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Conceição da Praia. A origem incerta

Por Nelson Cadena

Conceição da Praia. A origem incerta
Foto: Acervo pessoal

A festa da Conceição da Praia, de data incerta quanto as suas origens, como todas as festas populares da Bahia, com exceção do Senhor do Bonfim (todas as datas de suposto origem foram inventadas por historiadores e pela imprensa ao longo dos séculos e a desinformação cristalizada) tudo indica que tenha surgido em meados do século 17. O compromisso da recém instituída Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, em 1646, obrigava a “celebrar com particular ofício, e festa, sua Santíssima e Imaculada Conceição”. Qualquer data anterior à existência da Irmandade é fake news.

 

Provavelmente era apenas uma missa celebrada na então ermida, não há registros de festa no formato de procissão, anteriores a 1703, o que não exclui a possibilidade de já existir antes. Quando exatamente? Ninguém sabe. Monsenhor Barbosa, diretor da ABI e por muitos anos vigário da Igreja, registrou nas efemérides da freguesia uma despesa de 30.000 reis com a orquestra da festa em 1708 e outros valores para a de 1713, detalhando custos da orquestra, padres celebrantes, azeite de piche para as luminárias, dentre outros itens.

 

A irmandade que organizava a festa era constituída pela elite baiana, incluindo os traficantes de escravos, que aportavam o grosso dos recursos para as festas do Senhor do Bonfim, Conceição da Praia e Rio Vermelho. Teodósio Roiz de Farias, o traficante que instituiu o Culto ao Senhor do Bonfim e originou a festa lá em Itapagipe, residiu no entorno da Conceição da Praia e fez parte da irmandade.

 

Por mais de um século a Irmandade teve como principais protagonistas membros da família Aragão. Manoel D’Araújo, D’ Aragão, descendente direto de Caramuru e Catharina, era neto de Balthazar de Aragão, o Bangala, apelido que ganhou pela forma cruel como tratava seus escravos, hoje nome de uma rua da cidade, foi o primeiro da família a ser nomeado Juiz da Irmandade, em 1682. 

 

Conceição da Praia foi uma das festas mais seletivas, dentre as populares, com limitada participação de afrodescendentes. A orquestra dos Chapadistas, formada por negros escravos e libertos, era uma das exceções, presença efetiva todo ano, na procissão de 08 de dezembro. Na festa de 1867 os Chapadistas desentenderam-se com a banda da Polícia Militar que reivindicava a prerrogativa de tocar o hino nacional. 

 

Ambas passaram a interpretar o hino, uma querendo abafar a outra, até que o maestro da PM enfiou a mão no tocador de bombo. Houve briga generalizada, porrada para todo lado. Gente na delegacia. Um jornal registrou a omissão dos seis guardas presentes: “Se não fosse a deliberação de alguns homens do povo, talvez tivéssemos de lamentar muitas desgraças”.

 

Voltando no tempo, cabe registrar que entra 1739 e 1765, nenhum ofício foi realizado na igreja que foi reconstruída com a feição atual. Toda a parte litúrgica foi transferida para a Igreja do Corpo Santo, nas proximidades da Praça Cairu, até a conclusão das obras. Ao longo da história a festa se transformou no cavalo de batalha do clero baiano para afirmar o culto mariano, em detrimento de outros santos de devoção sincretizados pelo Candomblé: Santa Bárbara, São Jorge, São Roque, São Lázaro, São Gonçalo do Amarante.

 

Quase deu certo. As fotos de Verger de final da década de 1940, revelam o cavalo gigante de madeira, de São Jorge, saindo da igreja, incorporado à procissão.

 

*Nelson Cadena é escritor e jornalista

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias