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Notícia

Protestos contra governo Bolsonaro marcam 26ª edição do Prêmio Braskem de Teatro

Por Júnior Moreira Bordalo

Protestos contra governo Bolsonaro marcam 26ª edição do Prêmio Braskem de Teatro
Foto: Júnior Moreira Bordalo / Bahia Notícias

É de se questionar que no mesmo dia em que o Brasil parou para protestar nas ruas contra o anúncio do congelamento de 30% das despesas não obrigatórias das universidades federais, a maior celebração do teatro baiano tenha sido realizada trazendo para a cena reflexos da obra de Jorge Amado. Nascido em Itabuna, o escritor ficou conhecido ao longo dos seus 49 livros publicados por traduzir em personagens a luta contra as intolerâncias, fossem elas religiosa, social ou racial. Este foi o tom da 26ª edição do Prêmio Braskem de Teatro, que lotou o salão principal do Teatro Castro Alves, na noite desta quarta-feira (15), para premiar os artistas pelos seus trabalhos em 2018.

 

Dirigido por Luiz Marfuz, o espetáculo foi iniciado com um vídeo do autor narrando seu início, quando aos 11 anos mudou-se para Salvador, e propôs uma reflexão artística sobre algumas obras de Jorge que inspiraram adaptações para o teatro e o cinema. “Gostaríamos de ver como esses temas estão se comportando nessa sociedade. É uma contação dele e de sua obra”, explicou ao Bahia Notícias.

 

Comandando a premiação pela 7ª vez, Marfuz pontua que o desafio é fazer uma coisa diferente a cada ano, além de pensar em uma celebração para a classe, “que é muito sofrida, humilhada, né?". "Uma classe que tem sofrido ataques injustos, a exemplo da criminalização da arte. Então, procuro nesse momento colocar em cena as questões que estamos vivendo, porém antenados com o que acontece no Brasil”, fixou.

 

Com um cenário cercado por andaimes, coube aos atores Amaurih Oliveira, Frank Menezes e Zeca de Abreu, e a atriz e cantora Larissa Luz darem vida a estes personagens atualizados, mesclando música, dança, teatro e audiovisual. Além deles, o coro cênico-musical foi formado por Anderson Dantas, Clara Paixão, Ela Nascimento, Danilo Cairo, Daniel Farias, Fernanda Silva, Fernando Santana, Josy Varjão, Mariana Borges, Ridson Reis.

 

“A Braskem acredita muito no potencial de transformação das pessoas e a cultura é um vetor extremamente importante para que você fortaleça uma sociedade, uma nação. Há 26 anos patrocinamos o Prêmio Braskem de Teatro e isso significa para nós uma forma de celebrar de as grandes as produções artísticas na região, mas também de fomentar o surgimento de novos artistas. A Bahia contribui muito para a formação da cultura brasileira”, lembrou Claudia Bocciardi, diretora de Marketing da Braskem.

 

Filha do escritor homenageado, Paloma Amado subiu ao palco, acompanhada da filha, Cecília Amado, e da sobrinha, Maria João, e disse, emocionada, que sentiu como se os pais estivessem do seu lado. “Esse foi um dia perfeito. Nunca poderia imaginar a presença viva do meu pai e de minha mãe aqui. Fui adolescente na ditadura militar e estudava em frente a Escola de Teatro. Lá era onde ia na hora do recreio, mais do que isso, ia lutar contra o regime. É um dia de esperança. Querem que a gente lute. Um país que tem teatro, literatura e arte vai sobreviver sempre. Assisti esse espetáculo tremendo”. Além disso, o Prêmio homenageou o feirense Hilton Cobra e a atriz e cantora Zezé Motta.

 

Presente no evento, a atriz Claudia Di Moura foi prestigiar os amigos, mas também refletiu sobre os tempos atuais. “Nesse momento em que nós artistas estamos sendo mais do que nunca demonizados, a gente ver esse prêmio resistir por 26 anos, nos alegra. Porém, ainda não temos o que comemorar. Tá difícil. O artista, apesar de ser taxado como vagabundo, trabalha muito. Estamos aqui para brindar a nossa resistência. É momento de se segurar um no outro”.

 

PREMIADOS

Em uma noite marcada por protestos contra o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, os vencedores teceram discursos a favor da cultura, educação e contra a bancada evangélica.  Uma das premiadas da noite com o troféu revelação pela atuação em “Jackie – A do Mal! Ou Não... Nem Tudo é o que Parece”, a atriz Bárbara Machado fez um longo discurso relatando sua trajetória. Dedicou a conquista aos pais e as pessoas que a acompanharam nesse percurso.

 

“Não poderia diante desse cenário de incertezas, deixar fazer um agradecimento especial a Universidade Federal da Bahia, centro de excelência de ensino, pesquisa e extensão. Não se pode considerar que a balburdia esteja presente, uma vez que a UFBA promove sim um despertar critico e atuante mesmo quando temos representantes que corrói direitos dos seres humanos, especialmente a educação. Não haverá mordaça, muito menos silêncio. Agradeço também ao povo negro que construiu esse País e segue na luta”, vibrou.  

 

O ator baiano Leno Sacramento, do Bando de Teatro Olodum, que há uns meses foi alvejado pela polícia, interpretou uma parte do seu espetáculo “Encruzilhada”, que fala sobre racismo estrutural e, em seguida, voltou ao palco para entregar o prêmio melhor texto para Gil Vicente Tavares por “As Tentações de Padre Cícero”, que não compareceu ao evento

 

Luis Alonso conquistou o troféu de Direção por “Teatro de La Independencia”. João Guisande levou a estatueta na categoria Ator, pelo desempenho nas peças “Por esse amor e Retratos Imorais”, e Evelin Buchegger foi escolhida melhor Atriz por “Teatro de La Independencia”. Luciano Bahia recebeu o troféu na categoria Especial pelo conjunto das direções musicais em 2018.

 

“Por que Hécuba”, “O Mundo das Minhas Palavras” e “O Teatro é de Cordel” (Jequié) foram os vencedores das categorias Espetáculo Adulto, Espetáculo Infantojuvenil e Espetáculo do Interior da Bahi, e receberam R$ 30 mil, enquanto os contemplados nas outras seis categorias receberam R$ 5 mil cada, além de troféus.

 

O Prêmio Braskem de Teatro avaliou 61 peças teatrais baianas profissionais e inéditas, que estiveram em cartaz em Salvador de 11 de abril a 23 de dezembro de 2018. A 26º Comissão Julgadora foi integrada por: Adelice Souza, diretora teatral, dramaturga e escritora; Fernanda Tourinho, produtora cultural; Fernando Marinho, músico, ator, diretor, artista visual e presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado da Bahia (SATED Bahia); Paulo Henrique Alcântara, dramaturgo, diretor teatral e professor doutor da Escola de Teatro da UFBA; e Zuarte Júnior, artista plástico e cenógrafo.

 

Nesta edição, em parceria com o Festival de Teatro do Interior da Bahia, cinco espetáculos concorreram na categoria Espetáculo do Interior. Assista a premiação: