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PaGOD? Versões em gospel de hits do pagode baiano viralizam nas redes sociais

Por Bianca Andrade

Versões em gospel de pagode
Foto: Instagram

O advento da inteligência artificial proporcionou aos amantes da música sensações especiais e inesperadas, como, por exemplo, a de ouvir a voz daquele artista que já se foi em uma nova gravação.

 

Mas nem os mais desacreditados da criatividade da mente humana poderiam imaginar que alguém transformaria os maiores sucessos do pagode baiano em música gospel, quase levando o trocadilho "PaGOD" ao pé da letra. Quem diria que um "vai seu derrubado, caguete discarado" daria um bom louvor?

 

Na última semana versões de alguns dos hits do pagodão caíram nas graças do público ao serem transformados em "louvores". Entre os escolhidos para passarem pelas mãos da Inteligência Artificial estão 'Derrubado' de No Styllo, 'Vaza Canhão' da época que Robyssão era do Black Style, 'Ovo de Avestruz' do Pagodart e 'Lá Vem a Zorra' de Igor Kannário.

 

 

Responsável pela peripécia na web, o baiano Arthur Lima, de 23 anos, administrador da página 'O Paí Cêro' no Instagram que já conta com mais de 23 mil seguidores, contou ao Bahia Notícias como surgiu a ideia da brincadeira com as músicas.

 

"Eu vi nas redes sociais algumas pessoas usando o IA para fazer isso de transformar a música em gospel e pensei 'Rapaz, se colocasse o pagode baiano com as letras que elas têm, ia ficar muito massa'. Quando eu comecei a jogar na IA eu comecei a dar risada e pensei 'Não véi', vou ter que fazer um conteúdo para colocar na página", disse.

 

O jovem, que não trabalha na área da comunicação nem do humor, disse ter compartilhado a brincadeira sem pretensão de viralizar e se surpreendeu com o resultado. O post foi feito em parceria com outra página de comédia voltada para o cotidiano baiano. 

 

Foto: Instagram

 

"Eu joguei sem pretensão nenhuma porque pode ser que viralize ou não, mas a galera começou a comentar. Alguns colegas começaram a compartilhar nas redes sociais sem saber que eu tinha feito. Eu sempre foi o ‘palhacinho’ da escola, de ficar fazendo graça. E meus amigos ficavam falando que eu devia criar uma página para ficar postando essas coisas, os memes, as coisas do dia a dia mesmo do soteropolitano, e acabei criando gosto. Criei a página na pandemia, tinha dado uma pausa e voltei agora.”

 

Para conseguir criar as versões, Arthur recorreu ao aplicativo Suno AI, conhecido como o ChatGPT musical, que transforma textos em músicas a partir dos comandos de quem está administrando. "A IA que eu usei é bem fácil de usar, você pega a letra da música e coloca o estilo que você quer, se quer gospel, se quer pop, rock", conta.

 

A plataforma foi desenvolvida por músicos e especialistas em IA, que já passaram por grandes empresas como o Meta e TikTok, em uma tentativa de democratizar o processo musical. 

 

Foto: Suno.ai

 

“Suno está construindo um futuro onde qualquer pessoa poderá fazer boa música. Quer você seja um cantor de chuveiro ou um artista de sucesso, quebramos barreiras entre você e a música que você sonha fazer. Não é necessário nenhum instrumento, apenas imaginação. Da sua mente à música”, diz a descrição do site.

 

Cada usuário pode "fazer" de forma gratuita até 10 canções por dia. Com o acervo disponibilizado pela plataforma é possível se arriscar nos estilos. Entre as ofertas de gêneros musicais estão Blues, Funk, Rap, Pop, Opera Coreana.

 

Ao BN, o administrador da página contou que teve o cuidado ao escolher as músicas para não ofender ninguém. Apesar do gospel ser um estilo musical, o gênero está diretamente ligado à crença cristã, e por isso, optou pelas músicas com menos xingamentos para transformar.

 

“Eu pensei nisso antes de fazer, se eu iria ofender alguma religião com a brincadeira, só que eu fui pesquisar que o gospel não chega a ser tão ligado a religião e tem a ver mais com o estilo. Então eu pesquisei algumas músicas que não tivessem nada muito pejorativo, eu não quis nem criar algo relacionado a igreja ou algo do tipo.”

 

O PAGODE NO GOSPEL

E a busca de Arthur foi certeira. O estilo da música gospel, que tem a origem ligada a igreja afro-americana e teve as primeiras canções compostas no ritmo do jazz ainda no século XX, foi adotado por artistas de outros ritmos e é possível ver essa interferência no rock e até mesmo no pop.

 

No Brasil, o gospel chegou a ter um aumento de 46% no número de ouvintes ao longo do último ano no Spotify.

 

Mas sem Inteligência Artificial, o ‘PaGod’ existe? No pagodão baiano, apesar de diversos artistas seguirem a religião cristã, como O Poeta, por exemplo, e Zé Paredão, não há registros de artistas de destaque que cantem músicas com o ritmo baiano e letras voltadas para a igreja.

 

Já do outro lado, com o pagode do Sul e Sudeste, o que muita gente entende por samba, é possível encontrar grupos com bons números de ouvintes no Spotify como o Pagode Restaura, a banda Marcados Pagode Gospel, o grupo 100 Preconceito e até o ex-Os Morenos, o cantor Waguinho.

 

 

No estilo do “pagode/samba”, alguns dos grandes hits do pagode da banda ‘Só Pra Contrariar’ foram compostos por Regis Danese, dono do sucesso gospel ‘Faz Um Milagre em Mim’. O artista fez parte da banda em 1994, a convite de Alexandre Pires e compôs ‘Te Amar Sem Medo’ e ‘Nosso Sonho Não É Ilusão’. O cantor também compôs a música ‘Eternamente’ para Belo.

 

 

IA NA MÚSICA

O uso de Inteligência Artificial na música não é algo, mas já gerou polêmica. Não no caso de Arthur, que pegou canções já existentes e transformou em novas versões com vozes de pessoas desconhecidas.

 

Mas em 2023, por exemplo, o pai do cantor Gabriel Diniz, Cincinato Diniz, anunciou o lançamento de um álbum inédito do cantor que seria elaborado através da inteligência artificial. 

 

“O Gabriel foi um gigante pioneiro ousado quanto à concretização de várias ideias e muitos projetos inovadores! Agora, com o avanço da Inteligência Artificial, não poderia ser diferente!”, disse Cincinato na época.

 

 

A decisão rendeu críticas pela prática, que foi considerada por alguns internautas como um desrespeito a história do cantor, além de ter levantado um debate na web sobre o uso da inteligência artificial em músicas.

 

Nos Estados Unidos, mais de 200 cantores e compositores assinaram uma carta aberta em alerta aos perigos do uso da IA e reforçando a proibição do uso de seu trabalho para o treinamento de modelos de IA. 

 

“Se não for controlada, a IA desencadeará uma corrida para o fundo do poço que degradará o valor do nosso trabalho e nos impedirá de sermos compensados de forma justa por isso”, diz a carta.

 

Entre os artistas que assinaram a carta estão Billie Eilish, Katy Perry, Stevie Wonder, Nicki Minaj, Imagine Dragons, Tina Sinatra e Jon Bon Jovi, entre outros.