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Marca Bahia Notícias

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Salvador ganha novo corredor cultural com reabertura do Teatro Gregório de Mattos

Por Jamile Amine

Salvador ganha novo corredor cultural com reabertura do Teatro Gregório de Mattos
Teatro terá formato não convencional, com espaço multiuso e mobilidade de palco
Após mais de sete anos de reformas, o Teatro Gregório de Mattos reabre as portas às 19h desta quinta-feira (11), com uma reestruturação completa. Para a ocasião, estão previstas uma performance do cicerone Jackson Costa, que interpretará o poeta baiano que dá nome ao teatro; uma exposição sobre Lina Bo Bardi, arquiteta italiana que idealizou o projeto do espaço; além da participaçao dos atores Laila Garin e Osvaldo Mil, que encenarão um trecho do musical “Eu te amo mesmo assim”, que estreará no fim de semana no mesmo local. O prédio, que tinha sérios problemas estruturais, foi recuperado com vistas no seu projeto original. "A gente recuperou inicialmente toda a parte de estrutura, de manutenção mesmo. Hidráulica, elétrica, e reforçou toda a parte de engenharia externa e interna. E, por último, fizemos a climatização nos dois andares, além da instalação de equipamentos de som e de luz de última geração.  O investimento rodou os R$ 2,5 milhões, e foi em uma parceria da Prefeitura com o banco Itaú", afirma o diretor teatral e presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro.
 
Trechos do espetáculo musical “Eu te amo mesmo assim” serão apresentados durante abertura | Foto: Vânia Freire
 
Ele explicou ainda os motivos do longo período em que o equipamento esteve fechado, em manutenção. "Quando cheguei, logo a recuperação dele virou um dos objetivos fundamentais. Mas eu tive alguns problemas de percurso. Você sabe que obra, quando você mexe em uma coisa, descobre outra. No caminho a gente teve também um problema que foi uma invasão de usuários de crack no final de 2013. Eles arrancaram toda a fiação, inclusive o quadro de luz, destruíram todos os fios de cobre, quebraram parede, foi um horror. Isso atrasou a obra e dobrou o custo, praticamente. E daí em diante o meu perfeccionismo não me permitiria inaugurar se não estivesse tudo realmente correto. Então, entre vais e vens, a gente levou esse tempo, mas não se parou em momento algum", lembra Guerreiro, sobre o espaço que hoje figura oficialmente como o teatro municipal da cidade, e que tem uma história muito importante, pois é onde funcionava o Tabaris, um marco da vida noturna e boêmia da capital baiana. 

"Foi um período dourado aqui dos cassinos, dos dancings. O Tabaris é muito famoso até hoje, e a gente retoma um equipamento num momento que está vivendo em Salvador uma crise terrível de espaços. A gente está ai com o Jorge Amado nessa pendência, o Acbeu não sabe o que vai acontecer, sem espaço pra show, Arena Fonte Nova nessa pendência danada, Bahia Café Hall fechado", diz o gestor cultural, sem deixar de destacar também a importância de "voltar à normalidade" e manter o equipamento aberto. "O Gregório fechou várias vezes, ele já teve várias soluções de descontinuidade", diz Guerreiro, que atribui as dificuldades à complexidade na manutenção. "Enquanto eu estiver aqui, está garantido [a permanencia do Gregorio de Mattos], mas quando eu voltar para minha vida artística, aí a classe tem que se mobilizar. Um teatro é um dos equipamentos mais complicados, você tem que ter uma manutenção constante. Porque ele tem mil questões, envolvendo iluminação, som, inclusive a própria estrutura mesmo, é preciso estar sempre atento, porque senão sucateia rapidamente", explica.

Galeria da Cidade será reaberta com exposição sobre Lina Bo Bardi | Foto: Divulgação
 
O "novo" Teatro Gregório de Mattos retoma uma galeria de 440 m² na parte de baixo do prédio, chamada de Galeria da Cidade. Ali estará, durante a abertura, uma exposição sobre Lina Bo Bardi, o que Guerreiro considera uma dívida à cidade, por causa do centenário da arquiteta que fez o projeto do teatro. Com a curadoria do artista plástico Joãozito, a mostra "Amar a Lina" é uma grande leitura da obra da italiana, com um corte da relação dela com Salvador, explicando os motivos que a fizeram viver na cidade. Após a abertura, nesta área Guerreiro pretende realizar exposições e trabalhos com performances que tenham relações com outras linguagens artísticas. "Não quero ficar aquela coisa só estática de quadro pendurado, quero que ela seja uma galeria dinâmica", diz.
 
Já na parte de cima, onde fica o teatro chamado de Tabaris, será retomada a ideia original de Lina Bo Bardi. Ali funcionará um espaço multiuso. "Você tem um grande salão vazio e coloca o público e o palco onde você quiser. Inclusive as pessoas que chegam lá tomam um susto, porque elas não estão acostumadas, pensam que é um teatro convencional, com cortina, com palco italiano, quando elas vêem aquele salão enorme dizem ‘Que é isso?’. Mas a ideia é justamente essa, ele é um espaço para experimentação. Não tem o nome Gregório de Mattos atoa, é para projetos mais ousados, mais fora do convencional. E também a gente está com a proposta de trazer para o espaço os musicais, não só nas pautas, mas também com o grupo Dimenti, que vai fazer uma residência e trabalhar com oficinas e debates sobre a tecnologia do musical para Salvador", diz Guerreiro, já marcando as características que ele quer agregar ao local e destacando o potencial da cidade como centro produtor deste estilo de arte. 
 
'As pessoas que chegam lá tomam um susto, porque elas não estão acostumadas, pensam que é um teatro convencional, com cortina, com palco italiano, quando elas vêem aquele salão enorme dizem ‘Que é isso?’. Mas a ideia é justamente essa, ele é um espaço para experimentação'. Foto: Max Haack  | Agecom.
 

Com a reinauguração, Salvador ganha um novo corredor cultural, com as quatro salas do Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, além do Espaço Cultural da Barroquinha e o Teatro Gregório de Matos. De acordo com o gestor cultural, tais ações revitalizaram a área da Praça Castro Alves, somando-se às obras feitas no entorno, como a nova escadaria na lateral da Igreja da Barroquinha e o novo estacionamento em frente ao cinema. Como a questão das vagas para os carros é um ponto problemático na cidade, ele conta ainda que já existe uma movimentação para que a parte de trás da igreja seja transformada em estacionamento. "Com essa ocupação, as pessoas acabam perdendo um pouco o medo, e é esse o objetivo principal, trazer as pessoas de volta para o Centro Histórico. Eu estou adorando essa coisa de cobrança em estacionamento de shopping, porque o povo deixa de ir pro cinema do shopping e vai pro cinema lá", brinca.

Tabaris, que na década de 50 era um dos pontos mais boêmios de Salvador | Foto: Bahiatursa
 
A ocasião é especial para Fernando Guerreiro também do ponto de vista pessoal, já que foi ali que ele dirigiu seu segundo espetáculo, no ano de 1979. "E também foi a única vez que pisei no palco como ator, graças a Deus. Eu me descobri logo um ator muito ruim, aí eu pulei fora logo. Eu pensei, virginiano que sou, não vou ficar me queimando aqui fazendo uma coisa fuleiragem não", lembra ele, que, por gostar do teatro, desceu dos palcos mas não deixou a atividade, e migrou para a direção. Mas quem nunca teve a oportunidade de vê-lo atuar pode ter esperanças. "Agora estou até pensando em voltar a trabalhar como ator, vou fazer um negócio ai. Todo mundo fica atrás de mim pra eu fazer um stand up, uma hora dessas eu vou fazer, contando minhas loucuras da trajetória. Em vez de escrever um livro, eu faço um espetáculo", conta.