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Frente ao júri, Amanda nega ter participado dos assassinatos de motoristas de app; confira detalhes do depoimento

Por Camila São José / Lula Bonfim

Fórum Ruy Barbosa
Foto: Camila São José / Bahia Notícias

Acusada de envolvimento nos assassinatos de quatro motoristas por aplicativo em Salvador no ano de 2019, a cabeleireira Amanda negou ter participado dos crimes que estão sendo julgados nesta quarta-feira (19), no Salão Principal do tribunal do júri do Fórum Ruy Barbosa.

 

“Eu não estou aqui para matar ninguém. Eu não sou assassino”, disse Amanda, usando o gênero masculino.

 

De acordo com a acusação do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Amanda seria vinculada à organização criminosa chamada “Bonde do Maluco” e se juntou com o adolescente Estênio para a prática de um assalto na região da Estação Pirajá no dia 12 de dezembro de 2019. Na localidade de transbordo, os dois teriam roubado um aparelho celular, no qual foi realizada uma chamada no aplicativo “Uber”.

 

O motorista por aplicativo conhecido como Sávio foi rendido, levado a um barraco, espancado com um “barrote”, teve o pescoço amarrado com um fio de telefone e depois teria sido morto a tiros.

 

Em seguida, ainda segundo o MP-BA, o celular de Sávio teria sido usado por Amanda e Estênio para chamar um segundo motorista, desta vez pelo aplicativo “99 Pop”. O modus operandi teria se repetido, até a quinta vítima, que sobreviveu ao ataque.

 

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A VERSÃO DE AMANDA

A cabeleireira, porém, negou as acusações do MP-BA. Segundo Amanda, ela teria topado participar de crimes junto a Estênio e a uma outra travesti, identificada como Dominique, para o pagamento da dívida de R$ 5,5 mil que seu marido - Murilo, que estava preso - possuía junto a um traficante de drogas identificado como Jeferson.

 

Amanda garantiu que não esteve na Estação Pirajá no dia 12 de dezembro de 2019, encontrando Estênio apenas no dia seguinte. Amanda disse ter sido chamada por ele para sair da casa por volta das 4h30 da manhã do dia 13.

 

Conforme o depoimento de Amanda durante o julgamento, naquele momento, um carro por aplicativo já havia sido chamado e, quando eles entraram no carro, Estênio teria puxado a arma e apontado para o motorista, identificado como Anderson, que depois teria sido liberado pelo adolescente.

 

“Estênio era, digamos assim, compulsivo por dinheiro, gostava de dinheiro, gostava de farra. Quanto mais ele gastava, mais ele queria”, afirmou a cabeleireira, reconhecendo que sabia que Estênio já havia cometido outros crimes.

 

Ainda segundo o depoimento da acusada, ao saber da liberação de Anderson, Jeferson teria agredido a ela e a Estênio. Em seguida, o traficante chamou Dominique e um outro homem, determinando que os quatro fizessem uma nova chamada de carro por aplicativo, para um novo assalto.

 

“Eu não me recordo quem foi o motorista. Estênio que fez a chamada”, disse Amanda, negando se lembrar da vítima sobrevivente, identificada como Nivaldo. “A gente ficou aguardando, o carro entrou dentro da localidade. Nós entramos no carro, Estênio foi na frente e eu no fundo, e levamos ele até o campo”, relatou a cabeleireira.

 

Amanda confirmou que ela e Estênio portavam armas de fogo neste momento, mas negou que eles tivessem agredido o motorista. Após a dupla armada render a vítima, Jeferson apareceu e levou Nivaldo para o barraco, enquanto os dois faziam uma vistoria no carro.

 

Ao chegar no barraco, Amanda conta que encontrou cinco pessoas: Jeferson, uma mulher trans e outros três. “Jeferson que recebia (os motoristas) junto com outros dois rapazes”, contou.

 

Na versão da cabeleireira, Jeferson teria obrigado Estênio a agredir o motorista. Ao ouvir a recusa, o traficante agrediu o adolescente. Amanda afirma ter deixado o local neste momento, negando ter agredido Nivaldo. “Agressão? Eu que fui agredido por Jeferson e os outros rapazes”, declarou a travesti.

 

Ainda segundo o depoimento da cabeleireira, Estênio teria se recusado a ir embora junto a ela e acabou sendo assassinado por Jeferson. Amanda diz não saber que o adolescente era menor de idade. “Estênio tinha vida de adulto. Ele fazia programas. Ele tinha um corpo de adulto”, disse.

 

Ao deixar o local do crime, Amanda teria ido para a casa de um outro homem, na localidade Paz e Vida, na companhia de Dominique. Depois que saiu de lá, foi para a casa de uma outra pessoa no bairro da Mata Escura. Ao ter conhecimento das acusações contra si, ela teria procurado a delegacia por conta própria.

 

“Eu fui por minha espontânea vontade até a delegacia”. “O tempo todo, o delegado Altair Carneiro querendo que eu assumisse uma coisa que eu não fiz”, acusou, apontando ter sido coagida pelos policiais a se incriminar.

 

A perícia em Amanda, que está presa desde então, só teria sido realizada no dia 27 de janeiro, mais de um mês após os crimes. No presídio da Mata Escura, onde está no momento, ela diz ter sofrido agressões de agentes penitenciários e de outros internos. Lá, teria contraído o vírus HIV. “Fui abusada sexualmente diversas vezes”, contou, afirmando que só dorme com ajuda de medicamentos.

 

“Eu não sou monstro. Eu não estava lá para tirar a vida de ninguém. Era simplesmente um roubo para quitar dívida”, lamentou. “Eu tenho convicção que não matei ninguém. Não fiz por espontânea vontade”, concluiu.