Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

'Quando você tem representatividade, você encontra um espelho de você', afirma Liniker

Por Ailma Teixeira

'Quando você tem representatividade, você encontra um espelho de você', afirma Liniker
Foto: Ailma Teixeira / Bahia Notícias
Com um EP, três músicas e quase dois milhões de visualizações no Youtube, Liniker e os Caramelows fazem sua estreia em Salvador nesta sexta-feira (22), com ingressos esgotados para o show na Praça Tereza Batista, no Pelourinho. É também a primeira vez que o jovem paulistano de 20 anos visita a capital baiana. “A gente veio até subindo pra rua, foi uma energia muito forte assim, porque tem essa coisa de falar sobre representatividade, chegar numa cidade onde eu sei que a maioria dos terreiros está aqui, a maioria dos negros está aqui, tudo começou aqui, eu estou até muito emocionado”, conta Liniker, em entrevista ao Bahia Notícias, pouco antes da passagem de som.



Liniker e Os Caramelows se uniram em fevereiro de 2015 para planejar o EP "Cru" | Foto: Leila P.

Além das faixas do EP, o show vai contar com covers e novas canções, que estarão presentes no álbum “Remonta”, que a banda se prepara para lançar no segundo semestre. Com 13 canções, o disco está sendo produzido de forma independente e colaborativa entre os Caramelows, assim como foi a produção de “Cru”. “Uma das coisas que a gente mais visa nesse projeto é ter autonomia sobre ele e botar nele o que a gente realmente acredita porque o mercado é muito grande e você acaba virando um produto que vai ficando na geladeira”, defende a artista. Para a gravação do EP, que aconteceu de fevereiro a julho, eles criaram o selo “Vulkania” e contaram com a ajuda de pessoas que queriam simplesmente colaborar com o projeto, mesmo que não houvesse retorno financeiro. “A gente pensou como seria essa produção, como seriam todas as músicas, as linguagens desse EP, como a gente gostaria de trabalhar ele em questão de estética mesmo e aí a gente opta por fazer na sala do Zar [Willian Zaharanski, guitarrista da banda], ao vivo, pra captar esse som do espaço, do momento presente ali”, explica. Assim, Liniker conta que “Cru” nasceu, em outubro, com o custo de R$ 200 reais para pagar a viagem de ônibus do técnico de som e as refeições que alimentavam a equipe durante a gravação. Para quem esperava passar um ano com cerca de 20 mil visualizações foi grande o susto com a proporção que os vídeos tomaram nesses seis meses. De lá pra cá, já foram 50 shows. “Foi a sensação de dormir e acordar com tudo diferente, os vídeos já estavam com milhares de visualizações”, admira.
Mas não foi apenas por conta das canções de amor que esse jovem de Araraquara ficou conhecido no país. O canto é acompanhado por uma performance e discursos que lutam pela desconstrução de gênero. Sem interesse em se definir ou reconhecer como menino ou menina, Liniker defende o desejo de ser aquilo que quer quando quer. “Quando você tem representatividade, você realmente encontra um espelho de você. E aí eu lembro quando eu ganhei minha primeira saia, foi a sensação de liberdade, de ver que ali podia ser eu”, lembra. A artista conta se reconheceu dessa forma quando saiu de Araraquara e dividiu casa com uma amiga que também não se identifica com nenhum dos gêneros, em Santo André. “A partir do momento que eu estava feliz comigo, quem é a sociedade pra dizer que eu não posso? Quem é a sociedade pra dizer que eu preciso viver de um jeito padronizado, de um jeito que eu não me encaixaria, que não é de verdade, que meu coração não vibra?, questiona”. Assim, o músico abraçou sua identidade e decidiu que precisava levar essa mensagem para o projeto, se expressando como em seu cotidiano de resistência. “É uma corrida de sair da caixinha e minha roupa não determinar o que eu sinto”, ressalta.