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Marca Bahia Notícias

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Em EP, Marcela Bellas transforma obra de Gregório em música para 'descer até o chão'

Por Jamile Amine

Em EP, Marcela Bellas transforma obra de Gregório em música para 'descer até o chão'
Foto: Tiana Jones

“Acabe o mundo, porque é já preciso, (...) é chegado o dia do juízo”, anunciam os versos de Gregório de Matos, que pelas mãos da cantora baiana Marcela Bellas, junto com seu parceiro Helson Hart, viraram “música pra balançar”.

 

Inspirada na poesia “Ao Dia do Juízo”, de autoria do poeta conhecido como “Boca do Inferno” ou “Boca de Brasa”, a faixa “Final do Juízo” é uma das sete que integram o EP “Gregório - poesia barroca e música baiana - Marcela Bellas com Elas”, lançado nesta sexta-feira (30) pela artista. 

 

Na mesma data, o público poderá conferir o videoclipe da canção, produzido por Tiana Jones, e também acompanhar um bate-papo sobre todo o projeto, em uma live realizada às 20h, no Youtube de Marcela. Além da própria artista, o encontro virtual terá a participação das cantoras Nancy Viegas e Manuela Rodriges, do produtor executivo do projeto, Graco Vieira, e de João Sanches, dramaturgo que estuda a obra e a vida de Gregório de Matos.

 

 

Concluído em dois meses, durante a pandemia, o EP teve gravação com Manuela Rodrigues na cozinha da casa de Marcela:

 

“Esse projeto é antigo, nasceu da ideia de Helson Hart, meu grande parceiro desde o início da carreira. Ele começou musicando alguns versos de Gregório e veio me mostrar um verso relacionado a Catarina, por uma ligação espiritual que eu tenho com a índia Catarina Paraguaçu. Naquele momento ali eu senti algo muito forte dentro daqueles versos e uma amizade entre Catarina e Gregório. É uma loucura, mas é o que eu senti”, conta Marcela, que com a iniciativa pretende popularizar a obra do poeta barroco.

 

“Fissurada” no propósito, a artista estava decidida a concretizar aquele sonho, agora possibilitado pela Lei Aldir Blanc, em meio à pandemia. “Há muito tempo eu batalho para conseguir lançar esse projeto, lancei o single da ‘Danadinha’, a primeira música que está no Youtube, acho que em 2016. Então veja o tempo da maturação disso pra chegar nesse momento. Acredito que as coisas tenham um tempo”, pontua a cantora, que a partir do trabalho inicial de Helson, com uma pegada mais MPB, transformou tudo em música baiana. “Era como se Gregório me dissesse que era assim que ele queria que fosse mostrado”, explica a artista.

 

Com uma obra marcada por picardia e críticas sociais, Gregório de Mattos, segundo Marcela Bellas, “nunca foi tão atual”. Dito isto, ela se coloca como voz em um trabalho que, a exemplo do poeta, aborda temas como misturas de raça, racismo, dogmas religiosos e loucura. “Então, é chegado o dia do juízo e do final do juízo. Eu acho que esse EP traz também paixão, sensualidade, amor... É um outro lado de Gregório, quando eu canto pra ‘Catarina’, que é um poema de Gregório, mas que pra mim está ligado diretamente à índia Tupinambá, a mãe do Brasil, minha mãe espiritual. É um trabalho de espiritualidade forte e são eles que determinam”, acrescenta a cantora, que para casar o discurso atemporal à musicalidade contemporânea, escalou uma dupla de amigas. “Eu sentia que precisava dos vocais, que isso era uma identidade da música baiana, do axé music e também da música barroca. E convidei Nancy Viegas e Manuela Rodrigues pra dar essa identidade vocal, porque acho que é a praia delas e elas mataram a pau”, conta. 

 

Por sua vez, dentro da proposta de democratizar os versos do “Boca de Brasa”, Marcela defende o papel da música baiana, “que balança o mundo inteiro” e leva a identidade através das fronteiras, além de traduzir um povo e a obra de Gregório. “Porque é isso, a gente está falando disso assim, está falando da Bahia, e não existe nada que fale mais da Bahia para o mundo inteiro que não seja nossa música. E tem tudo a ver, vai do BaianaSystem ao Olodum, à Tropicália, a Psirico, a tudo”, diz a artista, explicando o contexto do EP, que traz ainda referências melódicas do pagode, rock, afoxé, ijexá e arrocha.

 

Veja a performance de Marcela Bellas em "Danadinha":

 

“Minha ideia seria agora levar pra frente, jogar nas escolas esse material, chegar nas periferias, aquele menino que nunca ia pegar um livro pra ler um verso de Gregório de Matos, mas que vai dançar um pagode cantando Gregório de Matos. A ideia é essa, é ter um trio de Carnaval de poesia barroca e música baiana saindo e as pessoas dizendo essa poesia, cantando, porque eu acredito que essas canções têm um poder radiofônico, popular”, revela a cantora. “Acredito que isso chega em qualquer lugar, pra qualquer pessoa, e a intenção de popularizar é essa. É pra aquela avó, aquele garoto, que aquela mãe, aquele policial, que nunca abririam um livro pra ler os versos de Gregório, poderem cantar, dançar, descer até o chão e fazerem o que quiserem”, prevê. 

 

 

Confira o EP: