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Aparente crescimento local, apagamento nacional: negros na TV só chegam a 20%

Aparente crescimento local, apagamento nacional: negros na TV só chegam a 20%
Foto: Reprodução / Instagram

Ligar a televisão e ver um negro aparecer com frequência em um telejornal há alguns anos era algo utópico. E quando se fala em alguns anos, é no sentido curto do termo: o maior telejornal do país só foi ter um negro em sua banca 33 anos após a sua 1ª exibição, com Heraldo Pereira assumindo a bancada do Jornal Nacional.

 

Os tempos aparentemente mudaram e, pelo menos no jornalismo local, o público da cidade mais negra fora da África já consegue reconhecer um dos seus ao ligar a televisão e dar de cara com um profissional negro passando a informação, e não obrigatoriamente fazendo parte de uma estatística dolorosa. 

 

Este é o caso do recém chegado Felipe Oliveira, repórter da TV Bahia, que emocionou os seguidores ao compartilhar com o público as mensagens de apoio que recebe ao ostentar seu black power no "horário nobre" dos baianos.

 

Ao completar 1 mês na emissora, o jornalista, que já teve passagem pela Band Bahia, celebrou ser mais um dos rostos que inspiram jovens negros a seguirem seus sonhos.

 

 

"Aproveitando que estou completando um mês na frente das câmeras da TV Bahia para compartilhar esses registros de amor e incentivo. Impressionado com a quantidade de pessoas que se identificaram e agora se sentem representadas! É bom demais saber que a caminhada é coletiva. É sobre ocupar espaços, é sobre representatividade, é sobre mostrar que podemos", escreveu o jornalista em sua rede social. 

 

A tecla 11 tem em seu quadro Vanderson Nascimento, Camila Oliveira, Luana Assiz, Phael Fernandes, Muller Nunes, Pablo Vasconcelos, Aldri Anunciação, Georgina Maynart, Lucas Almeida e Luana Souza. Apesar de só ter tido uma bancada totalmente negra no Bahia Meio Dia 24 anos após o lançamento do jornal.

 

E um outro questionamento foi levantado no mês passado: se nas telas o espaço aumentou, não quer dizer que fora delas está tudo perfeito. Em outubro, o jornalista Hildázio Santana, que atuava como coordenador de esportes da TV Bahia, acusou a emissora de demiti-lo após uma injusta acusação de furto (entenda aqui). Após a situação, Hildário decidiu entrar com uma representação no Ministério Público por racismo contra Eurico Meira, diretor de jornalismo da emissora, além de uma ação por calúnia e difamação (veja aqui).

 

Mas além do que acontece na filiada da Globo, a força da representatividade também tem mais espaço nos outros canais abertos da capital baiana, em que jornalistas negros passaram a ganhar destaque na programação, como Henrique Oliveira, Naiara Oliveira, Vanessa Fonseca e Tarsilla Alvarindo na TV Itapoan.

 

Nomes como Priscilla Pires, Alex Lopes, Livia Calmon e Lise Oliveira são alguns dos representantes da TV Aratu. A Band Bahia conta com Emanuele Pereira e a TVE Bahia com Raoni Oliveira.

 

A diversidade da Itapoan, por exemplo, foi comemorada por Alvarindo em suas redes sociais. "Um momento histórico desse merece feed. Uma @recordtvitapoan diversa, inclusiva, com a cara de Salvador, a cara da Bahia! Parabéns a todos os envolvidos! Que a gente siga conquistando espaços e reafirmando toda nossa competência. É de uma felicidade imensa participar desse momento".

 

 

 

Ao Bahia Notícias, Tarsilla comemorou o avanço que foi visto nos últimos anos, principalmente com mais mulheres negras ganhando espaço nas telinhas. Mas reforça: ainda precisamos avançar muito. "Infelizmente, apesar de termos mais visibilidade, o acesso aos espaços de poder ainda é muito baixo em diversas profissões. Se você olhar o mapa de profissões, se repete em várias delas, desde o jornalismo ao Judiciário. Principalmente na Bahia, que é majoritariamente negra, mas não é refletida nos espaços de poder, na política, na advocacia, e em diversos outros espaços majoritariamente brancos. Infelizmente é o retrato que temos no país", avaliou. "Esses avanços chegam muito por conta desse acesso à universidade, às políticas de cotas, que favoreceram muito pra ocuparmos alguns espaços. É uma reparação histórica", completou.

 

Apesar da mudança a olho nu, os números que vão mais a fundo mostram um cenário de disparidade na equidade racial no jornalismo. De acordo com o levantamento divulgado pelo Perfil Racial da Imprensa Brasileira, no país, apenas 20,10% dos jornalistas são negros. Foram entrevistados 202 profissionais para a pesquisa.

 

O documento, apresentado durante o X Seminário Internacional Diálogos Antirracistas, que faz parte da programação da Semana da Consciência 2021 da Universidade Zumbi dos Palmares, mostra que o número é quase dois terços menor do que a população declarada negra no país, 56,20%, de acordo com a última projeção feita pela PNAD/IBGE em 2019.

 

O levantamento coloca a Bahia em 5º lugar onde mais se emprega negros no jornalismo, com apenas 4%, enquanto São Paulo domina o ranking com 44,1%.

 

Dos profissionais empregados, 38,6% assumem cargos gerenciais e 61,4% estão em cargos operacionais, sendo grande parte deles trabalhando como repórter ou apresentador. 

 

Para Tarsilla, o racismo estrutural está diretamente ligado não só às oportunidades que são dadas aos negros, mas também a como eles são tratados nos ambientes de trabalho. "Existem melhorias, mas ainda há um racismo estrutural muito forte no nosso país, que vendeu por muito tempo esse mito de democracia racial e acabou fazendo com que pessoas naturalizassem atitudes racistas, que o lugar do negro era o de subalterno. Por mais que a gente tenha avançoo, ainda precisa formar uma população pra um olhar mais humanizado para a população negra, para entender que não aceitamos mais o que foi feito durante todos esses anos. A gente ainda precisa falar de racismo, precisa ter um dia como o da Consciência Negra, não só pra celebrar nossas vitórias, nossas lutas, mas para mostrar que ainda temos muito o que fazer. Um país que mata 26 jovens negros por dia não pode ser considerado um país que avançou na pauta racial", lamentou.