Mangueira homenageia relação da Bahia com a África através de seus blocos afros
Por Lula Bonfim
A Estação Primeira de Mangueira, a segunda maior campeã do desfile de escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro, realizou, na madrugada desta segunda-feira (20), uma grande homenagem à relação da Bahia com o continente africano, concretizada através dos blocos afros que desfilam na folia momesca de Salvador.
Com o enredo “As Áfricas que a Bahia canta”, dos carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon, a Verde e Rosa destacou a característica matriarcal do candomblé e sua influência sobre os blocos afro da Bahia, sem deixar de abordar o racismo e o preconceito religioso.
Em busca do 21º título do Grupo Especial da folia carioca, a Mangueira se apresentou com 29 alas, cinco carros, três tripés e 3,5 mil integrantes. Toda a estrutura montada pela Estação Primeira se dedicou a contar a história dos cortejos africanos que atuam no carnaval soteropolitano desde o século XIX.
O desfile mangueirense abriu, ainda na comissão de frente, com orixás saindo de uma grande gameleira branca – árvore sagrada do candomblé e identificada com Iroko, divindade também conhecida como “Tempo”.
Na sequência, a Estação Primeira apresentou os primeiros cortejos negros da folia de Salvador, construídos por africanos escravizados na cidade. O “Embaixada Africana”, uma das primeiras entidades carnavalescas afro-brasileiras, foi retratado pela escola de samba no segundo carro.
A ministra da Cultura do Brasil, a cantora baiana Margareth Menezes, foi um dos destaques do desfile mangueirense.
Com um samba-enredo empolgante, a Mangueira fez balançar a Sapucaí e fez seus torcedores descerem em peso para o sambódromo, sambando e cantando a música que cita o Ilê Aiyê, a Didá Banda Feminina, o Malê de Balê, o Olodum e o afoxé Filhos de Gandhy, grandes blocos afros do carnaval da Bahia.
A letra do samba mangueirense também cita rituais de candomblé, o capoeirista soteropolitano Mestre Moa do Katendê e uma música de Caetano Veloso em homenagem à escola de samba carioca: “Onde o Rio é mais Baiano”. Confira abaixo a música que balançou os mangueirenses na última noite, com a participação de Margareth Menezes.
A MANGUEIRA E A BAHIA
A relação entre a Mangueira e a cultura baiana é antiga. A entidade carnavalesca carioca já escolheu a Bahia como tema em outras oportunidades. Em 1933, ocorreu a primeira homenagem da Estação Primeira, com o enredo “Uma segunda-feira no Bonfim da Bahia”, vencedor do carnaval do Rio naquele ano.
Trinta anos depois, em 1963, a Verde e Rosa apresentou o enredo “Exaltação à Bahia”, que ficou em segundo lugar. Após 10 anos, em 1973, a Mangueira foi novamente campeã, com o tema “Lendas do Abaeté”, em referência à tradicional lagoa localizada no bairro de Itapuã, em Salvador.
Em 1986, o histórico enredo “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm” voltou a ser campeão, consolidando a ideia na comunidade mangueirense de que os temas baianos dão sorte à escola de samba.
O título não se repetiu em 1996, com o enredo “Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu”, em homenagem aos baianos dos Doces Bárbaros: Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Naquele ano, a escola ficou com a 11ª colocação.
A Bahia voltou a vencer com a Mangueira em 2016, com o enredo "Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá". Na oportunidade, a Verde e Rosa voltou a ser campeã do carnaval carioca após 14 anos de jejum.
Por causa do histórico de sucesso da parceria entre a Bahia e a Estação Primeira de Mangueira, os torcedores da escola de samba têm demonstrado otimismo nas redes sociais. As primeiras impressões são positivas, com o desfile mangueirense tendo sido avaliado como o melhor da noite.