Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias

Notícia

Com olhar libertário, 'Me Brega, Baile!' põe o público para dançar e refletir sobre paradigmas

Por Jamile Amine

Com olhar libertário, 'Me Brega, Baile!' põe o público para dançar e refletir sobre paradigmas
Foto: Divulgação

Tendo como proposta a quebra de paradigmas na dança de salão, sobretudo os relacionados à heteronormatividade, o espetáculo “Me Brega, Baile!” faz curta temporada na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, desta sexta-feira (28) a domingo (30), sempre às 20h.

 

Com direção e provocação coreográfica de Leandro Oliveira - ex-bailarino do Balé do TCA -, a montagem foi concebida coletivamente, carregada de vivências dos integrantes do grupo Casa 4. “O ‘Me Brega, Baile!’ surge a partir de uma intensa turnê com um espetáculo antigo, ‘Salão’. "A partir dessas experiências de viagens a gente foi concebendo”, conta Leandro. “A gente participou de muitos festivais que tinham bailes de dança de salão e eram bailes contemporâneos, então vislumbrou a possibilidade de formatar um espetáculo que tivesse as características dessas festas contemporâneas e que trouxessem algumas reflexões sobre o universo LGBT, colocando um contraponto entre os tradicionais e contemporâneos”, salienta.

 

Em uma dessas viagens, um acontecimento em especial chamou a atenção do grupo, e gerou inclusive material que viria a ser inspiração para a nova montagem. “Teve esse episódio que colocavam algumas cenas de ‘Salão’ como inadequadas para uma classificação livre. E aí durante o processo de montagem de ‘Me Brega, Baile!’ a gente trouxe algumas cenas similares do universo de dança e que nunca foram questionadas com relação à classificação. Porque entendemos que existe um olhar preconceituoso em relação a ‘Salão’ que não existiria se não fosse um espetáculo LGBTQI+”, avalia Leandro, lembrando ainda que foi atribuído teor sexual no espetáculo. “Quem assistiu ‘Salão’ sabe que a gente não aborda sexualidade em momento algum. E sim o gênero na dança de salão, expressão de gênero, e coloca questões reais de violência, situações que aconteceram conosco. Só que no processo eles falam que a gente tem movimentações similares às do funk e que, por isso, deveria ter uma classificação de, no mínimo, 14 anos”, conta o diretor. “Além disso, dizem que tem toque proposital na genitália, coisas que na dança acontecem de forma geral e nunca foi um problema pra nenhum espetáculo...”, compara.

 

A partir de episódios como este e de muito debate, o grupo construiu a nova montagem coletivamente. “A gente já estava pensando em fazer um próximo espetáculo, não sabia o que era, mas durante as viagens gravava nossas conversas no aeroporto, no hotel, nas reuniões que fazia, já ia pensando no que gostaria de falar sobre, quais as questões que gostaria de tocar para o próximo espetáculo”, lembra Leandro Oliveira, explicando que a ideia de mergulhar no universo dos bailes foi inspirada no que encontraram durante os festivais aos quais o grupo participou. O tipo de baile escolhido para o novo trabalho, no entanto, foi o contemporâneo, que, diferente do tradicional, possibilita uma infinidade de caminhos, sem tantos dogmas. “Nos bailes tradicionais existe uma série de regras, inclusive de vestimenta, comportamento. Nos contemporâneos existe uma liberdade muito maior, tanto na expressividade de gênero, quanto no tipo de dança, no modo de dançar, na liberdade de você inverter os papeis de condutor e conduzido, de ativo e passivo dentro da dança de salão, de quem comanda, enfim, todas essas coisas que são bem limitadas dentro da dança de salão tradicional a gente descontrói, abre outras possibilidades de vestimenta, de expressão”, explica o bailarino.

 

A imersão no “brega”, por sua vez, se deu por acreditarem que esta é uma linguagem “de libertação, de poder ser o que quiser, exagerar onde quiser, trazer essa identidade mais forte e mais marcante”. Segundo o diretor, a montagem busca se conectar com a liberdade inerente ao “brega”, na qual é permitido ser exagerado, não esconder e extravasar. “Se está apaixonado é apaixonado mesmo, se está triste é triste mesmo, se está feliz é feliz mesmo! Mostrar o que é que dói, que alegra, de forma intensa mesmo e clara, sem camuflar muito. Então, o ‘Me Brega’ é esse lugar, é o nosso baile, onde a gente é, de fato, sem muitas máscaras. É um baile sem máscaras, literalmente”, define Leandro. Tendo como foco a liberdade e transgressão, o espetáculo une, então, o baile (contemporâneo) e o brega: “A gente trabalha também com a questão da espetacularidade dentro do salão. Porque assim, na dança de salão contemporânea, existe a possibilidade de abrir espaço para performances, para uma apresentação de uma forma mais flexível”, informa o diretor.

 

A montagem propõe ainda uma forte interação com o público. “A ideia é que seja um baile e que as pessoas possam estar dançando o tempo todo, e que durante esse baile as cenas vão se estabelecendo e transitando entre uma e outra”, revela Leandro Oliveira, destacando que a ideia é criar uma “ambiência de baile”, com o objetivo de inserir a plateia neste universo, por vezes como parte dele e, em outros momentos, apenas como espectadores. “As percepções que a gente pretende trazer são costuradas pra levar o público a mergulhar dentro dela. Então, tem uma linha condutora que tem um final, mas não existe uma história muito clara. Existe um fio condutor que vai levando os espectadores para dentro das reflexões que a gente traz, dentro da dança contemporânea”, detalha o diretor, que diz não ter medo de possíveis críticas ou hostilidade. “A gente sabe da possibilidade de vir uma censura, críticas, preconceito, mas isso a gente já vive cotidianamente. No nosso espetáculo vai ter justamente um convite pra reflexão acerca disso”, afirma Leandro. “Pra mim, e acho que pro grupo todo, se esconder, não dizer o que pensa e se calar é muito mais grave do que você se expressar”, acrescenta, lembrando que o país “endureceu” mais, mas que as dificuldades já fazem parte do cotidiano da comunidade LGBT. “A gente já é forjado nessa luta. E como somos artistas, a gente não tem como calar nesse momento, ao contrário”, declara.

 

SERVIÇO
O QUÊ:
“Me Brega, Baile!”
QUANDO: Sexta-feira a domingo, 28, 29 e 30 de junho, às 20h 
ONDE: Sala do Coro do Teatro Castro Alves - Salvador (BA)
VALOR: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)