Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Notícia
/
Social

Notícia

Susto na neve: Baianos passam por apuros ao enfrentar avalanches na Cordilheira dos Andes

Por Eduarda Pinto

Susto na neve: Baianos passam por apuros ao enfrentar avalanches na Cordilheira dos Andes
Foto: Arquivo pessoal

Viajando com os três filhos e uma babá, os baianos Lais e Tiago Amoedo planejavam se divertir no Valle Nevado, estação de esqui localizada em um dos cumes da cordilheira dos Andes. Porém as nevascas que atingiram o leste chileno, na região da cordilheira, nos dias 20 e 21 de junho, deixaram vilas e cidades isoladas na região e derrubaram as temperaturas para até −15°C. Entre os afetados, estevam os membros da família Amoedo.

 

Ao Bahia Notícias, a arquiteta Lais detalha os momentos que antecederam a viagem entre a capital chilena, Santiago, e o Valle Nevado. “Nossa viagem começou dia 18. Ficamos um tempo no Chile, curtindo Santiago, e nossa perspectiva era subir no dia 21, que foi o dia da nevasca”, conta. E completa: “A gente tinha um agente e ele me ligou e falou ‘olha, não vai dar para vocês saírem, porque a estrada está fechada’. Então a gente resolveu até sair um pouquinho do hotel”. 

 

Foto: Arquivo pessoal

 

Segundo ela, as estradas, que teriam ficado obstruídas desde dia anterior, foram lideradas por volta das 10h30. “Quando deu 10h40 da manhã, ele encaminhou uma mensagem de uma pessoa que trabalha no Valle Nevado, e a pessoa falava assim ‘abriram as estradas, às vezes os carabineiros vão fechar, mas agora está aberta’. Então o nosso agente falou assim ‘vou pedir para vocês serem pegos, a van passa aí e pega vocês dentro de 20 minutos”. 

 

Os carabineiros são representantes da polícia ostensiva do Chile, que atuam em diversos pontos do país, incluindo a fiscalização das cordilheiras e estradas da região. Na ocasião, Lais detalha que eles foram liberados no posto dos carabineiros, sem nenhuma recomendação ou alerta sobre possíveis alterações climáticas. 

 

“Eles deixaram a gente passar sem nenhum tipo de alerta sobre perigo, não fizeram nenhum controle maior. Eles simplesmente conferiram nossos vouchers e nos liberaram. Tanto é que a gente se sentiu o seguro com essa atitude e seguimos a nossa viagem”, explica. Lais detalha que durante o trajeto, a visibilidade era restrita, no entanto, eles chegaram a avançar mais da metade do caminho. 

 

TEMPESTADE INÉDITA

“Quando faltava mais ou menos seis quilômetros para o hotel, [o motorista] já não conseguia ver mais nada e foi aí que Tiago falou ‘estou aqui de roupa preta, eu vou correndo aqui um pouquinho e abrindo visibilidade para vocês saberem o caminho’”, conta. Segundo ela, eles conseguiram avançar por algum tempo até se depararem com uma minivan obstruindo a estrada. 

 

No veículo, estavam um motorista e quatro brasileiros, de Porto Alegre. O grupo detalhou que o carro teria quebrado no caminho, e assim, Lais e Tiago abriram espaço na própria van, para que os cinco seguissem viagem com eles. Ela afirma, por sua vez, que isso não foi possível, pois o trecho da estrada era estreito demais para contornar a minivan. “Aí vimos que estávamos presos nesse momento. A gente não conseguia mais voltar, porque não tinha visibilidade nenhuma. Não dava nem para ver placas, não dava para ver nada, era só branco e na nossa frente tinha essa van”, afirma. 

 

Lais detalha que o motorista contratado pelos Amoedo teria saído do veículo para fumar, próximo à mini-van à frente. Ela conta que os momentos seguintes foram de susto e apreensão.

 

“A primeira avalanche veio muito, muito forte, real. Derrubou o carro da frente [a van dos outros cinco brasileiros], voou o motorista da gente e a nossa van ficou 100% encoberta [por neve] do lado direito e deixou apenas duas janelas, que não tinha neve, para a gente respirar. Foram essas duas janelas, a janela do motorista e a janela atrás do motorista, que ficaram assim 30% com o ar”, explica.

 

Foto: Arquivo pessoal

 

Com 11 pessoas na van - os cinco da família Amoedo e a babá, os quatro porto-alegrenses e o motorista chileno dos sulistas -, eles aproveitaram o pouco de sinal de que tinham para pedir ajuda ao agente de viagem, familiares e autoridades. A arquiteta conta que, já perto do anoitecer, a primeira equipe de resgate alcançou o grupo, com uma escavadeira, vinda do topo da montanha. No entanto, a tentativa não foi bem sucedida. 

 

1° TENTATIVA DE RESGATE

“Foram tentar resgatar a gente com uma escavadeira por cima, mas quando chegaram perto da gente, assim 10 m perto da gente, eles desistiram, eles não conseguiam mais. Eles falaram ‘muita neve, não tem condição e a gente vai tentar o resgate por baixo’, como se fosse [vindo] da cidade. Foi aí que uma segunda avalanche veio e eles ficaram impossibilitados até de ficarem na escavadeira deles, então a gente abrigou duas pessoas que, teoricamente, iam nos salvar”, detalhou Laís.

 

Com ventilação restrita, rodeados de neve e ansioso por um novo resgate, a baiana conta que manter o controle psicológico foi uma missão difícil, principalmente, envolvendo os três filhos. “A gente começou a ter náuseas, muito enjoo, muita dor de cabeça, os meninos tiveram pânico. A gente fica com receio a cada segundo de vir uma terceira avalanche, a gente cair mesmo [ser arrastado na montanha] e morrer”, relembra.

 

RESGATE FINAL

Quando o resgate chegou, horas depois, Lais afirma que o trabalho deles foi complexo e demorado. Mesmo após a retirada da neve ao redor do carro e abertura da estrada com as escavadeiras, o medo não diminuiu. “Quando a gente passou pela estrada, era assim sete metros de neve, era um paredão de neve então, se aquele paredão também fechasse, a gente ficaria soterrado de novo”, conta. 

 

A família e todos os passageiros que os acompanharam, incluindo o motorista deles que foi atingido pela primeira avalanche, foram resgatados e encaminhados para um albergue, já durante a madrugada. Após mais de 12 horas de tensão, já no dia 22, eles puderam descansar. Eles ficaram dois dias no albergue esperando a liberação da estrada para retornar à capital chilena. 

 

O FIM DA VIAGEM

Com retorno marcado para Salvador no dia 25 de junho, a família Amoedo utilizou o tempo final da viagem para dispersar o medo e as memórias da tempestade. “As crianças estão bem, estão se divertindo, mas a gente conseguiu ir para zoológico, para o parque. Eu e Tiago saímos para jantar, comemorar nossa vida, então a gente tá leve. Claro, impressionados sobre como foi, mas não tá sentindo a tristeza nem nada disso”, avalia.

 

Foto: Arquivo pessoal

 

Sobre os pensamentos nos momentos mais difíceis da viagem, Lais afirma: “A gente [ela e o marido] se surpreendeu. Eu acho que quando a gente tem filho, eles dão uma força inacreditável. O tempo inteiro eu foquei neles, em dar tranquilidade, em dar carinho, suporte. A gente só agradece a todo momento”. 

 

Eles não deram detalhes sobre uma possível reivindicação judicial do caso. A família retornou para a capital baiana, nesta segunda-feira (25), e afirmou que, apesar do susto, ainda mantém o sonho de aproveitar a neve, dessa vez em outro destino.