Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

Diretora do MAM-BA é demitida e publica carta aberta em que critica Secult

Por Marília Moreira

Diretora do MAM-BA é demitida e publica carta aberta em que critica Secult
Foto: Andrew Kemp | Divulgação
A professora Stella Carrozzo foi demitida da direção do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) pelo secretário Albino Rubim (Cultura), nesta segunda-feira (17). Por considerar a demissão arbitrária, a gestora divulgou uma carta aberta em que expõe os feitos de sua gestão, que durou dois anos. “Só posso considerar questões pessoais como o mote para a minha demissão”, cogitou. Stella fala sobre as divergências com a Secretaria de Culturado Estado (Secult) e afirma que foi vítima de um “eterno contingenciamento de verba” que teria afetado toda a classe na Bahia, sobretudo os artistas visuais, "uma minoria desprotegida que precisa ser defendida contra interesses que vão de encontro à arte".
 
Confira abaixo a íntegra da carta aberta publicada pela ex-diretora do MAM Stella Carrozzo:
 
“Hoje, 17 de dezembro de 2012, fui informada por Dr. Albino Rubim da reformulação por que passa a Secult.
 
A partir do ano que vem, o Museu de Arte Moderna da Bahia terá novo diretor. Após ter trabalhado durante dois anos pela reforma do museu, fui, de forma desumana e abruptamente, sem nenhuma conversa prévia, afastada do cargo. 
 
Isto, antes de atingir a estabilidade e sem poder me organizar pessoalmente para enfrentar minimamente esta nova realidade. Não encontro, para esta determinação, nenhum motivo de peso, já que trabalhei apaixonadamente para esta instituição.
 
Dediquei-me exclusivamente ao MAM-BA, e todas as outras atividades profissionais e de estudo (até mesmo familiares) se viram relegadas. Apesar da afirmação do Secretário de que não havia nenhum motivo pessoal que justificasse tal atitude, só posso considerar questões pessoais como o mote para a minha demissão. Solicitei, em várias ocasiões, audiências com o Dr. Albino Rubim e nunca tive um canal aberto para expor as dificuldades que enfrentava ou mesmo propor alternativas às necessidades da classe artística, como a realização da Bienal da Bahia.
 
As divergências entre o MAM-BA e a DIMUS (e, consequentemente, a Secult), surgiram por ter defendido a integridade da instituição e de seu acervo, além de um programa que alinhava suas diretrizes à contemporaneidade. Todas estas, atribuições da minha função. Outra dificuldade foi o eterno contingenciamento de verba a que fomos submetidos, restringindo a programação do museu.
 
Hoje, posso afirmar que a classe artística na Bahia (sobretudo os artistas visuais), é uma minoria desprotegida que precisa ser defendida contra interesses que vão de encontro à arte.
 
Enfrentei várias dificuldades durante minha gestão, e a última delas demonstra a falta de preocupação com a direção deste museu. Soube, há somente uma semana atrás, que a reforma do MAM-BA seria realizada em 2013, quando já tinha organizado todo o calendário expositivo do museu, inclusive com instituições estrangeiras e artistas convidados, o que vai gerar inúmeros transtornos para todos os envolvidos, reiterando um aspecto de informalidade e de pouco profissionalismo, contra o qual sempre lutamos.
 
Comecei no MAM-BA em fins de 2007, como coordenadora do núcleo de Arte e Educação. Em 2008, fui convidada a ser assessora de Solange Farkas, diretora desta instituição de 2007 a 2010. Com sua saída, assumi a direção do museu, abrindo mão de outras atividades profissionais e articulações pessoais. Um programa alinhado às diretrizes da contemporaneidade, e preocupado com um trabalho efetivo de formação de público e para o público, como foi o programa de ações desenvolvido por Farkas, foi mantido por mim.
 
Por conta da nova (e reduzida) realidade orçamentária do MAM-BA, criei o Núcleo de Desenvolvimento de Projetos, que nos auxiliou na obtenção de recursos externos, que iriam ajudar a instituição na manutenção, pelo menos, das linhas gerais do programa que havia estabelecido para este museu. Centrei forças nas atividades de arte e educação que oferecemos, de forma responsável e criteriosa, a um público que busca, cada vez mais, ações efetivas de formação e não um mero simulacro de terapias ocupacionais - com todo o respeito que dedico a estas.
 
Vários outros projetos não puderam ser realizados, por conta da falta de verbas para o MAM-BA. É notório que esta instituição, apesar de ter a maior visitação do estado, teve uma verba menor que outros museus ligados à DIMUS, o que inviabilizou, por exemplo, a manutenção de projetos na área do audiovisual, na realização de exposições de importantes artistas contemporâneos e de ouras ações.
 
Além disso, parcerias conseguidas junto a outras autarquias e instituições foram barradas pela DIMUS, sob alegação de que estas parcerias beneficiariam apenas o MAM-BA e não aos outros museus, apesar da evidente motivação que levou estas instituições a estabelecer parcerias com o museu: a expertise que adquirimos, após anos de pesquisa e dedicação a programas educativos. Estas parcerias, que se traduziriam em verba e formação de novo público para o MAM- BA, foram desperdiçadas.
 
Apesar disso, deixo a direção do Museu de Arte Moderna da Bahia ciente de que fiz um bom trabalho, dentro das condições que me foram oferecidas. O MAM-BA acaba de receber dois prêmios através do Ministério da Cultura e do IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus - justamente pela excelência de suas ações na área de arte e educação.
 
Através do patrocínio da Oi, consegui criar o LabMam - Laboratório de Mídias Digitais - que ofereceu, de forma gratuita (como todas as outras atividades oferecidas ao público pelo MAM-BA), cursos de formação na área do audiovisual, trazendo como professores renomados profissionais e pesquisadores, locais e de outros estados.
 
Vários projetos - como a efetivação do Núcleo de Pesquisa do MAM-BA e o projeto curatorial para artistas locais, que tento estabelecer desde o início da minha gestão - foram inscritos em editais, na tentativa de obter suporte financeiro para as ações deste museu. Busquei patrocínios em empresas públicas e privadas, e espero que estes editais contemplem o MAM-BA, respeitando sua importância histórica e cultural.
 
Quero agradecer a todos - artistas, produtores, gestores , público em geral e sobretudo à preciosa equipe (funcionários do museu e professores das Oficinas do MAM-BA) que muito me ajudou, de forma abnegada por conta dos reduzidos salários, na tentativa de efetivar um programa para esta instituição.
 
Stella Carrozzo
Salvador, 17 de dezembro de 2012.”