Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

Cineasta baiano Glauber Rocha, que inaugurou o Cinema Novo, completaria 75 anos

Por Luiz Carlos Merten | Agência Estado

Cineasta baiano Glauber Rocha, que inaugurou o Cinema Novo, completaria 75 anos
Glauber Rocha tinha a intuição de que ia morrer cedo, como uma de suas referências baianas - o poeta Castro Alves. O autor de Navio Negreiro morreu aos 24 anos, Glauber aos 42, em 22 de agosto de 1981. Estaria completando hoje 75 anos. De certas figuras que morrem cedo, pode-se dizer que o desaparecimento prematuro contribui para o mito. Já pensaram num James Dean septuagenário? Numa Marilyn Monroe velhinha? Mas dá para imaginar Glauber vivo, e fazendo o que sabia ser melhor para ele - polemizar.

As questões de mercado, da cidadania, o mensalão. Em tudo ele estaria apontando o dedo acusador, e pode-se supor que viessem surpresas do seu olhar arguto. Glauber foi um furacão que assolou o cinema brasileiro nos anos 1960, sua grande fase. Nascido em Vitória da Conquista, virou chefe de fila - ideólogo, ou teórico - de um movimento que até hoje gera controvérsia. O Cinema Novo nasceu com o objetivo programático de colocar a cara do Brasil na tela. E era revolucionário, feito por artistas que acreditavam na câmera como instrumento para mudar o mundo.
 
Glauber foi crítico, fez teatro. Fez curtas, como "Pátio". O primeiro longa é meio caótico - "Barravento", de 1962 -, mas tem o mérito de encarar a questão do negro no País e o sincretismo cultural. "Deus e o Diabo na Terra do Sol" marca o verdadeiro (re)começo de sua carreira. A partir daí, em 1964, a estrutura bipolar o acompanhará em "Terra em Transe", de 1967, e "O Dragão da Maldade" contra o "Santo Guerreiro", de 1969.
 
O vaqueiro Manuel é arrastado num turbilhão pelo profeta e depois pelo cangaceiro. Sua via, ele a encontra numa corrida mítica para o mar, ao som da música de Sérgio Ricardo. 'O sertão vai virar mar...' Em "Eldorado", o poeta Paulo Martins (Jardel Filho) divide-se entre o demagogo Vieira (José Lewgoy) e o ditatorial Diaz (Paulo Autran), estando sua consciência na revolucionária Sara (Glauce Rocha). E no Dragão, Antônio das Mortes, o matador de cangaceiros que Maurício do Valle criou em Deus e o Diabo, volta com o parabellum na mão para matar o coronel cego que domina Jardim das Piranhas.
 
À força de tanto radicalizar seu método baseado na descontinuidade, Glauber nunca mais fez obras tão poderosas como sua trilogia dos anos 1960. No seu tempo, o cinema brasileiro andava bem nos festivais internacionais, mas ia mal nas bilheterias, em casa. Hoje é o contrário. O cinema brasileiro recupera espaço no próprio mercado, mas desagrada à crítica e não interessa muito aos programadores dos grandes festivais. O que pensaria disso Glauber? Nunca saberemos, mas foi um autor definidor da identidade brasileira no cinema. Manuel na escadaria de Monte Santo - a escadaria de Odessa brasileira -, o amor de Corisco e Rosa ao som das Bachianas. Glauber criou algumas das maiores cenas do cinema do Brasil.