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Os prejuízos, dificuldades e problemas enfrentados pelos os blocos afros conseguirem apoio para o carnaval de Salvador é uma pauta reivindicada em diversos momentos por gestores das entidades ou associações. E, nesta terça-feira (23), durante coletiva de imprensa do lançamento do carnaval da Prefeitura, o presidente do bloco Ilê Aiyê, Vovô, voltou a criticar e revelar os problemas enfrentados pelos atrativos.
Em seu discurso, Vovô disse que o Ilê sofreu um problema com uma marca de cervejaria, que bloqueou o dinheiro do bloco.
“Aqui eu falo, eu cobro cervejaria. Tem cervejaria que bloqueou dinheiro do Ilê Aiyê. Aqui tem muito Leão que não aguenta ver uma loira. Mas tem uma loira que não quer apostar pro negão essa tal de cerveja, né? Nós todos qualquer movimento vai queimar uma carne vai ter o meu aniversário é a cerveja supermercado estão começando a enxergar devagarzinho aí mas nós não temos a cultura de boicotar [as cervejarias]”, afirmou.
O líder do bloco afro indicou ainda que já tentou fazer boicote a empresas do segmento de cerveja, mas que a “campanha” não deve ter a adesão de muitos atrativos.
“Nós não temos aqui a cultura de dizer vou boicotar. Teve ano que fizemos aqui uma campanha de boicote, mas só o Ilê e o Olodum entraram na campanha, colocando nas fantasias para as pessoas não frequentarem shopping que não te apoia, não frequentar mercado, departamentos que não dão nenhum retorno para gente e digo assim maioria da cidade, nós que consumimos tudo aqui [...]”, observou.
No ano do cinquentenário do Ilê Aiyê, Vovô do Ilê fala critica “falta de atitude” da população negra
Criado em 1974 e comprometido com a luta e a cultura negra, o Ilê Aiyê completa 50 anos neste ano. Cansado de reclamar sobre a falta de investimento privado no primeiro bloco afro do mundo, o Vovô do Ilê decidiu criticar a “falta de atitude” do povo preto, com relação às associações voltadas à comunidade.
“Eu estou cobrando que o povo negro faça sua parte também. Tem que ter coragem, tem que ter atitude. Nós temos que parar esse negócio de: ‘Me dá, me dá’. Quando chega nos evento dos artistas brancos todo mundo paga, com o artista negro não querem pagar. A gente precisa ter essa compreensão de que precisamos fazer o dinheiro circular entre a gente”, começou o presidente do bloco.
Em seguida, o líder apontou que, além de discutir isso no dia-a-dia, também é necessário que a comunidade leve isso às urnas e escolha representantes que, verdadeiramente, representem a população. “Nós precisamos participar da mesa da decisão. Nós somos a capital da negritude, mas quando chega na fotografia do poder só tem branco em todas as instâncias de poder. Só tem branco”.
“Isso também cabe aos partidos políticos. Na verdade, eles são todos racistas. Seja direita ou esquerda são todos racistas”, acusou o Vovô.
FALTA DE INVESTIMENTOS
O Vovô do Ilê nunca deixa de relembrar que, em seus anos de história, o Ilê Aiyê se manteve graças aos seus líderes e ao apoio da comunidade, já que mesmo com seu impacto cultural, social e econômico, o bloco nem sempre recebe incentivos públicos ou privados.
“Os 50 anos do Ilê foram muito gratificantes, mas tiveram muitas decepções no caminho. A gente pôde ver que a nossa ideia prosperou e hoje está espalhada pelo mundo. Por um lado, nós ficamos muito felizes vendo a quantidade de jovens que formamos, mas tudo isso tem um custo. Fazer filantropia é muito bonito, mas para isso precisa de dinheiro”, apontou.
No momento seguinte, ele pontuou que o bloco não consegue “sensibilizar” aqueles que têm dinheiro. “Fazer com que eles entendam que é interessante investir em educação e em cultura. Esse é um discurso muito bonito dos políticos, mas na prática falta ter um parceiro. E isso nos entristece um pouco”.
E completou. “Mas a luta a gente não desiste nunca. Vamos continuar. Esses jovens que vem por aí tem que dar continuidade a essa luta. Tem que criar outros espaços, outras organizações sociais, até chegar ao ponto de a nossa terra não precisar de nada disso”.
A PRIMEIRA INVESTIDORA
Conversando com o Vovô, ele confidenciou que a primeira pessoa a investir no Ilê foi uma mulher, sua mãe. Mais importante do que qualquer dinheiro, Mãe Hilda Jitolu investiu toda a sua fé em seu filho, quando ele anunciou, em plena ditadura, que sairia no bloco de Carnaval.
“Ela também abriu o espaço do seu terreiro de candomblé. Então as reuniões do bloco eram todas lá. Na época de carnaval, a costura das roupas também era no barracão. Então ela iniciou também o ritual na saída do bloco, e isso está marcado até hoje. E quando ela começou a sair junto no bloco atraiu muitas mulheres. E hoje você vê que no bloco 60% dos componentes são mulheres”, completou.
A diretora do Ilê Aiyê, Arany Santana, que atualmente é Ouvidora Geral do Estado da Bahia, também falou sobre a importância de Mãe Hilda Jitolu.
“Ninguém sabia que o Ilê teria tantos desdobramentos nacionais e internacionais. Talvez uma única pessoa soubesse disso, uma das fundadoras do Ilê que não está mais entre nós, Mãe Hilda Jitolu”.
E finalizou. “O nosso anjo de guarda, a mãe de santo do Ilê. Foi ela, talvez somente ela, que soubesse que o Ilê Aiyê se desdobraria em tantas coisas positivas para o nosso povo. Porque ela é a guardiã da fé e da tradição africana”.
Fundado em 1º de novembro de 1974, o bloco afro Ilê Aiyê completa 50 anos em 2024, mas as comemorações começam ainda este ano. Segundo o Vovô do Ilê, o bloco já está se preparando para as celebrações, com lançamento de uma parte da programação nesta sexta-feira (26).
"A expectativa está muito grande. O pessoal já está fazendo contato, até com pessoas de fora do estado, porque nós vamos falar dos 50 anos de criação do Ilê, mas também vamos falar de blocos afro. E tem bloco afro espalhado por todo Brasil, até na Europa, na Argentina, mas como fora do país não tem carnaval, os blocos afro se transformam em bandas afropercusivas”, começou.
O fundador do bloco ainda revelou, em entrevista cedida ao Bahia Notícias, que o tema do evento é “Blocos Afro” e por isso os convidados serão só blocos afro. “Cortejo afro, bloco da capoeira, Malê”.
Ainda na entrevista, o presidente do bloco afirmou que mesmo os blocos afro sendo mais valorizados, o cenário estava longe de ser perfeito e a valorização ainda poderia ser maior. “De assumir essa negritude, esse orgulho de ser negro. A cidade de Salvador se fala muito como Roma negra, capital da negritude, mas ainda falta reconhecimento”.
No dia 26 de maio vai acontecer uma festa para iniciar os preparativos da comemoração do Ilê, no Pelourinho. Vovô também falou sobre a importância do Centro Histórico de Salvador sediar essa foto.
“A gente está levantando essa campanha também, de valorização do Centro Histórico. Parece que só abre para o povo estrangeiro, a gente precisa sensibilizar o povo baiano para frequentar o Centro Histórico. Nós resolvemos fazer essa campanha contra violência que está assolando Centro”, explicou.
“Eu não estou dizendo que o Governo do Estado e a Prefeitura não estão investindo em segurança, mas tem muitas atividades culturais e socioeducativas ali que podem ser aproveitadas, então ter que ter condições para que as pessoas frequentem. Tem a questão da desigualdade, do uso de drogas. Mas o pessoal está iniciando um trabalho que vai fazer com que o Pelourinho volte a ser um lugar tranquilo, que as pessoas vão com tranquilidade e confiança sem medo de assalto”, declarou o símbolo do bloco Ilê Aiyê.
Vovô do Ilê finalizou chamando todos os “associados do Ilê, amantes do carnaval” para o espetáculo que vai acontecer no dia 26 de maio, a partir das 18h, no Pelourinho.
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, divulgou nesta quarta-feira (2) a lista oficial dos excluídos da lista de Personalidades Negras homenageadas pela instituição. De acordo com o blog do Lauro Jardim, em O Globo, a partir de agora, a Fundação Palmares só irá conceder homenagens póstumas.
Vinte e nove personalidades foram retiradas da lista. Dentre os nomes retirados estão o de Benedita da Silva, Conceição Evaristo, Elza Soares, Gilberto Gil, Leci Brandão, Marina Silva, Martinho da Vila, Milton Nascimento, o senador Paulo Paim (PT-RS), Sandra de Sá, Vanderlei Cordeiro de Lima e Zezé Motta.
A homenagem póstuma à Madame Satã, artista que se tornou um símbolo LGBT na noite do Rio de Janeiro, morto em 1976, também foi retirada da listagem do órgão.
"É certo que alguns nomes voltarão um dia. Mas acredito que a maioria não", disparou o jornalista Sérgio Camargo, presidente da Palmares.
Veja todos os nomes excluídos da lista:
- Ádria Santos
- Alaíde Costa
- Benedita da Silva
- Conceição Evaristo
- Elza Soares
- Emanoel de Araújo
- Gilberto Gil
- Givânia Maria da Silva
- Janete Rocha Pietá
- Janeth dos Santos Arcain
- Joaquim Carvalho Cruz
- Jurema da Silva
- Léa Lucas Garcia de Aguiar
- Leci Brandão
- Luislinda de Valois
- Madame Satã
- Marina Silva
- Martinho da Vila
- Melânia Luz
- Milton Nascimento
- Paulo Paim
- Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
- Sandra de Sá
- Servílio de Oliveira
- Sueli Carneiro
- Terezinha Guilhermina
- Vanderlei Cordeiro de Lima
- Vovô do Ilê
- Zezé Motta
Reivindicação de quase uma década na comunidade, o percurso do carnaval da Liberdade e adjacências foi oficialmente reconhecido como Circuito Mãe Hilda de Jitolu, em homenagem a uma das figuras mais célebres do bairro de Salvador, a ialorixá fundadora do terreiro Ilê Axê Jitolu, que morreu aos 86 anos, em 2009.
Em 2011, o prefeito João Henrique Carneiro (PP) sancionou o Projeto de Lei nº 406/09, da vereadora Léo Kret do Brasil (PR), mas a consolidação do tributo, no entanto, só acontecerá no ano de 2021, porque, segundo o Conselho Municipal do Carnaval e Outras Festas Populares (Comcar), é preciso adequar a logística e o funcionamento do novo circuito. “Eu fico feliz. É bom, porque a Liberdade sempre teve um carnaval forte, desde antes da fundação do Ilê Aiyê. A gente vem de 2011, da época do prefeito João Henrique, mas não foi reconhecido oficialmente. E agora foi e isso é muito bom pro carnaval da cidade, pro carnaval da Liberdade. Vai ajudar a desafogar mais o centro, trazer mais atrações da Liberdade, que já é consolidado com a saída do Ilê aqui no sábado”, comemorou Vovô do Ilê, presidente fundador do bloco Ilê Aiyê e filho de Mãe Hilda.
Para celebrar a oficialização do novo circuito da festa, o bloco já se mobiliza. “Vamos nos reunir pra ver o que nós vamos fazer. Uma das propostas que nós vamos trazer é que, além do desfile, a Band'Aiyê também se apresente no palco da Liberdade a partir de 2021”, revela Vovô, destacando que a iniciativa tende a fortalecer a folia que já existe na comunidade, além de atrair outros artistas. “Já tem o desfile do bloco Erê do Ilê, tem o bloco Mangueirinha, tem Alabê com um blocão, Amigos de Dadá... Tem vários blocos aqui na Liberdade, tem As Nigrinhas, aqui do Curuzu, tem muitos blocos aqui no redor e os outros também. A oficialização do circuito pode trazer outras atrações”, projeta o presidente do Ilê, defendendo que o Circuito Mãe Hilda de Jitolu será positivo para o comércio e a população local, que poderá curtir o carnaval sem se deslocar do bairro.
MÃE HILDA DE JITOLU
Nascida no dia 6 de janeiro de 1923 em Salvador, Hilda Dias dos Santos faleceu aos 86 anos em 19 de setembro de 2009, em um hospital de Lauro de Freitas, por problemas cardíacos (clique aqui).
Mãe de santo que fundou e comandou por mais de 50 anos o terreiro Ilê Axê Jitolu, na Liberdade, ela, que era orientadora espiritual do Ilê Ayiê, é mãe de Antônio Carlos dos Santos, Vovô, presidente fundador do bloco.
BOM SENSO E BOA VONTADE
Segundo o presidente do Comcar, Jairo da Mata, antes de oficializar o novo circuito será necessária a adequação a questões fundamentais já trabalhadas em todos os pontos oficiais da festa, como segurança, limpeza e adequação de equipamentos utilizados nos eventos. “Falta ainda a logística da Polícia Militar, a logística da Semop [Secretaria de Ordem Pública], que engloba a Limpurb, vigilância sanitária, a Secretaria de Segurança Pública (SSP), além da vistoria de equipamentos. Esse é todo um procedimento que é feito nos circuitos oficiais e que deverão se adequar lá no novo circuito”, disse Jairo.
A escolha de 2021 como ano de consolidação do circuito, de acordo com Jairo, baseou-se no “bom senso”, levando em conta a questão orçamentária relativa a disponibilização de recursos liberados pela administração municipal e estadual. Sobre a verba que deverá ser investida no novo circuito, Mata chama atenção para a necessidade de um “estudo acerca de quantas entidades vão desfilar em todo o seu trajeto”. Ele, no entanto, acredita que o Circuito Mãe Hilda de Jitolu não venha trazer aumento de gastos significativos.
“Creio que não impactará muito, haja vista que os órgãos de administração já se preparam para o Carnaval na Liberdade. Lá já ocorre desfile com o trio, tem um palco oficial, então toda essa logística do ponto de vista dos órgãos da administração já está lá. O custo poderá aumentar em face do volume de entidades que poderão desfilar lá, mas já existe um Carnaval com o desfile de algumas entidades como blocos infantis e o Ilê, que possuem apoio dos órgãos da administração”, afirma.
A demora de cerca de 10 anos para a oficialização do circuito é tratada pelo presidente do Comcar como uma questão de “vontade política”. Mas a proposta de efetivação do projeto para 2021, as ponderações de órgãos como a Polícia Militar, além dos argumentos favoráveis do colegiado contribuíram para a decisão favorável à concretização da proposta.
Por fim, Jairo acredita que a consolidação de circuitos oficiais como o de Mãe Hilda de Jitolu, na Liberdade, soma-se a uma iniciativa importante para a retomada das raízes carnavalescas característica da festa soteropolitana. “É preciso fomentar essa cadeia produtiva da comunidade, para que nós possamos retornar de fato aquele grande Carnaval que é feito da comunidade para o Centro e para o mundo. Entendemos que a comunidade volte a ser o centro das atenções e que possa revelar grandes músicos e grandes compositores para alimentar essa grande festa", concluiu.
Além do prefeito, o cantor Netinho de Paula e Vovô do Ilê participaram da reunião | Foto: Max Haack/Agecom
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