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afoxe filhas de gandhy
Com 44 anos de história, o bloco Afoxé Filhas de Gandhy leva para o circuito Dodô (Barra/Ondina), nesta segunda-feira (12), a tradição da cultura negra e o respeito pela ancestralidade. A agremiação é o primeiro bloco feminino de afoxé da Bahia.
Confira os cliques:
Fotos: Igor Serra / Ag. Fred Pontes / Bahia Notícias
Além dos 45 anos de história, o Afoxé Filhas de Gandhy levará para a avenida em 2024 a ancestralidade através do tema 'Mulheres de terreiro detentoras do sagrado', e uma grande "dor de cabeça": a dívida feita pelo bloco em 2023 para conseguir desfilar com as mais de 700 associadas no Carnaval de Salvador.
A agremiação, fundada por Gliceria Vasconcelos e coordenada pela filha da veterana, a dançarina, cantora e produtora cultural Silvana Magda, vai para as ruas na esperança de que a festa deste ano seja o remédio necessário para aliviar não só as preocupações sociais, como também o bolso.
Em entrevista ao Bahia Notícias, a produtora cultural afirmou que, mesmo com o apoio público através do edital Ouro Negro, o Afoxé Filhas de Gandhy luta para que as dívidas sejam quitadas neste ano. O grupo também busca uma sede própria, já que a atual é alugada.
Foto: Divulgação / Ag. Edgar de Souza
"A nossa maior dificuldade é a econômica. A gente está fazendo o Carnaval de 2024 com a dívida de 2023. Então é nadar contra a corrente. Neste ano a gente está tentando se estabelecer. Estou confiante que o auxílio público irá ajudar o nosso cenário, mas entendo que ainda há uma desigualdade. A gente não pode olhar o feminino com o olhar de fraqueza. Precisamos de políticos e gestores que entendam que a gente precisa dessa igualdade. Não há como estar no mercado hoje sem estar igual, se uma instituição recebe 100 e a outra recebe 30, esses 70 faz uma diferença enorme."
O desafio do bloco também perpassa a falta de espaço, seja nas ruas e seja na mídia. Questionada pelo site sobre como a agremiação avalia a projeção do grupo, Silvana foi direta e afirmou que não sente interesse em contar a história do primeiro bloco feminino de afoxé da Bahia.
"O nosso espaço na mídia é muito pouco, acredito que falta interesse. Talvez se colocasse as Filhas para fazer um baile funk, aí a mídia seria imediata. As funkeiras das Filhas de Gandhy, né? Todo mundo de short, com um topzinho, seria uma sensação. Mas o que buscamos não é isso. As Filhas de Gandhy buscam manter e resgatar o que ainda tem de positivo na Bahia. É o que queremos deixar para as próximas gerações, para a civilização. Porque se a gente não tiver o entendimento que se você não mantém essas raízes você não vai para lugar nenhum. Quando um turista vem aqui, ele busca nossas raízes. Eu não abro mão dos afoxés. Nós temos uma força fundamental na propagação da cultura. O ijexá, por exemplo, é um toque forte. Como é que você tenta modificar isso?"
É com essa essência que Silvana vislumbra o espaço das Filhas de Gandhy no mundo. A coordenadora do bloco revelou que busca um espaço na ONU para falar da luta da mulher brasileira, das Filhas de Gandhy, a quem ela considera com a verdadeira "representante da Barbie" no Brasil.
"Nós vamos estar no mundo. Fizemos uma participação nos Estados Unidos em 2014, mas a nossa participação agora vai ser ativa. Eu quero colocar as Filhas de Gandhy dentro da ONU e falar da opressão das mulheres negras, do feminicídio, o quanto elas são oprimidas. É muito importante para a gente se estabelecer e fazer esse caminho, tenho 40 anos de América, contato com várias instituições femininas, onde elas estão vindo para a Bahia para ver as Filhas de Gandhy. As Filhas de Gandhy vão estar na ONU para falar das dificuldades."
Fundado em 1979, o bloco Afoxé Filhas de Gandhy já foi pensado para "fugir" da ideia de que tudo era festa e que a alegria eterna duraria apenas os seis dias de Carnaval e a meta é fazer com que esse propósito seja ainda mais forte nos próximos anos.
"A intenção das Filhas de Gandhy jamais foi copiar os Filhos de Gandhy, pelo contrário, buscamos proporcionar aos Filhos de Gandhy uma parceria para que suas esposas, suas filhas, suas mães, pudessem estar na avenida, juntamente com eles. Foram anos de luta de minha mãe. As pessoas pensam que essa instituição só faz o Carnaval e tá errado. Existe um olhar sensível para essas mulheres o ano inteiro. Aqui na sede nós temos oficinas, cursos, e essas ações precisam ser respeitadas e divulgadas. Agora, através do apoio público, a gente tá tentando ver se conseguimos sair da sede e ir nas escolas, nas creches, queremos estar nos bairros", afirmou Silvana.
Foto: Bianca Andrade/ Bahia Notícias
Para além do tapete branco na avenida, o Filhas de Gandhy tem uma proposta social e cultural, e foi desta forma que Noelia Pires, de 65 anos, chegou ao bloco. "Ele é um bloco que tem tudo a ver comigo, um bloco de mulheres, de resistência e que eu me identifico. Eu desfilo há quase 10 anos e conheci quando vim trazer minha sobrinha e minha vizinha para fazer aula de percussão. Essa foi a época que eu mais fiz amizade com Gliceria. Comecei a desfilar como foliã, e depois me tornei baiana. E hoje, quem bota as baianas no bloco sou eu".
Nájila Duarte, da equipe de produção do Filhas de Gandhy, fala sobre o projeto que trouxe mulheres como Noelia para o Afoxé. "São muitos desafios para manter os nossos projetos sociais, através de editais e na busca por patrocínio, mas a gente vem construindo da maneira que a gente pode, através das nossas aulas de percussão, das rodas de conversa. Atualmente a entidade conta com associadas cadastradas, percussionistas cadastradas, cerca de 30 mulheres, que nos auxiliam nesses cursos".
Ao todo, cerca de 800 mulheres são atendidas nos projetos da Filhas de Gandhy. "Através dos nossos cursos, conseguimos transformar a vida de diversas mulheres que passam durante todo o ano por aqui. A nossa ideia é que esse projeto possa estar ajudando no processo de transformação da realidade dessas mulheres, e possa contribuir na autonomia delas", afirma Franciane Simplício.
Foto: Bianca Andrade/ Bahia Notícias
Para Silvana, a transformação através da cultura é essencial para o país. A coordenadora da agremiação afirma que as mulheres, em especial as baianas, foram as primeiras empreendedoras da história, e por isso, e por tantos outros motivos, é necessário o destaque e o espaço aos movimentos que exaltam o feminino e a ancestralidade.
"Venho lutando há anos para fazer com que a imagem da baiana seja a Barbie do Brasil, porque a mulher brasileira é a imagem da mulher trabalhadora. A baiana foi a primeira empreendedora brasileira. Elas representam muito, Carmen Miranda, filha de portugueses, que tem estrela na calçada da fama em Hollywood, bebeu da nossa fonte, da imagem da mulher baiana, chegou a hora da gente se estabelecer com a nossa própria imagem e ser o símbolo da mulher brasileira."
Os 45 anos do Afoxé Filhas de Gandhy, primeiro bloco feminino de afoxé no Carnaval da Bahia, irá celebrar a essência do que fez a agremiação ser o que ela é hoje.
Em evento realizado nesta terça-feira na sede das Filhas de Gandhy, no Pelourinho, foi apresentado o tema do Carnaval de 2024, “Mulheres de Terreiro detentoras do sagrado”.
Em coletiva, Silvana Magda, coordenadora da agremiação, explicou a escolha do bloco:
“A gente sabe que os segredos que vocês mantêm é o que dá vitalidade. Tanto a terra, como o ar, como o fogo e a água. Então no carnaval de 2024 das Filhas de Gandhy , a gente traz às ruas essa energia. Esse segredo é revelado através de alas que representam isso. E sem vocês, sem o ensinamento de vocês, sem a imagem, essa pessoa maravilhosa que sempre mandou ônibus e ônibus de mulheres, a sutileza e gentileza de saber as nossas dificuldades. A nossa dificuldade é conscientizar e educar as mulheres que cultura é tudo, nós somos o futuro”.
O evento também apresentou a fantasia que será utilizada pelas associadas neste ano, que segue a tradição de levar o azul e branco para a avenida.
Para Silvana, a escolha do tema foi acertada para mostrar ao povo toda luta das mulheres, não só na avenida, como no dia a dia.
“Estamos tentando trazer essa conscientização, sim, que essas mulheres são detentoras não só do sagrado, mas elas são detentoras do poder econômico. Então a gente tem que mudar o perfil. Não somos só carnaval. As Filhas de Gandhy têm uma diretoria que tem um trabalho social durante o ano que é muito forte. Elas aqui fazem curso de captação. As meninas que tomam conta dessa parte fazem um trabalho belíssimo”, destacou.
As vendas para o desfile de 2024 serão iniciadas apenas na sexta-feira (19).
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A 14ª edição do programa Carnaval Ouro Negro, projeto concebido pelo Governo da Bahia em 2008, destinará aos blocos Afro e de Afoxé mais de R$ 14 milhões em 2024. A novidade foi anunciada nesta terça-feira (16) pelo vice-governador Geraldo Jr. durante o evento de lançamento do Carnaval do bloco Afoxé Filhas de Gandhy.
“Tendo como lema a ancestralidade, reconhecer o valor dos blocos afros. No ano de 2023, a gente coordenou o Carnaval. O investimento foi na ordem de quase R$ 8 milhões. Neste ano, por decisão do governador, para apoio ao afoxé, nós vamos fazer um investimento de quase R$ 15 milhões e mais R$ 2 milhões da Bahiagás. Nós vamos buscar apoio das iniciativas privadas para que a gente possa fortalecer esse trabalho”, destacou o vice.
O programa, que será lançado à tarde pelo secretário de cultura Bruno Monteiro, contará com 132 entidades apoiadas.
O secretário de cultura da Bahia, Bruno Monteiro, que também esteve na ocasião, comentou sobre a importância do projeto: “Como nós atuamos em time, tudo tem o sentido do trabalho em equipe: o que nós estamos fazendo da valorização do Carnaval, da valorização dos afoxés, da valorização dos blocos afros, com esse Ouro Negro inédito, o maior da história, mas sobretudo o reconhecimento de essas entidades são vitais para a nossa cultura, não somente para o Carnaval”.
O gestor cultural do estado também falou sobre a novidade da iniciativa. “O que nós temos buscado para além da ampliação do Ouro Negro e já falamos isso semana passada e anunciaremos em breve. É um apoio que não se restringe mais ao Carnaval, mas um apoio permanente a essas entidades que são uma raíz, a força e dão todo o sentido a nossa cultura”, afirmou.
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Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Wilson Witzel
"O presidente Jair Bolsonaro deve ter se confundido e não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tivemos, seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria o que hoje se está verificando com a Abin e a Polícia Federal. No meu governo, a Polícia Civil e a Militar sempre tiveram total independência".
Disse o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, ao negar que manteve qualquer tipo de relação, seja profissional ou pessoal, com o juiz Flávio Itabaiana, responsável pelo caso de Flavio Bolsonaro (PL), e jamais ofereceu qualquer tipo de auxílio a qualquer pessoa durante seu governo, após vazementos de áudios atribuidos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).