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Xande de Pilares revela possibilidade de show "Xande canta Caetano" se transformar em audiovisual; turnê estreia em Salvador

Por Bianca Andrade

Xande e Caetano
Foto: Marcos Roger

A capital baiana será o marco zero da turnê "Xande canta Caetano", projeto do cantor Xande de Pilares em homenagem a Caetano Veloso, que foi gravado durante a pandemia da Covid-19 e lançado em 2023. E para tornar o momento ainda mais especial, além de receber o homenageado no palco, Xande vem para Salvador com uma expectativa, a de alguém se interessar pelo projeto e "ter uma ideia de gravar um audiovisual" do show.

 

Em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (28) com jornalistas baianos, o artista revelou que, durante a construção do repertório para a turnê, pensou sobre a possibilidade de transformar o projeto em audiovisual e começou a montar a lista nessa intenção.

 

Caso seguisse a linha do CD, o show, que tem direção de Regina Casé, teria apenas 10 músicas. Como o plano era oferecer para o público uma experiência, o artista incluiu outros sucessos de Caetano no repertório, entre eles uma música que era cantada pela avó do artista para ele quando pequeno, 'Queixa', 'Tieta' e 'Trem das Cores'.

 

"Como virou uma turnê, aí nós tivemos que dar uma alongada no repertório, porque tem muita coisa do Caetano que eu queria gravar, que não está nesse disco, porque o disco era somente 10 faixas e que eu forcei para 11. O nome da minha avó é Irene, e ela cantava uma música para mim que eu não sabia que era do Caetano também. 'Eu não sou daqui, eu não tenho nada, quero ver Irene dar sua risada', e aí eu me deparo com essa música e a gente colocou no repertório [...] Por que eu coloquei dessa forma? Porque isso pode virar um audiovisual. De repente, alguém tem uma ideia de gravar um e aí aumentar mais o repertório. Então a gente já tem que estar preparado. [...] Eu não vou dar spoiler, não, mas tá bem legal", afirmou o sambista.

 

Foto: Fernando Young

 

O cantor não esconde o nervosismo de subir ao palco com o projeto, que é inédito neste formato. Em Salvador, o público poderá acompanhar um show ainda mais especial com a participação de Caetano dividindo os vocais com Xande.

 

"Eu fico nervoso para tudo. Sou um cara que me cobro muito, eu gosto de fazer tudo certinho. Eu ainda me sinto um aluno, só vou parar de aprender quando fechar os olhos e o coração parar. Estou muito nervoso para a estreia dessa turnê e agora mais ainda porque o Caetano vai cantar junto, mas ele me deixa super à vontade. Ele me dá muita dica."

 

COMO SURGIU O ÁLBUM?
Durante o bate-papo, Xande contou a história do nascimento do disco, que em poucos dias de lançado alcançou o Top Global do Spotify. O sambista diz que Caetano se encantou ao ouvir a própria música sendo tocada em um cavaquinho.

 

"Sou muito viciado em música, sou muito viciado em ouvir e tô sempre ouvindo tudo quanto é música desde criança. E em uma das visitas que eu sempre fazia na casa de Paula, aquela resenha de sempre ao final de algum evento, eu cantei 'José' de Carlos Drummond de Andrade e 'Ela e Eu' no cavaquinho, e ele nunca tinha visto ninguém tocar uma música dele no cavaquinho. O Caetano teve a ideia de fazer um show no teatro, eu, sozinho, sentado em uma cadeira tocando cavaquinho."

 

Foto: Instagram

 

Segundo o artista, a princípio houve o medo de dar voz aos sucessos do veterano, a quem tem como inspiração, mas o acolhimento e suporte de Caetano e Paula Lavigne para ir em frente com o CD foi o suficiente para entrar em estúdio e fazer o registro das próprias versões de "O Amor", "Diamante Verdadeiro", "Tigresa", "Qualquer Coisa" e "Alegria Alegria".

 

"Eu fiquei desesperado, morrendo de medo. Uma coisa é voz e violão, piano, mas só voz e cavaquinho, uma hora ninguém vai aguentar. Eu fiquei meio sumido da casa do Caetano, com medo dele insistir nessa história e quando retornei ele teve a ideia de fazer um disco em homenagem aos 80 anos. Só não podia gravar os sambas que ele fez para não ficar a mesma coisa. Fizemos uma curadoria, eu, Mosquito, Pretinho, Caetano e Paula e chegamos a esse disco."

 

CAETANO PRESENTE NA INFÂNCIA DE XANDE
Noveleiro desde cedo, Xande conta que sua relação com a obra do baiano veio através das dramaturgias. "Sempre fui muito noveleiro, porque eu não podia brincar, não podia sair, aí eu assisti uma novela chamada 'Sem Lenço, Sem Documento' e 'Alegria Alegria' fazia parte da abertura dessa novela", contou.

 

Entre as histórias do sambista com as músicas de Caetano estão a música 'Irene', nome da avó do cantor, e um episódio que marcou o artista ainda na época da escola: quando um professor pediu para que ele fizesse uma análise de uma música do baiano. A canção em questão era 'Qualquer Coisa', de 1975.
 

"Essa música está no disco por causa dessa história. Eu tinha um professor de português, o nome dele era Jorge. Eu estava ali entre 13 e 14 anos de idade quando Jorge chegou com essa música na sala, pedindo para que todos fizessem uma redação falando o que tinham achado da letra. Eu fui o único que não fiz o texto; simplesmente escrevi o que estava no quadro. Li, reli, e todo mundo fazendo redação. Lembro que peguei um hidrocor verde, dobrei e coloquei na mesa. Quando ele sentou para corrigir, para revisar, perguntou por que todos fizeram um texto e eu tinha colocado o que estava no quadro. Eu expliquei que o que estava no quadro tinha sido o que eu entendi. Expliquei para ele que era como se eu estivesse olhando um quadro abstrato; cada um interpreta da sua forma e eu entendi algumas coisas dessa música, só que ia ficar um texto enorme. Então, eu entendi 'Qualquer Coisa'", conta.

 

 

Conhecido pelo estilo único no samba, Xande respondeu ao Bahia Notícias sobre uma das grandes marcas dele na música, o improviso, e a reação de Caetano com esses momentos de descontração. Segundo o artista, o baiano se mostrou mais tímido e observador.

 

"O Caetano gosta de me ver improvisar. Eu improviso muito com o Mosquito, mas eu nunca improvisei com o Caetano. Ele é mais tímido do que a gente; ele prefere mais observar. Sempre quando tem essas brincadeiras, diversão. Uma vez, estava eu, Mosquito, Emicida, até a Queen Latifah entrou no improviso uma vez. Isso é uma das coisas que eu mais gosto de fazer", contou.

 

Foto: Uns Produções e Filmes

 

Xande, que passou de inspirado para inspiração, se tornando referência para diversos novos nomes da cena, retornou ao ponto de partida com a homenagem a Caetano. Ao BN, o artista falou sobre como se sente dando voz a projetos como o 'Xande canta Caetano', que revisita clássicos da música brasileira e apresenta, ou melhor, reapresenta obras para uma nova geração.

 

"Eu me sinto lisonjeado, me sinto lembrado. De certa forma, quando a gente é influenciado e a gente vê que a gente está influenciando, eu, nesse caso, nessa condição de influenciador, procuro passar tudo que eu recebi para frente. Procuro dar esse tipo de exemplo, e procuro também mostrar a importância que a música tem que ter. A música tem que ser mais importante. Eu sou instrumentista, mas dou muito mais importância para a música porque é a música que faz a gente se arrepiar, faz a gente sorrir, chora. Tem vários tipos de reação. Então, essa coisa de estar sempre resgatando músicas que de certa forma fazem parte da minha vida é muito bom. Tem gente que tem medo, 'Ah, será que se eu regravar, será que eu não vou ser cobrado? Ninguém vai me sacanear?'. Não. A música está aí para todo mundo desfrutar dela. A gente tem que estar mesmo resgatando. Quando eu escutei o Zeca cantando 'Jura', eu lembrei do meu avô; aquilo me deu mais vontade de regravar porque o Zeca me influenciou nesse sentido também."