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Vinícius S.A expõe obra com cerca de 15 mil lâmpadas em inauguração de galeria no Mercado Modelo

Por Manuela Meneses

Foto: Acervo pessoal

Quando se fala em cartões postais em Salvador, é impossível não pensar no Mercado Modelo, no bairro do Comércio. Bem pertinho de outro ponto histórico: o Elevador Lacerda. O casarão amarelo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e já abrigou a terceira alfândega da capital baiana. Agora, após um ano e nove meses de obras de restauração e requalificação - um investimento de mais de R$ 22 milhões -, o espaço ganhou uma galeria no subsolo, que terá como uma de suas artes permanentes um trabalho assinado por Vinicius S.A.

 

 

A exposição escolhida para fazer parte do mais novo acervo da capital foi a “Lágrimas”, apresentada ao público pela primeira vez em 2005, quando Vinicius ingressou na Escola de Belas Artes. Com cerca de 15 mil lâmpadas e um trabalho de quatro meses envolvendo aproximadamente 60 pessoas, a mostra é a mais ampla já assinada pelo artista visual. “É a maior montagem de ‘Lágrimas’ que eu já fiz, depois de anos fazendo. Circulei em diversas cidades brasileiras, fui para Europa, mas nunca nessa dimensão. Aqui é mais que o dobro da maior que já fiz na vida”, afirmou em entrevista ao BN Hall.

 

Criado neste berço cultural que é Salvador, Vinicius, que já levou a obra para diversas cidades brasileiras e até para fora do país - com sua mostra nos Estados Unidos e na Alemanha -, se define como um “artista inquieto”. Para produzir e pensar nas suas composições artísticas, ele se valida dos seus conhecimentos sobre geometria, física, química e ciências dos materiais adquiridos durante o curso de Geofísica, na universidade.

 


Foto: Erivan Morais

 

Feita originalmente com lâmpadas de dimensões variáveis, nylon e água, as peças precisaram passar por melhorias em sua confecção, para aumentar a durabilidade e resistência. “Até então, eu só tinha feito obra permanente como arte pública na Rua da Grécia. Tem lágrimas lá do projeto Rua, mas aqui foi um caso específico porque nós temos condições insalubres. A gente teria problema com conservação se a gente utilizasse água, então eu utilizo vaselina líquida. Todas são tampadas, é um projeto muito artesanal, feito uma a uma, cada lágrima dessa passa por cerca de 20 processos até ficar pronta”, explicou.

 

A ideia das Lágrimas surgiu das diversas experiências vividas e memórias da infância no sertão, onde o artista testemunhou a intensidade e o significado da chuva na área rural. De acordo com ele, antes disso, como homem urbano, a chuva era percebida como um incômodo e fonte de dificuldades na vida na cidade e no sertão, ele teve a oportunidade de conhecer o fenômeno como algo sagrado.

 

Durante a conversa, Vinicius relatou ainda ter vivido uma experiência um tanto curiosa na sua primeira visita ao subsolo do Mercado Modelo. “Aconteceu uma coisa muito bonita aqui. Todas as vezes que vou expor ‘Lágrimas’, eu ponho uma música para São José que é o santo da chuva aqui no Nordeste brasileiro. Quando [o secretário de Cultura e Turismo] Pedro Tourinho e [a curadora da galeria] Thais Darzé me convidaram para fazer esse projeto, quando cheguei era tudo escuro, estava em obra, não tinha iluminação, comprei uma galocha e fui entrando dentro da água com a lanterna, quando eu coloquei a lanterna bem no lugar onde as lágrimas estão, eu encontrei uma imagem imensa de São José, que a gente restaurou e vai estar presente aqui dentro da exposição”, descreveu.

 


Fotos: Erivan Morais

 

A GALERIA MERCADO E A FAMA DE MAL-ASSOMBRADO

Implementada através da Prefeitura de Salvador, a Galeria Mercado será inaugurada no final da tarde desta quarta-feira (10). De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), que gerencia o espaço, a visitação do público será liberada a partir das sexta-feira (12), com metade dos ingressos liberados online e o restante para permissionários do Mercado Modelo.

 

A curadora da galeria explicou ao BN Hall que a escolha dos artistas foi feita baseada na “tensão entre arte dita enquanto erudita e dita enquanto arte popular”, envolvendo também a relação espiritual. Durante a conversa, ela também comentou sobre a atual “fama” do equipamento, destacando o empenho em transformar essa perspectiva.

 

“No subsolo do Mercado a gente tem um grande desafio de ressignificar o espaço. Uma vez que existe uma lenda urbana de que aquele lugar é amaldiçoado, que teve como destino armazenar os povos escravizados e que esses povos seriam torturados, acorrentados e ficariam ali para morrer afogados. Essa lenda urbana acabou trazendo uma dimensão muito negativa”, explicou Darzé. “A gente tenta a todo tempo ressignificar esse espaço porque através de dados historiográficos a gente sabe que isso não é verdade. O subsolo sempre teve seu destino para ser um armazém de vinhos, mas por um erro de cálculo virou simplesmente um lugar alagado e através de dados de datas, o prédio da alfândega é de 1860, 21 anos após o fim do tráfico negreiro”, justificou.

 

Além da obra de Vinicius S.A, o trabalho de Mário Cravo Júnior, Rubem Valentim, Zé Eugênio e as exposições fotográficas de Arlete Soares, Amanda Tropicana, Studio Gonçalves, Joe J. Heydecker, Lázaro Tôrres, Marcel Gautherot, Pierre Verger e Uiler Costa Santos farão parte do acervo.

 

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