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Luis Ganem

Artigos

Paulett Furacão
Quarto dos Fundos
Foto: Maísa Amaral / Divulgação

Quarto dos Fundos

Toda a tragédia que foi velejada pelos mares do Atlântico, ancorou erroneamente nas águas da ambição para construir um modelo de país que decidiu projetar um futuro de expugnação exclusiva, buscando através da escravidão das raças o seu principal atrativo. Após a bem-sucedida invasão do patriarcado europeu a poderosa fonte inesgotável de riquezas, chamada Pindorama, mais tarde rebatizada pelos invasores de Brasil, dizimou os povos originários, sequestrou as realezas africanas e perpetuou um sistema capitalista e higienista que perdura hodiernamente.

Multimídia

André Fraga admite dificuldade para mobilizar politicamente a militância ambiental na Bahia

André Fraga admite dificuldade para mobilizar politicamente a militância ambiental na Bahia
Em entrevista ao Projeto Prisma, nesta segunda-feira (17), o vereador soteropolitano André Fraga (PV), comentou sobre a falta de representação da militância ambientalista no legislativo baiano. “Houve um equívoco na forma como [o partido] se comunica”. “Toda pauta ambiental é o ‘segundo time’. Todo mundo fala muito bem, mas na hora de votar esquece. Eu acho que houve um equívoco do movimento ambientalista, de forma geral, na forma como se comunica”, afirma. 

Entrevistas

"É um povo que tem a independência no DNA", diz Pedro Tourinho sobre tema do 2 de Julho em Salvador

"É um povo que tem a independência no DNA", diz Pedro Tourinho sobre tema do 2 de Julho em Salvador
Foto: Reprodução / Instagram / Pedro Tourinho
Salvador se prepara para receber mais uma vez as celebrações do 2 de Julho, data que marca a luta pela independência do Brasil na Bahia, que em 2024 tem como tema "Povo Independente". Na semana passada o Bahia Notícias conversou com o secretário de Cultura e Turismo da capital baiana, Pedro Tourinho, para esquentar o clima dos festejos desta terça-feira. Para o titular da Secult, o povo de Salvador tem a independência forjada em seu DNA.

Equipe

Luis Ganem

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Produtor musical responsável por diversos sucessos nos anos noventa, trabalhou com política no governo Paulo Souto. Atualmente é crítico especializado em música da Coluna Holofote do Bahia Notícias.

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Últimas Notícias de Luis Ganem

Luis Ganem: Preciso correr léguas

Luis Ganem: Preciso correr léguas
Foto: Bahia Notícias

“Você sabe do novo buchicho da música? Não? Se você não sabe, fique tranquilo, pois, nada de novo aconteceu nem acontece desde o carnaval. Aliás, se você caro leitor e leitora percebeu, nada aconteceu de novo, nem no carnaval! – musicalmente falando, diga-se de passagem.

 

E olha que esse texto depois de passados quatro meses da festa, poderia ser uma simples redação falando da música na visão de um cara que enxerga o carnaval por um outro prisma e coisa e tal, mas infelizmente a verdade é, que mais nada aconteceu.

 

Minto, existe sim um novo fenômeno musical oriundo das redes sociais e dos tais quinze segundos; nossos artistas se tornaram literalmente digitais influencers e, vivem de dancinha nas redes sociais. Porque, fora isso, somente coisas isoladas do dia a dia, sem interferência no nosso mercado insosso e sonolento baiano.”

 

A perceber as aspas – se é que não percebeu, esse seria o começo do meu texto tentando falar um pouco da música baiana, mas, que resolvi mudar e, falar do comunicado de Ivete Sangalo anunciando o cancelamento da turnê dela em comemoração aos trinta anos de carreira.

 

De pronto, o ideal seria fazer como uma boa parte da crítica especializada fez assim que o pronunciamento foi lançado e, destilar uma série de achismos em cima do fato e da artista, apenas enquanto apontamentos ou, suscitar teorias conspiratórias para todos os lados.

 

Daí, que diante disso, resolvi esperar a “poeira baixar” para poder dar a minha visão disso tudo.

 

Obvio que o anúncio de pronto causou perplexidade quando foi feito. No mercado baiano mesmo, a conversa a “boca miúda” tomou conta das esquinas da vida, com todo mundo abismado de como uma das maiores cantoras do País, cancelou sua turnê e, mais que isso, os “porquês” disso tudo. 

 

Li tanta coisa nesse hiato do anúncio feito por ela até este momento que escrevo, que, confesso, prato cheio pra ser tendencioso e embarcar nos achismos alheios. Pra isso acontecer, era só simplesmente, começar a concordar com tudo e todos, sem discernimento algum e, dai teria essa “análise” feita e, pronta pra ser publicada.

 

Mas, tirando a paixão, bairrismo, ou qualquer outra sensação unilateral de lado, é preciso verificar que estamos falando de um sucesso crescente á trinta anos. Desde que ela cantou a primeira vez na vida, até o dia do anúncio do cancelamento da turnê, Ivete Sangalo só colecionou vitórias. 

 

Vitórias essas estampadas nas Obras fonográficas ao longo da carreira, nos projetos especiais – em quase todos, nos blocos sempre cheios brasis a fora, nos shows em sua maioria lotados, enfim, como disse acima, em quase tudo que fez.

 

Mas, como bem disse Renato Russo “o pra sempre, sempre acaba” e é preciso compreender isso, sabendo a hora de mudar de rumo, ou ao menos restabelecer critérios e planos para o futuro.

 

Algo que nunca se fala, mas é preciso colocar aqui como parâmetro para exemplos é, que a mente criativa da carreira de Ivete passou até a saída do mesmo, por Jesus Sangalo, seu irmão. Incontestavelmente as ideias mais inusitadas, geniais ou não, loucas até, surgiram nos primeiros dezessete anos da carreira de Ivete Sangalo da cabeça do seu irmão Jesus. 

 

Os grandes sucessos alcançados, a exemplo do DVD da Fonte Nova (vou contar essa história aqui em breve), o DVD do Madison (contei essa história aqui) quando ele negociou com a empresa aérea TAM (agora LATAM), às negociações com gravadora e, até com a Rede Globo, tiveram Jesus, como principal articulador e pensador.

 

Não quero com meu texto desmerecer, aos que passaram depois dele, ou aos demais membros da família, mas a figura do Gordo, com suas ideias mirabolantes, deram o tom da carreira de Ivete até sua saída, independentemente do contexto de como ela se deu e, de seus porquês.

 

Daí em diante, repetindo a fórmula deixada, foi só tirar pedido, repetindo a dosagem e, ir navegando ao sabor da maré. Não sei quem começou a pensar a partir desse marco na carreira da cantora, mas a sensação – na minha opinião, é que, quem ficou a frente das ideias foi própria Ivete, ficando os demais membros da sua equipe apenas como executores e, mais nada. 

 

A verdade é, que vimos repetidamente, ano após ano, a fórmula ser aplicada sem tirar um item, num repertório repetitivo, igual do começo ao fim, ousando muito pouco, meio que com receio de mudar a receita e entornar o caldo, sem nada fora da caixa, tudo do mesmo jeito sempre.

 

Já era comentário no mercado, a necessidade de uma mudança na carreira dela. Já se falava sobre a exaustão da fórmula proposta pela mesma e, que um: algo novo, deveria ser pensado. Algo talvez, como a chegada maior a um novo espaço do cenário musical nacional a exemplo da MPB, com incursões mais ousadas até mesmo com um fonograma completo ou um EP voltado pra isso.

 

Exemplo de artistas que viraram a chave em determinado tempo das suas carreiras não falta para exemplificar o que digo. Alguns de forma pretenciosa como Roberto Carlos e outros por força do tempo como a exemplo de Gil, histórias de mudanças não faltam. 

 

Logico, esses artistas e mais alguns que posso aqui citar, não tinham nem tem, como, mola motriz, um mercado próprio, que gira em torno de um evento anual que é o Carnaval de Salvador, uma festa única, que roda a economia de uma cidade e que vende know-how pra fora do Estado e do País até.

 

Mas, nunca é ruim rever conceitos e caminhos. Talvez esse cancelamento da turnê, venha servir pra isso, ou não. Talvez se finja que está tudo bem e que nada aconteceu ou não. Talvez minha análise esteja errada, ou não. Importante nisso tudo é a possibilidade de ser poder ver o copo com água até o meio das duas formas – ainda tem meio copo com água, ou só tem meio copo com água, e dai escolher como ver essa desistência da turnê da cantora.

 

Ivete continuará sendo a uma das maiores cantoras do País, isso é fato. Seu carisma e sua espontaneidade são únicos e seu jeito tranquilo e bastante transparente, aliado ao fato de não fugir de assuntos polêmicos, transformam qualquer dificuldade de interpretação em algo totalmente entendível.

 

Vi no vídeo o quanto ela tentou deixar leve o comunicado, sem transparecer preocupação, mas isso estava meio que evidente no seu semblante. As lições desse acontecimento já devem estar sendo analisadas por  ela, tenho certeza quase que absoluta.

 

No mais, é importante frisar que precisamos revisitar nossos conceitos e, creio, começar a caminhar para criar estrelas musicais locais, sem detrimento das que aí estão, sob pena de em mais alguns anos, vivermos exclusivamente de passado.

Luis Ganem: Preciso correr léguas

Luis Ganem: Preciso correr léguas
Foto: Bahia Notícias

“Você sabe do novo bochicho da música? Não? Se você não sabe, fique tranquilo, pois, nada de novo aconteceu nem acontece desde o carnaval. Aliás, se você caro leitor e leitora percebeu, nada aconteceu de novo, nem no carnaval – musicalmente falando, diga-se de passagem.

 

E olha que esse texto depois de passados quatro meses da festa, poderia ser uma simples redação falando da música na visão de um cara que enxerga o carnaval por um outro prisma e coisa e tal, mas infelizmente a verdade é, que mais nada aconteceu.

 

Minto, existe sim um novo fenômeno musical oriundo das redes sociais e dos tais quinze segundos; nossos artistas se tornaram literalmente digitais influencers e, vivem de dancinha nas redes sociais. porque, fora isso, somente coisas isoladas do dia a dia, sem interferência no nosso mercado insosso e sonolento baiano.” Clique aqui e leia a coluna completa de Luis Ganem!

Luis Ganem: Tudo igual no velho e cansado Carnaval
Foto: Bahia Notícias

É justo dizer que esperei o quanto pude. E junto a isso, o quanto torci pra coisa melhorar, mas infelizmente, em nada, absolutamente nada mudou o cenário musical baiano de três meses pra cá, em se tratando de novas músicas. O nosso mar de mesmice atingiu um ápice que, acredito eu, nunca aconteceu – no que quero estar, muito, mas muito errado. 

 

O surgimento de valores e novidades, o que esperava fosse a tônica do nosso mercado, simplesmente não aconteceu. Nada surgiu, nenhuma novidade se lançou, nosso buraco musical ficou mais profundo ainda – na minha visão, óbvio, até porque a claque do aplauso pode e deve estar pensando diferente. 

 

O pior pra mim, foi e é perceber que nosso celeiro musical, em se tratando de ritmos, tem ficado cada vez menos robusto. Se antes inventávamos novos ritmos, agora fazemos todos a mesma coisa, atropelados pela preguiça artística e falta de criatividade. 

 

Óbvio que o incauto vai perguntar no que isso tem demais, outros estilos são únicos e vivem muito bem. 

 

Somente a título de esclarecimento, os outros estilos não são a Bahia. Nos notabilizamos pela diversidade musical que imprimimos no mercado fonográfico. Não somos um único estilo, mas sim vários, desde o Samba, passando pelo Arrocha até chegar ao Axé – que se diga de passagem: já não se faz mais. Sempre inundamos o mercado com novidades, mas, esse ano, creio que estagnamos.

 

Meu melhor parâmetro pra isso é a insistência em titular a chamada música do carnaval. Não acredito que alguém, em sã consciência, vai acreditar nessa história de melhor música. Se era algo que fazia diferença, agora, ano após ano vem perdendo sentido e se transformou em algo menor, sem a mesma força e significado de antes.

 

A melhor explicação que tive sobre tudo que acontece no nosso mercado foi de uma figura bastante conhecida da nossa música, que contribui e já contribuiu muito para a festa, que desenhou nossa condição atual, quando assertivamente em um bate-papo comigo apontou que o carnaval se tornou um festival de música que só se fala faltando um mês e, que depois que ele passa, já não existe uma discussão sobre o próximo ano.

 

Usou como exemplo o Rio de Janeiro que ainda tem força para justificar um melhor isso ou melhor aquilo, pois trabalha na condição de Enredo, Alegoria, Bateria, e outros quesitos, que justificam ter uma música premiada, enquanto o nosso mercado apenas toca a música escolhida para o período e só.

 

Óbvio que a escolha sempre vai existir, mas talvez pudesse vir com outro nome como, por exemplo, a mais ouvida do carnaval, ou a mais executada entre as bandas ou ainda a melhor mídia induzida (contém ironia).

 

A verdade é que será um carnaval da mesmice. Sim! Um carnaval musical igual e sem nada de novo, apenas com pequenos retalhos de um outrora imenso e pujante celeiro musical reduzido a nada com coisa alguma.


Já é carnaval cidade, acorda pra ver!  

Luis Ganem: Tudo igual no velho e cansado Carnaval
Foto: Bahia Notícias

É justo dizer que esperei o quanto pude. E junto a isso, o quanto torci pra coisa melhorar, mas infelizmente, em nada, absolutamente nada mudou o cenário musical baiano de três meses pra cá, em se tratando de novas músicas. O nosso mar de mesmice atingiu um ápice que, acredito eu, nunca aconteceu – o que quero estar, muito, mas muito errado. Clique aqui e leia o texto completo.

Luis Ganem: Então é Natal... e cadê a Bahia nas rádios?

“Finalmente chegou dezembro e, com ele, bom perceber que as rádios estão tocando nossas músicas (música baiana) a todo vapor.” O Começo desse texto já foi dito por diversas vezes anos atrás, sendo totalmente verdadeiro na construção a que ele se propõe, mas em nada atual, importante ressaltar também. Poderia eu ou qualquer pessoa ter dito essa frase lá pelo fim da década de noventa ou ainda nos primeiros anos do século 21, mas neste momento, esta frase em nada representa a realidade da música baiana como um todo. Clique aqui e leia a coluna completa.

Luis Ganem: Então é Natal... e cadê a Bahia?

Luis Ganem: Então é Natal... e cadê a Bahia?
Foto: Bahia Notícias

“Finalmente chegou dezembro e, com ele, bom perceber que as rádios estão tocando nossas músicas (música baiana) a todo vapor.” O Começo desse texto já foi dito por diversas vezes anos atrás, sendo totalmente verdadeiro na construção a que ele se propõe, mas em nada atual, importante ressaltar também. Poderia eu ou qualquer pessoa ter dito essa frase lá pelo fim da década de noventa ou ainda nos primeiros anos do século 21, mas neste momento, esta frase em nada representa a realidade da música baiana como um todo.

 

Infelizmente, os tempos já não são tão acolhedores para nosso mercado. A impressão que se tem é que a nossa música está literalmente ultrapassada, fora de contexto, velha mesmo. Esse movimento musical, igual a esse texto, parece, e o é, repetitivo.

 

Se fosse somente por conta de não termos nada audível musicalmente, poderíamos até tentar mudar essa realidade, com coisas mais modernas e tal. Mas fica cada vez mais evidente que não é isso, e sim, a falta de interesse do ouvinte, do consumidor de música. O que é bem pior, pois demonstra de forma inconteste um consumidor cansado e que não se motiva mais com o nosso som.

 

Essa análise que hora faço vem pautada em diversas conversas com profissionais do meio, desde jornalistas a comunicadores, que falaram de forma uníssona sobre a falta de renovação musical a que estamos submetidos, com reflexos sentidos principalmente na relação oferta e procura que o rádio, sendo o principal veículo de propagação e publicização de música, está tendo.

 

Até porque, a saber, em nível de procura pra se tocar nas rádios locais, o que antes acontecia primeiro a partir do fim de junho – logo após o fim do São Pedro com o fim do ciclo zonal do ritmo forró, foi com o passar dos anos mudando seu mês de início de procura, chegando ao cúmulo de, agora, só começar a tocar em novembro/dezembro – e olhe lá!

 

Óbvio, digo isso tudo e reitero que estou falando do axé. No pagode e nos outros ritmos locais, as coisas ainda estão menos ruins. Isso mesmo! Menos ruins, pois o bom já não existe há muito tempo.

 

Dizendo tudo isso, sei que irão lembrar que hoje já não se precisa mais de rádio pra nada – ao menos podem achar isso – pois as plataformas estão aí como forma moderna de se ouvir música. Mas em se tratando de faixa etária, temos em maior parte ouvintes acima dos 30 anos, o que é significativo enquanto parâmetro das pessoas que preferem o rádio em detrimento às novas formas de audição. Por isso do meu espanto quanto à falta de peso da nossa música perante o consumidor, pois, de forma geral ou para sua grande maioria, fica evidente que nosso som cansou.

 

Pasmem, quem diria que um dia chegaríamos a essa condição. Nossos poucos brilhos, a exemplo de Bell, Ivete, Olodum no axé, Pablo e Tierry no arrocha – falando dos mais famosos -, do nosso pagode na sua versão original com Xandy Harmonia e Marcio Vitor, ou sua nova versão mais moderna com os diversos que ai existem, a exemplo da La Fúria, já não conseguem sobrepor o sertanejo, ou melhor dizendo, ao ritmo que vem de fora.

 

Fico imaginando: como será o meme da “música do carnaval” quando fevereiro chegar? Aliás vai ser interessante entender o que será moda no verão, já que o mesmo começa com nada de produto baiano sendo tocado nas rádios de forma a contento.

 

Lembro que uma música, para maturar no gosto das pessoas, levava no mínimo três meses tocando no rádio. E agora vai tocar no máximo um mês e olhe lá pra já chegar na “boca do povo”. Então é Natal!

Luis Ganem: O Jesus Sangalo que conheci, e que todo mundo deveria conhecer
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

A vida é cheia de reparações. Se formos parar pra ver, sempre e a qualquer tempo estamos rearrumando a ordem das coisas, ou pelo menos, em tese, tentando. E nessa coisa de rearrumar, é preciso sempre rever o passado. Como bem disse o escritor irlandês Edmund Burke, “um povo que não conhece a sua história, está condenado a repeti-la” – no que concordo em gênero, número e grau.

 

Com isso e, falando em história, Fábio Almeida, ex-empresário de Ivete Sangalo, trouxe alguns dias atrás na entrevista que deu ao podcast Bargunça, parceiro do Bahia Notícias, a possibilidade de se revisar um pouco a história de Jesus Sangalo, tendo como pano de fundo as declarações do aludido entrevistado sobre as acusações imputadas a Jesus quando da saída dele do grupo IS. Importante mais uma vez ressaltar que esse texto aqui é muito mais sobre um amigo, do que sobre fatos ocorridos em outrora. Até porque a fala de Fábio Almeida trouxe, de pronto, um avivamento da amizade que comunguei com Jesus até a sua partida.

 

Conheço os Sangalo da adolescência, mais precisamente do Edifício Sparta. Esse que está situado no bairro da Pituba, na esquina da Rua Bahia com a Avenida Manoel Dias da Silva. Meu contato começa aí e se extingue, momentaneamente, também aí. Por circunstâncias da vida, depois de alguns anos, esse hiato é desfeito quando do reencontro em pontuais momentos de minha passagem pelo mundo artístico, e também quando nos esbarrávamos em um restaurante que gostávamos muito. Virava e mexia – no restaurante –, ou ele estava com a irmã ou sozinho. Sempre que podíamos, batíamos alguns papos (às vezes descontraídos, às vezes tensos), mas sempre com a cordialidade habitual de ambos.

 

E assim foi até que, num desses reencontros, por um acaso no Shopping Barra, em uma tarde de sábado, nos cumprimentamos e, por vontade mútua, acabamos mais uma vez conversando informalmente sobre vida, negócios e dia a dia. Daquele reencontro inusitado fez ressurgir ou surgir – como queiram– uma amizade que iria durar até a sua partida. 

 

E essa amizade só fez se fortalecer, pois por pensarmos sempre em negócios, acabava que quase todos os dias nos falávamos. 

 

Vendo a entrevista do agora ex-empresário Fábio e, dentro dessa amizade com Jesus, lembro que não foram poucos os momentos em que dado às lágrimas, falava da injustiça do julgamento público a que tinha sido submetido, e como se ressentia de não ter sido ouvido. Nesses momentos, sozinho com ele ou na companhia de seu também grande amigo, o produtor e empresário artístico Cícero Meneses, escutávamos e nos compadecíamos.

 

O que mais me impressionava naquilo tudo é que sempre via que a conta da culpa imputada não fechava. Quem conviveu com ele percebia a vida comedida e regrada, comparando ao período anterior a seu afastamento.

 

Mas como disse, não estou aqui para fazer apontamentos, nem cabe, mas sim para homenagear meu amigo, e contar algo que pra mim corrobora com a figura dele, nas inúmeras histórias que ouvi.

 

Vou contar uma que, pra mim, é fantástica. O ano é 2010. Ivete vinha em alta já há alguns anos no mercado musical brasileiro – nunca saiu, diga-se de passagem. Mas um inquieto Jesus achava que faltava algo. E esse algo, como ele mesmo dizia, era Ivetinha – nome falado com sotaque carregado do menino juazeirense – tocar no Madison Square Garden. Mas pra isso, tinha que convencer gravadora, artista, conseguir a data no Madison, angariar parcerias e muito mais.

 

Enfim, tudo muito difícil para pessoas que pensam reto. Mas lembrando da história, vejo que meu amigo Cetáceo (nos chamávamos assim, nunca entendi o porquê) não só pensava no resultado, mas também em como conseguir esse resultado. 

 

E foi com essa premissa de êxito que ele resolveu naquele momento – como me contou  – bater na porta da então TAM, hoje LATAM, para falar com alguém da presidência ou coisa assim sobre o projeto Madison. Isso sem marcar horário ou ter relação com a empresa – além do fato da banda e artista voar com eles em shows pelo Brasil, como qualquer outra produtora.

 

Mas o fato é que lá foi ele na cara de pau conversar. Recebido foi, e vendeu de forma clara a intenção da TAM ser a empresa parceira do maior acontecimento da década (e que ainda continua sendo um marco, na minha visão), que era o show de Ivete em Nova York.

 

De pronto, a diretoria ali presente ficou toda entusiasmada, mas logo com o valor pedido o entusiasmo deu lugar a uma frustração, quando perceberam que não teriam como bancar a jornada. Lembro bem que perguntei a Jesus se, quando ele tinha ido conversar, não sabia que o valor pedido iria ser negado – me permito não comentar de forma explicita, mas era alto. 

 

Como resposta, tive um “sim”. Ele sabia que iria ser negado, mas como tática comercial primeiro ele iria deixar todo mundo feliz com a proposta, depois triste com o valor, e finalmente feliz com a solução que ele apresentaria.

 

Queria poder comentar aqui qual foi o formato final, mas posso garantir que, literalmente, foi coisa de gênio. Lembro dele dizendo algo como: “Cetáceo, o povo da TAM sorria de um lado a outro”.  Enfim o que Jesus queria era dar o que eles precisavam, mas primeiro teria que dar o “doce”, puxar e devolver, pra todo mundo ficar feliz.

 

E assim aconteceu um dos DVDs mais importantes da música baiana, e da carreira da irmã, e que teve seu investimento retornado praticamente no decorrer da gravação. Falando isso, como uma alegria, um brilho nos olhos e bastante emocionado, para deleite de poucos ouvintes, eu entre eles.

 

Lembro bem da publicização desse megaevento com Ivete Sangalo fazendo uma performance de comissária de bordo da empresa aérea na viagem para Nova York. Algo inusitado para passageiros. 

 

Jesus partiu e deixou saudades. Jesus ajudou muita gente, mas muita gente mesmo! Foi amigo dos muitos que dele precisaram, e foi lepra pra alguns quando precisou. 

 

Falei com ele pouco antes da sua partida em uma ligação feita pelo mesmo, com ele gritando: “CETÁCEO”. Lembro que atendi respondendo da mesma forma. Tivemos nesse momento uma breve conversa de videofone. Era uma despedida. Era mesmo.

 

Jesus faz falta. Que bom que o empresário Fábio Almeida pôde tocar nesse assunto, e reafirmar o que Cetáceo falou até partir: que nunca roubou nada. Que bom aqui também poder contar um pouco da história dele, um pequeno ato, diga-se de passagem, diante de tudo que fez.

 

Finalizando meu texto, é como se estivesse vendo ele dizer com sua ironia: “esse Cetáceo é uma onda, todo emotivo”, com um sorriso irônico franzindo a testa.

 

Saudades, amigo Cetáceo. Saudades.

Luis Ganem: Se avexe não!

Luis Ganem: Se avexe não!
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Não estou aqui para falar mal de ninguém ou entender que esse ou aquele artista deve ser dono ou cativo de espaço. Mas há alguns dias nesse nosso mundo da música – que não o da música baiana –, um fato chamou mais uma vez a atenção. E digo mais uma vez porque já tinha havido um manifesto desse que vou comentar, salvo engano, em 2017, feito pela cantora Elba Ramalho. Só que, dessa vez, a polêmica se deu muito forte por conta das redes sociais. Falo do desabafo de Flavio José. Cantor de forró, renomado e veterano, que, nas palavras do mesmo, teve que diminuir o seu show para atender uma solicitação do cantante sertanejo Gusttavo Lima. 

 

Óbvio, o desabafo não foi a perda de tempo, mas sim o quanto o tradicional forró nordestino tem perdido espaço no período de São João para outros ritmos, principalmente o sertanejo.

 

Diminuir tempo é algo meio na medida do possível: nada demais. Fato corriqueiro até, dentro de um mercado onde os pares se conhecem. De forma pessoalista ou não, a pedidos, deve sim se manter um mínimo de relação de cortesia que é algo salutar inclusive. Mas fica complicado quando falamos de festas tradicionais, principalmente aquelas que reverenciam a cultura local enquanto pano de fundo.

 

O Nordeste quase todo – com exceção da Bahia – tem o forró como seu ritmo anual. Excluo a Bahia pois somos um Estado múltiplo em se tratando de música. Abarcamos vários ritmos de agosto até fevereiro e, de março até agosto, ficamos somente no forró – ao menos, deveria ser assim. Em outros Estados do Nordeste (não sei se em todos), o forró é algo cotidiano, enraizado na cultura do povo nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. 

 

Daí que começa a ser estranho, ao menos na visão dos mais tradicionalistas – e me coloco entre eles – certas exceções, que não se abarcam dentro das tradições culturais locais. E digo isso na tranquilidade de não ter vindo do forró, enquanto iniciação musical. Mas, independentemente das minhas vontades ou gostos, esse ritmo tem uma importância ímpar na solidificação de um povo. Seja por seu ritmo ou pela cultura composta nele. 

 

Ouvi enquanto contraponto dessa história toda da exigência do cantor Gusttavo Lima, inclusive como justificativa para tal situação, que, nos grandes eventos da cultura sertaneja, outros ritmos, inclusive o forró com seus grandes ícones a exemplo de Solange Almeida e Wesley Safadão – citando os dois maiores do forró – são permitidos, não ficando a grade somente voltada para o mundo sertanejo. 

 

Realmente desconheço a história e não sei dizer se é verdade ou não. E nem acho que tenha que se começar uma guerra musical entre ritmos. 

 

O que na minha visão talvez pese mais nisso tudo, e aí serve de alerta para qualquer ritmo de qualquer estrela musical, é a onda de boçalidade e desrespeito que tem vindo junto com alguns artistas sertanejos. 

 

Talvez (e digo “talvez” dando o direito ao contraditório e à ampla defesa”, o que mais me incomoda nessa história do direito de um em detrimento do outro é o famoso da atualidade se achar maior – por estar em alta no mercado comercial – e não respeitar o artista que está começando ou que já tem uma larga carreira consolidada e seu espaço garantido, porque precisa sair logo.

 

O que tem que ser pensado aqui, penso eu, além de ter que existir bairrismo sim na manutenção das tradições das festas Juninas, é o respeito ao artista de forró, à sua cultura e à sua gente.

 

Pra mim, além do descaso pela forma com que o fato passado por Flávio José foi tratado pelo cantor sertanejo, foi ver o seu deboche na justificativa do mesmo nas redes sociais, dizendo que passou por um “perrengue” e dando risada do fato. Isso sim é algo a ser questionado pelo meio artístico, principalmente pelos artistas do Nordeste.

 

A fruta podre em um cesto acaba com todas as outras. Infelizmente parece que o sertanejo começa a ficar “podre” pela soberba dos que se acham, sendo preciso que um freio seja dado pelos nossos artistas nordestinos, movidos ou não pelo ritmo do forró.

 

Particularmente o ritmo sertanejo não me atrai. E com esses gestos a vontade é menor ainda. Mas se eu não preciso de artista sertanejo pra viver, eles dependem do povo para sobreviverem enquanto artistas. E partindo dessa premissa, quem não respeita minha cultura e tudo que ela traz junto não merece meu aplauso.


Minha solidariedade a Flávio José e a todos os artistas de forró.

 

Viva São João, Viva São Pedro, viva o povo nordestino, viva o Nordeste Brasileiro!

 

 

Luis Ganem: Mais uma vez a mesma chatice

Luis Ganem: Mais uma vez a mesma chatice
Foto: Bahia Notícias

Esse meu mais recente texto, confesso, demorou. Estou aqui pela enésima vez pensando o que iria comentar, o que iria trazer enquanto análise crítica para o contexto do nosso mercado musical baiano. Os fatos artísticos e musicais que se sucederam na festa de momo deste ano são, talvez, dignos de nota – mas talvez, eu disse talvez. Clique aqui e leia o texto completo.

Luis Ganem: Mais uma vez a mesma chatice

Luis Ganem: Mais uma vez a mesma chatice
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Esse meu mais recente texto, confesso, demorou. Estou aqui pela enésima vez pensando o que iria comentar, o que iria trazer enquanto análise crítica para o contexto do nosso mercado musical baiano.

 

Os fatos artísticos e musicais que se sucederam na festa de momo deste ano são, talvez, dignos de nota – mas talvez, eu disse talvez.

 

Daí, queria algo que fosse novo, um fato à parte, mas de todo modo como é preciso escolher dentre os assuntos estão aí e, até para expressar a minha visão crítica, parei em algo que sempre observo e por isso pergunto: será que somente eu reparei, ou mais alguém percebeu a faixa etária das nossas estrelas baianas? Não que faixa etária seja demérito, e não é, mas será que foi somente eu que reparei, ou mais alguém percebeu que quase não existe nova safra na música da Bahia?

 

Dito isso, alguns vão dizer que existe renovação sim, e que está acontecendo de forma paulatina, sem pressa, sem pressão. Mas não é essa a impressão que tive e que vi. O que percebi de forma clara e inequívoca foi um apanhado de remakes, além de uma publicização feita a fórceps para vender o que já existe há muito tempo em total detrimento do novo.

 

Engraçado esse fenômeno de negação da renovação. É tão perceptível a falta de vontade de abrir espaço, é tão inacreditável, que passa despercebido. O espaço do sucesso está tão pequeno que nunca fez tanto efeito a história da “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. E seja com artista de qualquer grandeza. 

 

Já falei tanto e falo há tanto tempo sobre isso, que chega a ser chato essa resenha, mas ninguém quer abrir os olhos pra isso, nem dar oportunidade para o novo. E quando falo ninguém, me refiro também às rádios – viu, senhores e senhoras coordenadores, que não propõem um espaço na sua grade pra apresentar o novo?

 

Dá pra contar nos dedos a renovação na nossa música. É chato ficar cobrando toda hora, eu sei, mas se isso não for feito, vai chegar o momento em que nada teremos pra mostrar e apenas receber e festejar os artistas vindos de fora. 

 

Inclusive não sei como isso não se tornou algo comum ainda. Já que tivemos alguns “ensaios” por aqui. Desde a vinda do cantor Michel Teló, passando por Jorge e Mateus e depois Wesley Safadão e mais alguns, essa tentativa de furar a bolha vem acontecendo sempre.

 

Vai chegar um momento em que isso vai se tornar o normal, mesmo que digam que nosso povo tem suingue próprio e não consegue aceitar o que vem de fora assim facilmente. Mas, lembre-se que, lá atrás, as festas eram sempre com mais artistas locais do que forasteiros, e agora, na sua grande maioria, salvo as de pagode suingueira, somos apenas coadjuvantes. Isso na minha visão, óbvio. Uns chamam isso de modernidade, de fator progresso; eu chamo de vacilo, de falta de visão, de desinteresse, de má vontade mesmo.

 

Pois esse foi o ponto de vista mais gritante pra mim no Carnaval que passou. Maior que a guerra de bastidores pelo lugar na fila do desfile na Barra, maior que nosso “Bozo” baiano que se acha, mas na verdade não percebe que tem um nariz vermelho na face, maior que ver artista de fora querendo cantar de galo longe do seu quintal, ou ainda perceber que aquele ou aquela artista toca o mesmo repertório há mais de “trocentos anos” – nada contra –, ou ainda perceber que existe um novo alento para o Campo Grande, mas que vai perpassar pela vontade das nossas autoridades locais. Enfim... A falta de renovação é maior que tudo isso que vi a mais.


Fui!

Curtas do Poder

Ilustração de uma cobra verde vestindo um elegante terno azul, gravata escura e língua para fora
Quem acompanhou a Faroeste viu o que um pseudo cônsul pode fazer. Na história de Porto Seguro, tem dois verdadeiros. Imagine o que ainda não vai render. E olha que a história nem chegou em Salvador. Mas a vida segue também fora do Judiciário. Por exemplo: o Soberano está cada vez menor, enquanto o Ferragamo está cada vez mais investindo em um perfil "pau pra toda obra" (lá ele!). Mas se o Dois de Julho não foi lá tão bonito, tem coisa ainda mais triste fora do cortejo. Saiba mais!
Marca Metropoles

Pérolas do Dia

Bell Marques

Bell Marques
Foto: Instagram

"Tem 10 anos ainda pela frente".

 

Disse o cantor Bell Marques ao afastar rumores de que estaria perto de deixar os palcos e trios elétricos e confirmar estar com a saúde boa para seguir carreira.
 

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O deputado estadual Luciano Simões Filho (União) é o entrevistado do Projeto Prisma nesta segunda-feira (15). O podcast é transmitido ao vivo a partir das 16h no YouTube do Bahia Notícias.

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