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Filhas de Gandhy desfilam em 2024 com dívida de 2023 e buscam espaço na ONU

Por Bianca Andrade

Filhas de Gandhy
Foto: Divulgação/ Ag. Edgar de Souza

Além dos 45 anos de história, o Afoxé Filhas de Gandhy levará para a avenida em 2024 a ancestralidade através do tema 'Mulheres de terreiro detentoras do sagrado', e uma grande "dor de cabeça": a dívida feita pelo bloco em 2023 para conseguir desfilar com as mais de 700 associadas no Carnaval de Salvador.

 

A agremiação, fundada por Gliceria Vasconcelos e coordenada pela filha da veterana, a dançarina, cantora e produtora cultural Silvana Magda, vai para as ruas na esperança de que a festa deste ano seja o remédio necessário para aliviar não só as preocupações sociais, como também o bolso.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, a produtora cultural afirmou que, mesmo com o apoio público através do edital Ouro Negro, o Afoxé Filhas de Gandhy luta para que as dívidas sejam quitadas neste ano. O grupo também busca uma sede própria, já que a atual é alugada.

 

Foto: Divulgação / Ag. Edgar de Souza

 

"A nossa maior dificuldade é a econômica. A gente está fazendo o Carnaval de 2024 com a dívida de 2023. Então é nadar contra a corrente. Neste ano a gente está tentando se estabelecer. Estou confiante que o auxílio público irá ajudar o nosso cenário, mas entendo que ainda há uma desigualdade. A gente não pode olhar o feminino com o olhar de fraqueza. Precisamos de políticos e gestores que entendam que a gente precisa dessa igualdade. Não há como estar no mercado hoje sem estar igual, se uma instituição recebe 100 e a outra recebe 30, esses 70 faz uma diferença enorme."

 

O desafio do bloco também perpassa a falta de espaço, seja nas ruas e seja na mídia. Questionada pelo site sobre como a agremiação avalia a projeção do grupo, Silvana foi direta e afirmou que não sente interesse em contar a história do primeiro bloco feminino de afoxé da Bahia.

 

"O nosso espaço na mídia é muito pouco, acredito que falta interesse. Talvez se colocasse as Filhas para fazer um baile funk, aí a mídia seria imediata. As funkeiras das Filhas de Gandhy, né? Todo mundo de short, com um topzinho, seria uma sensação. Mas o que buscamos não é isso. As Filhas de Gandhy buscam manter e resgatar o que ainda tem de positivo na Bahia. É o que queremos deixar para as próximas gerações, para a civilização. Porque se a gente não tiver o entendimento que se você não mantém essas raízes você não vai para lugar nenhum. Quando um turista vem aqui, ele busca nossas raízes. Eu não abro mão dos afoxés. Nós temos uma força fundamental na propagação da cultura. O ijexá, por exemplo, é um toque forte. Como é que você tenta modificar isso?"

 

 

É com essa essência que Silvana vislumbra o espaço das Filhas de Gandhy no mundo. A coordenadora do bloco revelou que busca um espaço na ONU para falar da luta da mulher brasileira, das Filhas de Gandhy, a quem ela considera com a verdadeira "representante da Barbie" no Brasil.

 

"Nós vamos estar no mundo. Fizemos uma participação nos Estados Unidos em 2014, mas a nossa participação agora vai ser ativa. Eu quero colocar as Filhas de Gandhy dentro da ONU e falar da opressão das mulheres negras, do feminicídio, o quanto elas são oprimidas. É muito importante para a gente se estabelecer e fazer esse caminho, tenho 40 anos de América, contato com várias instituições femininas, onde elas estão vindo para a Bahia para ver as Filhas de Gandhy. As Filhas de Gandhy vão estar na ONU para falar das dificuldades."

 

Fundado em 1979, o bloco Afoxé Filhas de Gandhy já foi pensado para "fugir" da ideia de que tudo era festa e que a alegria eterna duraria apenas os seis dias de Carnaval e a meta é fazer com que esse propósito seja ainda mais forte nos próximos anos.

 

"A intenção das Filhas de Gandhy jamais foi copiar os Filhos de Gandhy, pelo contrário, buscamos proporcionar aos Filhos de Gandhy uma parceria para que suas esposas, suas filhas, suas mães, pudessem estar na avenida, juntamente com eles. Foram anos de luta de minha mãe. As pessoas pensam que essa instituição só faz o Carnaval e tá errado. Existe um olhar sensível para essas mulheres o ano inteiro. Aqui na sede nós temos oficinas, cursos, e essas ações precisam ser respeitadas e divulgadas. Agora, através do apoio público, a gente tá tentando ver se conseguimos sair da sede e ir nas escolas, nas creches, queremos estar nos bairros", afirmou Silvana.

 

Foto: Bianca Andrade/ Bahia Notícias

 

Para além do tapete branco na avenida, o Filhas de Gandhy tem uma proposta social e cultural, e foi desta forma que Noelia Pires, de 65 anos, chegou ao bloco. "Ele é um bloco que tem tudo a ver comigo, um bloco de mulheres, de resistência e que eu me identifico. Eu desfilo há quase 10 anos e conheci quando vim trazer minha sobrinha e minha vizinha para fazer aula de percussão. Essa foi a época que eu mais fiz amizade com Gliceria. Comecei a desfilar como foliã, e depois me tornei baiana. E hoje, quem bota as baianas no bloco sou eu".

 

Nájila Duarte, da equipe de produção do Filhas de Gandhy, fala sobre o projeto que trouxe mulheres como Noelia para o Afoxé. "São muitos desafios para manter os nossos projetos sociais, através de editais e na busca por patrocínio, mas a gente vem construindo da maneira que a gente pode, através das nossas aulas de percussão, das rodas de conversa. Atualmente a entidade conta com associadas cadastradas, percussionistas cadastradas, cerca de 30 mulheres, que nos auxiliam nesses cursos".

 

Ao todo, cerca de 800 mulheres são atendidas nos projetos da Filhas de Gandhy. "Através dos nossos cursos, conseguimos transformar a vida de diversas mulheres que passam durante todo o ano por aqui. A nossa ideia é que esse projeto possa estar ajudando no processo de transformação da realidade dessas mulheres, e possa contribuir na autonomia delas", afirma Franciane Simplício.

 

Foto: Bianca Andrade/ Bahia Notícias

 

Para Silvana, a transformação através da cultura é essencial para o país. A coordenadora da agremiação afirma que as mulheres, em especial as baianas, foram as primeiras empreendedoras da história, e por isso, e por tantos outros motivos, é necessário o destaque e o espaço aos movimentos que exaltam o feminino e a ancestralidade.

 

"Venho lutando há anos para fazer com que a imagem da baiana seja a Barbie do Brasil, porque a mulher brasileira é a imagem da mulher trabalhadora. A baiana foi a primeira empreendedora brasileira. Elas representam muito, Carmen Miranda, filha de portugueses, que tem estrela na calçada da fama em Hollywood, bebeu da nossa fonte, da imagem da mulher baiana, chegou a hora da gente se estabelecer com a nossa própria imagem e ser o símbolo da mulher brasileira."