Defesa alega transfobia em processo contra Amanda: "Apontar o dedo para quem é culpado"
Por Camila São José / Leonardo Almeida
Os defensores públicos que compõem a banca da cabeleireira Amanda Franco da Silva Santos - nome social da travesti - alegaram transfobia dentro do processo contra a acusada de estar envolvida nos assassinatos de quatro motoristas por aplicativo em Salvador no ano de 2019. Segundo a defesa, ao chamar o único sobrevivente da chacina, Nivaldo Santos Vieira, para identificar Amanda, a polícia apresentou 8 fotos, sendo 7 homens com roupas masculinas e apenas uma pessoa com roupas femininas.
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“Como se coloca a foto de sete homens e de uma travesti e questiona quem é a travesti? Isso é reconhecimento? Isso é apontar o dedo para quem é culpado. Somente a foto de Amanda foi apresentada às testemunhas, ao Nivaldo e ao Daniel”, alegou a defesa.
A defesa afirma que a conduta para o reconhecimento de Amanda se repetiu por diversas vezes de maneira transfóbica, já que na maioria das ocasiões apenas a acusada aparecia vestida com roupas femininas nas fotos.
Os defensores também afirmaram que Amanda não era a única trans na cena do suposto crime. Ela também estaria acompanhada de uma pessoa conhecida como Dominique e uma terceira mulher trans não identificada.
A DÍVIDA DE MURILO E A ENTREGA À POLÍCIA
A defesa de Amanda afirmou que a acusada, desde sempre, alegou que o seu marido, Murilo, teria uma dívida de R$ 5,5 mil reais com um traficante de drogas, identificado como Jeferson. Segundo os advogados, a cabeleireira disse que, caso não pagasse os débitos, acabaria sendo morta.
“Amanda foi coagida, induzida e não tinha escolha ao que Jeferson determinava. Todos que ali estavam sabiam que se opusessem morreriam. Morreria Murilo, morreria você (Amanda) do jeito cruel que Jeferson sabia fazer”.
Os defensores disseram que Amanda teria assumido a participação de outros delitos, da chamada de dois motoristas, mas "teve coragem, espontaneamente, de procurar a polícia e se entregar, enquanto os verdadeiros algozes dos motoristas do Uber fugiram”. Em relação ao assassinato dos motoristas, a defesa de Amanda afirma que a ré sempre negou qualquer envolvimento.
“O senhor Nivaldo não viu em nenhum momento a Amanda atirar em alguém. Tem alguma prova nos autos dizendo que Amanda deu um tiro em alguém? São apenas deduções. Quem praticou os homicídios contra os 4 motoristas de Uber e o homicídio tentado foi o Jeferson”.
Para a defesa, se ela tivesse a frieza, a liberdade de escolha e a vontade de participar de “crimes tão cruéis” não teria se entregado à polícia. Os advogados afirmam que Amanda se entregou e passou informações, com a promessa de conseguir a proteção pelo programa Pró-Vida.
Segundo a defensoria, se não fosse a apresentação espontânea de Amanda, o delegado já teria encerrado o inquérito porque “os algozes” das vítimas já estavam mortos.
A defesa encerrou afirmando que Amanda não é autora dos quatro homicídios, nem da tentativa de homicídio. Ela teria cometido apenas crime patrimonial (roubo). Além disso, os defensores pediram absolvição de Amanda quanto ao crime de aliciamento de menores, ligado a Estênio - que a acusada nega ter ciência de que se tratava de um menor de idade.