Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

Demissão súbita de diretor da Fundação Pedro Calmon gera protestos no meio cultural

Por Marília Moreira / Simone Melo

Demissão súbita de diretor da Fundação Pedro Calmon gera protestos no meio cultural
A demissão do autor Mayrant Gallo do cargo de confiança que ocupava na Fundação Pedro Calmon (FPC), à frente da Diretoria do Livro e da Leitura (DLL), na última terça-feira (19), despertou protestos e mal-estar entre escritores e pessoas do meio nas redes sociais. Apesar de já ter deixado a ocupação, onde disse que não poderia ficar se não fosse “bem visto, nem bem quisto”, Mayrant ainda não foi oficialmente exonerado. Tanto a assessoria da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), órgão ao qual a FPC está vinculada, quanto a própria Fundação se recusaram a comentar o caso antes da publicação de uma decisão oficial. “O que Ana Paula [Ana Paula Vargas, assessora da Secult] está dizendo é que eu não estou fora da Secult ainda porque não fui exonerado. A exoneração é a legitimação da dispensa. Então, nesse sentido, ela está certa. Mas o fato é que eu fui dispensado dos meus trabalhos na Fundação Pedro Calmon. Por incompatibilidade com a Secult, a pedido do Secretário Albino Rubim”, explicou, em entrevista ao Bahia Notícias. Pelo Facebook, circula um texto do escritor Elieser César que narra o acorrido e critica o argumento de “incompatibilidade” apresentado por Fátima Fróes, diretora geral interina da FPC. “Claro que, no serviço público, todos são passíveis de demissão, ainda mais quem exerce cargo de confiança, como Mayrant Gallo exercia. Mas não se deve demitir alguém com o estapafúrdio argumento de que sua presença era incompatível com a Secult. Incompatível baseado em quais critérios? Trabalho, seriedade, competência, dedicação, honestidade? Claro que não foi nenhum desses”, contestou. César ainda apontou como motivo para a dispensa uma estratégia para eliminar pessoas relacionadas ao historiador Ubiratan Castro, ex-diretor geral da Fundação, falecido em janeiro deste ano. A indignação é compartilhada por Emanuel Mirdad, um dos curadores e organizadores da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica). “É um cargo de suma importância e de confiança, então é natural que, a partir do momento que eles trocam de diretor, teriam que trocar também esse cargo. O problema é a forma como eles trataram isso, dizendo que Mayrant é ‘incompatível com a Secult’. Isso é um absurdo!”, protestou. “É isso que está me deixando mais indignado com essa história. Porque Mayrant é um profissional, um escritor reconhecido na área, premiado, um dos melhores escritores - e isso eu posso dizer com certeza - da literatura atual feita na Bahia”, avaliou. 

Leia a entrevista completa com o escritor Mayrant Gallo:
 
Você poderia explicar mais detalhes sobre a dispensa do cargo de confiança que ocupava na Diretoria do Livro e da Leitura?
Vou narrar exatamente o que aconteceu. Eu fui chamado na terça-feira (19), às 16h, no gabinete da diretora Fátima Fróes, que substituiu interinamente o professor Ubiratan, que faleceu, e ela foi direta. Fez um elogio a mim, inicialmente como escritor, e depois me disse: "Eu tenho uma notícia que não é agradável para você. A partir de hoje a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia está dispensando o seu trabalho por incompatibilidade com a Secult". Que é o que saiu na internet. Isso aí eu comentei com um amigo, provavelmente ele fez o texto e jogou na internet. Eu não vou deixar de falar isso para alguém. Não fiz voto de silêncio com a Secult. E se alguém pegar e colocar isso na internet, eu não vou impedi-lo de fazer. Depois, muito estranhamente, Fátima Fróes disse que queria que eu ficasse até o final do mês para que eu me organizasse financeiramente. Eu me posicionei e disse: "Não estou desorganizado financeiramente. Minha família e eu somos sólidos financeiramente e eu não posso ficar em um lugar, no qual eu não sou nem bem visto, nem bem quisto. Levantei, agradeci, passei o material de trabalho que eu tinha para lhe entregar e fui embora. Arrumei todas as minhas coisas e saí. Foi isso que aconteceu.
 
A Secult, através da assessora Ana Paula Vargas, disse que oficialmente não houve demissão...
O que Ana Paula está dizendo é que eu não estou fora da Secult ainda porque não fui exonerado. A exoneração é a legitimação da demissão. Então, nesse sentido, ela está certa. Mas o fato é que eu fui dispensado dos meus trabalhos na Fundação Pedro Calmon por incompatibilidade com a Secult, a pedido do Secretário Albino Rubim. 

A incompatibilidade foi explicada?
Não, não foi explicada. E jamais será. É idelológica. Eu era um colaborador próximo do prof. Ubiratan Castro de Araújo, que gostava e aprovava o trabalho que desenvolvíamos para o setor de livro e leitura. Com a morte do prof. Ubiratan, a Secult fica livre para desenvolver a política que quiser para o setor, para o bem e para o mal. O bom disso tudo é que os escritores baianos, e não apenas os de literatura, podem se posicionar e mostrar que existem e são importantes, devem ser respeitados. E não só eles, mas os leitores, editores, livreiros, gráficos, capistas, diagramadores, ilustradores, professores, estudantes, todas as pessoas envolvidas na rede produtiva do livro. A literatura baiana não é só Jorge Amado, como a Cultura pretende que seja, e temos editoras, uma produção literária e intelectual de qualidade e constante, que precisa vir a público, para o desenvolvimento cultural, educacional e social. Literatura é alimento.
 
E sobre o fato de que sua demissão teria sido justificada porque a Secult tem intenção de transferir a diretoria para a Funceb?
Isso eu cheguei a ouvir falar quando eu estava de mudança ainda, pegando minhas coisas para ir embora. Eu não tenho nenhuma evidência de que isso seja verdade.Mas Marcio Meirelles tirou a literatura, o livro e a leitura da Funceb e mandou para a Pedro Calmon, depois Albino Rubim tirou a literatura da Pedro Calmon e mandou para a Funceb. Nada impede que ele tire o livro e leitura e mande também para a Funceb. Eles fazem o que querem. O leitor, o autor, o editor, o livreiro ficam à mercê das atitudes quixotescas de quem está com o poder, essa é a verdade.