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‘Sou amigo da arte, não do entretenimento’, diz Alceu Valença, antes de show em Salvador

Por Jamile Amine

‘Sou amigo da arte, não do entretenimento’, diz Alceu Valença, antes de show em Salvador
Foto: Divulgação / Massimo Chiozzi
O cantor e compositor pernambucano Alceu Valença chega a Salvador nesta quinta-feira (10), e se apresenta, às 21h, na sala principal do Teatro Castro Alves. O artista, que no ano passado tocou para uma multidão na Fonte Nova, agora faz um show acústico especial, acompanhado apenas pelo violão de Paulo Rafael e a sanfona de André Julião. Com a longevidade da carreira e um impulso criativo muito forte, Alceu não encontra barreiras em qualquer tipo de apresentação, seja num estádio de futebol, em cima de um trio ou no meio da rua. “Não existe essa diferença. Eu faço oito tipos de show, às vezes ao ar livre, eu tenho show com orquestra, show de São João, de carnaval, em estádio, e tenho esse show acústico, que talvez seja uma coisa até mais musical, no sentido da elaboração, de que no teatro a concentração é bem maior”, avalia Alceu, lembrando que com seu vasto repertório é possível adaptá-lo para todo tipo de público e espetáculo.

No show desta quinta o público poderá relembrar grandes sucessos, como “Anunciação”, “Como Dois Animais”, “Na Primeira Manhã”, “Táxi Lunar”, "Coração Bobo", "Solidão" e "Belle de Jour", mas certamente presenciará também a espontaneidade e o bom o humor do artista que na última aparição em Salvador fez duras críticas ao que tem tocado nas rádios e sugeriu a criação da “igreja da comunhão musical”, para a “afinação do público brasileiro” (clique e entenda). “Isso não me toca, porque eu tenho muitos sucessos. Então se você for ao show hoje, você vai ver que todo mundo vai cantar a minha música”, comenta Alceu sobre o espaço para seu tipo de trabalho no mercado. “Para mim não tem problema, agora para quem está começando, ter um trabalho elaborado, não é nem elaborado, é que tenha talento, eu não vejo ninguém surgir. Se quiser nominar algum da Bahia que surgiu depois dos últimos sucessos, você não vai encontrar ninguém. Mas não pelo fato de não ter as pessoas, mas porque não cabe, e o artista vai ter que se curvar ao produtor, ao empresário, que é o dono dele para poder fazer, digamos, cópia da cópia da cópia. Então se um dia é a muriçoca pica, pica, pica, a muriçoca soca, soca, soca, aí o outro já copia e bota a vassoura rola, rola, rola. Então essa questão é um negócio muito complicado, e era preciso existir algum tipo de curadoria”, avalia o cantor pernambucano.

Alceu Valença, que se autodenomina “amigo da arte” e não “amigo do entretenimento”, diz pensar muito na cultura e não em si mesmo, quando critica o mercado. “Eu faço oito tipos de show, para mim não me falta nada, eu só tenho pena do Brasil que ficou uma coisa, que não é nem comercial, mas apelativa. Música apelativa. A muriçoca soca, soca, a muriçoca pica, pica. Ou então metralhadora tra tra tra. Eu acho isso muito fraco, mas quem não achar, pode gostar”, diz o artista já consagrado na música, que no ano passado lançou um livro e este ano estreia no cinema, com o longa-metragem “A Luneta do Tempo”, no qual assumiu a direção o texto e ainda montou uma trilha musical inédita, com 28 faixas. 
 

Alceu faz estreia como diretor de cinema com "A Luneta do Tempo"
 
O gosto pela sétima arte vem da infância em São Bento do Uma, no interior de Pernambuco, quando assistia aos filmes exibidos na cidade e no cinema de sombras montado em casa, por sua própria mãe.  “Quando meu pai morreu eu tive um surto criativo, lembrando dele e das histórias que ele me contava, sobre o cangaço, a feira da minha cidade, a mitologia do cangaço. No meu filme tem pano de fundo o cangaço, pano de fundo o circo mambembe e tem uma tragédia que acontece com dois irmãos. Tudo isso inspirado na minha infância, na viola do meu avô, nos vaqueiros. Ele fala sobre a morte, o que vem depois da morte. Ele é um musical, não um da Broadway, não é sobre mim. É uma história que eu inventei. Ele se inspira em tantos cordéis que li quando era menino. Se inspira no meu universo infantil e no meu universo planetário. Porque eu sou de São Bento do Uma, eu sou do Recife, eu sou do Nordeste, eu sou do Brasil, eu sou planetário, porque eu sou um ser humano”, conta Alceu Valença.