empresa, porque o nome Fashion estava muito desgastado.

CH: Estamos passando por um processo de crise mundial, essa crise abalou a sua casa? Vocês tiveram que fazer cortes ou redução de custos?
N:
Em Salvador, eu acredito que, no nosso ramo, as casas consolidadas ainda não sentiram a crise, pelo fluxo de gente do verão que a cidade, com essa questão do dólar e tudo mais... A cidade começou a receber muitos turistas e eu acho que vai permanecer durante todo o verão. Agora, a gente começa a sentir algum reflexo, por exemplo, na captação de patrocínio. As empresas estão segurando um pouco mais a mão. Eu acredito que, depois do carnaval, a gente vá sentir realmente a recessão, mas hoje a gente não tem o que falar da crise. Por enquanto, é especulação. Quanto aos cortes, ao contrário, contratamos bastante para o verão.

CH: Para você, Salvador é carente de espaço para receber grandes atrações?
N:
Com certeza. A cidade não tem nenhum espaço adequado para grandes shows como São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Recife tem... Salvador não tem. O que, na realidade tem, são adaptações de alguns lugares públicos ou privados, como é o próprio “Festival de Verão”, que é uma adaptação e que não explica um investimento pra fazer um show único. Então, não tem condição de fazer. Ter uma casa para receber 10 mil pessoas, climatizada, com serviço de banheiro e bar... Não vai ter tão cedo.

CH: O que você acha da Lei Municipal que proibiu a cobrança da taxa de consumação mínima? Qual foi a reação do público?
N:
Eu discordo completamente. Eu acho que ela pode até caber para os bares, porque você cobrar no bar uma consumação mínima é você proibir a entrada de um certo público, mas na boate ela funciona de uma forma diferente. Na verdade, ela é uma opção mais simpática de você atrair aquele cliente que se incomoda de pagar um ingresso. Então, na verdade, ela não é uma imposição. É uma opção a mais, mais agradável, inclusive, que a opção do ingresso pro cara poder dizer assim: “ou eu pago o ingresso, ou eu pago a consumação”. Então, aquele cara que consome, ele tem a opção de não pagar ingresso nenhum e conseguir pagar somente o que ele consumir. E aí, com isso, a gente foi obrigado a cobrar ingresso de todo mundo. Antigamente a gente ainda dava essa opção. Então, eu acho a atitude de quem fez essa lei arbitrária e quem a fez não tem conhecimento nenhum sobre como as coisas funcionam e acabou impondo através do Ministério Público. Eu não esperava que isso acontecesse. Isso é um absurdo e não faz o menor sentido. Quanto a reação do público, a gente teve uma queda de consumo muito grande e também a perda de alguns clientes. Porque essas pessoas que não gostam de pagar ingresso, não vão mais.

CH: E sobre a imprensa? Surgiu um boato de que a Madrre estava selecionando qual veículo de comunicação entraria na boate. Isso é verdade?
N:
De jeito nenhum. A gente jamais fez esse tipo de coisa. A gente só quer que as pessoas se organizem. A gente tem parceiros que freqüentam a casa o ano todo e que fazem a cobertura da casa o ano todo. A gente não acha certo que chegue somente em determinado evento quem, por acaso, aquele veículo ache que está estourado e chegue lá pra fazer uma cobertura sem ter feito um contato prévio, uma autorização prévia, um acordo com a casa... Então, a gente só quer regulamentar o negócio. Porque há de se entender que existe uma quantidade muito grande de sites que dizem fazer coberturas e quando se vai ver, não existe um trabalho sério por trás. O que a gente faz é peneirar e organizar a entrada.


"Se eu arriscar fazer dois dias de música eletrônica no verão, eu não vou ter público"


CH: Sendo considerada uma das melhores boates de Salvador, você não acha que a Madrre acaba perdendo as suas características de boate quando abre o espaço para os ensaios de verão?
N:
Eu não posso lhe dar certeza não, mas eu lhe digo com boa margem de acerto que se a gente partisse pra fazer três dias de boate, com certeza, um ou dois estariam vazios. Não tem demanda. Quando você abre uma casa como essa, você recebe muitos turistas e o turista que vem para Salvador, ele quer ver axé e não música eletrônica. Então, a gente acha que as pessoas vêm pra cá pra curtir a agenda do que é Salvador. E se eu arriscar fazer dois dias de música eletrônica no verão, eu não vou ter público pra isso. Pode ser que eu esteja errado, mas eu tenho a visão de que eu tenho que ter um dia só de música eletrônica. A gente pretende, depois do verão, ser mais agressivo de novo pra tentar fazer mais um teste, mas será um teste. Se não der, volta ao formato de fazer banda mesclando com música eletrônica e por aí vai.


Por Fernanda Figueiredo