Usuários reclamam que dificuldade de acesso a serviços especializados tem causado atraso na vacinação contra Mpox em Salvador
Por Bruno Leite
Usuários dos Serviços de Atendimento Especializado (SAE) de Salvador reclamam da baixa resolutividade das unidades ambulatoriais, que são voltadas à atenção integral às pessoas vivendo com HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) do município. A problemática, causada pela falta de profissionais suficientes para o atendimento, alegam os usuários, tem prejudicado o acolhimento de pacientes e a devida imunização de uma parcela do público-alvo contra o vírus da varíola dos macacos (Mpox).
A situação não é bem uma novidade e já perdura por pelo menos três anos. Em dezembro do ano passado, no Dia Internacional de Luta Contra a AIDS, ativistas promoveram pela segunda vez um ato pedindo a contratação de médicos infectologistas e clínicos pela gestão municipal. Na época, dois dos três equipamentos especializados administrados pela prefeitura da capital baiana - o SAE Marymar Novaes (Dendezeiros) e o SAE São Francisco (Nazaré) - enfrentavam problemas relacionados a oferta de profissionais.
Naquela ocasião, atendendo a solicitação dos manifestantes, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) desempenhou uma médica que atuava na rede pública do município para o Marymar Novaes, mas, de acordo com membros do Comitê especial de crise de articulação para tratar dos problemas relacionados à resposta ao HIV/Aids, HTLV e outras ISTs em Salvador, a oferta ainda é insuficiente, uma vez que somente nesta unidade de saúde, cerca de 2 mil pessoas são acolhidas.
Segundo a instância organizada, que é formada por membros de instituições ligadas ao campo, 5 mil pacientes são acompanhados pela rede de atenção. O acompanhamento especializado contínuo é primordial para o tratamento efetivo. Relatos de pessoas que procuram os SAEs dão conta, dentre outras situações, de irregularidades na marcação de consultas - chegando a ultrapasar limite indicado de seis meses -, a baixa adesão de pacientes a campanhas de vacinação voltadas para imunossuprimidos e o não monitoramento de taxas de imunidade (CD4 e CD8).
Ao todo, sete chamamentos públicos para contratação de médicos foram realizados pela administração soteropolitana desde 2021. Todos eles, entretanto, não resultaram na adição de colaboradores no quadro da SMS. Para tentar resolver a situação, os integrantes do comitê especial lançaram uma petição online a fim de coletar assinaturas e requisitar, mais uma vez, o lançamento de um novo certame e a busca de soluções para questões, inclusive do ponto de vista estrutural das unidades.
Procurada pela reportagem, a Secretaria da Saúde ressaltou a disponibilização de uma infectologista o SAE Marymar Novaes, além da oferta de um clínico, atuando de forma conjunta. Em nota enviada na última sexta-feira (7), o órgão informou que "o processo de chamamento para contratação de mais profissionais, entre os demais esforços realizados pela pasta junto a representações das categorias médicas". Embora questionada, a pasta não esclareceu quais medidas estão sendo tomadas acerca do SAE São Francisco.
Outro ponto de crítica e abordado pelo comunicado enviado ao Bahia Notícias foi acerca da imunização contra o vírus da varíola dos macacos (Mpox). Conforme disse a SMS, equipes estão realizando busca ativa dos usuários que se encaixam no perfil preconizado pelo Ministério da Saúde a fim de acelerar a aplicação das doses. "Vale destacar que a maior parte do público elegível não faz tratamento para o vírus, uma vez que é necessário possuir os linfócitos TCD4 baixo, ou seja, ainda não fazem o acompanhamento na Rede, ou estão em fase inicial do acompanhamento, ou ainda, em abandono do tratamento, por exemplo", pontuou o texto.
A SMS argumentou ainda que foram firmadas parcerias com ONGs que atuam na causa para ajudar a identificar e a acessar os pacientes, assim como a área técnica responsável está em discussão sobre a identificação e inserção do público com carga viral elegível, dentro do parâmetro estabelecido pelo MS, sem a necessidade de indicação médica obrigatória, bastando apenas apresentar os resultados desses exames.
"Vale reforçar que a gestão mobiliza todos os esforços para oferecer uma assistência integral e qualificada para as pessoas soroconvertidas que utilizam os serviços municipais, prestando o devido acolhimento e atenção, além de promover uma série de atividades e ações de caráter preventivo ao HIV-Aids", finalizou.