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Entrevista

"Toda eleição é difícil, mas ninguém é imbatível", diz Marta Rodrigues sobre disputa em Salvador para 2024 - 12/06/2023

Por Mauricio Leiro / Gabriel Lopes

"Toda eleição é difícil, mas ninguém é imbatível", diz Marta Rodrigues sobre disputa em Salvador para 2024 - 12/06/2023
Foto: Flávia Requião / Bahia Notícias

Um dos principais nomes da bancada que faz oposição ao prefeito Bruno Reis (União) na Câmara de Salvador, a vereadora Marta Rodrigues (PT) avalia que o atual gestor não é "imbatível" para a disputa pelo Executivo em 2024. Natural candidato à reeleição, Reis deve ter como principal adversário no próximo pleito um nome ligado aos petistas. Na avaliação da edil, o debate sobre a sucessão municipal deve ser iniciado com antecedência, de acordo com as demandas da cidade, antes mesmo de se chegar a um nome do grupo.

 

"Toda eleição é difícil. Cada ano que passa vai tomando outras realidades. Mas eu acho que ninguém é imbatível, não tem essa situação, porque a cidade de Salvador é muito dinâmica, é muito circular, vão acompanhando e avaliando também a situação da gestão do executivo como é que está, são debates que precisam estar no dia a dia, por isso que eu sempre digo que a gente tem que começar o debate antes pra depois a gente ver o nome", comentou a vereadora em entrevista ao Bahia Notícias na última semana.

 

Ex-líder da oposição no Legislativo soteropolitano e em seu terceiro mandato, Marta Rodrigues também comentou a produtividade da Casa ao longo da legislatura, falou sobre as discussões para revisar o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) da capital baiana e representatividade na disputa pelo Palácio Thomé de Souza.

 

Leia a entrevista na íntegra abaixo.

 

Foto: Valdemiro Lopes / CMS

 

Chegando na metade do terceiro ano legislativo desse mandato, indo para o último ano legislativo. Queria que a senhora fizesse uma avaliação das atividades na Câmara de Vereadores. Como foram esses anos em relação às proposições dos vereadores, da condução na Casa, da entrega da Câmara de Vereadores para a sociedade?

Nós elaboramos muito, muitas entrega, foi projeto de lei, de indicação, de resolução, de diversos vereadores e vereadoras. Agora muitos desses têm chegado no Executivo e tem recebido os vetos. Isso tem nos deixado muito preocupado porque tramita nas comissões, nas duas principais, que é a que primeiro analisa se é constitucional ou não, a CCJ, depois na de Finanças vai ver se vai criar despesas, e depois vai para as comissões temáticas e vem para o plenário. O plenário também aprova e vai para o Executivo e o Executivo tem vetado diversos projetos. Então nesse ano nós já analisamos diversos vetos e os vetos do prefeito acaba mantendo. E é da bancada de oposição, é da bancada do governo. Então na legislatura passada do outro prefeito a gente chamava o nome dele de veto. E agora também falando com o Bruno que é o Bruno Veto que tem vetado muito. E isso é muito ruim pra cidade. Porque quando o vereador apresenta uma proposta ele recebeu demanda também daquele segmento, daquele setor que o apoiou e pede também para analisar. Então não é algo que vem da cabeça de um ou de outro, vem com toda essa referência. E aí o prefeito vai e veta. E quando vem de lá os projetos do Executivo a gente tem cobrado muito. Esse que está agora do magistério da educação criando 17 cargos, criando outro programa que é o Dinheiro Direto na Escola, que já tem a nível federal desde 1995, já tem aqui no estado mas não vem nenhuma nota técnica para dizer qual o impacto financeiro do que está criando aqui para o orçamento público. Porque se não está no orçamento, não consta nas peças orçamentárias. Então teria que vir um impacto, e isso não vem. A Câmara tem feito entrega por parte dos vereadores mas nós estamos recebendo muitos vetos por parte do Executivo.

 

Sobre o novo PDDU a gente tem alguma perspectiva dele ser pautado ainda em 2023? Na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) o prefeito destinou R$ 2 milhões para elaboração desse novo plano. De fato os vereadores têm cobrado essa efetividade do estudo do novo PDDU?

Temos sim cobrado, até porque no próprio PDDU e na lei orgânica do município, o que é que garante a revisão? De oito em oito anos. O estatuto da cidade que estabelece 10 anos. Então o nosso tem que ser oito anos. E o que ele destinou na lei orçamentária de verba é para fazer os estudos. Porque se completa oito anos em 2024 tem que fazer os estudos agora. Salvador vai crescer para onde? Vai ter projeto de residência, conjuntos habitacionais? Tem que pensar em tudo isso, em escola, tem que pensar em transporte público, tem que pensar em posto de saúde, então é necessário ter estudo na na área da assistência social, na área do emprego, da renda, para a gente poder conhecer. Então tem que começar agora, já era até para estar fazendo. Contratar uma equipe de urbanista, de arquiteto, de todos esses cientistas políticos, assistente social, pedagogo, quem trabalha a cidade, quem estuda a cidade pra poder apresentar pra gente. No PDDU de 2016 teve estudos que nós adquirimos, nós compramos esses estudos na Fundação Mário Leal Ferreira. Então já era um tempo de já estar fazendo pra que a gente possa ter acesso antes, estudar, conhecer e a partir daí a gente dá a nossa contribuição. Eu até já pautei o presidente da Comissão de Planejamento Urbano e Meio Ambiente para convidar o secretário da pasta pra ir lá pra gente poder saber porque se a gente vai fazer no ano que vem, esse ano é o ano que prepara, que antecede. Eu não tenho percebido por parte da bancada do prefeito essa disposição e o prefeito já avisou na imprensa de que vai a Brasília para poder manter aqui com 10 anos, isso é muito ruim. Porque nós precisamos fazer a revisão e a gente está vendo a questão de escola em Salvador. Foi criado um outro programa Pé na Escola. Porque se tivesse um estudo já preparando a gente ia saber, 'Salvador tem X por cento desses alunos que estão fora da sala de aula'. Então é você precarizando ainda mais, contratando fora e não fortalecer a rede municipal de ensino. Saúde, como é que está a cobertura? Atende? Então se não tiver estudo pra subsidiar e que a gente tenha essas informações vai piorar ainda mais. A nossa cobrança na Câmara é para que tenha revisão nos estudos esse ano e a revisão no ano que vem. E a prefeitura também tem que realizar audiências. Quando chegar na Câmara é outro debate, nós vamos fazer outras audiências. Mas a prefeitura precisa fazer agora pra escutar segmentos organizados, que pensam a cidade, que escreve sobre a cidade, que conhece e também escutar a população, quem mora em cada canto. Então essa vai ser a nossa cobrança e nós estamos fazendo isso. Todo momento a gente cobra no plenário e também nas comissões onde nós participamos.

 

Já tem um debate iniciado com relação as eleições aqui na capital e há quem fale da possibilidade de dar continuidade do prefeito de Salvador, Bruno Reis. Ele tem a máquina, e de certa forma uma aprovação de parte da população aqui de Salvador. Como é que a senhora analisa o cenário para as eleições de 2024. É de fato muito difícil bater o prefeito nas urnas?

Toda eleição é difícil. Cada ano que passa vai tomando outras realidades. Mas eu acho que ninguém é imbatível, não tem essa situação, porque a cidade de Salvador é muito dinâmica, é muito circular, vão acompanhando e avaliando também a situação da gestão do Executivo como é que está, são debates que precisam estar no dia a dia, por isso que eu sempre digo que a gente tem que começar o debate antes pra depois a gente ver o nome. A gente tem um sentimento também dessa escuta da própria população e a população de Salvador tem os pés muito fincados e conhece dessa realidade. Então nós acreditamos muito nisso, nos movimentos sociais, nessa população que a maioria da cidade nosso povo preto e preta sabe também da desigualdades que passam, uma cidade bonita, mas que continua perversa para o seu povo que mora nos bairros populares. A gente tem feito o debate na Câmara do Plano Integrado de Saneamento. Quando a gente não vê saneamento na nossa cidade isso demonstra um racismo que estrutura essas relações. Porque quem é que mora em bairro onde não tem saneamento? São as pessoas, são as mulheres, os homens pretos e pretas que não tem acesso a uma política essencial. Porque se você não tem saneamento isso atinge direto a saúde pública das pessoas que moram naquela localidade. Então por isso que eu acho que o debate é essencial e ouvir também a população pra gente levar as informações e ter essa devolutiva também que eu acho que não tem ninguém ainda eleito, a eleição está começando. É difícil? É. Mas não é impossível.

 

A senhora comentou sobre a população preta de Salvador. O que para ter um prefeito preto ou uma prefeita preta aqui na capital?

É um bom debate, é o que a gente também tem pautado no nosso partido, de ter também nomes mas nomes que tenha representatividade da maioria dessa Roma negra que é Salvador, ou uma mulher negra ou um homem negro de preferência a gente sempre fala de uma mulher, porque Salvador também tem essa situação que só teve uma [prefeita eleita] que foi Lídice da Mata. Precisa ampliar o debate, a representatividade de mulheres e de homens negros no cargo do Executivo. Porque até no Legislativo a gente não tem. É pouco representativo. Esse debate não é de agora, é de muito tempo e que a Roma negra precisa também dessa representação com todas as entidades do movimento negro e a gente chegar também e apresentar e dizer: 'Vocês tem que ter alguém lá que tem a nossa cara que pensa como a gente e que vai construir e que vai ver essa cidade também para todos, especialmente para quem milita e constrói a nossa luta'. Essa é a nossa dificuldade. Eu acho que a gente tem que continuar sempre, é um debate também que é muito pedagógico e nós não podemos abrir mão dele. De ter uma mulher negra, um homem negro governando nossa cidade. Sendo prefeito ou prefeita.