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Mãe de Lucas Terra diz que foi ameaçada por telefone quando buscou respostas sobre a morte do filho

Por Camila São José / Leonardo Costa

Marion Terra, mãe de Lucas Terra
Foto: Camila São José/Bahia Notícias

A quinta testemunha no júri do caso Lucas Terra foi a mãe do jovem assassinado em 2001, Marion Terra. Em seu relato, ela contou que recebeu ameaças por telefone e que existe um grupo em São Paulo que trabalha para abafar o caso. Os pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda estão sendo julgados no Forum Ruy Barbosa pelo assassinato do adolescente de 14 anos no ano de 2001. 

 

“Foi até um dos motivos que me levou a falar do caso incessantemente durante 14 anos, para proteger os meus filhos”, disse Marion. “Existem equipes em São Paulo que trabalham para derrubar o caso do Lucas”, acrescentou a mãe de Lucas. 

 

Marion ainda relatou que Lucas nasceu em Salvador, no Hospital Ana Nery, que a família sempre foi cristã e que foi criado neste caminho, junto com a avó (mãe de José Carlos, sua sogra), frequentando a igreja Universal da Sete Portas. 

 

“Sempre teve aquela fé muito forte em Cristo”, disse ao lembrar que Lucas a acompanhava na igreja, ao contrário dos dois irmãos que abandonaram a igreja à medida que foram ficando mais velhos 

 

Segundo a mãe, Lucas não costumava ficar sozinho na presença de qualquer pessoa do sexo masculino, mesmo nas atividades da igreja. “Nunca deixei ele andar sozinho”, afirmou. Além da igreja, a mãe diz que Lucas gostava de se divertir como qualquer criança: ir à praia, jogar bola, andar de bicicleta, ir ao cinema

 

Marion ainda contou que tem duas irmãs que moram na Itália e decidiu buscar melhores condições de vida indo para lá. Por não terem recursos suficientes, ela e seu marido José Carlos decidiram que a família não iria toda de vez por questões financeiras. Com isso,  José Carlos viria com Lucas e Felipe para Salvador, onde Carlos (o filho mais velho) já morava. O plano era passar um período aqui antes de ir para a Itália. José Carlos e Lucas ficaram morando em uma pousada no bairro de Santa Cruz, já que Carlos morava em uma quitinete e a estadia do pai e do filho era temporária . “Quando tomei essa decisão de ir pra lá foi em dezembro de 2000”, disse. 

 

Chegando em Salvador, Lucas conheceu um jovem que congregava na Universal da Santa Cruz. “Mãe, tenho um poço de vidas para trazer pra Cristo”, lembrou da fala de Lucas que teria dito isso ao manifestar que não queria ir embora para a Itália. “Naquele período que ele ficou ali, chegou a levar 20 jovens, no evangelismo que ele fazia”, acrescentou. 

 

Marion contou que estava na Itália quando soube do desaparecimento e imediatamente retornou para Salvador. “Lucas não estava abandonado aqui em Salvador. Eu jamais iria impedir um filho de seguir o evangelho”, disse ao destacar que achava que a igreja era um lugar seguro”, disse. Ela ainda afirmou que “foi o voo mais longo da minha vida”. 

 

A morte do filho só foi contada para ela por sua irmã Regina quando ela chegou na capital baiana. “Lucas não merecia ter sido queimado vivo. Ele era uma criança doce, uma criança pura. Eu não sei porquê eles fizeram isso com o Lucas, essa crueldade”, falou. 

 

Ela ainda lembrou da dificuldade de fazer o DNA do corpo, na época, porque a Justiça baiana queria que o exame fosse feito em laboratório localizado em Coimbra. “Aí a gente constatou depois de 42 dias que era o meu menino”, disse Marion. 

 

A mãe do jovem morto, na ocasião, pontuou que, quando moravam no Rio de Janeiro, Lucas subia os morros da zona sul acompanhado de obreiras da igreja para evangelizar, o que colaborou para que ele recebesse uma carta de recomendação da Universal do Rio para ser obreiro na Itália. “Eu não queria. Queria que ele fosse uma criança mais tranquila e não ficar nesse lugar de levar gente, levar gente, levar gente”.

 

Para Marion, a única “coisa” que o teria distraído do caminho de Deus teria sido Paula, por quem Lucas se apaixonou, mas foi proibido de se relacionar porque ela era mais velha e já tinha o cargo obreira. 

 

Marion afirmou que seu filho “sempre estava atrás [de Fernando] para conseguir a gravata, que não podia sair do Brasil sem a gravata dele”, pois ele era a única pessoa que poderia ofertar a gravata consagrada. 


 

Sobre o posicionamento da família de não falar com a imprensa e não julgar de forma precipitada, no início do caso, ela disse que ela e José Carlos não queriam acusar nenhum pastor a qualquer custo e então  procuraram o líder da Universal no Brasil para conversar antes de brigar na justiça. “Tudo o que a gente queria era uma resposta deles, antes de Galiza ser condenado”, afirmou. José Carlos chegou a ir até a sede da ONU em Genebra em busca de justiça. 

 

O seu esposo faleceu em 2019.  “Ele [José Carlos] sempre me protegia pra eu não saber de detalhes”. Marion garantiu que José Carlos era o verdadeiro “dono do processo”, acompanhava tudo e sabia todos os detalhes: “o Carlos me poupava de muita coisa”. 

 

Marion ainda confirmou que Fernando proibiu todas as igrejas submetidas à regional da Pituba de procurar por Lucas. “Não tinham nem encontrado o corpo ainda”, disse. Ela repetiu a fala dita pelas outras testemunhas de que os membros não poderiam deixar a igreja por “um Luquinhas qualquer”.  

 

Sobre o apoio da igreja Universal, Marion garantiu que “em todos esses anos nunca me chamaram pra conversar”. 

 

A mãe do garoto ainda afirmou que espera sentença máxima para os pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, acusados de assassinar o adolescente de 14 anos. “A esperança na justiça, a esperança de fechar esse ciclo de impunidade e ver esses homens condenados pela justiça. Acredito que a justiça não tarda, ela vem no momento certo”, disse sobre o que a mantém forte hoje. 

 

Ainda conforme depoimento de Marion, alguém da igreja, do Rio de Janeiro, foi ao IML antes mesmo da família. 

 

“Pra mim, a despedida do meu filho é o júri popular, a condenação deles”, completou.