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'Lá ele' e seus significados: Expressão do baianês gera polêmica nas redes sociais

Por Bianca Andrade

'Lá ele' e seus significados: Expressão do baianês gera polêmica nas redes sociais
Foto: Reprodução / Instagram / Baianês Oficial

Existe o português de Portugal. Existe o português do Brasil. Existe o português da Bahia e, dentro dele, o português de Salvador que, tenha certeza, pode confundir muita gente. Afinal, é impossível que um estado com 567.295 km² de área fale o mesmo dialeto de norte a sul.

 

Só que o jeitinho soteropolitano de falar foi motivo de um grande debate nas redes sociais nesta semana, que levantou um questionamento sobre uma das expressões mais utilizadas pelos habitantes da capital baiana, o LÁ ELE.

 

Um post feito no Twitter por um não soteropolitano fez com que não só as pessoas falassem "Oxe véi, tá viajando é?", como também pensassem "Pô véi, bote fé".

 

"Eu não sou de Salvador e conheço muito pouco algumas gírias e expressões linguísticas daqui. E fiquei sabendo hoje, na aula, que 'Lá ele' é uma expressão extremamente pejorativa, machista e homofóbica. Passado. Vocês sabiam?".

 

Foto: Reprodução / Twitter

 

Não teve esse que use as redes sociais com frequência que não fosse atrás do significado do "lá ele", e o resultado foi digno de um achado do Michaelis. Segundo uma internauta, a expressão quer dizer:

 

1. La é ele é repreender energias emanadas na minha direção. Lançou o lá ele? Tá salvo, tá amarrado em nome do Pai e do filho. (POWER, Irmã Black. Post do Frases de Baiano. Salvador: Instagram, 2021).

 

Foto: Reprodução / Instagram

 

Mas a verdade é que, para além da internet, quando surge uma dúvida relacionada ao vocabulário, o lugar certeiro a procurar é o pai dos burros. E se tratando de expressões locais, nada melhor que um Dicionário de Baianês para tirar a prova dos sete. 

 

No livreto, escrito por Nivaldo Lariú, a expressão é explicada como: "Outra pessoa, não eu". É similar ao que foi descrito pela internauta em um post da página Frases de Baiano e ao que aparece na página Baianês Oficial, criada pela baiana Roberta Magalhães, que viralizou em 2019, por trazer exemplos das expressões em aplicações em uma frase. 

 

 

 


Em entrevista ao Bahia Notícias, a mente brilhante por trás da obra afirma que, apesar do significado utilizado em seu livro, a expressão também costuma ser usada em situações que podem dar a entender justamente no que foi "denunciado" pelo internauta. 


"Majoritariamente é uma expressão utilizada em frases de duplo sentido, sim, mas tem isso também de querer dizer que é outra pessoa lá e não ele. Você percebe também que tem essa carga de humor", contou. 

 

A confusão surge por exemplos como este, no qual todas as frases que podem indicar algum ato sexual são finalizadas com um 'Lá ele' pelo cantor. O registro viralizou na web:

 

 

Autor do livro que já reúne mais de 300 mil cópias vendidas desde o seu lançamento, em 1991, Lariú, natural de Itaperuma, no Rio de Janeiro, revelou ao site que sua obra, além de ser um guia para quem não conhece o dialeto, é uma prova de amor à cidade que o abraçou quando veio para cá a trabalho ainda na juventude, pela Telebahia, na área da engenharia.

 

"Aqui eu entrei muito em sintonia com o jeito de falar. Eu costumo dizer que o baianês não é só a língua, tem o gestual, o jeito de olhar, vai além da entonação, e que são coisas só daqui. Eu vi um jeito de falar, de se expressar, diferente. Tinha umas expressões curiosas, engraçadas. Um dia um dos engenheiros baianos chegou para a gente e falou 'Bora pegar um baba hoje?', e eu fiquei 'Que p@rra é essa?' e eles explicaram que era jogar futebol na Bahia. E aí nos encontros com meus colegas baianos eu comecei a ficar atento".

 

Nivaldo conta que para desenvolver a lista de palavras do livro, além da convivência com os colegas de trabalho, passou a observar conversas na rua e no ônibus, uma espécie de graduação na fofoca, e mestrado na arte de ser "entrão", ao tirar dúvidas sobre cada expressão diferente ouvida.

 

Foto: Reprodução / Tiago Melo / Bahia Notícias

 

"Eu anotava em todo pedaço de papel o que o pessoal do curso falava e no dia a dia também, virou uma paranoia do bem (risos). Muito legal e gostosa de fazer. Eu ia para a rua, às vezes sem ter o que fazer, só para ouvir a conversa dos outros. Além do prazer de coletar as expressões para o livro, tinha o prazer de ouvir a conversa dos outros também. Eu aprendi bastante dessa forma".

 

Questionado sobre contestações de leitores nas expressões apresentadas em seu dicionário, como a que foi feita pelo internauta no Twitter, Nivaldo conta que não chegou a ter embate por isso.

 

"Durante o período que eu escrevi o texto, surgiram pessoas que ajudaram a enriquecer. Porque é complicado, os termos usados no Dicionário de Baianes são basicamente de Salvador e do Recôncavo, que foi onde eu vivi. Vem da linguagem popular, embora hoje, pobre ou rico, a maioria das pessoas usam essas expressões. Mas nunca ninguém questionou". 

 

Ao Bahia Notícias, o autor revelou que não imaginava que sua homenagem ao estado daria tantos frutos, como uma estadia permanente em Salvador e reconhecimento nacional.

 

"Ele foi feito como uma prova de amor à Bahia. Eu não tinha nenhuma noção de como faria para vender, então eu saía vendendo pela noite em todos esses bares da roda. Eu lidei com indiferença, com falta de educação e lidei com interesse genuíno. Eu fui no programa do Jô Soares, isso aumentou bastante as vendas. Deu para ganhar uma graninha que eu nunca imaginava na minha vida".

 

BAHIA GOURMET

Mas e quando a expressão precisa ganhar uma versão gourmet para ser entendida por quem toma café com o dedo midinho levantado? Os humoristas Leozito Rocha e João Pimenta ganharam as redes sociais mais uma vez com uma versão gourmetizada das gírias e expressões faladas na Bahia. 

 

Foto: Reprodução / Instagram

 

Em contato com o Bahia Notícias, Leozito, o influenciador digital que tem mais de 1,6 milhões de seguidores no Instagram, revelou que a ideia do vídeo surgiu de uma trend que já acontecia nas redes sociais. "Convidei o João Pimenta e ele topou na hora e a galera curtiu bastante a forma com que fizemos o vídeo", contou o humorista.

 

Para Leozito, que cria conteúdo nas redes sociais baseado em suas vivências locais, não perder a essência do baianês fez a diferença para o seu trabalho bombar. Se antes o exigido era que se perdesse o sotaque, agora, o ideal é criar a conexão de proximidade com o público através dos costumes de cada região.

 

"No começo tive dificuldade, pois tinha aquele lance de ter que “nacionalizar” o dialeto para que outros estados consumissem os conteúdos, mas vi que na verdade as gírias nos conteúdos era o que fazia com que eles bombassem. Hoje até nas publicidades coloco gírias, nos conteúdos, nas legendas. Porque é o que o público gosta e se identifica. Além de que tem público de outros estados que amam nossas gírias e também baianos que moram fora que matam a saudade vendo nossos conteúdos".