Daniela Mercury celebra "O Canto da Cidade" com novo trio e exalta artistas que construíram a música baiana
Por Bruno Leite / Lula Bonfim
Daniela Mercury sai, nesta sexta-feira (17), apresentando o seu novo trio elétrico ao circuito Dodô (Barra-Ondina). É o trio “O Canto da Cidade”, em homenagem à música homônima que a consagrou nacionalmente em 1992. A cantora baiana afirma que a canção é herança da cultura afro-baiana, dos artistas que vieram antes dela e também da formação política que ela possui.
“Essa música veio dos blocos afro. A ideia de se cantar afirmativamente por causa da luta contra a opressão. Eu, que sempre fiz um trabalho muito político, na via da MPB, encontrei nesse tipo de poética uma nova linguagem, que tinha a ver comigo, com minha personalidade e com as lutas que eu queria encampar na minha vida. Eu aprendi a fazer música dançando Divino Maravilhoso, Proibido Proibir, na época da ditadura, quando eu era criança”, afirmou Daniela, em entrevista ao Bahia Notícias.
Segundo a cantora baiana, “O Canto da Cidade” internacionalizou o carnaval de Salvador, dando prosseguimento ao trabalho feito por Caetano Veloso nos anos 1970, com o lançamento do frevo “Atrás do Trio Elétrico”.
“Depois de Atrás do Trio Elétrico, de Caetano, nos anos 1970, quando ele chama a atenção para o trio elétrico, o Canto da Cidade definitivamente consagra o Carnaval da Bahia. Faz o povo Brasil inteiro, do mundo inteiro, prestar atenção no Carnaval, que não chamava muita atenção porque a gente tem o Carnaval do Rio, que é televisionado. Inclusive, as televisões vieram para cá. Então é um marco sim de mudança de paradigma”, declarou Daniela.
Foto: Bruno Leite / Bahia Notícias
Para ela, é preciso exaltar os artistas que construíram a música da Bahia até este momento. Conforme pensamento de Daniela, o cancioneiro popular do carnaval da Bahia foi construído por muitas mãos e todos os estilos musicais tocados hoje têm origem no passado, sobretudo no samba-de-roda.
“O Brasil inteiro canta as nossas músicas. O sertanejo está usando as nossas batidas. O funk tem uma influência enorme do pagode, que é uma derivação de tudo isso – sempre houve samba, samba-de-roda e vai se transformando. O groove arrastado é uma derivação da levada do Ilê Aiyê, do samba atrasado. Todo mundo tem que agradecer a quem veio antes. Temos que agradecer a Moraes, Gal, Caetano, Gil, Novos Baianos, a todos os cantores de trio, que nos ensinaram a fazer todo isso, a Luiz Caldas, que começava uma nova fase com Sarajane”, analisou a cantora.
Daniela, que homenageia Gal Costa nesta sexta, ainda citou a coincidência dos 30 anos do Canto da Cidade com os centenários de Osmar – um dos criadores do trio elétrico – e da Semana de Arte Moderna de 1922.
“Todos os intelectuais da Semana de 22 queriam uma arte mais brasileira. Eu sou fruto disso tudo. Eu sou a geração que Caetano e Gil na Tropicália, reforçando a Semana de 22, sonharam na democracia. A gente está aqui para que a democracia chegue a todos e que O Canto da Cidade seja de quem quiser”, concluiu.