Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote
Você está em:
/
/
Entretenimento

Notícia

No ano do cinquentenário do Ilê Aiyê, Vovô do Ilê fala critica “falta de atitude” da população negra

Por Ana Clara Pires

No ano do cinquentenário do Ilê Aiyê, Vovô do Ilê fala critica “falta de atitude” da população negra
Foto: Reprodução / Instagram

Criado em 1974 e comprometido com a luta e a cultura negra, o Ilê Aiyê completa 50 anos neste ano. Cansado de reclamar sobre a falta de investimento privado no primeiro bloco afro do mundo, o Vovô do Ilê decidiu criticar a “falta de atitude” do povo preto, com relação às associações voltadas à comunidade.

 

“Eu estou cobrando que o povo negro faça sua parte também. Tem que ter coragem, tem que ter atitude. Nós temos que parar esse negócio de: ‘Me dá, me dá’. Quando chega nos evento dos artistas brancos todo mundo paga, com o artista negro não querem pagar. A gente precisa ter essa compreensão de que precisamos fazer o dinheiro circular entre a gente”, começou o presidente do bloco.

 

Em seguida, o líder apontou que, além de discutir isso no dia-a-dia, também é necessário que a comunidade leve isso às urnas e escolha representantes que, verdadeiramente, representem a população. “Nós precisamos participar da mesa da decisão. Nós somos a capital da negritude, mas quando chega na fotografia do poder só tem branco em todas as instâncias de poder. Só tem branco”.

 

“Isso também cabe aos partidos políticos. Na verdade, eles são todos racistas. Seja direita ou esquerda são todos racistas”, acusou o Vovô.

 

FALTA DE INVESTIMENTOS 

O Vovô do Ilê nunca deixa de relembrar que, em seus anos de história, o Ilê Aiyê se manteve graças aos seus líderes e ao apoio da comunidade, já que mesmo com seu impacto cultural, social e econômico, o bloco nem sempre recebe incentivos públicos ou privados.

 

“Os 50 anos do Ilê foram muito gratificantes, mas tiveram muitas decepções no caminho. A gente pôde ver que a nossa ideia prosperou e hoje está espalhada pelo mundo. Por um lado, nós ficamos muito felizes vendo a quantidade de jovens que formamos, mas tudo isso tem um custo. Fazer filantropia é muito bonito, mas para isso precisa de dinheiro”, apontou.

 

No momento seguinte, ele pontuou que o bloco não consegue “sensibilizar” aqueles que têm dinheiro. “Fazer com que eles entendam que é interessante investir em educação e em cultura. Esse é um discurso muito bonito dos políticos, mas na prática falta ter um parceiro. E isso nos entristece um pouco”.

 

E completou. “Mas a luta a gente não desiste nunca. Vamos continuar. Esses jovens que vem por aí tem que dar continuidade a essa luta. Tem que criar outros espaços, outras organizações sociais, até chegar ao ponto de a nossa terra não precisar de nada disso”.

 

A PRIMEIRA INVESTIDORA 

Conversando com o Vovô, ele confidenciou que a primeira pessoa a investir no Ilê foi uma mulher, sua mãe. Mais importante do que qualquer dinheiro, Mãe Hilda Jitolu investiu toda a sua fé em seu filho, quando ele anunciou, em plena ditadura, que sairia no bloco de Carnaval.

 

“Ela também abriu o espaço do seu terreiro de candomblé. Então as reuniões do bloco eram todas lá. Na época de carnaval, a costura das roupas também era no barracão. Então ela iniciou também o ritual na saída do bloco, e isso está marcado até hoje. E quando ela começou a sair junto no bloco atraiu muitas mulheres. E hoje você vê que no bloco 60% dos componentes são mulheres”, completou.

 

A diretora do Ilê Aiyê, Arany Santana, que atualmente é Ouvidora Geral do Estado da Bahia, também falou sobre a importância de Mãe Hilda Jitolu.

 

“Ninguém sabia que o Ilê teria tantos desdobramentos nacionais e internacionais. Talvez uma única pessoa soubesse disso, uma das fundadoras do Ilê que não está mais entre nós, Mãe Hilda Jitolu”.

 

E finalizou. “O nosso anjo de guarda, a mãe de santo do Ilê. Foi ela, talvez somente ela, que soubesse que o Ilê Aiyê se desdobraria em tantas coisas positivas para o nosso povo. Porque ela é a guardiã da fé e da tradição africana”.