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Marca Bahia Notícias

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'Os Santos': Tirinhas retratam o cenário político e social do Brasil a partir do contraditório

Por Jamile Amine / Bruno Leite

'Os Santos': Tirinhas retratam o cenário político e social do Brasil a partir do contraditório
Foto: Reprodução / Instagram

De um lado uma família de classe média branca brasileira e adepta de posicionamentos políticos e sociais retrógrados. Do outro, uma família pobre protagonizada por mulheres negras com vidas transpassadas pelo vínculo empregatício nas residências dos membros do primeiro núcleo. Esses aspectos compõem a narrativa de "Os Santos", série em quadrinhos idealizada e concebida pela dupla Leandro Assis e Triscila Oliveira.

 

A obra, que circula através do perfil de Leandro no Instagram há nove meses, trata, por meio da ironia e da contradição, sobre questões que apresentam uma compatibilidade com o contexto brasileiro. Leia-se o racismo estrutural, a desigualdade social e as diversas marcas do pós-abolição ainda recente.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, a dupla falou sobre o processo criativo e as temáticas difíceis, que perpassam a própria existência das tirinhas. Algumas delas chegam a ser para Triscila - que teve como primeiro trabalho (ainda criança) o de faxineira - não tão distantes assim.

 

"A história das minhas tias, da minha mãe, também foi essa, assim como a de milhares e milhões de mulheres pretas. As histórias são muito reais. E a gente escreve dessa maneira, para ser muito real", descreve Triscila.

 

Ela entrou no projeto após ter feito um relato numa das publicações de Leandro, que não se sentia confortável para tratar de circunstâncias distantes do seu lugar de homem branco e cisgênero e, assim, a convidou para colaborar com o projeto.

 


Foto: Reprodução / Instagram

 

Para ela, o momento do país pede a dureza da representação feita pelas tirinhas, pois mesmo que dolorosa, essa é a realidade. A representação, aliás, tem incomodado alguns setores da sociedade - os conservadores. "A gente tá mexendo com uma crítica social muito grande, com um abismo social muito grande, e as pessoas estão se incomodando com isso", comenta.

 

O fato fez com que uma das tirinhas fosse apagada, após uma série de denúncias feitas por seguidores que tinham como intuito a "queda" do material. Segundo Leandro, apesar da ocorrência, nenhum ataque direto foi feito a ele ou a Triscila até o momento. O que acontecem são críticas, muitas delas racistas.

 

Morando em Portugal, o ilustrador, que também é roteirista de TV e cinema, explica que o início do trabalho com desenhos sempre foi uma vontade, mas que só colocou em prática há dois anos, quando resolveu se empenhar na área. "Resolvi escrever meus roteiros para quadrinho e desenhar ao invés de fazer para cinema ou televisão. A partir desse momento eu passei a ilustrar o livro de um amigo", conta.

 

 

A ida para fora do país, um ano e meio atrás, aconteceu por uma "desanimação" com o contexto político tupiniquim. "Vir para cá [Portugal] muito por isso - principalmente quem trabalha com cinema e audiovisual ficou muito cansado também -, e acho que quando comecei a fazer os quadrinhos de humor vir para longe ajudou, a distância ajudou. Eu queria estar perto, e fazer as tiras me ajuda", confessa Leandro, que define "Os Santos" como uma tirinha de ódio - esse detalhe aparece ao final de todas elas.

 

"As pessoas esperam que uma tira de quadrinhos seja de humor. Eu acho que 'Os Santos' não tem humor, mas tem entretenimento. Está contando uma história, tem humor do personagem, mas as tiras não tratam com humor, é com ódio", define.

 

 A escolha da linguagem, a mesma escolhida por nomes consagrados como Henfil, Laerte e Ziraldo, de acordo com ele, "ajuda as pessoas a quebrarem a resistência e ler aquilo com um espírito mais aberto". 

 

Com mais de 500 mil seguidores na sua página no Instagram, Leandro e Triscila pretendem levar a obra, que já tem data para acabar, para outros suportes como livros e talvez até para a televisão.