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Davidson pelo Mundo: O tal do legado ficou pelo caminho!

Por Davidson Botelho

Davidson pelo Mundo: O tal do legado ficou pelo caminho!
Fotos: Divulgação

Os eventos globais, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, têm um impacto profundo e multifacetado no turismo dos países que os sediam. Esses eventos são mais do que competições esportivas; são catalisadores de transformações econômicas, sociais e culturais. Eventos do porte de uma Copa do Mundo e Olimpíadas somente se justificam se forem para deixar legados a longo prazo. Os investimentos são altos em infraestrutura, atraem visitantes, deixam receitas e geram empregos durante os jogos, mas isso não é o suficiente.

 

O que se espera dos países que sediam esses eventos é que colham frutos no turismo ao menos por dez anos e assim se firmem no cenário turístico internacional. Barcelona, Seul e Atlanta são exemplos de como os Jogos Olímpicos projetaram esses destinos e colhem bons frutos até hoje. A África do Sul e o México também são exemplos de sucesso após sediarem a Copa do Mundo de futebol. Até a Rússia apresentou crescimento vertiginoso após 2018, mas foi interrompido com o início da guerra com a Ucrânia.

 

O provedor de pesquisa de mercado Euromonitor mostra que a Copa do Mundo e as Olimpíadas não foram suficientes para colocar o Brasil em destaque no turismo na América Latina. O país teve um crescimento anual "modesto" de 3% no número de chegadas de estrangeiros entre 2012 e 2017, contra quase 6% na Costa Rica, 8% no México e 10% no Chile e na Colômbia.

 

O México ainda é, de longe, o país da região que mais recebe visitantes, mas o Chile é a estrela em ascensão. Houve um aumento de 2,2 milhões de viagens para o Chile entre 2012 e 2017. Das 10 cidades latino-americanas que mais ganharam visitantes no período, seis são chilenas. Apesar do Rio de Janeiro ter sediado os Jogos Olímpicos em 2016, a cidade ficou na 34ª posição dentro da América Latina com crescimento anual médio de 7% no número de visitantes estrangeiros em 2017. A cidade maravilhosa foi a sexta mais visitada da região em 2017 (logo após dois grandes eventos de projeção mundial) e, mesmo assim, recebeu menos estrangeiros do que Cancún, Punta Cana, Cidade do México, Santiago e Lima.

 

No ano da Copa do Mundo, o Brasil registrou a entrada de 6.429.852 turistas internacionais. Pela primeira vez, o país superou a marca dos 6 milhões de estrangeiros. Mas, passados 10 anos da Copa do Mundo e 8 das Olimpíadas, o país registrou a entrada de exatos 5.908.341 visitantes do exterior em 2023, uma queda de 8,11%.

 

O Brasil não figura na lista da Organização Mundial do Turismo dos 50 países com mais chegadas de turistas. Os dados são relativos a 2019, ou seja, antes da chegada da pandemia da covid. Em todo o mundo, o setor sofreu fortemente os impactos da quarentena e tenta agora ensaiar uma recuperação. Para efeito de comparação, uma única localidade do Vietnã, a Baía de Ha Long, recebeu quase o equivalente aos números totais do Brasil, de acordo com o Euromonitor. O Vietnã como um todo contabiliza 18 milhões de viajantes internacionais anualmente.

 

Outro exemplo, e de maior proximidade, é o México. Com limitações socioeconômicas como o Brasil, o país se firmou como um dos mais importantes destinos do turismo mundial, com 45 milhões de turistas estrangeiros. Os mexicanos são muito beneficiados pela proximidade com os Estados Unidos, mas deram prioridade ao setor em sua estratégia econômica na última década, profissionalizaram a pasta e, assim, todos os anos apresentam resultados satisfatórios.

 

Comparações podem ser relativizadas pelas condições específicas dos países, mas o mercado brasileiro, com trunfos turísticos bem conhecidos como o Rio de Janeiro, Amazônia, Nordeste e as Cataratas do Iguaçu, e outras dezenas de lugares com grandes possibilidades de desenvolvimento, está claramente aquém do seu potencial.

 

"O Brasil não faz parte das rotas do turismo global", diz uma análise feita pela Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade, vinculada ao Ministério da Economia, no ano passado. O texto cita que "no Brasil, 93% dos visitantes são locais" e a participação do turismo no PIB era de 7,7% e com alta empregabilidade, mas com um crescimento estagnado.

 

A permanência de velhos problemas e o aparecimento de novos levam o Brasil a deixar de aproveitar um setor que poderia ter um impacto positivo de forma considerável na economia, na melhoria dos serviços, na conservação dos espaços nas cidades, entre outros ganhos.

 

Violência, corrupção, ambiente hostil para mulheres e baixo investimento em promoção, somados à deterioração nos últimos anos da imagem do país em campos como meio ambiente e segurança, não criam um cenário muito atraente para turistas considerarem o Brasil como destino.

 

Políticas de turismo específicas precisam ser baseadas em um processo de planejamento contínuo. Para um desenvolvimento mais sustentável do setor, é preciso que o Ministério do Turismo e a Embratur tenham grande qualidade técnica, despolitizando a pasta, com profissionais conhecedores do assunto e um planejamento de longo prazo. O Peru é um belo exemplo bem próximo a nós e vem colhendo bons frutos.

 

A falta de maior profissionalização na parte de serviços é algo constantemente apontado como problemático. Esse é um dos itens mais criticados pelos profissionais do setor. O transporte aéreo está deveras caro pelo preço do querosene e a política de impostos dos combustíveis e taxas aeroportuárias. Além disso, as viagens rodoviárias são prejudicadas pelas condições das rodovias e, se as rodovias são boas, os pedágios são caros. O tamanho continental do Brasil, que de uma forma pode ser uma vantagem pela variedade de ofertas, acaba gerando um problema pelo deslocamento.

 

Precisamos alinhar o ambiente regulatório, jurídico e tributário que rege a aviação brasileira ao ambiente internacional. A evolução que viveu o setor nestes 20 anos não permite que sigamos admitindo que o Brasil tenha sérias diferenças e distorções entre nossas regras nacionais, que acabam gerando ofertas e produtos mais caros aos que são ofertados no exterior.

 

Mas eu já ouvi de alguns políticos que turismo é coisa pra rico e não dá voto. Com essa mentalidade, pode sentar e esperar; o tal do legado nunca vai chegar!