ana marcela

A poluição do Rio Sena, palco da maratona aquática e da prova de natação do triatlo das Olimpíadas de Paris 2024, preocupa o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos. 

Vale lembrar que o Rio Sena foi considerado biologicamente morto na década de 1960, foi incluso em uma série de leis de proteção ambiental, e com isso, o Rio voltou a ter vida aquática e deixou de ser poluído. Entretanto, com as chuvas, o rio sobe e realiza uma espécie de "lavagem" na cidade de Paris, o que faz com que toda a sujeira da cidade vá para o Rio. E assim, o processo realizado para a despoluição cai por terra.

Em agosto de 2023, três eventos esportivos preparativos para os Jogos de Paris, que seriam realizados no local, foram cancelados devido à má qualidade da água do Rio Sena. Apesar disso, o diretor do comitê de Paris 2024, Tony Estanguet, descarta plano B e assegura o Sena como palco das provas aquáticas nas Olimpíadas.

"Não há uma solução para transferir o local do evento. O triatlo e a natação ao ar livre serão realizadas no Sena", disse. "Temos o objetivo de fazer com que o rio esteja nadável nos Jogos", finalizou.

Esse impasse sobre a despoluição ou não do rio afeta diretamente a baiana Ana Marcela Cunha, atual Campeã Olímpica na prova de Maratona Aquática. 

"O que mais preocupa a gente é que se chover, lascou. A gente não sabe o que vai acontecer, porque não é o esgoto que vai para o Sena, mas quando chove muito a água sobe, meio que limpa a cidade e tudo acaba escoando ali para o Sena. É um dos problemas que fazem com que a qualidade da água fique impossível pra gente competir. Outro ponto é que a maratona aquática está nos últimos quatro dias das Olimpíadas. Se tiver qualquer tipo de problema, a gente não tem que nem o surfe, que abre uma janela para competir. Então é um ponto positivo porque liga um alerta para eles. Vão ter que ter um plano B", disse Ana Marcela ao site ge.globo.

Tem chovido bastante em Paris nas últimas semanas e isso teria piorado mais ainda a situação. O jornal The Guardian publicou que Estanguet chegou a confirmar que o cancelamento das provas está previsto no regulamento dos Jogos.

"Podemos adiar devido às condições de chuva. Como está programado para o início dos Jogos, podemos esperar por melhores condições. Portanto, estamos confiantes de que será possível usar o Sena. E há uma (possível) decisão final de que não poderemos nadar; isso faz parte das regras da Federação Internacional. É o que queremos evitar, claro", disse.

Com o cancelamento, o triatlo viraria biatlo e a maratona aquática não aconteceria. 

Na manhã deste sábado (03), a baiana Ana Marcela carimbou seu passaporte para as Olímpiadas de Paris 2024. A nadadora ficou em quinto lugar nos 10km da maratona aquática do Mundial de Esportes Aquáticos de Doha, no Catar. 

Com esse resultado, Ana Marcela classificou-se para a prova das águas abertas. 

"O Brasil vai estar muito bem representado. Quanto mais Brasil melhor. Nossa rivalidade é muito saudável. Ter duas representantes é mais chance de medalha. O mais importante é saber que a gente tá dentro, uma nova oportunidade de chegar a Paris e poder fazer história. Agora vou ter seis meses em casa para conseguir dar sequência nos treinos, nas competições. Estou muito feliz. Aqui estamos para mais uma. E de novo espero fechar com chave de ouro", disse Ana Marcela.

Marcela estará presente em três provas da maratona aquática, no Mundial de Esportes Aquáticos de 2024, que começou nesta sexta-feira (02), em Doha, no Catar. Além dos 10km (prova olímpica) disputados neste sábado, ela estará no 5km e o revezamento 4x1.500m misto.

Campeã olímpica em Tóquio-2020, Ana Marcela deixou escapar as primeiras três vagas antecipadas nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Na manhã deste sábado (15) no horário do Japão, a nadadora baiana terminou na quinta colocação na prova dos 10 km da maratona aquática do Mundial de Fukuoka. Ela chegou empatada com duas outras atletas na briga pelo terceiro lugar, mas na decisão do photo chart (avaliação da chegada por vídeo) acabou ficando atrás na batida de mão.

"Estou vivendo um momento diferente, todos sabem. E fiz uma cirurgia. Voltar sete, oito meses depois e estar competindo de igual pra igual com essas meninas é muito importante. É um momento diferente, de transição, mas eu acredito muito no que posso fazer", avaliou a atleta que iniciou parceria com o técnico italiano Fabrizio Antonelli, após encerrar o vínculo com Fernando Possenti.

O título mundial dos 10 km da maratona aquática ficou a alemã Leonie Beck que cruzou a linha de chegada em 2h02min34s00. Quem pegou a prata foi a australiana Chelsea Gubecka com o tempo de 2h02min38s10. Ana Marcela completou a prova no quinto lugar com o tempo de 2h2min42s50. A medalha de bronze e terceira vaga em Paris terminou com a americana Katie Grimes que marcou 2h02min42s30. A quarta posição foi da holandesa Sharon van Rouwendaal em 2h02 min42s40. Já a outra brasileira Viviane Jungblut ficou em 26º lugar, com 2h5min5s80.

Ana Marcela e Viviane Jungblut terão outra chance carimbar o passaporte para Paris no Mundial do ano que vem. A próxima edição será em Doha, no Catar e está marcada para fevereiro de 2024. Desta vez, a prova distribuirá vagas para as 13 primeiras colocadas para o país. A melhor de cada continente também garante a classificação para os Jogos na capital francesa.

Ana Marcela volta a cair na água no próximo dia 17 de julho, às 20h no horário de Brasília, para a disputa da prova dos 5km no Mundial de Fukuoka. A baiana é bicampeã mundial desta distância.

O Campeonato Baiano de Inverno de Natação 2023, realizado no começo deste mês na Piscina Olímpica da Bahia, na Avenida Bonocô, marcou mais um dos expressivos resultados da nadadora Giovanna Avelino, de 9 anos, moradora do bairro de Pernambués, em Salvador. 

Na principal competição de natação da Bahia, a atleta prodígio conquistou seis medalhas de ouro, uma de prata e, de quebra, alcançou o melhor índice técnico do estado na sua categoria. Após dar as primeiras braçadas no CEPE (Clube de Empregados da Petrobras), com o treinador Rafael Spinola, hoje Giovanna também treina com Cláudio Peixe, ex-técnico de nomes consagrados como Edvaldo Valério, Allan do Carmo e  Ana Marcela.

Em conversa com o Bahia Notícias, Giovanna Avelino e Uenderson Borges, pai da nadadora, falaram sobre a rotina de treinos, os desafios e as questões que envolvem o desenvolvimento de uma atleta mirim em uma atleta profissional.

"Desde muito pequena a Giovanna faz natação. Iniciou aos 9 meses de idade e não parou mais. Com o seu desenvolvimento, percebemos que ela poderia ir mais além. Fomos atrás de equipes de competição, com treinadores que pudessem trazer mais a técnica e o aperfeiçoamento", disse o orgulhoso pai. 

Giovanna Avelino e Cláudio Peixe, um dos seus treinadores (Foto: Divulgação FBDA)

Além dos treinos aquáticos duas horas por dia, seis vezes na semana, na Piscina Olímpica da Bahia, Giovanna frequenta o colégio de 13h as 17h30, e também pratica ballet e karatê, como atividades complementares. A intensa rotina é tratada pela família com o cuidado necessário. 

“Toda programação é pautada entre estar bem nos estudos e no esporte. Uma atividade não pode ser prejudicada pela outra. Então, sempre buscamos priorizar o estudo e manter a rotina dos treinos em que ela consiga realizar bem cada um”, explicou Uenderson.

“Venho evoluindo a cada dia no esporte e a sensação é que posso ir muito mais longe nas competições. Os meus treinos são com métodos educativos e técnicas de velocidade, força e resistência para que eu possa conquistar bons resultados”, disse a pequena nadadora. 

Nascida e criada em um estado tradicional da natação brasileira, o horizonte de Giovanna é grandioso: disputar os Jogos Olímpicos. Representando o CEPE (Clube dos Empregados da Petrobras), na temporada 2023, Giovanna também conquistou o primeiro lugar no 1º e 2º Concurso Mirim a Sênior da Federação Baiana na Categoria Mirim I, além de ter sido campeã no Festival Nordeste de Natação e no Festival Natação em Rede. 

Giovanna Avelino treina na Piscina Olímpica da Bahia, na Avenida Bonocô  (Foto: FBDA)

"Os planos são que, daqui alguns anos, Giovanna possa conquistar uma posição de destaque no cenário nacional, com sua carreira gerenciada por um grande clube focado em análises técnicas e treinos de alta performance, com métodos avançados. O objetivo é participar de competições internacionais e ter a oportunidade de estar nas Olimpíadas representando o nosso país", comentou Uenderson.  

Saindo das piscinas e entrando no mar, a primeira experiência da jovem atleta foi aos 8 anos, quando participou do Internacional de Águas Abertas Oceanman Brazil, realizado no Porto da Barra, em Salvador, e subiu ao pódio em uma disputa entre meninas de 9 a 12 anos.

E é das águas abertas que vem a principal referência de Giovanna no esporte: a soteropolitana Ana Marcela Cunha, uma das maiores maratonistas aquáticas da história, que emocionou o Brasil ao ganhar a medalha de ouro na maratona aquática de 10km das Olimpíadas de Tóquio, em 2021. 

"Minha inspiração e referência é a Ana Marcela por ser uma atleta baiana que tem muitas conquistas no esporte", comentou Giovanna. 

Ana Marcela Cunha ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021

Uenderson explica que a filha participa de competições no mar “de forma natural, quando ela pede para participar”, mas, como o ritmo do mar é outro e demanda técnicas, metodologias e estratégias de competição diferentes, o foco da nadadora atualmente é a piscina. 

Sobre a responsabilidade de lidar com o desempenho esportivo e as expectativas, o pai explica como o processo precisa ser conduzido de forma leve e sem pressão. 

"A responsabilidade é muito grande, pois ela ainda está em uma fase de compreensão e da importância das suas conquistas no esporte. Lidamos com isso de forma leve e sem muita pressão para que a vontade de seguir em frente seja contínua", comentou. 

Aos 9 anos, Giovanna Avelino acumula medalhas (Foto: Uenderson Borges)

O professor de Educação Física e Futsal, Pedro Henrique Santos, que dá aula para crianças de 6 a 13 anos, cita os benefícios da prática esportiva realizada pelo público infantil.  

"O benefício para crianças que praticam atividade física são inúmeros: tem a questão fisiológica (a criança desenvolve ossos mais fortes e assim cresce de forma saudável, tendo mais resistência à lesões), a coordenação motora também melhora, já que ela desenvolve muito mais noção de espaço e assim evita lesões, como machucar uma perna e um braço correndo na rua. Além da prevenção de doenças como obesidade infantil, hipertensão, ansiedade, depressão, pois ela socializa, conhece outras pessoas e isso ajuda bastante", explica. 

Pedro ainda disse que não vê malefícios em crianças realizando práticas esportivas, a não ser o excesso, e lembra que o acompanhamento dos pais e dos profissionais que circulam o atleta mirim é fundamental. 

"O que pode ser malefício é o excesso: os pais e os profissionais que acompanham o atleta mirim precisam estar por perto. Tem que ter uma boa equipe de psicólogo, nutricionista, o profissional de educação física, que vai ser o preparador físico da criança, precisam estar atentos aos sinais. Quem trabalha com criança sabe que as atividades precisam ser bastante lúdicas, criativas, para que a criança não se desestimule com o processo que é composto por sacríficios", explicou. 

Com muitos treinos e um futuro promissor pela frente, a próxima competição de Giovanna Avelino é em julho deste ano, na 6ª Etapa CBAA de Águas Abertas, em Juazeiro. Nas piscinas, a prodígio volta a nadar no Troféu FBDA de Natação 70 anos, em agosto, uma das competições de maior expressão da temporada.