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Marca Bahia Notícias

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‘Fui pega para Cristo por quase todos’, diz Iranete, baiana eliminada do Masterchef Brasil

Por Jamile Amine

‘Fui pega para Cristo por quase todos’, diz Iranete, baiana eliminada do Masterchef Brasil
Foto: Divulgação

Teimosia, superação e perseverança são as características mais atribuídas a Iranete Santana, participante baiana eliminada no último episódio da segunda edição do Masterchef Brasil. Com sua personalidade forte, ela despertou o amor e o ódio de concorrentes e do público, tendo protagonizado inclusive um duelo com o conterrâneo Cristiano. Sua história de vida poderia dar algumas pistas e explicar muito sobre sua personalidade. Iranete, que tem 47 anos, nasceu no município de Iramaia, a 409 km de Salvador. Sua mãe morreu muito jovem, e então ela teve que ajudar a cuidar dos cinco irmãos e do pai. O contato com a cozinha surgiu daí, precoce, pela necessidade de sobreviver e sustentar a família. “A gente teve que tomar todas as responsabilidades. De pilotar o fogão, de tirar o alimento da roça. Tinha que matar aves, porcos, fazer tudo para que o alimento chegasse à mesa”, conta a baiana, que em 1986 mudou-se para São Paulo, onde alguns familiares moravam, com o objetivo de “procurar um meio de vida melhor”. “Naquela época meu avô veio a falecer e as minhas tias, que moravam em São Paulo, foram ao velório. Ai chegando lá eu aproveitei a oportunidade e vim pra cá e aqui mesmo fiquei e não voltei mais. E veio todo mundo atrás de mim, meus irmãos e depois o meu pai”, lembra a ex-participante do Masterchef.

 

Desde então, na capital paulista, Iranete trabalha como empregada doméstica, profissão que a aproximou ainda mais da culinária. Em meio aos livros, receitas de família e instruções de suas patroas, ela encontrou um ambiente de aprendizado e experimentação. “Eu mesma me descobri. Gosto de inventar, de ter entrosamento com os alimentos que eu vou manipular. Eu tenho um pen drive aqui na minha cabeça e tudo que eu passo os olhos eu registro. Casa de família também te dá grande incentivo, porque você já entra falando que só sabe fazer arroz e feijão, mas de repente você se vê ali diante de uma receita nova. As patroas falam ‘a gente vai fazer isso daqui’. Falam ‘a gente’ no plural, mas na verdade é você sozinha. Eu aprendi muito, vou pegando pelo ar. Nunca tive curso ou formação nenhuma. A única chance e oportunidade que eu tive foi agora, na casa dessa minha patroa, com quem trabalho há quatro anos, e foi ela que falou que ia me inscrever no Masterchef”, revela a baiana.

 


Iranete recebeu o apoio da patroa para participar do Masterchef | Foto: Reprodução

 

Após acompanhar a primeira edição do reality show de gastronomia, Iranete teve um empurrãozinho de sua patroa, que a incentivou e prometeu inscrevê-la no próximo programa. “Eu não tinha posto fé de que ela ia me inscrever realmente. Aí quando foi um dia eu cheguei lá e ela disse ‘Iranete, comprei uns ingredientes que é pra você fazer a filmagem para a gente mandar para o Masterchef’. Então preparei uma torta e a filhinha dela, Alice, fez o vídeo, que enviou três dias depois, após me consultar”, conta a doméstica, que decidiu apostar despretensiosamente e em fevereiro foi chamada para o primeiro teste. “Foi uma surpresa muito grande, que nem eu acreditava. Eu chegando em casa, o telefone tocou, eu fui atender e aí eu não me contive de tanta felicidade. Eu queria dividir com ela [a patroa], a primeira coisa que fiz foi ligar pra e avisar que me chamaram. E aí durante todo o processo eu estava lá na casa dela e ela me dava o maior apoio em tudo, até nos ingredientes para os testes. Ela deu uma ajuda muito grande e eu só tenho a agradecer”, lembra.

 

Já dentro do programa, Iranete teve altos e baixos, ficando na corda-bamba algumas vezes, por apresentar pratos considerados simples demais. Dentre eles, o hambúrguer de frango e uma lasanha de queijo e presunto. A teimosia que levou a concorrente ao reality também pode ter sido a responsável por eliminá-la da competição. Esta era a principal queixa dos jurados, principalmente em uma prova em que a concorrente passou mais de 20 minutos de braços cruzados, apesar das orientações dos chefs, para que ela aproveitasse o tempo para fazer um prato digno de Masterchef. As críticas apareciam de todos os lados, desde os jurados, passando pelos colegas competidores e até do público. “Eu fui pega para Cristo por quase todos. Porque todas as críticas caiam sobre mim. Eu era a ovelha negra. Quem fazia o errado era eu, quem não saia da zona de conforto era eu. ‘A Iranete não sabe fazer isso’, ‘a Iranete não tem conhecimento’, ‘a Iranete não sabe montar o prato’, tudo era eu. Então se você pegar o programa de ponta a ponta vai perceber que as críticas maiores só vinham para mim”, lamenta.

 


Iranete recebeu muitas críticas dos jurados durante a competição | Foto: Divulgação

 

O clima dentro do programa tampouco era dos mais amigáveis para a baiana, que se sentia deslocada e discriminada pelos colegas. O ambiente ficou pior ainda após a briga travada com seu conterrâneo, Cristiano. A dupla se desentendeu porque, em uma prova, Iranete destinou um ingrediente desconhecido e complicado para o colega, sob o argumento de que não havia espaço para dois baianos na competição. A partir daí ele tomou como ofensa pessoal e, de acordo com a doméstica, tentou dar o troco dentro e fora da competição, tornando difícil a vida para ela. “Foi uma brincadeira, não foi de má-fé. Escolhi o caldo de tucupi para quem eu achei que ia se dar bem. Dei por ele vir de origem nordestina, por ele ser baiano, baiano é malandro, manja as coisas, vai lá e faz, não pede pra ninguém fazer, não manda recado. Dei pra ele justamente nessa teoria, não pensei nem por um segundo maltratar ele. Mas ele levou as coisas pro lado pessoal, como se tivesse querendo puxar o tapete dele. Disse que eu estava usando falsidade. Mas, gente, se tem uma coisa que não sou é falsa. Se eu fosse falsa, eu queria mesmo acabar com a raça dele ali, naquele momento que eu estava cá fora e vi as barbaridades que ele falou de mim. E eu jamais fiz isso, eu relevei tudo aquilo, porque eu sou da paz. Essa foi uma briga que ele mesmo causou pra ele e pra me atingir. Porque parece que ali eu fui pega para Cristo”, justifica Iranete.

 


Briga com Cristiano afetou a cozinheira, que chegou a passar mal em casa | Foto: Divulgação

 

Apesar de afirmar ter superado os problemas, por algum tempo ela passou por maus bocados. “Estava fazendo mal tanto para ele quanto para mim. Fiquei arrasada durante os dias que ia gravar. Ele saia do camarim quando eu estava. Causou um certo desconforto. Eu não desisti porque eu queria mostrar para as pessoas a minha capacidade. Cheguei ao ponto de passar mal em casa, mas baiano não desiste na primeira. Brasileiro não desiste fácil, não se entrega”, conta. Após capítulos de birras e vingança, os baianos acabaram se entendendo dentro do programa, e selaram a paz com uma dança de forró, depois de vencer uma prova em grupo. Hoje Iranete e Cristiano mantêm uma relação cordial, mas ela ainda se mostra cautelosa. “A gente está de boa, ele fica me chamando no Instagram, no Twitter, mas cada um no seu canto. Até tudo isso passar, é a melhor coisa que a gente faz”, explica ela.

 

Ironia do destino foi a última eliminação, que colocou novamente em disputa os dois ex-rivais. Em uma prova em que todos os cinco concorrentes – Lucas, Marcos, Sabrina, Iranete e Cristiano - se saíram mal, a dupla baiana se destacou negativamente, ao preparar uma carne. O desafio era técnico e os critérios de desempate foram pequenos detalhes. Nenhum dos dois conseguiu o ponto correto, a, para os chefs, Cristiano tinha o prato mais saboroso, mas este não foi o final que Iranete desejava. “Gostaria que eu ficasse com qualquer outra pessoa, menos com ele. Porque logo no começo da briga ele falou que ia me tirar. E quem me falou foi o próprio Fogaça. Ele ficava dando murros no mezanino quando disputei com Izabel e fiquei, mas ele também queria que Izabel saísse. E ficava vibrando quando me via lá páreo a páreo com alguém”, disse a competidora, que considerou injusta sua saída. “Na minha visão e da Paola o meu último prato estava perfeito. Errei nos dois primeiros, mas eles tinham que discutir. Eu olhei para a carne de Cristiano e estava seca. Sai por causa de um detalhe, por causa do tempero, um galhinho de tomilho a mais. Acho que tinha que ser analisado mais. Muitos tinham prato tão ruins quanto o meu e o dele, mas a gente não está lá para discutir. Eles que decidem, não cabe eu bater o pé, o que falarem tem que estar certo”, diz a baiana, que fez poucos amigos durante a competição.

 

“Afinidade eu só tenho com a Sabrina. A cada episódio que ia ao ar ela me ligava, perguntava como eu estava. Ela via as críticas e dizia para eu não absorver as arbitrariedades. Eu achava que também poderia ser amiga da Aritana, mas infelizmente não é nada daquilo. Ela é tão cobra como outras pessoas. Eu não estou ali para julgar nem a capacidade, nem o comportamento, nem o caráter de ninguém, mas assim, afinidade mesmo eu só tive com a Sabrina, com o Lucas e o comandante Hamilton. Com Gustavo também não tenho nada contra, ele é mineirinho, sossegado, de boa. O Raul é um amor de pessoa, mas assim, se pegar os 18 e por numa peneira deve sobrar uns quatro”, conta Iranete, que considera Aritana “um desafeto insuportável”.

 

As duas moram perto, na zona sul de São Paulo, mas a baiana diz que é como se a vizinha não existisse. “Se fosse para eu conhecer ela hoje, eu não queria. Eu não tenho nada contra, mas é ela lá no canto dela e eu cá no meu. É uma pessoa que não quero no meu meio, para dizer que é minha amiga. Se o Cristiano olhar, ele vai ver que quem é falsa é a própria Aritana. Falsa é aquela pessoa que esta aqui olhando pra você e em que em vez de te falar, ela vai chegar numa terceira pessoa, pra chegar e te falar. Eu já falo na cara, doa a quem doer, não mando recado. E a Aritana é uma pessoa muito falsa, muito dissimulada. É o que eu penso, o que eu acho. Com outras pessoas eu não tenho aquela afinidade, mas também não tenho desprezo. Teve pessoas que se mostraram arrogantes, que se você ficasse perto poderia criar um atrito, mas com o passar do tempo você via que não era nada daquilo”, revela  Iranete, que torce por uma final entre Lucas e o ex-inimigo Cristiano.

 


Aritana é o maior desafeto de Iranete no Masterchef | Foto: Divulgação

 

“Quando sai a Ana Paula perguntou em quem apostava pra chegar na final e eu disse que aposto muito no Lucas e no Cristiano mesmo. Ela até questionou o porquê de Cristiano, depois de tudo que passamos. Mas, assim como eu e o Lucas, os três são os mais merecedores. Todos são, mas nós temos uma história de vidada diferente”, diz a ex-competidora, que já sentiu as consequências do Masterchef no seu dia-a-dia. “Minha vida era pacata, ficava na minha zona de conforto como Fogaça falava. Aprendi muita coisa. Você tem que aprender na raça, porque ali não é escola. Os chefs te dão o toque e você tenta dar o melhor. Mas saí com um aprendizado ótimo e também muito conhecida. Essa noite não dormi, estou cambaleante. Tive que levantar cedo para dar entrevista, mas foi muito bom. Não sabia que tinha tanta popularidade. Essa madrugada não conseguia dormir, respondendo perguntas no twitter, no facebook. É muito gratificante, só de sair nas ruas e as pessoas te apontarem. E eles não falam ‘a moça do Masterchef’, falam ‘é a Iranete’, isso é muito bom”, conta a baiana, que acaba de concluir o ensino médio e pretende seguir estudando.

 


Iranete torce por uma final entre Cristiano e Lucas | Foto: Reprodução

 

Após o episódio da eliminação, Iranete conseguiu uma semana de férias para fazer um curso de gastronomia, mas, por enquanto, não vai deixar a profissão de empregada doméstica, que lhe garante o sustento. “Eu estou fazendo curso, pretendo me aprimorar mais. Estou fazendo também trabalhos em casa, como sempre fiz. Nunca fiquei parada, faço salgados, cupcakes. Mas pretendo estudar mais, porque sem estudo a gente não chega a lugar algum. E pretendo abrir uma filial na zona sul. Um pequeno restaurante, como manda o figurino, com tudo que tem direito, coisa fina!”, conclui a baiana.