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Baianos praticam “Black Money” e fomentam afroempreendedorismo no estado líder de quilombolas no Brasil

Por Leonardo Almeida / Ana Clara Pires

Baianos praticam “Black Money” e fomentam afroempreendedorismo no estado líder de quilombolas no Brasil
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Com a Bahia sendo líder no número de pessoas que se consideram quilombolas no país, com mais de 397 mil, a população negra do estado tem se unido para vencer a herança de um Brasil escravocrata. A fomentação do “Black Money”, por exemplo, tem sido um movimento importante para o fortalecimento das redes de apoio entre pessoas negras. Apesar do termo originalmente ter sido utilizado para designar o “dinheiro sujo”, na época do sistema Jim Crow nos Estados Unidos, hoje o Black Money se tornou sinônimo de empoderamento financeiro entre a comunidade negra.

 

Mas afinal, o que é Black Money na prática? Então, o movimento busca fortalecer os empreendimentos de pessoas negras, podendo ser de pequenos negócios ou de empresas maiores, formando a rede de apoio, afinal, como diz o ditado: “A união faz a força”.

 

O Black Money também visa formar lideranças dentro do cenário econômico, o que, convenhamos, infelizmente ainda é muito raro dentro do nosso contexto. Além de ser líder no número de quilombolas, 79% da população baiana se autodeclara negra, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, apesar de formar maioria populacional, a estatística não se reflete em espaços de poder político e econômico.

 

Além disso, o movimento preto também pressiona o Estado, buscando medidas públicas que insiram cada vez mais profissionais negros no mercado de trabalho e na qualificação de estudantes. Os integrantes do Black Money também pressionam as grandes empresas, para que pessoas negras tenham mais oportunidades de trabalho em cargos de maior expressão.

 

AFROEMPREENDENDO

Visando colaborar para o crescimento de negócios de pessoas negras na Bahia, a empresária Fau Ferreira fundou o Afroempreendendo em 2016. O que inicialmente deveria ser apenas um blog, acabou sendo uma forma de para prestar consultoria e treinamento para empreendedores negros, sendo por meio de palestras ou de cursos na instituição.

 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Fau contou que criou o projeto após notar a falta de protagonismo negro e decidiu tomar uma atitude para reverter o cenário. Para ela, Black Money significa fazer o “dinheiro girar” entre pessoas negras, fortalecendo o empreendimento afrodescendente.

 

“Decidi criar esse trabalho primeiro porque eu vi que não tinham muitas pessoas negras compartilhando o conteúdo na época sobre empreendedorismo, negócios, dinheiro, educação financeira. A gente também não tinha muita visibilidade para os empreendedores negros, então resolvi ser essa pessoa, de começar compartilhar sobre nós, pessoas negras, que estão empreendendo, fazendo negócio. Temos conseguido nos juntar, estou em comunidades de empreendedores negros que estão pensando em como desenvolver mais nossos negócios. Com isso, a gente consegue dar visibilidade e fortalecer nossos negócios”, disse Fau.

 

“O Black Money é isso, a ideia de fazer com que o dinheiro de pessoas pretas ele gire mais vezes em nossas mãos. Não é que eu não compre de um empreendedor branco, nem nada, falo dos brancos que concentram a renda. Então, a gente vai nos shoppings gastar nas grandes lojas, aquela que já concentra a renda e assim só vai cada vez mais nas mãos deles. Então o Black Money é o incentivo ao consumo local, de pessoas próximas, prioritariamente de pessoas negras”, explicou Fau.

 

Apesar de reconhecer o crescimento do Black Money na Bahia, a fundadora do Afroempreendendo afirmou que o movimento ainda está “longe do ideal”. Para ela, a meta é que haja um equilíbrio entre as lideranças das grandes empresas, sendo dividido igualmente entre brancos e negros.

 

“Para mim o cenário ideal é ‘meio a meio’. Assim, nós negros somos 56% da população brasileira, então falando de Brasil, era para a gente estar em todos os espaços meio a meio. O caminho ideal é quando a gente chegar em um patamar em que metade das gerências das grandes empresas sejam negras, no mínimo. Falando de Salvador, somos 85% da população, então temos sim que ocupar a maioria dos espaços de poder”, disse Fau.

 

JORGE WASHINGTON

Membro do Teatro Olodum há três décadas, o ator, produtor cultural e afrochefe Jorge Washington busca em seu dia-a-dia formas de movimentar o Black Money em sua comunidade. Para ele, mudar hábitos diários ajudam a “fortalecer um povo que é desprivilegiado por conta de um legado que foi deixado do processo de escravidão”.

 

 

O artista contou que em seu projeto Culinária Musical ele adota medidas como não fazer compras em grandes franquias de mercado. “Eu dou preferência a fazer as compras na Feira de São Joaquim, por exemplo, onde a maioria dos comerciantes são pessoas pretas oriundas da periferia. Então eu vou lá e compro na mão dele”, apontou.

 

“A equipe que eu contrato é uma equipe 100% preta. Os artistas que passam pela Culinária Musical, eu nunca disse que eu não contrato artista branco, mas na sua maioria esmagadoras são artistas e pessoas pretas. Os empreendedores que eu convido são sempre pessoas pretas, isso é fazer Black Money na prática porque eu acho que só assim a gente vai fortalecer a nossa comunidade”, contou Washington em entrevista ao Bahia Notícias.

 

Jorge também relembrou que em sua grande maioria as pessoas pretas não herdam capital de seus pais e avós, e por isso, a única maneira de ter uma vida confortável é trabalhando e produzindo muito, e é neste ponto que o Black Money se mostra importante.

 

“E aí como é que a gente se fortalece? É um puxando o outro, um sobe puxa o outro, o outro sobe e puxa o outro é assim que a gente se fortalece tudo isso para mim é black money”, refletiu.

 

O ator refletiu sobre o Black Money como pauta de discussão dentro das comunidades. De acordo com ele, esse assunto só é debatido em classes privilegiadas e em grupos que estão mais atentos à questão da internet, quem tem mais acesso à informação.

 

“Como eu te falei em relação a feira, o mesmo funciona no paredão do final de semana. A comunidade comprando a cerveja do tio do churrasco. E quem tá ali, em maioria, é o povo preto, isso é Black Money. Mas essa sigla não é discutida nessa base sabe, ela é uma discussão ainda no campo de privilégio sabe de quem tá no outro patamar de organização e visão?”, disse.

 

Quando questionado sobre o cenário considerado ideal que o Black Money pode atingir, Jorge Washington descreveu a pergunta como muito difícil de responder porque o povo preto não é detentor das grandes redes de comércio. 

 

“A gente não tem né? A nossa forma de empreender ainda não é muito, claro que tem exceções. Mas no grande mercado, nos grandes consumidores, nas grandes redes a gente não tem. Então é difícil eu apontar um mercado ideal para praticar o Black Money”, finalizou.