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Uma Síntese Filosófica da Política Contemporânea: Uma Abordagem Dialética e Crítica

Por Gel Varella

Uma Síntese Filosófica da Política Contemporânea: Uma Abordagem Dialética e Crítica
Foto: Divulgação

A construção de uma filosofia política robusta, democrática e inclusiva exige a integração das ideias mais significativas dos clássicos gregos, dos pensadores modernos e contemporâneos, e das correntes críticas do século XX. Este artigo busca sintetizar as contribuições de Sócrates, Platão, Aristóteles, Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Karl Marx, John Rawls, a Escola de Frankfurt, Michel Foucault e Hannah Arendt, criando uma visão que busca promover uma democracia radical, inclusiva, ética e crítica.

 

Fundamentação Ética e Virtude
Começamos com Sócrates, cuja dialética e método socrático enfatizam a importância da pergunta e resposta na busca da verdade. Sua ênfase na virtude como caminho para uma vida boa é essencial para a formação de líderes políticos éticos e justos. Aristóteles complementa essa visão ao definir o ser humano como um “animal político” cuja felicidade é alcançada pela virtude. A política, para Aristóteles, deve ser orientada pela justiça distributiva e corretiva, garantindo equilíbrio e equidade na sociedade.

 

No contexto contemporâneo, é crucial combater o sofisma caracterizado pela disseminação de fake News. A desinformação mina a base ética da política ao distorcer a verdade e manipular a opinião pública. Assim, a consciência crítica e a educação para a mídia tornam-se ferramentas essenciais para capacitar os cidadãos a discernirem informações verídicas de falsas, promovendo uma participação política mais informada e responsável.

 

Estrutura Política Básica
Platão contribui com sua teoria das ideias e sua crítica à democracia ateniense, propondo uma aristocracia filosófica onde a justiça é a harmonia social. Aristóteles prefere uma constituição mista que combine elementos da monarquia, aristocracia e democracia, evitando abusos de poder. John Locke reforça a importância de um governo limitado e da separação dos poderes para garantir os direitos inalienáveis à vida, liberdade e propriedade.

 

Contrato Social e Participação Democrática. A noção de Contrato Social de Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau no período moderno foi. Naquele momento, fundamental. Hobbes argumenta que os indivíduos cedem certos direitos em troca de segurança, enquanto Rousseau enfatiza que a verdadeira democracia deve refletir a vontade geral do povo. A combinação dessas ideias resulta em um contrato social que equilibre segurança e bem-estar com a participação democrática ampla, radical e equitativa.

 

Direitos Naturais e Justiça Social
Nesse contexto, John Locke defende os direitos naturais inalienáveis, enquanto Rousseau critica as desigualdades sociais e promove uma sociedade mais igualitária.  Aristóteles e John Rawls completam essa visão com a justiça distributiva e a equidade, garantindo que todos tenham acesso aos recursos necessários para uma vida digna e justa.

 

Análise Crítica das Estruturas Econômicas e Culturais
Karl Marx fornece uma análise crítica das estruturas econômicas através do materialismo histórico, destacando a luta de classes como motor da história e a necessidade de uma sociedade sem classes. Marx critica a exploração dos trabalhadores pela classe capitalista através do conceito de mais-valia, onde o valor gerado pelo trabalho excede o salário pago aos trabalhadores, resultando em lucro para os capitalistas. Combater a mais-valia implica em lutar contra a exploração e promover uma distribuição mais justa da riqueza, visando a emancipação dos trabalhadores e a eliminação das desigualdades estruturais.

 

No contexto contemporâneo, a consciência dos trabalhadores é crucial para combater a "uberização" das relações de trabalho, um fenômeno onde a precarização e a exploração são mascaradas por uma suposta flexibilidade e autonomia. A conscientização dos trabalhadores sobre suas condições e direitos é fundamental para resistir às novas formas de exploração e promover mudanças estruturais que assegurem justiça e dignidade no trabalho.

 

Além disso, o modelo econômico centralizado no sistema financeiro perpetua a condição de “escravos” da dívida, tanto externa quanto eterna. A dependência de empréstimos internacionais e o endividamento contínuo dos estados nacionais criam um ciclo vicioso que mantém nações inteiras subjugadas às políticas de austeridade e à perda de soberania econômica.

 

Adorno e Horkheimer, da Escola de Frankfurt, criticam a razão instrumental e a indústria cultural, propondo uma racionalidade crítica que questione as estruturas de poder e promova a emancipação humana. Atualmente, o domínio das Big Tecs, e redes sociais representa o auge dessa razão instrumental e da indústria cultural, onde o controle e a uniformização do pensamento são exacerbados. As plataformas digitais manipulam dados e informações, influenciando comportamentos e opiniões, o que intensifica a necessidade de uma consciência crítica que questione e resista a essas formas de dominação, que nos torna escravos alienados.

 

Relações de Poder e Ação Política
Em destaque, Michel Foucault amplia essa análise ao estudar as relações de poder presentes em todas as instituições e práticas sociais. Sua teoria da microfísica do poder revela como o poder não é apenas uma estrutura maciça e centralizada, mas algo que se dissemina através de redes de relações cotidianas e microrrelacionamentos. Foucault mostra como o poder está presente nas pequenas interações diárias, nas instituições e nos discursos, moldando as relações de classe de maneira sutil e penetrante.

 

O sistema bélico como forma de poder hegemônico contemporâneo, também perpetua uma condição de dominação, mantendo a humanidade como “escrava” moral e do medo.

 

A indústria militar, com seus enormes gastos e capacidade de destruição, influencia políticas internacionais e internas, fomentando conflitos e perpetuando um estado constante de insegurança. Este complexo bélico, ao consolidar poder e lucro, reforça estruturas de dominação que subjugam populações ao medo e à violência., desde os becos e vielas até as grandes Guerras.

 

Hannah Arendt enfatiza a importância da ação e do discurso no espaço público para a prática política e a liberdade, além de oferecer uma análise profunda das características do totalitarismo e suas consequências devastadoras, que em tempos de extremismos, importa muito revisitarmos esses fundamentos.

 

Conclusão
A síntese aqui proposta, visa fomentar reflexões para uma filosofia política que promova uma democracia radical e irrestrita, embasada em princípios éticos claros, uma estrutura política justa e equilibrada, e uma análise crítica das estruturas econômicas e culturais. Esta abordagem combina a busca pela virtude e justiça dos clássicos gregos com a ênfase na participação popular e nos direitos naturais dos filósofos modernos, além de uma análise crítica das estruturas econômicas e culturais, herança do século XX.

 

Esta integração das perspectivas filosóficas oferece um framework poderoso para compreender e transformar as estruturas sociais e culturais contemporâneas, visando um futuro mais justo, equitativo, democrático e contemplativo.

 

*Gel Varella é educador se educando

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias