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O processo educativo nas escolas e em casa vem passando por mudanças diante dos avanços dos estudos relacionados à psicologia e ao comportamento humano. Se você é um adulto desta era, certamente já notou a diferença na educação de crianças na atualidade e que os métodos mais recentes utilizados deixam de lado as punições que eram utilizadas no passado. Pais e educadores têm se aproximado cada vez mais da educação positiva, que tem como premissas uma abordagem baseada na gentileza, considerando a criança como indivíduo próprio.
Tassia Velloso, psicóloga e psicoterapeuta familiar sistêmica, explicou ao Bahia Notícias que a educação positiva se baseia no cuidado com o bem-estar, desenvolvimento de competências emocionais e promoção da autoconfiança nas crianças. Entretanto, diferente do que alguns acreditam, existe o estabelecimento de regras, espaço para o diálogo, respeito mútuo e incentivo à reflexão de atitudes.
“Uma criança é olhada na sua integralidade, com suas fragilidades e competências, ela é reconhecida como um todo. Ela não é vista apenas quando é boa, logo ela é amada em todas as suas versões, mesmo as mais disfuncionais. [...] Se, diante de um erro, ela receber uma punição, você não está ensinando sobre o comportamento inadequado, você não explicou para ela o porquê não foi bom o que ela fez, você não abriu espaço para ela refletir. Por que você espera que ela não repita esse comportamento? Para qualquer mudança de postura é necessário que haja um aprendizado e para aprender é necessário dialogar”, pontuou a psicóloga.
Mas começar a trabalhar com educação positiva dentro de casa é uma tarefa desafiadora. De acordo com a especialista, um dos obstáculos que os pais acabam tendo que enfrentar é o autocontrole diante a situações de descontrole emocional dos filhos. A partir disso, os responsáveis precisam se reinventar na hora da "bronca", não partindo apenas para repressão e anulação da voz da criança.
“Primeiro passo é entender que introjetar na sua prática que quanto mais impaciente e agressivo o adulto se coloca, mais ele cria um mundo de distanciamento dos seus filhos. Crianças são crianças porque estão aprendendo sobre o mundo à sua volta. Se os pais não sabem controlar os seus impulsos, por que a criança deveria ter suas emoções tão organizadas? A raiva, o tapa, o grito não vão educar. O que vai educar seu filho é o amor, o respeito que você tem por ele, o espaço que você permite que ele se expresse, com direcionamento e presença”, citou Velloso.
A psicoterapeuta destacou ainda que lidar com as próprias vontades e permitir todo esse espaço para a criança é um grande desafio. Mas, como dica aos pais, a especialista sugere que os adultos busquem se aproximar mais dos pequenos, escutando verdadeiramente, dando atenção ao que é dito e validando os feitos mais simples e conquistas.
EDUCAÇÃO POSITIVA NAS ESCOLAS
Alguns métodos de educação utilizados em sala de aula no passado envolviam uso de palmatória e “cantinho do pensamento” como formas de punição. O que a psicóloga Tassia Velloso argumenta é que maneiras mais agressivas, como grito, geram medo, revolta e mais descontrole.
Para Ana Lúcia de Vita, pedagoga com especialização em alfabetização, a educação positiva é mostrar para criança que ela pode demonstrar os sentimentos dela, de uma maneira que não agrida o outro.
“Na sala de aula, podemos justamente mostrar à criança todos os caminhos que ela tem para expressar os sentimentos, as frustrações, poder dizer: eu sei, eu não sei, eu quero, eu não quero... E buscar os caminhos possíveis para lidar. A educação positiva, acima de qualquer coisa, é o diálogo, é a conversa. É respeitar o outro. O diálogo é fundamental”, afirmou.
Segundo a pedagoga, os alunos passam a sentir confiança e respeito no professor através da educação positiva. “Quando você chega para uma criança e deixa ela falar, deixa ela se abrir, deixa ela expor o que está acontecendo, você consegue compreender e mostrar a essa criança o que é errado através de um diálogo. Acredite, elas passam a respeitar mais e a ter um carinho pelo professor”, salientou.
A pedagoga explicou também que a participação familiar na escola é um fator importante para o desenvolvimento da criança. Ela completa dizendo que os responsáveis precisam entender que esse método de aprendizado não tem a ver com permitir tudo e que a criança tem que entender que existem momentos.
Conforme ressaltou a psicóloga Talita Velloso, a permissividade é bem diferente de estabelecer uma comunicação não violenta. “É possível trazer gentileza e escuta, mesmo nos mais desafiadores limites. Mas para isso é preciso quebrar padrões e construir novas pontes”, finalizou a especilista.
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) começou a analisar nesta terça-feira (17) proposta para regulamentar o uso da constelação familiar pelo Poder Judiciário. Com voto contrário do relator, conselheiro Marcio Luiz Freitas, o julgamento foi suspenso após pedido de vista da conselheira Salise Sanchotene.
O pedido de providência foi requerido pela Associação Brasileira de Constelações Sistêmicas. Atualmente, a prática da constelação familiar é clssificada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) como uma terapia alternativa e tem sido utilizada em tribunais estaduais para resolução de conflitos de família e em alguns casos em ações que envolvem violência de gênero, doméstica e estupro. A matéria tramita no CNJ desde 2019.
Ao se posicionar contrário à regulamentação da constelação familiar como política pública no âmbito da Justiça, Freitas destacou que o método possui um estereótipo de família e uma concepção “absolutamente misógina” e “absolutamente marcada por dogmas e leis imutáveis”, que não estão sujeitas à “falseabilidade que é o pressuposto de toda e qualquer ciência é algo que não pode ser adotado como política pública”.
“As pessoas têm todo direito de utilizar, de acreditar. Há pessoas que acordam e acreditam que ordem dos planetas no dia do nascimento influencia o seu dia, e buscam na astrologia - um mercado de bilhões - guias, orientações, e isso pode dar certo para muitas pessoas. O que me parece que não se pode admitir que uma prática, que não tem o mínimo respaldo científico no atual estágio de evolução da ciência, possa ser utilizada no âmbito do judiciário como política pública aplicável à solução de conflitos, especial de conflitos tão delicados como aqueles relacionados a crimes violentos”, frisou o relator.
De acordo com Marcio Luiz Freitas, regulamentar a prática é permitir o uso de uma concepção imutável das leis e de um modelo ideal de família como base para a resolução de todos os problemas, e até a revitimização de pessoas vítimas de violência, em especial mulheres e crianças.
“Isso é especialmente grave quando a gente pensa no encaminhamento de pessoas que sejam vítimas de crimes, e aqui falo especialmente de mulheres vítimas de crimes de gênero ou crianças, para esse tipo de prática”.
O conselheiro relator ainda destacou que quando a constelação familiar é aplicada pelo Poder Judiciário na resolução de conflitos, as vítimas são deixadas “à própria sorte”. “Não há um acompanhamento posterior disso. Exatamente porque o judiciário não se presta a isso, nós não fazemos acompanhamento psicológico, psicoterápico ou de qualquer outra forma das vítimas”.
O conselheiro pontuou que a negativa para a regulamentação se alinha às propostas da ONU para o combate à violência, também no âmbito institucional, contra a mulher.
TEXTO DA REGULAMENTAÇÃO
No texto da resolução proposto pelo conselheiro ficaria estabelecido, no artigo 3º, que: "é vedado no âmbito dos tribunais e órgãos do judicário o uso de constelação familiar sistêmica ou outra técnica fundada em esteriótipos a respeito do papel das mulheres ou da configuração familiar, bem como que tenha a possibilidade de submeter vítimas de crimes a situações de revitimização".
Já o artigo 4º fixaria normas para o encaminhamento de vítimas de violência a terapias alternativas, obdecendo alguns requisitos: prévia avaliação por equipe especializada que assegure o consentimento livre e esclarecido da vítima; a inexistência de indicadores de que a técnica possa acarretar novos riscos para a vítima ou seus familiares; e que os profissionais que aplicarão a técnica deverão ser especialmente compreender e intervir adequadamente nos casos de violência de gênero contra mulheres, sem esteriótipos ou revitimização.
POSIÇÃO DO CFP
Em nota técnica emitida em março deste ano, o Conselho Federal de Psicologia destacou “incongruências éticas e de conduta profissional” no uso da constelação familiar enquanto método ou técnica da Psicologia.
A constelação familiar foi criada na Alemanha por Bert Hellinger (1925-2019). O criador integrou o exército nazista na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O site oficial dos criadores do método define a constelação familiar como “um procedimento de representação gráfica em que as pessoas são colocadas no espaço representando membros de uma família, uma empresa ou um produto, a fim de fazer uma leitura de uma dinâmica a partir dessas pessoas relacionadas. A constelação Familiar serve para que a pessoa possa desvendar os antecedentes de fracasso, doença, desorientação, vícios, agressão, desejo de morte e muito mais”.
“A Constelação Familiar Original Hellinger (Familienstellen) leva à percepção de que nunca é tarde demais para uma vida feliz. Para cada pessoa só há um lugar certo na família, e esse é o seu próprio lugar. Uma vez encontrado e tomado este lugar, uma nova perspectiva se abre, o que torna a pessoa capaz de agir”, complementa.
Para o CFP, a prática apresenta algumas incompatibilidades, a exemplo do reconhecimento, enquanto fundamento teórico da Constelação Familiar, do uso da violência como mecanismo para restabelecimento de hierarquia violada - inclusive atribuindo a meninas e mulheres a responsabilidade pela violência sofrida.
A nota técnica também destaca que a sessão de Constelação Familiar pode suscitar a abrupta emergência de estados de sofrimento ou desorganização psíquica, e que o método não abarca conhecimento técnico suficiente para o manejo desses estados - o que conflita com a previsão do Código de Ética Profissional do Psicólogo.
SILVIO ALMEIDA
No começo do mês de outubro, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, encaminhou pedido ao CNJ, feito por representantes do Conselho Federal de Psicologia, do Instituto Questão de Ciência e de pesquisadores universitários, para debater o abuso da prática de constelação familiar na Justiça (lembre aqui).
Serviço
O QUÊ: Lançamento do livro “A Costura de Si” – Márcio Ferreira Barbosa
QUANDO: 5 de junho (quinta), a partir das 17h30
ONDE: Livraria Cultura (Salvador Shopping)
QUANTO: Entrada Gratuita
Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Luciano Simões
"Estou sabendo é dos partidos que estão firmes".
Disse o presidente do União Brasil em Salvador, deputado estadual Luciano Simões sobre o apoio de partidos a candidatura de Bruno Reis.