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Fotografia artística na Bahia vive crise por falta de editais, defendem fotógrafos

Por Lucas Arraz

Fotografia artística na Bahia vive crise por falta de editais, defendem fotógrafos
Foto: Divulgação

Em agosto se comemorou o mês mundial da fotografia. Em Salvador, diversos eventos e mostras discutiram sobre o cenário baiano. Conta a história que o primeiro daguerreótipo, aparelho fotográfico antigo, disparou em Salvador em meados do século XIX. O disparo teria sido realizado em 1839, pelo abade Louis Compte, que esteve na cidade por alguns dias, narra Maria Guimarães Sampaio no seu livro “A Fotografia na Bahia”. O registro do daguerreótipo se perdeu e não ficou conhecido. A história da fotografia em território baiano a partir daí, sim. “A fotografia na Bahia foi pioneira por muito tempo”, defende o professor Marcelo Reis ao dizer que Salvador foi uma das primeiras cidades a desenvolver um coletivo de fotógrafos na década de 70. 

 

Porém, o pioneirismo do cenário da arte foi perdido. Reis conta que a Bahia chegou a ficar até 7 anos sem editais para incentivar a fotografia artística devido a cortes orçamentários vividos nos últimos anos pela cultura. “Durante qualquer corte, a fotografia é o primeiro campo da arte que sente”, defende o professor. A falta de editais e incentivos na última década permitiu que outros estados do Nordeste e do Brasil passassem na nossa frente. “A gente deu alguns passos para trás em comparação com o que está acontecendo no cenário brasileiro”, completa o professor. 

 

Apesar da estagnação da fotografia artística, a produção como hobby e como registro documental de aniversários, casamentos e afins nunca parou. O acesso mais fácil e barato a máquinas, seja semiprofissionais, seja por um exemplar super potente de celular, permitiu que as pessoas fotografassem, mas não que se tornassem fotógrafas. Para Marcelo Reis ser fotógrafo não é somente “apertar um botão e capturar uma imagem”. É necessário “gerar sentido”.  “Não adianta ser sem ser”, comenta o professor sobre o despreparo de algumas pessoas que fotografam hoje em dia.  

 

Esse despreparo de algumas pessoas com a câmera é uma das principais reclamações do fotógrafo Luciano Carcará. Em um grupo de no Facebook, Luciano publicou um desabafo que denunciava a falta de educação de algumas pessoas na festa da Irmandade da Boa Morte em Cachoeira. Segundo Carcará, alguns fotógrafos posicionavam a câmera com flash na cara das Irmãs e atrapalhavam o andamento da festa. “A Fotografia virou terapia e o desespero de alguns grupos por likes no Facebook contribui para um ambiente lotado de gente interferindo no andamento”, fala Carcará sobre sua teoria que o fotógrafo precisa entrar e sair sem ser notado dos lugares.

 

Sem editais, os cursos de fotografia e os os profissionais da área acabam reféns da cobertura das festas da cidade e de eventos. Carcará brinca que hoje temos mais fotógrafos do que pessoas em festas como a de Iemanjá, comemorada no dia 2 de fevereiro. “A fotografia artística continua em crise porque o edital não vem e as contas são mensais”, comenta Luciano. Já Marcelo Reis acredita que a crise é de base, sendo a formação de fotógrafos muito “engessada”.  “O cursos ficam presos numa visão mais comercial”, lamenta.

 
Efervescência
Apesar de todos os problemas, o cenário da fotografia artística na Bahia voltou a viver uma “efervescência” nos últimos meses devido à retomada de editais, segundo Luciano. “Os editais voltaram a partir de um esforço coletivo que pressionou os meios legais”, conta. 
 
Entre os projetos que surgiram nessa “efervescência” está a revista de fotografia contemporânea Umbu. A publicação, para Luciano, vai de encontro ao estereótipo de “vamos fotografar a roda de capoeira e as festas locais a que muitos pensam que a fotografia da baiana está presa”. Atualmente a baiana Umbu está sendo distribuída pela América Latina. 
 
Em 2017 também foi retomado o prêmio de fotografia Pierre Verger. A premiação é realizada pela Coordenação de Artes Visuais/Diretoria das Artes da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), entidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA), com o objetivo de incentivar, divulgar e valorizar a produção fotográfica brasileira, como também a bienal de arte do Museu de Arte da Bahia (MAB).

 

Durante todo o mês mundial da fotografia, comemorado em agosto, palestras e workshops foram realizados em Salvador e na Bahia. Entre os citados pelos fotógrafos Marcelo Reis e Luciano Carcará estão uma série de palestras realizadas no subúrbio (leia aqui) e uma discussão sobre os papéis das mulheres na fotografia (leia aqui).