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Entrevista

Jorge Vercillo celebra 30 anos de carreira e aconselha nova geração a buscar marcas para além do hit

Por Bianca Andrade

Jorge Vercillo celebra 30 anos de carreira e aconselha nova geração a buscar marcas para além do hit
Foto: Ricardo Nunes / Divulgação Vivo Rio

Encontros, Elos, a união dos Jorges. Se formos parar para pensar, ao longo de 30 anos de carreira, uma das missões de Jorge Vercillo na música foi promover conexões. Seja no 'Encontro das Águas', primeiro disco lançado pelo carioca em 1994, ou no 'Elo', feito pelo artista em 2002, que rendeu ao cantor uma marca de 1,5 milhões de cópias vendidas e o selo de disco de diamante, com hits como 'Que Nem Maré' e 'Homem-Aranha'.

 

Quando o tópico é união, o artista vai além do óbvio na referência à discografia, como o projeto ‘Coisa de Jorge’ em conjunto com Jorge Aragão, Jorge Ben Jor e Jorge Mautner, de 2007. Vercillo promoveu um verdadeiro encontro de gerações com suas músicas que alcançaram o público de todas as formas, mas especialmente na TV, com as trilhas sonoras de novelas, tornando-se um recordista na Globo com 23 canções em tramas da emissora.

 

Foto: Lucas Allegretto/Divulgação 

 

Não dá para dizer que em algum momento da vida você não cantarolou um sucesso sequer do multi-instrumentista brasileiro, que, se passar mais um tempinho em Salvador, ganhará o título de cidadão soteropolitano. A cidade, inclusive, foi uma das responsáveis pelo despertar de Vercillo como um grande artista. Foi na capital baiana, junto a Fortaleza, que o cantor descobriu que estava crescendo na música e sendo ouvido em rádios, bares e lotando shows.

 

Com essa história especial, Salvador não poderia ficar de fora da celebração dos 30 anos de carreira do cantor. Jorge Vercillo desembarca na capital baiana no dia 9 de junho para uma apresentação especial que será parte de um novo registro audiovisual.


A Concha Acústica do TCA foi escolhida para receber o show, que contará ainda com a participação especial do filho do artista, Vini Vercillo, que faz parte da nova geração da música e que recebe a atenção do artista no cuidado ao produzir. Ao Bahia Notícias, o artista deixou um recado para quem está chegando: “Concentrem-se na qualidade da música e não apenas na quantidade de seguidores”.

 

Confira a entrevista completa:


Jorge, a Bahia sempre esteve presente na sua vida, de uma forma pessoal, com o laço familiar, mas também de uma forma profissional nesses seus 30 anos de carreira. O que mais te conecta com a Bahia, com a nossa cultura?

Eu tenho um samba autobiográfico que o nome é ‘Tudo Que Eu Tenho’, que fala que tudo que eu tenho foi a música que deu, e fala que eu ocupava a beça o som e os discos do meu irmão. Entre os discos que eu ouvia tinha Gilberto Gil, Caetano Veloso, Pepeu Gomes, Moraes Moreira, muitos artistas baianos. Bethânia, Gal Costa, e artistas nordestinos,  Alceu Valença, Fagner, Djavan, então, eu sou uma carioca que une a negritude da soul music e do jazz com a negritude do ijexá, do reggae, do baião, do som nordestino que tem um tanto de música moura. Então, esse ecletismo, essa diversidade, essa pluralidade, sempre esteve presente na minha na minha vida. Eu sou uma carioca que tocava na noite, mas me descobri famoso no Ceará, logo depois em Salvador. Vinha para cá fazer shows para muitas pessoas e voltava para o Rio continuava um desconhecido tocando na noite, e isso marcou muito.

 

Então, a gente pode dizer que o Nordeste faz parte da sua construção profissional e pessoal? 

De lá para cá nesses 30 anos, o Nordeste continua sendo um dos maiores polos consumidores da minha música. É a maior parte de shows, além da região Sudeste com o Rio, São Paulo, Minas que a gente faz sempre, mas o Nordeste continua. E independente disso, eu percebo o Nordeste como um dos grandes polos musicais e culturais do Brasil. Pela riqueza, pela diversidade, pela maneira com que aqui, especificamente na Bahia, vocês vivem vivenciam a cultura de vocês, o folclore de vocês. O São João, por exemplo, é algo muito maior do que no Rio de Janeiro. Eu tenho essa paixão também pelo ijexá que o Gilberto Gil trouxe, pelo reggae, e por essa negritude que a Bahia, mais especificamente em Salvador, tem muito marcado. Além da minha banda do Rio, eu tenho uma banda aqui em Salvador que de vez em quando eu faço shows, é uma ligação enorme.

 

E quanto a história pessoal, como você se conecta com a Bahia?

Tem uma ligação enorme, ‘Luz do Sol’ do Caetano me batizou na minha adolescência. Eu andava aqui pelas praias de Stella Maris com ‘Luz do Sol’ na cabeça, cantando e pegando ondas com meus primos. Eu ficava andando aqui, entrando nos riozinhos e cantando mentalmente a música e isso me marcou muito. Sou neto de avó baiana, hoje sou casado com uma soteropolitana, tem muitas ligações.

 

Foto: Nayara Andrade

 

Nesse show que você traz para Salvador e está rodando o país, o JV30, o público pode acompanhar uma viagem pela sua carreira, mas imagino que como artista deve ser difícil produzir um show reunindo todos esses sucessos e não focado apenas em um CD. Conta como foi produzir esse show.

Ao longo desses 30 anos de carreira, muitas músicas importantes eu cheguei a executar um pouco nos shows, mas acabei parando, como, por exemplo, ‘O Reino das Águas Claras’, ‘Você é Tudo’, ‘Eu e a Vida’, ‘Penso em Ti’, que é uma música que nunca tocou na rádio, mas é é muito querida pelo meu público. Acho que uma marca desse meu show é de conseguir resumir todos os meus grandes hits de rádios, de novela, mas também esses que o público sempre pede, o lado B. Como, por exemplo, ‘Avesso’, que foi composto por mim na década de 90 e se tornou um hino gay, e eu tenho muito orgulho de ter feito essa música. Tem alguns medleys também, para fundir uma música na outra e trazer uma novidade para o show, ficou muito interessante. No meio do show eu paro para fazer um voz e violão e abro espaço para pedidos do público e sempre vem algo muito bacana.

 

Um fato interessante nesses 30 anos de carreira e de vários hits é que você é um dos recordistas no ranking de artistas com mais músicas em novelas. Como é para você dar voz a sucessos que marcam gerações e qual foi a novela que mais te marcou?

Eu fico muito feliz com isso. Tiveram muitas músicas minhas que tocaram em novelas e que se tornaram sucesso por causa disso, como por exemplo ‘Ela Une Todas As Coisas’ na novela Duas Caras (2008). No início ela não se tornou um hit, mas hoje em dia é a maior, uma das recordistas no YouTube e no rádio também. Tem ‘Fênix’, que não tem tocado tanto em rádio, mas marcou muito e é um dos atos mais emotivos do meu show.  São muitas músicas, mas ‘Praia Nua’ em Tropicaliente (1994) me marcou muito porque foi a primeira vez que eu vi a minha voz cantando na televisão. Mas é um privilégio fazer parte dessa história com a música e saber que marcaram o coração das pessoas.

 

 

São 30 anos de carreira e diversas canções em novelas, e sabemos a força que a TV tem em unir gerações, também nessa combinação com a música. Imagino que nos shows você perceba um público diverso, desde pessoas mais velhas as mais novas. Como você se sente em relação a esse novo público conhecendo a sua música?

É interessante, porque assim, eu tenho três filhos, a Luísa de 3 anos, o Victor de 17 e o Vinícius de 22, e eles me dão muitas dicas. Outro dia eu fiz uma música com um produtor novo no Rio, Ariel Donato, que é da nova geração, fizemos uma música para gravar com o Delacruz, gostei muito da ideia, do trabalho dele e gravei. Tem também uma participação com o Derek, que é do rap em São Paulo. Fiz uma música com o Marcelo Mello Júnior, que é um rap sensual chamado ‘From Ipanema’, falando da nova Garota de Ipanema. A nova geração me procura para fazer parcerias e gravar coisas novas e eu tenho muita honra disso. Procuro somar com o que eu tenho para dar, mas eu tenho privilégio de poder aprender com essa nova geração.

 

Desde que você começou a cantar e a gente sabe que muita coisa mudou no mercado e eu queria saber como é produzir para esse novo modelo de consumo?

Tem algumas coisas que são muito parecidas. ‘Tu Sabes’ que eu gravei com a Meri Deal, foi produzida e composta com o Rafinha RSQ. Era um refrão meu que eu já tinha há muito tempo, mais de 10 anos é um refrão bem no meu estilo e ele trouxe elementos um pouco diferentes, a Meri também trouxe uma parte em espanhol, acabou se tornando parceira da música. Eu já produzi com o Donato, e a música que eu gravei com o Delacruz é ‘Mulher Maravilha’, quer dizer, o autor de ‘Homem-Aranha’ agora fala sobre o empoderamento feminino. A gente sempre troca muita informação, quando o Rafinha me procura, por exemplo, ele quer o lirismo e uma riqueza um pouco maior nos versos. Eu dou muito de mim, tem muita coisa parecida no modo de produzir, mas há algumas concessões, não a ponto de me mudar completamente, mas de renovar, porque eu ainda tenho o meu público.

 

 

Ao longo dos anos de carreira você já colaborou com diversos artistas, como Jorge Aragão, Djavan, Péricles, Thiaguinho, Cheiro de Amor… Falta alguém nessa lista?

Ah, tem muita gente. Na verdade, eu sou aberto aos artistas e eles a mim também. Eu acho que fica difícil a gente falar, mas tem um pessoal de samba. Já gravei com Belo, com Thiaguinho. Péricles. Acho que desse pessoal, Alcione é um nome que está faltando, e já existe uma admiração múltipla entre a gente.

 

Falamos bastante da nova geração e dos novos públicos. Para encerrar a entrevista, qual conselho você deixa para essa nova geração que decide embarcar na música, ter a arte como uma profissão, e até mesmo para quem só aprecia?

Eu quero deixar um legado. Quero que eles se concentrem na qualidade da música que eles querem fazer e não apenas na quantidade de seguidores, de plays. Porque a quantidade não é a qualidade, e é muito mais importante, o que vai garantir que esse conteúdo vai perdurar, é a qualidade. O que vai definir a permanência dele no mercado é esse diferencial. Tem muitos jovens talentosos que vem me procurar, mas sempre em busca de um hit e eu acho que acaba ficando na mesmice. Os jovens têm muitas ideias boas e essas músicas não necessariamente precisam ser apenas sintéticas. Eu fico muito animado com essa nova geração, tem muita gente talentosa cantando bem, compondo bem, e o conselho que eu deixo é que eles procurem criar a ‘Fênix’, a ‘Praia Nua’ e não apenas o ‘Final Feliz’.