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“O povo de Ilhéus vota nas pessoas”, diz prefeito sobre possível estadualização de campanha
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

A pouco menos de cinco meses de deixar a prefeitura de Ilhéus, no Sul, Mário Alexandre faz comparações sobre o que encontrou em 2017 e o que vai entregar até o final do ano. Padrinho da pré-candidatura do ex-secretário Bento Lima, o gestor não admite uma composição com a pré-candidata do PT, a ex-secretária de Saúde e Educação do Estado, Adélia Pinheiro, recentemente filiada à legenda.

 

“A mulher nunca fez uma campanha em Ilhéus. Ela está querendo saber dos problemas de Ilhéus agora?”, questionou ao Bahia Notícias. Na entrevista, o prefeito disse ainda que não acredita na “estadualização” da campanha, o que poderia dividir votos com Adélia.

 

“O povo de Ilhéus, pelo que conheço, vota mais nas pessoas”, acrescentou. Mário Alexandre ainda comentou a relação com o PT local e contou o que vai fazer quando deixar a prefeitura. Veja abaixo a entrevista completa.

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Prefeito, o senhor está concluindo oito anos de mandato. Qual a avaliação deste período?
Primeiro, de gratidão, né? Gratidão a Deus, ao povo. São sete anos e quatro seis meses de gestão. Eu tenho dito que é uma alegria e um honra muito grande ter sido prefeito da cidade que eu amo. Foram muitos avanços, basta ver o que era Ilhéus sete anos atrás onde eu peguei quase cinco mil trabalhadores e servidores, pais e mães de família, parados na porta da prefeitura. Sem reajuste durante muitos anos, sem melhoria da qualidade de trabalho, com tíquete alimentação, que era um dos piores da Bahia. Nós temos esses sete anos sem nenhuma greve. Porque valorizamos e melhoramos a qualidade de vida, fizemos plano de cargos e salários, o tíquete alimentação que era de R$ 130 está agora em R$ 630. Esse tíquete é o pão na mesa daquele trabalhador. Então, isso foi de extrema importância pra levantar a autoestima daquela turma que estava sem acreditar em uma gestão.

 

O que o senhor não conseguiu fazer nesse tempo?       
Olha, nós deixamos encaminhados as contenções. Conseguimos inserir no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] do governo Lula esse programa que é o maior do interior do Brasil em contenção de encostas. Nós levamos um projeto atendendo todas as necessidades e exigências do ministério e fomos classificados. Eu fico muito feliz. Precisamos do serviço de macrodrenagem também, porque tem algumas ruas fundamentais que quando chove demais, ficam alagadas. Então, como o município não tinha condições de fazer isso, nós conseguimos inserir e fomos atendidos. Eu tenho dito muito que todos os projetos que nós conseguimos nessa parceria com o governo do estado, o município foi fundamental. Porque o município é que leva e encaminha o projeto.

 


Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Na conversa que tivemos com o pré-candidato Bento Lima, escolhido pelo senhor, questionamos sobre pontos que precisam de maior atenção da prefeitura e ele elencou os setores de esportes, cultura e turismo, por exemplo. Ele está certo?
Realmente, esses setores precisam funcionar mais. Até porque o investimento é alto e nós não conseguimos fazer isso com recursos próprios. Nós precisamos recuperar alguns prédios e colocá-los na ativa. Apesar de ter melhorado o Vesúvio e o Bataclã através de concessões, e eles funcionam muito bem, tem outros prédios que a gente precisa ampliar e melhorar a estrutura para incentivar o nosso turismo. No esporte, apesar de ter construído a Areninha, com muito incentivo, nós precisamos ampliar ações, como o triatlhon [ocorrerá em agosto].

 

Por que a escolha de Bento Lima para disputar a eleição deste ano?
Ele é um gestor, conhece a máquina administrativa. Hoje, o equilíbrio fiscal que nós temos, com salários em dia, valorização do servidor, reajuste, tíquete, convênios, tem participação dele. Além disso, tem mestrado e conhecimento de gestão pública. Isso é bom porque não desanda.

 

O fato de ele não ser um político em atividade e nunca ter sido prefeito nem vereador, também foi levado em conta?
Claro. Porque ele é nome novo na política. Como Jerônimo [Rodrigues] na eleição de 2022. Jerônimo era secretário e virou governador. Nossa estratégia é mais ou menos com foi feito com o governo do estado. E Bento é uma pessoa preparada. Não estamos pegando qualquer um. Até porque a gente precisa manter a responsabilidade e o ritmo de crescimento, de desenvolvimento, de chegada e atração de empresas importantes. Hoje, o comércio de Ilhéus não reclama do desenvolvimento. 

 


Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Como Bento Lima vai responder a questões espinhosas enfrentadas pela prefeitura, como a da Operação Trapaça, da Polícia Federal (PF), sobre supostas irregularidades durante a pandemia da Covid-19?
Primeiro, tem que fazer o que nós fizemos. Ilhéus foi referência em Covid no interior da Bahia. Fizemos um hospital de campanha. É claro que na hora daquela emergência é natural que possa ter tido alguma falha. De qualquer forma, as investigações estão em andamento. Se tiver algum culpado vai ter que responder, e todo mundo tem direito a defesa. Mas o mais importante, e eu fico tranquilo em relação a isso, é que não morreu ninguém por falta de aparelho. No Amazonas morreu gente com falta de ar dentro do hospital e tem pessoas respondendo por isso. Em Ilhéus, não. Atendemos os ilheenses e pacientes de cidades até do sertão.

 

Já está definido o pré-candidato a vice de Bento Lima?
[Risos] Eu acho que o nosso trabalho agora é de apresentar o nome de Bento. Trabalhar, junto com a deputada Soane Galvão (PSB), e outras lideranças. É hora de nossa equipe, nosso grupo, botar o pé na estrada nesses 30 dias. Mostrar o que a gente fez, os avanços. Firmar essa parceria com o governo do estado, já que ele [Bento] é um candidato do PSD, partido do nosso senador Otto Alencar. Agora, a escolha do vice deve sair próximo da convenção. Meu atual vice [Bebeto Galvão, já rompido], por exemplo, foi escolhido no dia da convenção.

 

Há ainda alguma possibilidade composição com a pré-candidata Adélia Pinheiro? No último Dois de Julho, o governador deixou a entender que podia haver uma aproximação.
Nós estamos trabalhando forte. Nosso candidato, que é o candidato do governo do estado, se chama Bento. Eu sou o prefeito e tive legitimidade de indicar nosso candidato. Tive esse reconhecimento de ser eleito na primeira vez com mais do dobro de votos do segundo colocado, e com quase o dobro de vantagem na segunda eleição. A gente vai buscar fazer política agregando. Eu nunca fui um homem de ficar brigando. Não brigo com adversário quanto mais com aliado.

 

Em caso de a eleição se estadualizar, quem ficaria mais evidente, Bento Lima ou Adélia Pinheiro?
Essa estadualização nunca foi vista na cidade. O povo de Ilhéus, pelo que conheço, vota mais nas pessoas. É claro que existe a influência. ‘Ah candidato de Lula, candidato de Bolsonaro’. Se fosse assim, o PT por causa de Lula ganharia em Ilhéus. E o PT sempre foi contra mim em Ilhéus e sempre ganhei sem o PT. Então, isso é muito relativo da influência do governo, de Neto. É claro que quando existe aliança, a gente junta todo mundo e é a soma do exército, né?

 


Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Então, o seu desgaste é mais com o PT local do que com o partido na Bahia.
Não temos dúvida. O PT local fala mais mal de mim do que da turma de Bolsonaro e de ACM [Neto]. Eu quero entender um pouco o que é que tá se passando no pensamento do PT local. É claro que pode ser estratégia. Agora, botou uma candidata que não conhece Ilhéus. ‘Ah que as gestões foram péssimas em Ilhéus’. A mulher nunca fez uma campanha em Ilhéus. Como é que ela pode dizer isso? Ela está querendo saber dos problemas de Ilhéus agora? Ela está fazendo reunião para saber os problemas da cidade. Eu conheço os problemas de Ilhéus. É uma cidade com 1.540 quilômetros quadrados. Ela não deve saber. Eu já vivi isso, fui vice-prefeito, fui prefeito, minha mãe foi vice-prefeita. Tem que ter um histórico.

 

O senhor já foi aliado do PT, não foi?
Fui candidato a vice do PT de Ilhéus. Agora o PT infelizmente ficou assim.

 

E o prefeito Mário Alexandre vai fazer o quê depois de dezembro?
Eu sou um soldado. Sou sempre a favor da composição. Vou ajudar onde quiserem que eu ajude. Vou estar à disposição do governo, para que a gente possa estar articulando a região, podendo ajudar junto aos prefeitos. Tenho grandes amigos prefeitos. Então eu quero ajudar a população e servir. 

Pré-candidato em Ilhéus defende investimentos em esporte, cultura e turismo
Foto: Divulgação

Secretário do primeiro escalão em Ilhéus durante sete anos, Bento Lima vai testar em outubro se a população o aprova para um voo mais alto, o Poder Executivo da cidade. Vidraça de uma gestão de oito anos que se encerra em dezembro, o agora ex-secretário e pré-candidato pretende defender as ações do grupo, fazer crítica construtiva e criar, sobretudo no esporte e no turismo.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Lima, que também é advogado e professor, comentou sobre uma possível junção da base de apoio do governo do estado em Ilhéus e disse como se defenderá de críticas de adversários, entre outras questões. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

 

O senhor poderia contar a sua trajetória na gestão pública de Ilhéus? 

Eu estou desde o dia 1° de janeiro de 2017 na prefeitura de Ilhéus. Saí no dia 5 de abril, que foi o prazo estabelecido para a desincompatibilização do cargo. Fui secretário de gestão durante esse tempo, trabalhando em projetos estruturantes para a cidade. Um exemplo foram os planos de cargos e salários da guarda municipal, dos agentes de trânsito e dos servidores em geral. Trabalhamos com a criação e implementação do PDV [Plano de Desligamento Voluntário]. Executamos diversas ações, como os convênios com os dos governos estadual e federal. 

 

Foto: Divulgação

 

Qual era a realidade de Ilhéus antes e depois da sua passagem pela secretária de gestão?

A gente pegou uma cidade com alguns problemas estruturais graves, com uma cobertura na assistência básica de saúde de 13%, hoje está com 73%, e com um problema de mobilidade complexo e enorme. Era uma única ponte para dar acesso a toda Zona Sul, deixando praticamente um lado da cidade isolada. Havia um problema muito grande de credibilidade da prefeitura frente a fornecedores, com a sociedade e com os próprios servidores públicos. Então nós tivemos o trabalho nesses sete anos e meio de dar a estruturação administrativa, urbanística e de serviços públicos essenciais como limpeza, iluminação pública e estruturação do sistema de saúde.

 

Quais são as propostas que o senhor traz para a cidade?

São propostas concretas. Criar o sistema municipal de esporte. Uma prática que a gente já vem estudando e que já foi implementada em alguns municípios do Sul do país, além de Salvador. Com isso, faremos a conferência municipal de esporte para poder catalogar os equipamentos públicos e privados de esporte da cidade, assim como as modalidades esportivas praticadas no município. Também identificar atletas, sejam os que praticam por lazer ou profissional, incluindo os de alta performance, além de requalificar equipamentos. No turismo, será a criação do plano municipal do setor com calendário anual de eventos, com festejos religiosos e eventos esportivos. Queremos criar um grande sistema de divulgação para poder vender e apresentar Ilhéus melhor. Queremos também criar o corredor náutico, com pontos de visitação no Rio do Engenho, Lagoa Encantada, na nossa Baía do Pontal. Isso seria feito por uma concessão na base da PPP [Parceria Público Privada]. A gente criaria nosso modelo arquitetônico e de engenharia e colocaria isso a disposição para que o setor privado queira fazer o investimento e explorar. 

 

Como o senhor vai se comportar em uma campanha em que precisa fazer críticas e apontar questões não resolvidas pela gestão em que fez parte?
Hoje, quando você olha a Ilhéus do passado, a de 2016, e olha a Ilhéus de 2024 é diferente. Avançou muito. Hoje tem uma ponte nova, tem o hospital materno infantil, tem o Hospital da Costa do Cacau. A gente conseguiu tirar da lama mais de 230 famílias. Fizemos o maior programa de acessibilidade a pessoas que moram nos altos da cidade, através de um programa de requalificação de escadaria. Nós fazemos parte da gestão que fez o maior programa de requalificação de prédios públicos. Das 125 escolas que nós temos, requalificamos, só na última gestão, 90 escolas. Requalificamos a maioria dos nossos postos de saúde. E isso tudo enfrentando óleo na praia, pandemia, a maior chuva dos últimos 40 anos. Então, quando eu faço crítica, eu faço a crítica construtiva, de sugestão, propositiva, e essa crítica me diz que agora temos que tratar do esporte, temos que tratar da cultura, temos que tratar do turismo. Porque as bases já foram lançadas. E agora nós estamos diante de novos problemas. E quem está na gestão pública, quem está na política tem que ser propositivo. Hoje, Ilhéus precisa sonhar em ser aquilo para o qual ela foi chamada a ser. Que é ser o maior centro turístico da Bahia. Ilhéus é uma cidade de médio porte que você tem aeroporto, porto, mar, rio, lagoa. Tem tudo aqui.

 

Foto: Divulgação

 

Fala-se de uma atuação forte do governo do estado no município de Ilhéus, com o Estado sendo responsável pelas principais ações. Qual o nível dessa intervenção?
Olha, é preciso ter uma articulação forte com o governo do estado, com diálogo consistente e permanente para se entender as dificuldades de implementação das obras. Eu estou dizendo isso porque nós tivemos a obra da ponte parada por quase dez anos. A duplicação da zona sul ficou parada por 15 anos. Nós pegamos diversas obras do estado paradas dentro do território de Ilhéus por falta de comunicação técnica, eficiente, e de articulação política. Nós tínhamos um lixão aqui em Ilhéus que era o lixão do Itariri, que era gerido pela Conder [Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado]. Nós assumimos a fiscalização e houve o fechamento do lixão. Hoje nós temos a destinação correta dos resíduos sólidos de Ilhéus. O governo do estado faz e realiza, é um parceiro de peso, porque também a prefeitura agilizou alvarás de construção e contrapartidas. Porque sem a parceria com a prefeitura nada acontece. E do ponto de vista político, Ilhéus foi base do governo do estado durante mais de 30 anos, mas que nunca se realizou tanto como nos últimos sete anos.

 

O governador Jerônimo Rodrigues disse durante as comemorações do Dois de Julho que está perto de uma junção entre os pré-candidatos com apoio do governo em Ilhéus. É possível uma chapa com a ex-secretária Adélia Pinheiro? 
Eu tenho analisado isso com muita serenidade. Quando se diz candidatura do governo do estado em Ilhéus, a candidatura de Bento Lima é uma candidatura desse grupo. Porque deve se pensar também na base de sustentação do governo na Assembleia Legislativa da Bahia. E quando eu faço essa análise, eu preciso relembrar que a deputada Ângela Sousa foi base de sustentação do governo Jaques Wagner e do primeiro governo Rui Costa. E hoje, o mandato de Ilhéus na pessoa da deputada Soane Galvão está na base de sustentação do governo Jerônimo Rodrigues. Os votos que Jerônimo teve aqui em Ilhéus nós demos a ele. 

 

Então, a ex-secretária Adélia Pinheiro poderia entrar com vice sua, seria isso?
Nós temos aqui em Ilhéus um histórico com as candidaturas do PT. Em 2012, esse grupo político que represento, o PSD, foi vice da candidata do PT à época e perdemos aquela eleição. Em 2016, nós pedimos ao PT do município para que nos apoiasse, indicando a vice. Eles decidiram pela candidatura própria, e nós vencemos. Em 2020, fizemos o mesmo exercício, abrimos diálogo, tentamos fazer com que o PT nos apoiasse, mas o diretório do PT de Ilhéus preferiu se coligar com o PP, do grupo de Jabes Ribeiro. E agora em 2024, nós estamos abertos ao diálogo. Mas pelo comportamento histórico do diretório do PT, eu acho muito difícil que a gente consiga ter o apoio do PT ao PSD. 

 

Daqui a pouco mais de um mês começa a campanha eleitoral e os adversários vão explorar pontos negativos da gestão que o senhor representa. Um deles diz respeito a uma operação da Polícia Federal que investiga gastos com um abrigo para pacientes com Covid-19 durante a pandemia. Como o senhor responderá a essa questão? 
Eu acredito nas instituições. E acredito que qualquer governo pode estar sujeito a investigações dos órgãos de controle externo. Porque a gente lida com a aplicação de recursos públicos. Então, nessa circunstância, se há algum elemento que precise ser investigado, a prefeitura de Ilhéus tem contribuído para essas investigações. E se ao fim e ao cabo ficar comprovado de que houve malversação de recurso público ou implicação de algum agente público, as providências devem ser tomadas de acordo com a legislação vigente. Agora eu acredito piamente que o recurso público foi aplicado corretamente. Porque quando a oposição levou essa denúncia infundada para a Polícia Federal, eu sei, porque estava na gestão, que o recurso foi aplicado para pagamento de médicos para salvar vidas, para pagamento de enfermeiro para cuidar das pessoas, para pagamento de psicólogos para cuidar da saúde mental das pessoas que estavam isoladas para evitar contaminação da Covid. Mas como a gente vive em um país democrático em que o poder de falar é dado a qualquer cidadão, cada pessoa fala o que quer e a polícia investiga os fatos. 

 

Como será o tom da campanha eleitoral neste ano em Ilhéus? 
Eu acho, sinceramente, que essa campanha vai ser como outras tantas que já passamos aqui em Ilhéus. Como invoca o nosso senador e líder político Otto Alencar, nada resiste ao trabalho. 

“Não vai mudar a política brasileira”, avalia professor sobre proposta de fim da reeleição
Foto: Divulgação

O tema do fim da reeleição voltou a ser discutido com mais ênfase em 2024. No Senado, uma proposta defende o fim do dispositivo, aprovado [de forma controversa] em 1997 e que beneficiou à época o presidente Fernando Henrique Cardoso. Na Bahia, figuras como o senador Otto Alencar (PSD) já se manifestaram contra a reeleição, e a União dos Municípios da Bahia (UPB) considera a discussão sobre o fim dela “oportuna”, desde que haja extensão dos mandatos.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, o cientista político Cláudio André avalia que a proposta não traz mudanças positivas para a política brasileira. Segundo o professor, a discussão sobre os dilemas das cidades ficaria encoberta por pautas de fora, e a carreira dos políticos locais ficaria mais limitada. Para o docente, outras questões são mais importantes do que o fim da reeleição, como mudanças no financiamento de campanhas.

 

“Isso vai dinamitar muita coisa. Eu acho que o pessoal não está conseguindo entender que isso não vai mudar a politica brasileira. Isso fica bonito no sentido da renovação, alternância, mas no dia a dia, o cara vai tomar posse e não pode se reeleger. E ele sabe que na eleição seguinte, ele não vai se candidatar a nada”, declarou ao BN.

 

Veja: 

 

Qual é a sua opinião a respeito da proposta de acabar com a reeleição de prefeitos, governadores e presidente?

Para mim, essa proposta do fim da reeleição é problemática porque ela não dialoga com a realidade social e política. Eu vejo que o fator importante da eleição é exatamente permitir que essas lideranças tenham um tempo mais abrangente no poder. Eu penso que a reeleição foi colocada dentro de uma perspectiva de gerar estabilidade política, de gerar previsibilidade nas carreiras e para que o eleitor se sinta confortável em poder votar mais uma vez para a
continuidade de um determinado governo.

 

O que poderia ocorrer na política municipal com o fim da reeleição?

O nosso sistema político e eleitoral tem na política municipal várias especificidades. Uma delas é que os prefeitos e prefeitas não conseguem ascender, na sua grande maioria na Bahia, como também em outros estados, em torno de uma carreira estadual. Se a gente tem uma liderança política que não tem mais o direito à reeleição, obviamente, esse prefeito não vai ser lá na frente candidato a deputado estadual. É muito raro isso acontecer. Então vai ter que sair para vereador. O que é uma situação incomum. Uma liderança política no município que vai na eleição seguinte não ser candidato à reeleição, mas, veja, sair para vereador.

 

Um argumento de quem é contra a reeleição é a possiblidade de agrupar as eleições em um único dia. O que o senhor pensa sobre isso?

Eu sou contra. Não faz sentido juntar as eleições locais com as estaduais e nacionais. São três dimensões de organização política que tem suas especificidades. As eleições estadual e nacional juntas já geram um baita problema para mobilizar eleitores para votar em deputados estaduais e federais, governador e presidente. Já a eleição municipal é peculiar porque mobiliza os eleitores de uma forma geral a pensar na cidade, seja no funcionamento do trânsito, de escolas, de esporte e lazer. Há um risco gigantesco de você ter uma perda de capacidade dialógica de discutir as questões municipais.  A vantagem de estar no cargo não necessariamente garante êxito. Em 2016, menos da metade [48%] dos prefeitos conseguiram se reeleger. Em 2020, o percentual foi um pouco melhor, ficou em 56,4%. Ou seja, a vitória não é garantida. Nessa última eleição teve o impacto da pandemia. É importante ter eleições que permitamque aquele político que tenta a reeleição seja julgado. Não vejo que seja um problema de grande valia. E tem outra coisa que a gente deve levar em consideração.

 

Qual?

A partir do momento que se retira a reeleição, quem está ocupando a cadeira de prefeito ou governador, obviamente, vai ter que organizar o seu governo para a sucessão. Isso pode gerar um vácuo político, um esvaziamento de poder tamanho, porque você elege uma pessoa e já está calculando quem vai organizar a próxima. Então, se acelera internamente esse caráter da sucessão contínua.

 

Ou seja, se na reeleição o candidato trabalha para si, com o fim dela, ele atuará para um aliado, é isso?

E gera instabilidade, gera um processo de quebra. Porque um prefeito eleito, naturalmente, ele é candidato à reeleição. E aí você tem uma previsibilidade das estratégias políticas que vão acontecer daqui a quatro anos. Se isso não é possível institucionalmente, se o prefeito João ganha, ele vai preparar Maria ou José, e esse processo embola porque você vai ter uma disputa sucessória.

 

Disputa entre quem?

A disputa pela sucessão se abre no ponto de partida, no início do mandato. Ou seja, quem é que vai ocupar tal secretaria de maior destaque? Quem é que vai ter mais recursos? A minha hipótese é que a gente aumentaria a disputa interna nos grupos políticos locais. A prefeitura já começaria a gestão sob conflito.

 

Como assim?

Vamos pensar na pessoa que quer se tornar governador, no caso aqui de Jerônimo Rodrigues. Se ele não tem a possibilidade de se reeleger, ele vai tentar o Senado. Mas o prefeito não. O prefeito vai virar o quê? Você tem 417 prefeitos na Bahia e tem 39 vagas para deputado federal e 63 para estadual. A conta não fecha. Obviamente que o cargo de prefeito pode ser reocupado por outras figuras, gerando mais competição, mas eu não vejo muito sentido nessa proposta. Acho que ela pode gerar muitos problemas. É aquele tipo de proposta que caso seja aprovada vai ser testada uma vez, e a tendência é que se reabra o debate para saber se ela vai continuar ou não.

 

A UPB e figuras como o senador Otto Alencar já se manifestaram pelo fim da reeleição. O que o senhor acha que mais os sensibiliza para defender essa proposta?

Essa é uma posição de quem defende que vai haver mais previsibilidade na ação dos prefeitos. Eu não vejo isso. Pode ser uma proposta de boa intenção, mas ela não dialoga em especial com o político que está na base, que é o vereador, que é o prefeito. Se a gente ficar olhando para cima, olhando para floresta, a gente vai ter problema.

 

Tem a questão do aumento do período do mandato que está inclusa nas propostas pelo fim da reeleição, não é?

O argumento que eu tenho observado é: aumenta-se o mandato, de quatro vai para cinco anos. E aumentando para cinco tem um grande problema. Vai ter políticos que poderiam ficar oito anos e que vão ficar cinco. Ele fica mais tempo em um mandato, mas vai demorar para voltar.

 

É uma proposta que pode deixar os políticos “bem na fita” com a opinião pública, já que o tema da reeleição divide opiniões?

Cai bem diante da população, mas isso é retórica. Tem que ser observado com base no dia a dia. Tem uma premissa que a gente pode observar que é o seguinte. Vários políticos se colocam na disputa municipal de forma sucessiva. Vamos pegar aqui o caso de Orlandinho (PT), lá em Cruz das Almas; e Paulo César (União), em Alagoinhas. Então repare só, a hipótese que a gente tem que observar é: como vai ficar essa carreira política nos municípios? Como é
que você vai diminuir a possibilidade de ter uma liderança que em vez de ficar oito vai ficar cinco para tentar voltar depois?

 

Isso muda a política em que sentido?

Isso vai dinamitar muita coisa. Eu acho que o pessoal não está conseguindo entender que isso não vai mudar a politica brasileira. Isso fica bonito no sentido da renovação, alternância, mas no dia a dia, o cara vai tomar posse e não pode se reeleger. E ele sabe que na eleição seguinte, ele não vai se candidatar a nada. Ele não vai sair candidato a vereador. Não é a tendência. Vai ser muito difícil isso acontecer. A não ser que haja uma brecha, e ele possa se candidatar como vice-prefeito. E mesmo assim gera conflito. O cara era prefeito e vira vice, é como se fosse rebaixado. Então eu não acho que seja uma mudança que vai consolidar um processo de mais qualidade para nossa democracia. Vai ser o contrário. Em vez de você ter um prefeito lutando pela reeleição, você vai ter um bocado de sucessor ali, se colocando.

 

O argumento da diminuição de gastos é algo que tem força na sociedade. O fato de fazer eleições de dois em dois anos mobiliza estrutura e muitas despesas. Como o senhor avalia esse ponto?

E não vejo que o custo da nossa democracia seja alto quando a gente considera a sua perspectiva de organização das eleições, de segurança. No entanto, outro debate que a gente deve levar em consideração é sobre o fundo eleitoral. Não vejo também como um grande problema, mas tem que começar a ser dado um freio. Não dá para cada vez mais você ter uma escala de maior gasto no fundo eleitoral quando existem outras prioridades a serem conduzidas no país. A unificação das eleições não pode jamais ter um argumento econômico.

 

Porque fazer uma eleição é caro mesmo. Só a Bahia é do tamanho da França. E nós vivemos em um país com dimensões continentais. Há alguma mudança que poderia ser feita no dispositivo da reeleição? Alguma coisa que a aprimorasse.

Eu acho que a gente deve pensar em um limite de ocupação de cargos no Legislativo. Talvez evitar quatro reeleições no mesmo cargo. Outra questão que deve ser considerada é de alguma forma limitar as candidaturas ao Senado, com duas ou três eleições. E uma medida que talvez seja interessante de ser considerada é exatamente a de ter uma mudança na regra em relação à perda de cargos no âmbito da Câmara de Vereadores.

 

Como seria?

A nossa Constituição organiza o número de cadeiras com base na população. Uma perspectiva que seria mais previsível é mudar esse número de forma automática a cada dez anos, com o Censo, para não acumular a defasagem ou aumento de vagas. Caso da Bahia é que a gente perdeu população e em consequência algumas vagas. Se a gente já tivesse mudado lá em 2000 ou 2010 não ia sentir tanta diferença. Esse é outro ponto também na reforma política que poderia estar presente nessa discussão.

 

Então, para o senhor, não haveria porque mudar o dispositivo da reeleição para quem está exercendo o poder?

Eu vou ser muito sincero. Não acho que mexer na reeleição vai ajudar muita coisa. Eu acho que o nosso foco tem que ser outras questões, como o financiamento de campanha, pensar mais mecanismos de participação da sociedade, ouvir mais a sociedade em relação a alguns temas, via plebiscito e referendo. E uma proposta que defendo, junto com o movimento feminista, é a perspectiva de reservar 30% das vagas para as mulheres. Pela legislação atual, os partidos são obrigados a lançar 30% de candidaturas femininas. Eu acho que essa lei pode continuar vigente. No entanto, a gente cria ali uma nova regra para reservar o mínimo 30% das vagas. Essa é uma medida, por exemplo, muito mais eficaz e urgente do que o fim da reeleição.

 

Juliana Araújo define não haver concorrência para as eleições municipais em Morro do Chapéu
Foto: Divulgação

Com uma das maiores unidades territoriais do estado, o município de Morro do Chapéu se destaca como a terceira maior economia da região geográfica imediata. Impulsionada pelo turismo, crescente comércio e os mitos de vida fora da Terra, a cidade registra um crescimento perceptivo dos índices socioeconômicos. Entre as recentes mudanças, esteve a eleição da primeira prefeita da história do município, a gestora Juliana Araújo (PL). Em entrevista ao Bahia Notícias, a prefeita definiu que o projeto de governo “diferenciado” a colocou em um estágio onde ela não tema a pressão adversária para as eleições em outubro. Veja abaixo a entrevista completa:

 

O que a senhora acredita que deixa a sua marca no município? 

 

A marca principal é a gente cuidar do povo, gostar do que a gente faz. E eu gosto muito de ser prefeita. Durante os três anos de governo, a gente fez pesquisas qualitativas para saber o que cada povoado queria. Morro do Chapéu tem 5700 quilômetros quadrados. A gente tem povoados que ficam a 160 km da sede. Então, eu tentei fazer um pouquinho em cada povoado e na sede também o que as pessoas mais queriam. Os maiores sonhos do povo morrense, a gente está concretizando. A questão de obra é cuidar do povo, é ter um olhar diferenciado para as pessoas.

 

As estratégias para se comunicar com os cidadãos deram resultado?

 

Converso com todos, dos pequenos aos mais velhos. A gente vai fazer uma praça agora, que foi uma menina de oito anos que me pediu. Então assim, governar para o povo, não é o suficiente. É com o povo, porque eles têm que participar da administração. Eu peço que eles sejam os meus fiscais, porque eu não posso estar em toda a cidade olhando tudo. Então, se teve uma pessoa que quebrou alguma coisa pública? Fiscalizem se alguém jogou alguma coisa no chão, um lixo no chão, fala assim ‘Não, pai, não jogue lixo no chão, não, porque a gente quer uma cidade limpa’. Então a gente está governando todos juntos.

 

Morro do Chapéu foi uma cidade fortemente atingida pela estiagem no ano passado. Considerando os numerosos distritos rurais, quais foram as ações para amenizar esse problema?

 

A gente baixou um decreto de estiagem para que os produtores pudessem comprar as rações e o milho mais barato. Caminhão pipa não tava dando conta. A gente alugou mais caminhões pipas para poder abastecer essas pessoas e a vazão dos poços desceram demais, então a bomba não estava conseguindo pegar. Então a gente estava abastecendo as comunidades mais longínquas e a Secretaria de Agricultura em cima, ajudando sempre. Agora começou a chover. Eu já pedi para fazer o levantamento para revogar esse decreto de estiagem, porque as coisas já estão voltando ao normal. A assistência social fez o mapeamento de todas as famílias que estavam passando por dificuldade e a gente entregou diversas cestas básicas para as famílias. 

 

Morro do Chapéu é uma cidade turística da região, onde o ecoturismo é muito forte. Quais são as estratégias do município para movimentar o setor?

 

A gente vender de uma forma boa Morro do Chapéu. O potencial de Morro do Chapéu é gigante. Mas eu acho que nas outras gestões não foram muito explorados. O deputado Pedro Tavares passou um projeto na Assembleia e em dezembro foi aprovado que hoje nós somos a capital do vinho da Chapada Diamantina, pelas nossas oito vinícolas. Para potencializar essa questão do turismo, a gente tem que mostrar para as pessoas que vale a pena ir para Morro do Chapéu. Vamos fazer agora, através do Sebrae, um curso para o setor hoteleiro e para o comércio também. Teremos a Feira Agropecuária, que acontece agora, nos dias 19, 20 e 21 de abril, que a gente movimenta mais de R$ 10 milhões no município. Também recebemos vários ETs na cidade, a gente tem um disco voador, que foi Seu Alonso que fez, ele viu um disco voador e se mudou para Morro do Chapéu, porque era o lugar potencialmente que tinha mais Óvnis. Então é a cidade fantástica, com seus segredos, com sua magia e vale muito a pena visitar.

 

A acessibilidade é uma questão importante na região da Chapada. Existe alguma parceria com o Governo do Estado para fomentar as obras de infraestrutura das estradas vicinais e rodovias? 

 

Zero. A gente faz. Graças a Deus, temos uma arrecadação boa. Lá a gente deve ter quase 2000 km de estrada vicinal e hoje, temos duas máquinas. Agora, no período de chuva, tem que refazer todas as estradas, principalmente porque as aulas estão começando, a gente começa a refazer pelas rotas de transporte escolar. A gente se vira. Graças a Deus, a gente tem deputados, principalmente o deputado Elmar Nascimento, que ajuda muito com emendas e a gente pode realizar esse trabalho.

 

Sobre a política, a senhora está no PL e recebeu convites para mudar de partido. Qual é a previsão para o futuro? 

 

Estou no PL hoje por conta do meu pai, o ex-deputado Zé Carlos Araújo, que era presidente estadual do PL aqui na Bahia e em 2022, ele saiu do PL e eu continuei. Na verdade, não tinha porque eu sair naquele momento, não era minha eleição, então continuei no PL. E hoje meu pai está como vice-presidente do PDT. Recebi convite do PDT, pelo deputado também Félix Mendonça; União Brasil, por Elmar; do PSB, pelo deputado Angelo Almeida e no dia 21 de março, agora a gente vai ter a festa de filiação lá no município e vocês vão descobrir [qual convite aceitei]. 

 

Sobre as eleições municipais em outubro, como você avalia a sua possibilidade de reeleição esse ano?

 

Eu avalio que as pessoas, não só em Morro do Chapéu, saibam votar em quem trabalha, em quem dá resultado para a população e que seja uma eleição respeitosa, principalmente, que a rede social está muito forte. Tem a questão da inteligência artificial, que eu acho que vai ser um problema nessa eleição, vai ter muito fake news. Você pode, com inteligência artificial, estar prejudicando uma pessoa não só politicamente, mas também a sua família. Meu modo de fazer política, é um modo respeitoso. Eu não acho que eu tenha adversários. Acho que a minha adversária sou eu mesma, porque se eu não trabalhar, eu vou dar lugar para outra pessoa conseguir se eleger. Então eu não tenho medo de adversários, porque eu trabalho e espero que o povo reconheça esse trabalho que a gente está fazendo. Vejo obra, sou mãe, sou mulher e eu acho que para nós mulheres isso é complicado. Trabalhar, ser mãe, ser esposa. E eu espero que a eleição seja uma eleição boa e respeitosa para com os adversários.

 

Sendo uma mulher na política, como você lida com os ataques, assédio moral e misoginia? 

 

Eu acho que toda mulher sempre sofreu. Todas nós já sofremos algum tipo de assédio moral, de misoginia. Os homens já são competentes e nós temos que provar que somos competentes. Eu tento me blindar ao máximo. Às vezes, tenho que entoar o tom de voz para as pessoas poderem me respeitar. E é difícil você ser mulher na política. Sou a primeira mulher prefeita de uma cidade de 114 anos, extremamente machista e eu sinto no gabinete, no dia a dia, muitos homens que chegam lá e falam assim, “eu estou sendo mandado por essa mulher?”. Você tá sendo mandado por uma pessoa competente, que foi competente para poder estar naquele lugar, independente de ser homem ou mulher. É uma tarefa diária. 

Defesa Civil do Estado espera que prefeituras criem próprias secretarias para lidar com desastres naturais
Foto: Divulgação / Sudec

As chuvas que caem na Bahia neste ano já deixaram 380 desabrigados, 2,2 mil desalojados e seis óbitos. Os dados são do último balanço da Defesa Civil do Estado [Sudec], divulgado nesta quarta-feira (28). Para o superintendente da pasta, Heber Santana, a tendência é que ocorram novos eventos naturais de impacto, o que acende o alerta para as cidades. Em entrevista ao Bahia Notícias, o titular da Sudec abordou a dificuldade de criar as secretarias de defesa civil no interior, comentou sobre a necessidade dos planos diretores e contou como funciona as defesas civis em cidades de pequeno porte, que contam, na maioria, com secretários “emprestados” de outras pastas. “A pessoa que é um secretário de agricultura, um secretário de meio ambiente, ele vai tocando sua pasta. Quando ocorre um problema é que ele vai se voltar paras ações de defesa civil”, declarou. Veja abaixo a entrevista completa:

 

Foto: Divulgação / Sudec

 

Quais regiões têm sido mais afetadas pelas chuvas no estado?

Olha, isso tem sido diversificado no estado. Tem municípios no Oeste, como Muquém do São Francisco, Wanderley e Cotegipe. Tem no Extremo Sul, como é o caso de Medeiros Neto. Tem no Sul, tem Ilhéus. Tem no Norte, em Paulo Afonso e Pedro Alexandre. Mas há ainda cidades no Sudoeste e na região sisaleira, que também registraram muita chuva. Na verdade, as chuvas, que estão acontecendo há mais tempo ocorrem em um corredor que começa no Oeste e passa pelo Sul e Extremo Sul, que são as regiões mais atingidas. 

 

Como os municípios acionam a Defesa Civil do Estado para obter apoio, uma vez que muitos não têm Defesa Civil própria? 

Existe um comitê que é formado, e uma pessoa é delegada para ficar como responsável. Só que na grande maioria das vezes, essa pessoa acumula outra função. E aí, a gente acaba não tendo uma atenção exclusiva para as atividades de defesa civil. É um trabalho que a gente, inclusive, está fazendo para que os municípios possam entender a importância de constituir, efetivamente, uma defesa civil. O ano passado foi o ano que bateu recorde de desastres no Brasil. A tendência é que isso aconteça cada vez mais. Essa dinâmica de mudança climática tem tido esses efeitos. E nós precisamos que os municípios estejam melhor preparados.

 

Muquém do São Francisco após temporal no final de janeiro / Foto: Reprodução / Gazeta 5


A grande maioria das prefeituras têm os comitês ou eles só são formados quando os transtornos acontecem?

Esse comitê até tem, por conta de uma prerrogativa legal. Agora, o funcionamento ... Naturalmente, em municípios que não se tem muita expectativa de ter um desastre, o comitê fica realmente em segundo plano, já que o foco daquela pessoa que acumula outra função vai ser outra atividade. Eu vou dar um exemplo, a pessoa é um secretário de Agricultura, um secretário de Meio Ambiente, naturalmente ele vai tocando aquela secretaria. Quando ocorre um problema é que ele vai se voltar paras ações de defesa civil. E a gente sabe que a defesa civil vem de uma legislação nova. A lei que disciplina e cria a política nacional de proteção e defesa civil é de 2012.

 

Foto: Divulgação / Sudec

 

O senhor acredita que a crença da importância da defesa civil vai aumentar devido a esses contratempos?

Tem uma cultura sempre de dizer que o nosso país não tem problema, não tem furacão, não tem terremoto. Só que ao longo dos últimos anos, isso tem se mostrado diferente. A gente tem convivido com problemas sérios. Repito, fruto de tudo que tem acontecido. E a gente precisa estabelecer essa cultura de proteção e defesa civil. Então, o fortalecimento das defesas civis municipais, da defesa civil nacional, da defesa civil dos estados, tudo isso, é um processo que vai acontecendo, e a gente vai aqui militando, especialmente para que os municípios possam também se abrir para isso. 

 

O senhor teve algum retorno de prefeitos, entidades, sobre a importância de se criar as defesas civis, sobretudo nas cidades de pequeno porte? 

Temos algumas conversas já com a UPB [União dos Municípios da Bahia], através do presidente Quinho (PSD); com o prefeito de Castro Alves e o presidente da federação dos consórcios públicos do estado, Thiancle Araújo (PSD), e há muita boa vontade de parcerias, para que a gente possa ir fazendo esse trabalho de fortalecimento. No último ano, ajudamos a criar secretarias de defesa civil em Jacobina - para enfrentar aqueles problemas de tremores de terra - e outra em Luís Eduardo Magalhães. 

 

A Bahia tem vivido nos últimos anos situações bem dramáticas, como aquelas enchentes do final de 2021. A tendência, pelas mudanças climáticas, é que outros eventos impactantes ocorram de novo. As cidades do interior se preparam para enfrentar situações semelhantes? 

Esse processo de preparo é contínuo. Não vai parar nunca. Até porque existe uma dinâmica no desastre. Tem o evento natural, a chuva, o vento. E tem uma dinâmica humana também. Aí entran questões sociais, ocupação e uso do solo, local onde essas comunidades estão estabelecidas, topografia do município. Tudo isso, de alguma forma, contribui para uma maior gravidade desses eventos. Nós temos duas formas de fazer a gestão: a gestão de risco, que é antes do desastre acontecer. É o trabalho de preparação, de mitigação e de planejamento. E tem a gestão do desastre. Se ele já aconteceu, você vai para o salvamento, com ajuda humanitária, restabelecimento das condições e Corpo de Bombeiros. 

 

Como se faz a recuperação de estradas vicinais, as chamadas estradas de chão ou de terra, já que elas servem para o transporte de pessoas no interior dos municípios e ficam bem deterioradas quando chove muito? 

Quando a estrada é destruída, tem que fazer ela novamente para poder liberar o acesso. Mas nós ainda fazemos reconstruções de ponte, obras de drenagem. 

 

Foto: Divulgação / Sudec

 

Uma questão que é pouco discutida em cidades de pequeno porte se refere aos planos diretores, que servem para organizar o espaço urbano. Na Bahia, mais de 60% das cidades do estado têm até 20 mil habitantes. O senhor acredita que essa questão de plano diretor é negligenciada nesses municípios?

O Estatuto das Cidades criou uma obrigação e uma necessidade de resposta mais rápida realmente para os maiores municípios. Mas todas as cidades têm essa carência e essa necessidade de ter um plano diretor que conduza o desenvolvimento. E de fato isso faz muita diferença quando você vai preparar a cidade para enfrentar as adversidade do tempo e tudo mais. E como eu disse, inclusive, também tem questões sociais a serem observadas. Por exemplo, há comunidades ribeirinhas que vivem do rio e que não dá para simplesmente tirá-las dali. Você também não pode fazer intervenções de qualquer maneira em uma área que é de preservação ambiental. Então, é preciso encontrar esse equilíbrio, que é um grande desafio para as prefeituras.

Especialista avalia economia baiana para 2024; analista diz que estado precisa de mais cooperativismo
Foto: Divulgação / SEI

O que esperar da economia baiana em 2024? A pergunta inadiável também passa por saber qual setor deve se destacar e qual deve sofrer. Outra questão é: a indústria baiana vai vingar? O setor baiano tem mostrado mais baixa do que a indústria brasileira durante anos. O semiárido baiano pode ser viável? Esta é outra indagação.

 

Para responder a essas e outras questões, o Bahia Notícias conversou com Luíz Mário Vieira, analista de conjuntura da SEI [Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia]. Segundo o também mestre em economia, falta ainda ao estado o fortalecimento do cooperativismo, relegado quase apenas à agricultura familiar.

 

O recurso serviria para proteger empresas e evitar a fuga de outras, sobretudo nas cidades de médio e pequeno porte do estado. “Se sabe que o cooperativismo foi o grande diferencial em outros estados, como os do Sul do país. Lá é algo muito forte. Eles lutam pela defesa dos interesses deles. E aqui é uma coisa bem isolada, ficando mais na agricultura familiar”, declarou. Confirma abaixo a entrevista na íntegra.

 

Foto: Divulgação / SEI

 

Primeiro, o que podemos aguardar da economia baiana em 2024?

A gente tem verificado que as previsões estão sendo muito erráticas nos últimos anos, não é? Ou seja, se a gente pegar mesmo 2022 e 2023, a previsão era de crescimento de 0,8%. E os economistas acabaram surpreendidos pela dinâmica da economia brasileira. Hoje, nós temos uma previsão de que a economia feche em torno de 3%. Isso em nível de Brasil. Agora, a Bahia costuma ter uma situação peculiar. 

 

Qual situação?
O setor industrial não foi bem, sobretudo a indústria de transformação, como no setor petroquímico e no setor de refino de petróleo. A gente teve uma retração na indústria, que deu nesse resultado ruim para o PIB do estado, que ficou uma taxa muito aquém do que a gente esperava. O PIB da Bahia no terceiro trimestre ficou em 0,2% e consequentemente no ano nós teremos uma taxa de 0,5%. Por isso, esperamos fechar o ano com um taxa pela metade da do Brasil, ou seja, em torno de 1,5%. E o caso da Bahia também é em decorrência da concentração da atividade industrial em poucos setores. 

 

A saída da Ford ainda causa impacto?
Acredito que não. A saída da Ford foi em 2021. Os efeitos dela ocorreram em 2022. De lá para cá, a base de comparação não incluiu o efeito Ford. Agora, nós tivemos bons resultados nos setores de agropecuária e de serviços, que vem correspondendo nos últimos anos. Eles deram uma recuperação muito significativa para o PIB da Bahia logo após a pandemia. 

 

Foto: Reprodução / SEI


Há algum setor em especial que deve crescer mais na Bahia?
Olha, nós esperamos uma recuperação do setor industrial. Porque quando a gente fala em indústria em relação ao PIB, falamos de indústria de transformação, extrativa, além de aumento de demanda em eletricidade e construção civil. Sei. Segundo a Ademi [Associação de Dirigentes do Mercado Imobiliário], houve um crescimento de 60% em lançamentos na construção civil. Isso é importante. Por que se você lança, você vai construir. E tem a queda da taxa de juros, que ajuda a financiar os lançamentos. Na indústria, a gente espera alguma recuperação, principalmente no setor de refino. A Petrobras tentando fazer uma parceria com a Acelen [que administra a Refinaria Mataripe], também é interessante. E tem alguns gargalos no setor industrial, como a questão da Unigel [fertilizantes], que a gente não sabe como vai ficar. Tem a metalurgia, como a Paranapanema, que está em recuperação judicial. Tem uns setores que se expandem. Papel e celulose vão continuar tendo um bom desempenho porque a demanda internacional vai continuar se mantendo. E não vai ter um processo recessivo no mundo no ano que vem. As perspectivas são mais favoráveis com a expectativa de que as taxa de juros no mundo sejam reduzidas.

 


Eu queria voltar para a questão da indústria baiana. A indústria baiana caiu quase o dobro da economia brasileira em dez anos. Enquanto a baixa no país foi de 12,4%. No estado, foi de 22,6%. Como recuperar a capacidade industrial?
A indústria da Bahia tem um aspecto. Ela vive momentos de explosão e depois acomodação. Houve isso lá atrás, no final dos anos 70, com o polo petroquímico [Camaçari]. Depois, veio a Ford. Agora, a gente espera que com a chegada da BYD haja isso, dando um choque no setor industrial. Porque vai ser bom na produção como também na inovação, já que eles pretendem criar um campo de inovação aqui na Bahia. 

 

Quais setores têm potencial de se desenvolver aqui no estado?
Na pandemia, ficou evidente que a gente não produzia nem máscara. Não tinha seringa e insumos básicos, o que acabou atrasando a vacinação. Aqui, nós temos o Cimatec [Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia], que trabalha com inovação e tem um setor de excelência em saúde. Tudo isso nós temos condições de desenvolver. E Salvador está caminhando para ser um centro de excelência na questão de saúde no Nordeste. Os melhores hospitais estão aqui ou têm filiais, como Mater Dei, Rede D’or e por aí vai. O hospital que você tem aqui é o mesmo que você tem em São Paulo. Tem a economia verde também. A gente tem que trabalhar com esses essa questão da descarbonização da economia. É uma palavra um pouquinho feia, mas é o caminho mesmo. 

 

E o semiárido baiano? Qual o potencial dele que ainda não foi desenvolvido?
Acredito que passa pelas energias renováveis. Precisa também de pesquisa para apontar o caminho. A gente sempre cita o exemplo de Israel, que vive em um deserto e consegue produzir muita coisa. Acho que também precisa trabalhar com o conceito de eficiência. Se o semiárido trabalhar nesse sentido, ele pode ser viável. A Embrapa, que é uma empresa pública, por exemplo, ajudou no salto que o agronegócio teve. Ela colabora não só na produção como no valor agregado, ou seja, hoje o setor não exporta somente o produto primário. Exporta também o produto acabado. 

 

Foto: Reprodução / SEI

 

Mas se diz que o agronegócio produz muito, gera muito lucro, mas emprega pouco. 

 A agricultura antes era o setor que empregava mão de obra de baixa qualificação. Mas isso tem mudando radicalmente. O que a gente vê nas feiras que acontecem lá em Luís Eduardo Magalhães, no Extremo Oeste baiano, é o aumento do nível tecnológico agregado às máquinas. Então não vai ser qualquer um que vai sentar ali para dirigir uma máquina daquelas, tem que ter um conhecimento. Mas, apesar de menos emprego, o setor gera uma cadeia de serviços. Luís Eduardo Magalhães, um município criado recentemente, já aparece como um dos maiores PIBs do estado. Isso é muito importante. 

 

A Bahia é um estado com 61,6% de cidades com até 20 mil habitantes e apenas 18 delas têm mais de 100 mil habitantes. Aquele modelo de empresas de fábrica de calçados ainda tem potencial? 
Esse modelo teve seu momento, principalmente diante da questão da guerra fiscal entre os estados. O governo deu muitos benefícios, deu terreno, galpão, e ao longo desse período várias dessas empresas foram embora. E uma coisa que não se desenvolveu aqui na Bahia é o cooperativismo. Falta até um estudo sobre isso. Só a agricultura familiar é que consegue ter cooperativas. E ela fornece quase 80% da alimentação que se consome aqui. Tem que ver também o que o mercado precisa e que seja competitivo, sem precisar de uma ajuda tão substancial do estado, porque a própria legislação não vai permitir que se faça mais isenções fiscais e tributárias, embora no primeiro momento, na instalação delas seja necessário. 

 

Falta cooperativismo na Bahia então?
Eu acho que falta. A gente observou muito isso quando foi criado o setor calçadista. Quando se tentou as cooperativas para gerirem o negócio, o resultado não foi exitoso. E aí voltou a relação tradicional capital-trabalho. 

 

Não deu certo por quê?
Isso ainda nós não sabemos exatamente, mas se sabe que o cooperativismo foi o grande diferencial em outros estados, como os do Sul do país. Lá é algo muito forte. Eles lutam pela defesa dos interesses deles. E aqui é uma coisa bem isolada, ficando mais na agricultura familiar. 

 

Um dos problemas que afetam o desenvolvimento do estado é a infraestrutura precária?
Essa ferrovia [Fiol] está muito atrasada. Com a Fiol, a gente poderia encontrar mecanismos de produção que sejam adequados à nossa realidade, com o semiárido e a região do cacau. Você pode dar dinamismo naquela região, buscando outras alternativas, além do cacau. 

 

Foto: Reprodução / SEI 


O que a gente pode vislumbrar para o desenvolvimento no estado ano que vem?

Olha, o El Niño vai atrapalhar na agricultura. Isso a gente não tem dúvida, apesar de o pessoal do Oeste ter uma área irrigada. No setor industrial, a gente espera pela própria base de comparação um desempenho melhor. O governador assinou algumas licitações, como a do VLT [Veículo Leve sobre Trilhos] em Salvador. A rodoviária [de Salvador] deve sair no ano que vem. A própria Fiol se continuar no seu processo de construção, também vai ter um impacto na própria construção civil habitacional. Essa reflete tanto na demanda de insumos como na geração de empregos. Com essa seca, a demanda por eletricidade vai crescer e o nosso parque eólico vai ser mais acionado.  Em relação à BYD, não podemos esperar muita coisa, já que ela ainda não vai operar ano que vem, mas pode dar um incentivo à geração de energia. E o grande setor, que é o de serviços, que representa mais de 60% da economia baiana, vai bem. 
E associado ao elemento da geração de renda. E boa parte das pessoas recebe salário mínimo, que repercute nos aposentados e quem tem benefício. Se a inflação estiver controlada, esse salário tem um ganho real e isso ajuda as pessoas. 

Maior efeito do governo Bolsonaro foi a volta ao mapa da fome, diz coordenador baiano de programa de cisternas
Foto: Divulgação / ASA

Premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), um dos exitosos programas de convivência de populações do semiárido com a seca quase desapareceu. Iniciado na virada dos anos 2000, o programa de cisternas sofreu forte queda no repasse de recursos nos últimos quatro anos. 

 

Para Cícero Félix, coordenador nacional na Bahia da ASA (Articulação do Semiárido Brasileiro), o abandono do programa impactou nas condições de sobrevivência.  "O maior impacto foi a volta do Brasil ao mapa da fome. O não investimento em políticas de acesso à água, de garantia de direito humano de acesso à agua, impactou seriamente nas famílias", declarou. 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Félix, que também é técnico em agropecuária, informou a meta da Bahia para o programa neste ano, detalhou como ocorre a formação dos beneficiados e afirmou que a iniciativa precisa chegar na universalização da água, conquista ainda fora do horizonte de todos os sertanejos.  Veja abaixo a entrevista na íntegra.

 

Foto: Divulgação / ASA

 

Queria saber como está a realidade do sistema de cisternas no semiárido baiano?

O governo anterior praticamente desestruturou, desmontou o programa de cisternas no Brasil. O orçamento que tinha para o programa de cisterna neste ano era de R$ 2 milhões. Isso daria para construir em torno de 400 cisternas, de primeira água, no Brasil todo. Ali no governo de transição, com a eleição do presidente Lula, nós conseguimos, com a sociedade civil organizada através da ASA e de outras organizações, e hoje o orçamento do programa é de R$ 500 milhões para este ano. Saímos de R$ 2 milhões para R$ 500 milhões. O governo também lançou um edital para construção de 51 mil cisternas de primeira água e mais 5 mil para produção de alimentos.

 

Para a Bahia seriam quantas cisternas?

 A meta para Bahia são dez mil cisternas de primeira água, aquela para beber e para consumo, e mais umas mil cisternas para produção de alimentos e manejo de animais. Com a ampliação do semiárido, se estima que na Bahia existam de mais de 150 mil famílias sem a primeira água. Já na segunda água, ainda são poucas famílias que tem esse recurso. Por isso, a maior demanda é para essa segunda água.

 

Qual foi o tamanho do impacto do governo federal anterior na falta de investimentos no programa de cisternas?

Olha, o maior impacto foi a volta do Brasil ao mapa da fome. O não investimento em políticas de acesso à água, de garantia de direito humano de acesso à agua, impactou seriamente nas famílias.

 

Foto: Reprodução / ASA Bahia

 

Dá para apontar quais municípios ou regiões baianas foram mais prejudicados com a falta de investimento da gestão Bolsonaro no programa de cisternas?

Não temos ainda esses dados, mas posso dizer com certeza que os municípios com os índices mais baixos de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] foram os mais afetados. Porque eles têm a economia dependente da agricultura familiar. Nestes municípios, os impactos foram profundos. Porque o governo anterior desmontou o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que era o ministério que apoiava a agricultura familiar, desmontou praticamente o programa de cisternas, desmontou o sistema de segurança alimentar nutricional do país.

 

Nós tivemos um político com eleitorado na Bahia, João Roma (PL), como ministro do governo anterior que tratava desse assunto. Como era a relação com ele?

Na época, ele foi ministro da Cidadania. Nós tentamos contato com o ministério dele, mas infelizmente não foi possível. Nós não conseguimos dialogar com o ministério para executarmos o programa cisterna. Infelizmente.

 

E atualmente, como está a relação?

Hoje, conseguimos dialogar. A relação é de construção, dialogando sobre as possibilidades. A meta é garantir o acesso universal para a água de consumo. No caso da água para produção de alimentos, ainda estamos distante da universalização. Sabemos que tem a disputa por orçamento público, isso é da construção e priorização das políticas. O MDS já lançou edital para contratação das organizações, e nós estamos nesse processo agora de finalização de editais para contratar as organizações que executar na ponta o programa cisterna.

 

Foto: Reprodução / ASA Bahia

 

Para recapitular o programa de cisternas é uma iniciativa da sociedade civil, não é mesmo?

O programa de cisternas foi na verdade nós da ASA que apresentamos o chamado programa para mobilização social para convivência com o semiárido. Dentro desse programa tinha a proposta de criar um milhão de cisternas. Nós fizemos isso pela primeira vez ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC). Era um programa piloto. Depois, no governo Lula virou política pública. No último governo, o programa quase que desapareceu.

 

A ASA é apontada como uma organização à esquerda, mas vocês já se manifestaram contra Dilma [Rousseff], não foi? A entidade se sente independente?

A ASA não tenho partido. É uma rede de organizações da sociedade que apresenta proposta de políticas públicas que interessam aos povos do semiárido. E nós dialogamos, nós construímos políticas públicas, e executamos. Apresentamos propostas no governo Fernando Henrique, no governo Lula, no governo Dilma, no governo Temer, mas a situação ficou difícil no governo Bolsonaro. Na época do primeiro governo Dilma, nós enfrentamos uma situação. Colocamos milhares de pessoas nas ruas para que questionar o governo por conta do desvirtuamento que estava sendo proposto no programa, que era a construção de cisternas de plástico. A pressão política é necessária para que os governos possam fazer as políticas que interessam as populações dessa região, e isso independente de cores partidárias.

 

Foto: Reprodução / ASA Bahia

 

Qual o problema das cisternas de plásticos?

O problema são os impactos dessa água armazenada durante muito tempo nesse solzão do semiárido. Imagine o plástico esquentando durante o dia e esfriando durante a noite, ampliando e encolhendo. A gente não sabe o que se libera de toxina. Além do mais, o programa cisterna não é apenas a construção de um tanque, de um reservatório. Envolve toda a formação social para convivência com o semiárido. A questão da gestão hídrica. De a família poder conhecer como é que funciona a questão das chuvas. Fazer a boa gestão da água. Tem ainda a questão da economia local, com contratação de pedreiros, compra de material no comércio, ou seja, fortalece também a economia local. 

 

Como é a formação dessas pessoas que recebem cisternas?

A cisterna chega por último na família. Para a família receber a cisterna, ela precisa primeiro se envolver no processo de formação e mobilização social pra convivência com o semiárido. Aprender como ela pode manejar e cuidar dessa cisterna, tratar a água. Muitas vezes se criticava que as cisternas não tinham água de boa qualidade. Mas antes de chegar na boca das pessoas, ela precisa passar por um filtro. Então, a água sai da cisterna e é filtrada para se ter um bom uso dela. 

 

Há previsão de novas estiagens no semiárido. Como o programa de cisternas pode ser alternativa para o enfrentamento desse problema?

Nós já estamos em um período de emergência climática, né [sic]? Então, a tendência é que cada vez mais a gente vivencie eventos extremos. Muita seca, muita enchente. No semiárido, a tendência é que a gente tenha chuvas mais irregulares no tempo e no espaço. A nossa proposta de convivência com o semiárido dialoga com todas essas esses desafios. Nossa grande estratégia é a do cuidado e da estocagem. As famílias precisam estocar água no período chuvoso para ter no período seco. As famílias precisam estocar alimentos pra si e para os animais no período chuvoso para usar no período de seca. Precisam guardar, precisam preservar, cuidar das sementes, das plantas, dos animais para não perder o seu patrimônio genético. A estratégia é a partir da realidade das famílias, das comunidades, dos biomas que cobrem essa região, caatinga e cerrado, trabalhar o cuidado desses biomas. E para isso, precisamos de políticas públicas para investir nessa perspectiva. 

 

Foto: Reprodução / ASA Bahia


As mulheres têm papel importante na gestão das cisternas?

A tecnologia de segunda água, aquela para produção de alimentos, acompanha junto o chamado Quintal Produtivo. E geralmente a água para produção é gerenciada e cuidada pelas mulheres.

 

O programa de cisternas precisa de aprimoramento?

Bom, o programa de cisternas é premiado internacionalmente. Já recebeu prêmios da Organização das Nações Unidas (ONU), recebeu prêmio de políticas com resultados comprovados contra a desertificação, recebeu prêmio como políticas de futuro para segurança alimentar das famílias. Então, assim, é um programa que dá certo, que funciona, que tem gerado grandes resultados para as populações que já têm cisterna em casa. Nós não vamos ficar reinventando a roda, nós temos é que garantir que as famílias tenham acesso a essas tecnologias. 

“Hoje não é aceito esse tipo de coisa”, diz presidente da CAR sobre abate clandestino de animais na Bahia
Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

O diretor-presidente da CAR [Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional], Jeandro Ribeiro, lida de perto com a maioria dos produtores rurais baianos. Segundo dados do IBGE, 77,8% das propriedades rurais do estado são da chamada agricultura familiar, termo que veio substituir as produções de pequeno porte.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Jeandro Ribeiro contou quais são as prioridades da gestão. Ele também citou o abandono dos programas de cisternas feito pela gestão federal anterior e criticou o ainda comum abate clandestino de animais no estado.

 

“Infelizmente quem presenciou um abate clandestino, sabe que é algo muito doloroso. Em tempos como hoje, não é mais aceito esse tipo de coisa”, disse. O presidente da CAR ainda deu orientações para a abertura de cooperativas e franquias com selo da agricultura familiar e comentou sobre o polêmico abate de jumentos, em Amargosa, no Vale do Jiquiriçá. Veja abaixo a entrevista completa.

 

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

 

Primeiro, queria que o senhor explicasse o que é a CAR.

A CAR foi concebida há 40 anos. Primeira, ela foi vinculada à Secretaria de Planejamento da Bahia. Com o governo Wagner, passou a fazer parte da Sedi, a Secretaria de Integração Regional. Já com Rui, a CAR se integrou à Secretaria de Desenvolvimento Rural [SDR] por conta de um apelo do segmento da agricultura familiar. A CAR é uma empresa pública, musculosa, com jurídico próprio, e com capacidade de investir em torno de R$ 2 bilhões na agricultura familiar nos próximos três anos. É a principal vetora de políticas públicas para o segmento da agricultura familiar, seja do assentado e assentada da reforma agrária, dos povos e comunidades tradicionais.

 

Quais é a prioridade imediata da CAR?

A prioridade máxima é consolidar as políticas que vêm das gestões de Wagner, Rui e Jerônimo. Uma das prioridades são as agroindústrias. Após um mapeamento, nós identificamos 402 agroindústrias, aquelas que nós construímos ou que requalificamos ou que temos outras intervenções.

 

Essas agroindústrias se concentram em alguma parte do estado?   

Elas estão espalhadas em função da cadeia produtiva. Se você for ali para região da Bacia do Jacuípe, você tem a Coap ou a FrigBahia, que é um frigorífico de abate de caprinos e ovinos. Se você for pra região Norte da Bahia, que é a central da caatinga, a caprinocultura é forte, como também a fruticultura, com o maracujá da caatinga e o umbu. Ali você tem a Coopercuc. Se você for para região sudoeste da Bahia, tem o café de Barra do Choça, com a Cooperbac. Na Chapada, a mesma coisa. Você tem o café de Piatã com a Coopiatã, entre outras iniciativas.  

 

Como a CAR atua junto a essas cooperativas? 

A CAR, nessas duas vertentes que são o Bahia que Produz e Alimenta e o Parceiros da Mata, tem papéis que se somam. O Bahia que Produz e Alimenta vai muito atrás desses empreendimentos que já existem. A gente faz uma busca ativa e os editais permitem isso. A gente lança os editais, as cooperativas se encontram nos editais e apresentam suas manifestações de interesse. E aí vamos escutar. Eu acho que o grande mérito do sucesso dessas políticas públicas de agricultura familiar é porque a gente teve a capacidade de primeiro escutar a demanda real. Não chegamos com receita de bolo pronta para ninguém. 

 

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

 

Agora do lado do produtor, o que ele precisa fazer para conseguir montar um negócio? Qual o dever de casa dele?

As ações se somam. A primeira relação que a gente tem com o agricultor é a partir da assistência técnica de extensão rural. Nós entendemos a dinâmica e a diversidade que a Bahia tem. Aqui existem três biomas muito bem definidos, que são a Mata Atlântica, a Caatinga e o Cerrado. Não adianta centralizar isso. O que foi que nós fizemos? Estabelecemos parcerias com quem de fato conhece a realidade no campo e quem está lá. Então chamamos organizações não governamentais para ajudar a gente na assistência técnica. Em 2016, nós começamos uma relação também com os municípios. Nós chamamos os municípios baianos para participar dessa estratégia de assistência técnica. Nós chamamos na época de Parceria mais Forte. Então você me pergunta: o que que o agricultor tem que fazer? Ele tem que ser chamado pela assistência técnica. Ele tem que organizar a base de produção. Não adianta achar que vai ter uma casa de farinha, se não tem ali 90, 100 hectares de mandioca plantada e organizada para abastecer um equipamento. O agricultor tem que estar organizado em uma associação, em um CNPJ. A gente nunca vai conseguir chegar com o olhar cirúrgico da CAR individualmente, com João ou Maria ou Antônia. 

 

Uma cooperativa precisa do mínimo de quantos membros para conseguir se estabelecer?

Por regimento, 20 membros. Mas se você pega a Cooperbac, em Barra do Choça, ela começou com 79 cooperados e hoje tem 320. A Copag, em Várzea Nova, começou com 30, 40, e já tem quase 200 cooperados. São cooperativas que começam pequenas, a política pública chega nelas, e elas conseguem trabalhar essa política pública de forma eficiente junto com o estado e vai se alargando. A Copasa em Várzea Nova é a principal geradora de emprego do município após a prefeitura. Além de fazer o tradicional, como manteiga, iogurte, queijo, ela faz também o iogurte de café, de licuri, de umbu. 

 

Um dos problemas deixados pela gestão anterior do governo federal foi a falta de investimentos no programa de cisternas. Qual foi o impacto causado no produtor rural baiano de pequeno porte nesse período?

O semiárido tem as suas estações muito bem definidas. Por isso, se sabe que tem oito meses de estiagem, e tem três, quatro meses, de chuvas intensas. Então tinha que ter uma capacidade de armazenamento dessas águas. A ASA [Associação do Semiárido Brasileiro] trouxe essa tecnologia de captação de água da chuva, através do telhado das casas para uma cisterna. Sabendo que nós temos quatro meses de chuva, era preciso armazenar para a produção. Mas isso começou em 2012. E aí quando chega o governo anterior, todo o ciclo de manutenção dessas cisternas foi quebrado. Quebrou assim a manutenção das cisternas existentes na Bahia, seja as cisternas de placa, para consumo humano; e aquelas de captação de água para produção, que chamamos de cisternas de segunda água. Agora, como a demanda por água sempre aumenta, a ASA já apresentou, junto com os consórcios da Bahia, uma proposta ao ministro de Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), e ele já sinalizou cerca de R$ 100 milhões para execução dessas cisternas para consumo humano. 

 

E tem uma questão aí que é a previsão de estiagem nos próximos meses, o que torna as cisternas ainda mais necessárias.

A gente já esteve com a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] junto com o governador Jerônimo há 60 dias, já prevendo esse cenário de estiagem. E a Bahia é um grande produtor de alimentos. Tem o maior rebanho de caprinos e ovinhos do país, o primeiro de cacau, o segundo maior produtor de maracujá, o quarto maior produtor de café arábica, então, em função disso, a gente também foi atrás de reserva alimentar para alimentação animal. Nós apresentamos uma demanda de 60 mil toneladas de reserva alimentar, ela já comprou 15 mil toneladas de grãos lá no Oeste da Bahia que está estocando e trazendo para os armazéns de Irecê e Ribeira do Pombal, por exemplo, e vai fazer aquisição no Norte da Bahia para ter uma capacidade de ofertar na época da estiagem o milho subsidiado, que nós fizemos em 2013. 

 

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

 

É notório que os preços de alguns alimentos têm subido muito, como é o caso do tomate, que chegou a custar R$ 15 o quilo, recentemente. A agricultura familiar forte pode favorecer a uma melhor regulação desses preços?

Tem muita especulação também nisso. Agora, a agricultura, de forma geral, é uma atividade de risco, principalmente nas culturas de ciclo curto. Você pode fazer um roçado grande, aí vem uma chuva forte e leva tudo. Na Bahia, se você pegar a curva de todas as culturas perenes, como com cacau, leite, café, as curvas são ascendentes. Mas as culturas temporárias, elas oscilam, como no exemplo da chuva forte. A gente lembra que no ano passado quando teve aquela chuva de final de ano, os preços dos alimentos subiram muito. Jaguaquara, que é um grande produtor de alimentos, sofreu bastante. O nosso Ceasa pode ser esse ambiente regulador e evitar tanta oscilação de preço. 

 

Uma problemática no interior também são os abatedouros, já que muitas cidades têm os abates clandestinos. Como resolver essa questão?

É uma problemática que existe de fato. Nós precisamos unificar os interesses das cidades. A Bahia tem 417 municípios, sendo que 350 deles têm até 40 mil habitantes. Você não pode ter um frigorífico para um município de 40 mil pessoas. É impossível. Agora, vou dar um exemplo que está funcionando. Itiúba tem um frigorífico que teve o início da construção há 12 anos. Vimos que o equipamento estava lá sem uso. Reunimos todos os prefeitos da região, não só o de Itiúba, e falamos: "se vocês querem colocar esse frigorífico para rodar, vamos precisar da participação de todo mundo". Tanto nosso do estado, com o aporte de mais de R$ 4 milhões, como também dos municípios, não só na gestão como também no combate ao abate clandestino, colocando a vigilância sanitária em cima. Então, é preciso unificar as prefeituras e combater o abate clandestino. Nós temos um belo exemplo de frigorífico também em Pintadas. É um frigorífico que é a legislação permite ser multiplanta, abatendo caprinos, ovinos e suínos, ou seja, médios animais, como também bovinos, que são animais de porte grande. 

 

Agora, como convencer o produtor rural que é melhor ele usar um matadouro regularizado do que continuar fazendo o abate clandestino?

Infelizmente quem presenciou um abate clandestino, sabe que é algo muito doloroso. Em tempos como hoje, não é mais aceito esse tipo de coisa. E no abate regularizado, que é feito de acordo com a legislação, há um sofrimento menor para o animal, além das questões de higiene. 

 

Foto: Fernando Duarte / Bahia Notícias

 

Como você tem acompanhado o caso de abate de jumentos em Amargosa?

Ali foi uma agenda feita com os chineses e há uma demanda por carne de jegue. Na missão que o governador fez na China, ele visitou esses parceiros. Nesse abate há também tecnologias. Não é pegar jegue em beira de estrada, como muito gente acha que é. Não é assim que funciona, muito pelo contrário. Então, isso está sendo feito da forma como a legislação exige, e é um mercado que gera divisas para o estado da Bahia. 

 

Entre as críticas ao abate de jumentos é que não há uma cadeia produtiva, o que pode causar até a extinção da espécie. 

Mas está tudo dentro da legislação. Ninguém iria apoiar um projeto que causasse dano à saúde pública nem sofrimento ao animal. 

 

É verdade que a agricultura familiar baiana já tem franquias, ou seja, se alguém quiser abrir um negócio com a marca, ela pode fazer isso?

A ascensão da agricultura familiar é notória e hoje ela virou uma marca, que gera saúde, gera consciência limpa e não há emprego de mão de obra equivocada na produção do alimento. Você sabe que está comprando produto com qualidade, produto com uma história por trás dele. Hoje, a gente tem um empório da agricultura familiar no Ceasinha, no Rio Vermelho [Salvador], que virou uma marca. Então, a Unicafes [União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária] está preparando para apresentar para gente essa franquia. A pessoa que queira levar a marca do Empório para o interior, basta obedecer o conceito que está na loja, que é belíssima. Nós já temos uma em Juazeiro, que é administrada pela Central da Caatinga, temos essa aqui em Salvador, e já já teremos uma terceira em Senhor do Bonfim e a próxima vai ficar ali no eixo de Ilhéus-Itabuna e Vitória da Conquista. E, provavelmente, teremos outra em Feira de Santana. 

 

Então, o negócio tem se expandido?

Porque o mercado está pedindo. O consumidor está pedindo produtos da agricultura familiar. Está pedindo um iogurte de licuri, um iogurte de umbu ou de café, uma cerveja artesanal de maracujá da caatinga, uma cerveja de mel de cacau, está pedindo um café de qualidade, um morango de qualidade. 

“Não houve preocupação de dotar esses distritos de infraestrutura”, diz secretário sobre indústrias no interior baiano
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Passados quase seis meses à frente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), o titular da pasta, o feirense Angelo Almeida, tem a missão de melhorar os índices de industrialização no estado. Em uma década, entre 2011 e 2021, o Brasil perdeu 12,4% da força industrial, mas a Bahia conseguiu descer mais, com baixa de 22,6%.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Angelo Almeida respondeu sobre essa questão, como também sobre o dilema dos distritos industriais, sobre o potencial do hidrogênio verde, sobre a falha de não desenvolver um maquinário para o agronegócio do estado (que compra esses itens de fora), entre outros temas, como educação e o modelo de atração de empresas calçadistas para o semiárido baiano.

 

“Toda cidade gostaria de ter uma grande empresa calçadista porque ela emprega bastante. Uma empresa dessa de médio porte emprega de 1,2 mil a 2 mil. [...] Mas o estado do tamanho da Bahia tem que entender a sua vocação”, avaliou o secretário. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Quais são as perspectivas de curto prazo para indústria baiana, sobretudo para este segundo semestre?
Com cinco meses à frente da pasta posso dizer, com segurança, que a Bahia está em uma posição privilegiada na neoindustrialização e de novos empreendimentos na área industrial, a exemplo da agroindústria. Eu diria que é o estado central do país na perspectiva de ser um grande polo de atração para essas empresas. Isso pela facilidade da perspectiva de baixo custo e abundância energética. As vibrações estão sendo positivas e o interior tem sido o foco das atenções desses novos impedimentos para a Bahia. Só para se ter ideia, do ponto de vista da energia eólica, a Bahia é o único território no mundo onde os ventos são imbatíveis.


Ainda sobre curto prazo, a fábrica de hidrogênio verde anunciada em Camaçari ainda pode sair neste ano, como já foi dito?
O principal equipamento para tornar realidade essa planta de hidrogênio verde na Bahia, da Unigel, que será a primeira planta em alta escala na América Latina, é a compra do eletrolisador, que já foi adquirido. As compras já foram feitas e os primeiros eletrolisadores vão chegar no segundo semestre deste ano.

 

Quais são as perspectivas de emprego para o estado como um todo com o aproveitamento desse potencial de energia limpa, colocando aí as energias eólicas, solar e, por que não, o hidrogênio verde? 
Sim. Está havendo uma estabilidade na implantação de novos negócios na Bahia com cerca de 75% deles direcionados para o interior e 25% para a Região Metropolitana de Salvador. É uma tendência, justamente por conta dessa nova matriz energética. Tanto a Solar quanto a eólica. Elas barateiam os custos de mercado e o empresário consegue ter acesso a uma energia mais limpa a um custo mais barato. Além disso, o Estado tem feito diversas ações na qualificação de mão de obra no interior com a expansão do ensino técnico e profissionalizante. E os investimentos do agronegócio nos animam bastante. 

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias


Em relação ao agronegócio, é notória a força desse setor no estado, mas o maquinário vem todo de fora, de empresas estrangeiras. Isso não seria um erro estratégico da política industrial baiana quando ela não estimula essa produção?
Existe uma tendência que as novas gerações baseadas em tecnologia e ciência vão fazer a diferença. 

 

A questão é que se fala na vinda da BYD para fabricação de carros elétricos. Por que não pensar também na fabricação de tratores e máquinas agrícolas?
É uma questão cultural. Esse setor metalúrgico de equipamentos agrícolas, ele vem ali de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul. Essa mudança ainda não houve aqui. E agora com esses recordes que estão batendo, seguramente nós vamos também ter a capacidade de começar a fazer esse tipo de atração, sobretudo por conta da transição energética e da necessidade de ter energia barata produzindo esses equipamentos. Nós estamos atentos a isso. Ocorre que não se transforma tudo de uma vez só. Vou dar um exemplo. Hoje na Bahia, a Ferbasa, a partir da matriz energética, que é limpa para produzir a usinagem, já fornece o chamado aço verde para a Toyota. Então, os carros da Toyota fabricados hoje no mundo tem o selo produzido aqui, que é de alta qualidade. Isso gera uma tendência de mercado. 

 

Ainda a respeito do interior do estado, sobretudo do semiárido que ocupa a maior parte do território baiano, quais as ações para reerguer os distritos industriais? 
Olha, existe um interesse do governo Jerônimo para requalificar nossos distritos industriais. Durante muito tempo, é preciso reconhecer, não houve preocupação de dotar esses distritos de infraestrutura. Esse é um papel que a Secretaria de Desenvolvimento, em parceria com a Seinfra [Secretaria de Infraestrutura do Estado], tem buscado fazer. 

 

Em Feira de Santana, a crítica é que o distrito industrial foi abandonado.
O Centro Industrial de Feira de Santana, tanto o Núcleo do Tomba e o do Subaé já estão adiantados, com projetos finalizados. Ali o trabalho de drenagem precisa ser melhorado porque foi feito há cerca de 60 anos. Uma drenagem muito superficial que já não compete mais para a realidade de hoje. Fazer qualquer intervenção sem mudar o sistema de drenagem é jogar dinheiro fora. Então, o custo para fazer a drenagem profunda está em torno de R$ 20 milhões. O governador vai autorizar e o projeto de Feira deve ficar em R$ 44 milhões iniciais. O edital deve sair provavelmente até agosto.

 

O centro industrial de Vitória da Conquista também é outra reivindicação. Como está lá?

A recuperação do distrito industrial de Conquista já tinha começado no governo Rui Costa. A obra já está em 15% dela, e até o final do ano a reforma deve ser concluída. Existe lá uma associação de empresários que passou por uma série de dificuldades, inclusive na questão documental para atualizar para cadastro fundiário. Mas, a secretaria está trabalhando para fazer a entrega desses documentos para que eles possam acessar crédito e avançar na constituição das empresas. 

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Além de Feira e Conquista, quais outras regiões vocês estão olhando com mais carinho para investir nesses espaços industriais?
Dos 22 distritos industriais, 17 estão sendo trabalhados pela secretaria. Trabalhando com projetos e editais que devem ser lançados ainda nesse segundo semestre.

 

O senhor poderia citar algumas cidades que vão ser contempladas?
Em Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, o governador já está dando ordem de serviço para começar a trabalhar no mês de julho. Vamos aproveitar o festival do algodão para colocar isso em prática. Em Santo Antônio de Jesus, o edital já avançou e a empresa contratada já está com 15% das obras feitas. O de Jequié já está adiantado em obras. O CIA [Centro Industrial Aratu], o edital vai ser lançado no dia 27 de junho e vamos receber as propostas de requalificação. E a requalificação do Polo Industrial de Camaçari está prevista para ocorrer nos próximos 90 dias. Então, dos 17 distritos industriais, a metade deles já está sendo tratada.

 

O Polo de Camaçari, conhecido ainda como polo petroquímico, pode se tornar um polo de energia verde?
Seguramente. A tendência é que o polo, que está perto dos seus 50 anos, passe a receber fortes investimentos e ser um grande hub de hidrogênio verde. Não é ufanismo. O hidrogênio verde será o combustível do futuro. Não é por outro motivo que estamos acompanhando as grandes empresas internacionais que estão dialogando com a gente. O polo vai se modernizar nessa transição energética que passa também pela Bahia. 

 

Entre 2021 e 2022, houve uma queda acentuada na taxa de industrialização na Bahia. Dados da Superintendência de Estudos Sociais, a SEI, apontam que em uma década, o estado teve 22,6% de baixa, enquanto o Brasil caiu 12,4%. O que explica esse problema acentuado na Bahia? 
Nós perdemos competitividade com o mercado internacional. A Bahia não se manteve competitiva muito porque houve uma tendência de avanço do empreendedorismo e do agronegócio. Tivemos problemas com garantia de energia, o que impactou no custo de produção. Além disso, nossos distritos industriais estavam pouco preparados. Isso nós estamos procurado corrigir. O que justifica essa perda acima da média nacional talvez tenha sido a partir de 2015. A Bahia deixou de ter protagonismo a nível federal.  Com a passagem de Bolsonaro, poucas empresas tiveram acesso a crédito aqui para se implantar na Bahia. Agora, temos a chance de virar a chave com Lula e Gerônimo, Wagner, na liderança do governo no Senado, Rui Costa, na Casa Civil, o professor da Ufba Uallace Moreira no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Enfim, o ambiente é favorável.

 

Há quem diga que o modelo de industrialização no semiárido baiano, que abriga quase 90% das cidades do estado, está estagnado. Geralmente, se pensa muito na vinda de empresas de calçados. O que o senhor pensa dessa crítica?
Toda cidade gostaria de ter uma grande empresa calçadista porque ela emprega bastante. Uma empresa dessa de médio porte emprega de 1,2 mil a 2 mil. Em Santo Estêvão há uma empresa com 6 mil a 7 mil pessoas empregadas, exportando produtos para o mundo inteiro. Mas o estado do tamanho da Bahia tem que entender a sua vocação. O governo do estado tem investido na ordem de mais de R$ 3 bilhões vocacionado para a pequena indústria, na área de laticínio, benefício de fruta, entre outras. Isso está sendo plantado na Bahia e essas sementes vão começar a serem colhidas. Não é de uma hora para outra que isso vai acontecer. 

 

O que o senhor diria para os prefeitos, sobretudo do semiárido, no sentido de que eles vendam melhor suas vocações e atraiam empresas para não ficar apenas no modelo calçadista?
 O desenvolvimento do interior passa muito pela melhora da qualidade do ensino fundamental. Existe uma falha na educação que é preciso ser tratada. Os prefeitos precisam entregar alunos ao ensino médio em um nível melhor. Eu, se fosse prefeito do interior, eu colocaria toda a minha atenção e energia para melhorar a qualidade do ensino fundamental. 

 

Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

A gente sabe que a educação do estado também foi muito criticada. É preciso também rever o que o estado tem feito nesse setor, já que um bom ensino médio também vai fazer diferença nos empregos oferecidos?
Uma boa escola coloca para cima a autoestima não só dos jovens, como também dos professores. A escola que tem sido planejada para a Bahia tem sido revolucionária. Vejo que o governador Jerônimo, como professor extremamente e vocacionado, está fortalecendo esse investimento na qualidade da educação. 

 

Tem outra questão fundamental na indústria que é a dependência de infraestrutura. Nós estamos atrás do Sul e Sudeste em rodovias, como também em ferrovias. Como resolver isso?
Um problema muito sério aqui na Bahia foi a depreciação de nossa malha ferroviária. Nos anos 90 houve a concessão da nossa malha para a Vale. E não era do interesse da Vale ter a Bahia estruturada. Tanto que nós perdemos malha ferroviária nessa gestão da Vale que vai vencer agora em 2026. Nós esperamos que o governo federal retome essa concessão, através de PPP [Parceria Público Privada] ou do próprio governo, e requalifique a malha ferroviária. Nós temos muito minério. A mineração na Bahia é pouco explorada. E não existe mineração sem ferrovia e sem porto. Porto nós temos. 

 

Falando em porto, como está a situação do estaleiro de São Roque do Paraguaçu, em Maragogipe?
Algumas empresas da cadeia de produção de energia eólica e solar estão estudando a possiblidade de se instalar no entorno de Maragogipe. Aí, você tem o porto, fica perto da BR-101, com bom escoamento. Então, a produção para exportação fica facilitada, além de escoar a produção para o interior do estado.

 

Tem alguma empresa desembarcando na Bahia que o senhor poderia informar?
Tem uma empresa de eletrodoméstico de Araçatuba (SP) que escolheu Amélia Rodrigues. Tem uma empresa calçadista do Rio Grande do Sul está fechando a vinda para cá. Isso tudo é tendência pelo potencial de atração da Bahia com a energia limpa.

“Quem vence na UPB é quem se articula mais”, diz Zé Cocá sobre PT não se eleger em entidade
Foto: Divulgação / UPB

De saída da presidência da União dos Municípios da Bahia, o prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP), vai passar o bastão no próximo dia 13 de março a José Henrique Tigre, o Quinho (PSD), prefeito de Belo Campo. Em entrevista ao Bahia Notícias, Cocá avaliou a gestão à frente da entidade, pontuando o que realizou e o que não conseguiu fazer.

 

Ele também respondeu sobre o debate em torno do reajuste do piso dos professores e dos custos da saúde, algo que deve esquentar ainda mais a temperatura nas cidades baianas.

 

Na conversa, o gestor também opinou sobre a indicação da jequieense e ex-primeira-dama do estado Aline Peixoto para uma vaga no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), apontou o futuro político dele e considerou o que faz o PT não ser o protagonista na UPB. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

 

Foto: Divulgação / UPB

 

Primeiro, queria que o senhor fizesse um resumo da sua gestão na UPB?

Graças a Deus, nós tivemos uma passagem bem proveitosa na UPB. Trabalhamos muito. Nós discutimos várias pautas, aprovamos a lei 122 [PEC 122/2015]. Uma lei que hoje de fato as entidades, as associações têm direito. Por ela, o governo federal não pode criar nada sem que haja antes fonte de receita. Criamos a lei das associações. Hoje, as associações têm direitos também de fazer ações e responder pelos municípios. Nós também qualificamos quase três mil servidores. E isso é muito importante para os municípios de pequeno porte. O setor de engenharia da UPB também conseguiu tocar quase 80% dos projetos via Conder que os municípios fizeram neste ano, e a Bahia hoje é protagonista de quase todas as ações municipalistas em Brasília. 

 

O que o senhor não conseguiu fazer ou não teve condição de realizar?

O que eu não consegui fazer foi aprovar a PEC 14 [que pretende reduzir pela metade a alíquota do INSS paga pelas prefeituras. Atualmente é de 22,5%]. Aprovamos nas comissões, mas não conseguimos levar ao Plenário da Câmara dos Deputados. Eu tenho certeza que será uma luta de Quinho [prefeito de Belo Campo, que assume a UPB no dia 13 de março]. Nós tínhamos algumas pautas também junto a Brasília de repasses na área social. Outra área também que a gente tentou fomentar, mas o então governo federal, de fato, não nos ouviu e foi um problema seríssimo. Nós temos hoje quase 20 anos de atraso na área social. Tem municípios que não tem como pagar nenhum profissional na saúde. E existe corpo técnico que hoje custa R$ 40, R$ 50 mil, no mínimo. Tivemos um debate forte com o governo federal pela questão do aumento da tabela do SUS. Tem procedimento que é inviável hoje, e o município recebe R$ 16 para custear um ultrassom, por exemplo. 

 

Quem vai assumir a UPB agora é o prefeito de Belo Campo, Quinho, que já está na diretoria da UPB desde a gestão de Eures Ribeiro, e é atual vice-presidente. Qual conselho o senhor daria para ele?

Eu digo sempre que Quinho é um amigo. Eu lembro que quando eu estava saindo da prefeitura de Lafaiete Coutinho, Eures Ribeiro entrou. Na nossa diretoria, ele me ajudou muito. Foi um dos diretores mais presentes da nossa equipe. O conselho é ouvir e dialogar, e graças a Deus, ele tem muito esse perfil, por ser um líder muito pujante, um cara que tem futuro, um cara que vai pra frente. Consegue dialogar, não tem medo das coisas, e isso deixa ele, em uma condição muito forte. 

 

Foto: Divulgação / Prefeitura de Jequié

 

Quinho tem algumas semelhanças com o senhor. Por exemplo, o senhor começou sendo prefeito de Lafaiete Coutinho, uma cidade de pequeno porte, e depois foi eleito em Jequié. No caso de Quinho, ele governa Belo Campo e é provável que se candidate a prefeito de Vitória da Conquista. O que o senhor acha disso?

Ele nunca me disse isso. Eu acho que ele desenha um futuro com a candidatura a deputado para depois tentar a prefeitura de Vitória da Conquista. 

 

A gente está diante de uma polêmica com a indicação da ex-primeira-dama Aline Peixoto para uma vaga no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Se o senhor estivesse na Assembleia Legislativa, votaria em Aline?

Eu digo o seguinte, eu sou partidário. Se o meu partido tomasse uma posição como tomou, eu votaria com certeza. Hassan [deputado estadual eleito em 22], que tive o prazer de indicar como meu sucessor, um cara que é muito meu amigo, quando nós discutimos, eu perguntei: “qual foi o diálogo dos seis deputados?” Ele disse: “a maioria absoluta quer votar em Aline”. Então, segue a maioria, segue o partido. Grupo é isso. Às vezes tem divergências, mas a política é feita para isso. A gente tem que ter maturidade e sabedoria para diferenciar as coisas. 

 

Nas eleições da UPB, o PT não mantém uma posição de apoiar um nome do partido, ao contrário das indicações para a chapa do governo do estado. Na última eleição da UPB, a prefeita de Rafael Jambeiro, Cibele Carvalho (PT), era candidata e retirou o nome dela às vésperas do pleito. Neste ano foi o caso também do prefeito de Amargosa, Júlio Pinheiro (PT). O PT é mais flexível na UPB?

Na UPB se depende de muita articulação interna. Então, quem se articula bem consegue vislumbrar um nome forte, como foi o que aconteceu comigo, com Eures, e agora com Quinho. Aí, por coincidência, a discussão partidária fica no final. Mas geralmente quem vence na UPB é o prefeito que consegue se articular mais. Consegue agregar mais. Começa a fazer musculatura e automaticamente se fortalece. 

 

Foto: Divulgação / UPB

 

Entre várias questões que os prefeitos vão ter que tomar decisões, muitas impopulares, é quanto ao reajuste do piso dos professores. Como o senhor tem encaminhado isso para os colegas e no caso específico de Jequié?

Nós estamos discutindo com a categoria. A nossa data base aqui [em Jequié] é abril. A UPB fez isso também junto com a Federação dos Consórcios, para discutir via território os aumentos dos profissionais de educação. Porque hoje ficou muito complicado. Nós temos municípios que não tem condição de dar um real de aumento. E tem outros municípios que têm condição de dar os 15% e até mais. Não é fácil isso porque a gente sabe que quando mexe no bolso, todo mundo quer. O professor está no seu direito, e o município precisa também pagar as suas contas. Temos que achar um meio termo. 


Para finalizar. Qual o futuro de Zé Coca na política?

Inicialmente, a preocupação é seguir prefeito de Jequié. Discutir se cabe reeleição ou não depende muito do nosso mandato. Fiz uma pesquisa popular aqui e sempre tem dando acima de 80% de aprovação. Possivelmente, poderemos tentar a reeleição, mas isso, o futuro, a Deus pertence.

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