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'Tenho bons e maus momentos e vou falar disso', diz rapper DiCerqueira sobre suas letras

Por Bruno Leite

'Tenho bons e maus momentos e vou falar disso', diz rapper DiCerqueira sobre suas letras
Foto: Divulgação

Promessa na cena do rap soteropolitano, DICERQUEIRA é um afeito pesquisador de referências e novos estilos musicais. O rapper de 28 anos e estudante de Comunicação na Universidade Federal da Bahia (Ufba) viu nos últimos meses seu nome estampar line-ups de festivais como o Virada Sustentável, Oferendas, Origens e o Virada Salvador. 

 

Mas, se o espaço em eventos "mainstream" é recente, o trabalho musical não é algo tão novo assim. "Música sempre esteve presente na minha vida desde que eu me conheço por gente. Quando eu era criança sempre ganhava CDs e sempre amei ouvir radio. No ensino médio, lá pros meus 15, 16 anos eu entrei pro grupo de coral do colégio que eu estudava", contou Di ao Bahia Notícias. 

 

Pela falta de referências acessíveis no início da vida musical, o cantor até pensou em desistir, mas a ascenção de outros artistas no meio fez com que tivesse impulso para seguir em frente. "Por sempre ouvir muita coisa, comecei a ouvir rap na adolescência também, mas nunca achei que seria algo possível pelo fato de ser gay. Até que eu vi acontecer uma renovação na cena musical brasileira, né? Rico Dalasam, Hiran, Gloria Groove, Quebrada Queer... Depois que eu vi esses artistas fazendo rap entendi que era algo possível pra mim e decidi me jogar!", afirmou o rapper, que mora na Ribeira há 10 anos.

 

Protagonista de parcerias com artistas como o rapper baiano Hiran, em “Funk Amor”, e Mary Jane Beck e Yan Cloud, na canção “Dona da Pista”, Di disse escutar de tudo. A playlist do artista vai desde o rap, passando pelo pop e MPB, indo até o pagodão e o brega funk. 

 

"Eu adoro conhecer novos artistas, estilos musicais, novas referências... Mas se eu for colocar em nome alguns artistas que eu admiro posso dizer Emicida, Aminé, Beyoncé, G-Dragon, Janelle Monaé, Michael Jackson, Prince. É muita gente que eu curto e sou fã mesmo", explicou, afirmando que atualmente tem escutado muito o que há de novo no rap sul-coreano.

 


DICERQUEIRA e Hiran | Foto: Divulgação / Heder Novaes

 

"Lendária", seu primeiro single, lançado em janeiro de 2019, foi o pontapé inicial para muita coisa em sua carreira. Com a canção, foi premiado com a categoria de Melhor Intérprete Vocal no Prêmio de Música Educadora FM do ano passado. No entanto, segundo Di, ainda há uma dificuldade no reconhecimento do estilo musical pelos produtores culturais. 

 

"Posso dizer que estou sendo bem recebido aqui em Salvador, mas ainda assim de uma forma geral existe um 'bairrismo'. Tem muita gente incrível aí que não é vista e merece espaço. Falando mais especificamente do rap, ainda falta muito! Vejo várias lines de festivais e grandes eventos ignorando a existência de artistas do rap e isso precisa ser pontuado! Underismo, Aurea Semiseria, Makonnen Tafari, Yan Cloud, Janaina Noblat, Vandal. O Rap BA tem história e já passou da hora dos produtores de eventos pararem de fingir que não estão vendo essa galera", pontuou. 

 

Sobre a recepção na cena soteropolitana, ele diz que teve uma surpresa em relação ao reconhecimento dado ao seu trabalho, especificamente por ser um artista LGBT cantando rap. "Todo mundo que eu tive a oportunidade de conhecer me tratou bem, elogiou e apoiou o meu trampo", defendeu, completando que produzir música é 50% do processo de construção de uma carreira.

 

Desde o ano passado, quando deu um start em seu trabalho oficialmente, foi convidado para alguns dos festivais que movimentam o meio na cidade e foi notado por produtores importantes, a exemplo de Andrea Franco - o que proporcionou a ele a apresentação no palco do Camarote Expresso 2222 no último Carnaval. Tudo isso, afirma ele, faz parte do entendimento das estruturas e de como as coisas funcionam quando o assunto é produção musical.

 

"O fato de ser estudante de produção cultural na Facom me dá um 'know how' de como agir em diversos momentos. Tenho um ano e meio de carreira, profissionalmente falando, e já venci um dos maiores prêmios de música da Bahia, cantei em vários festivais e fiz tudo isso sem concluir o meu álbum, que ainda está em fase de produção. Tô doido pra montar o meu show completo e assim buscar conquistar tudo o que eu quero", ponderou.

 


Di no Festival Virada Salvador 2020 | Foto: Divulgação / Igor Santhz

 

O seu lançamento mais recente é o clipe de "DPZV (Desprezível)", em que Di põe sua voz em jogo e traz na letra uma resposta para ataques LGBTfóbicos endereçados a ele nas redes sociais. Contudo, outras músicas surgiram em contextos parecidos: "Lendária", por exemplo, foi escrita, conforme disse o artista, depois das últimas eleições presidenciais. "[Foi] quando vi uma onda de ódio tomar conta do meu país. O que foi a morte de Mestre Moa do Katendê? Um casal homossexual sendo hostilizado por vizinhos... Eu queria gritar e gritei em forma de música. Com o tempo eu fui me forçando a não cantar e falar só sobre esses algozes sabe? Eu sou uma pessoa LGBT, mas que amo, sofro, choro, me divirto. Tenho bons e maus momentos como qualquer um e vou falar sobre tudo isso", elencou.


O disco de estreia do rapper está em fase de produção. Questionado sobre o que o público pode esperar do álbum, Di anunciou que pretende mostrar um trabalho multifacetado e com faixas dançantes, para que quem escute possa cantar, militar ou até mandar para o "crush". "Eu tenho várias facetas e faço questão de mostrar pra todo mundo todas elas", concluiu DICERQUEIRA.

 

Confira "DPZV", o trabalho visual mais recente do rapper: