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Entrevista

Elisangela Araújo faz balanço do primeiro ano à frente da SPM e fala sobre ações de combate da violência contra a mulher

Por Gabriel Lopes

Foto: Divulgação / SPM

Prestes a completar um ano no comando da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Estado da Bahia, Elisangela Araújo avalia que 2023 foi marcado pela elaboração de políticas e programas para o enfrentamento e prevenção de violências contras as mulheres no âmbito estadual. Ao Bahia Notícias, em um bate-papo de balanço sobre as ações da SPM ao longo do primeiro ano de mandato de Jerônimo Rodrigues (PT), ela destaca ainda o processo de autonomia econômica e ações no setor do mercado de trabalho para as mulheres.

 

"Está sendo bastante positivo nós tivemos um ano importante de discussão, de disputa nos vários segmentos, de elaboração de várias políticas e programas importantes no que diz respeito ao enfrentamento, a prevenção as violências contra as mulheres e também sobre a questão da autonomia econômica, inclusão socioprodutiva. Estamos também em um diálogo com relação a vida das mulheres construindo alguns programas e ações no mundo do trabalho, uma infinidade de programas e políticas, fruto de todo o processo de escuta com a sociedade", disse durante a entrevista.

 

A secretária também comentou a campanha de certificação do Selo Lilás, que segue com inscrições abertas até o final de dezembro. A iniciativa funciona como uma ferramenta para incentivar o compromisso e engajamento das empresas na construção de um ambiente mais seguro, acolhedor e que valorize a contribuição das mulheres. O objetivo é eliminar todas as formas de discriminação de gênero.

 

"Essa certificação traz uma oportunidade para que empresas invistam na qualificação, para que as empresas façam um processo de sensibilização dentro da empresa em todos os setores para que os colaboradores compreendam o respeito entre eles das relações de gênero no respeito dentro da empresa. A gente acredita que se a gente traz um ambiente de trabalho sem violência, sem assédio, um ambiente de trabalho de respeito e também de investimento de oportunidade na qualificação dessas mulheres, ela vai ter um impacto muito positivo tanto para a empresa com sua produtividade, como também para essa mulher na sua vida como um todo", comenta a titular da SPM.

 

PERFIL DA SECRETÁRIA

Elisangela Araújo é uma agricultora familiar nascida em Valente, região do sisal baiano. Iniciou sua militância nas comunidades de base rurais ligadas à Teologia da Libertação da Igreja Católica, onde se aproximou do Partido dos Trabalhadores (PT).

 

Em 2014, fez sua primeira candidatura à Câmara dos Deputados, recebendo mais de 31 mil votos. Em 2018, se candidatou novamente, obtendo pouco mais de 64 mil votos. A votação, entretanto, não foi suficiente para torná-la deputada federal. Quatro anos depois, em 2022, ela voltou a tentar uma cadeira no Congresso, superando 73 mil votos, e ficou na suplência da federação Brasil da Esperança, composto por PT, PCdoB e PV.

 

Confira a entrevista na íntegra abaixo:

 

Primeiro eu gostaria que a senhora fizesse um balanço desse primeiro ano da gestão do governador Jerônimo Rodrigues e como está sendo a experiência na SPM.

Está sendo bastante positivo nós tivemos um ano importante de discussão, de disputa nos vários segmentos, de elaboração de várias políticas e programas importantes no que diz respeito ao enfrentamento, a prevenção as violências contra as mulheres e também sobre a questão da autonomia econômica, inclusão socioprodutiva. Estamos também em um diálogo com relação a vida das mulheres construindo alguns programas e ações no mundo do trabalho, uma infinidade de programas e políticas, fruto de todo o processo de escuta com a sociedade. O primeiro ano de governo onde a gente também faz uma avaliação positiva por essa relação da conexão da integração da política com o governo federal, com o governo Lula para política pública para as mulheres tem sido muito importante essa reinstalação do Ministério das Mulheres, da construção da política de forma integrada, de forma institucional. E no governo como um todo acho que o governador Jerônimo tem conseguido avançar numa perspectiva de enfrentar os grandes desafios da gestão com relação a saúde, educação, busca de oportunidades de geração de renda pra diminuir esse índice de desemprego e de vulnerabilidade das pessoas. Programas também como Bahia Sem Fome, investimento na produção da agricultura familiar, descentralização do investimento industrial, de novas perspectivas. A gente acredita que o próximo ano a gente vai conseguir avançar muito mais, porque esse ano foi um ano de reorganização, de reestruturação, mas também de iniciativas importantíssima no que diz respeito à Bahia avançar cada vez mais numa perspectiva de desenvolvimento econômico sustentável para toda a população em todos os seguimentos da sociedade.

 

Secretária, para falar do Selo Lilás. As inscrições para as empresas seguem até o final do mês de dezembro e queria que a senhora comentasse esse fomento, incentivo, para a construção de um ambiente mais acolhedor e que valorize as mulheres no âmbito das empresas.

A iniciativa do Selo Lilás, que é um projeto de lei de autoria da deputada estadual Neuza Cadore, uma proposta que vem há dois anos na Assembleia Legislativa e quando a gente chegou aqui, procurou de fato viabilizar, tornar uma política, um programa importante porque as violências, abusos e assédios no mundo do trabalho são constantes. E tem um outro fator também que a questão da saúde das mulheres tem sido um impacto significativo na vida das mulheres no ambiente de trabalho. Todas nós mulheres estamos no ambiente de trabalho: no serviço público, na indústria, no comércio em todos os setores produtivos e econômicos da sociedade nós mulheres estamos inseridas, somos mais de cinquenta e dois por cento da população e se a gente já tem uma dupla, tripla jornada de trabalho, nós temos uma sociedade um tanto patriarcal, uma sociedade ainda com machismo muito forte nas relações de gênero como um todo na sociedade, nas relações com as mulheres. E no ambiente de trabalhos se a mulher não tem uma oportunidade e esses assédios, importunos, violências acontecem, isso traz vários impactos negativos para a vida da mulher. Saúde física, da saúde mental, no seu desenvolvimento profissional. Então essa certificação traz uma oportunidade para que empresas invistam na qualificação, para que as empresas façam um processo de sensibilização dentro da empresa em todos os setores para que os colaboradores compreendam o respeito entre eles das relações de gênero no respeito dentro da empresa. É também uma certificação que traz uma oportunidade para essa empresa impor boas práticas de capacitação, de promoção para essas mulheres no ambiente de trabalho. A gente acredita que se a gente traz um ambiente de trabalho sem violência, sem assédio, um ambiente de trabalho de respeito e também de investimento de oportunidade na qualificação dessas mulheres, ela vai ter um impacto muito positivo tanto para a empresa com sua produtividade, como também para essa mulher na sua vida como um todo, da sua saúde, nas suas relações também de família, em casa ela vai chegar menos estressada, ela vai chegar mais cansada, com uma condição de olhar para os seus filhos, para sua casa, para sua vida, em uma outra perspectiva. É uma grandiosa oportunidade para que a gente possa ter um ambiente de menos violência e de respeito na sociedade como um todo partindo do ambiente de trabalho.

 

No ano passado, o Brasil bateu recorde de feminicídios, com uma mulher morta a cada 6 horas. E em um estado que é líder no número e ocorrências de violência. Dentro dessa realidade Bahia, como está o monitoramento da secretaria em relação à isso? E como podemos construir juntos, enquanto sociedade, uma solução?

Essa é uma grande preocupação. Essa é uma estatística que a gente não quer ter, ser o primeiro lugar em feminicídio na região Nordeste, é uma estatística muito ruim. Estamos fazendo de todas as ações, tanto das questões de enfrentamento, de combate imediato para o que já está acontecendo. Estive em Jacobina junto com a Secretaria de Segurança Pública, a Polícia Civil inaugurando um núcleo de atendimento especializado as mulheres. E a gente está investindo nessa questão da segurança do espaço para denúncia, para punição dos agressores, também em um processo educativo de atividades com esses agressores. Temos hoje várias campanhas em curso. Uma campanha "Se você não fala a violência não para", para que as pessoas saibam denunciar, como denunciar, quais são as violências. Nós estamos investindo muito em um programa "Oxe, me respeite" nas escolas porque a gente precisa trabalhar essa perspectiva da prevenção. 77% das violências são domésticas. A gente precisa chegar as famílias e na sociedade como um todo. Precisamos compreender que a relação é de respeito, a relação precisa ter uma equidade, tratar todas as questões da diferença, do conhecimento e na escola é o melhor lugar. Nós estamos iniciando com as escolas estaduais mas vamos trabalhar com as escolas também com a rede municipal. Estamos na rede estadual com as universidades que já estão dialogando a parceria e com o setor privado. Então o investimento na educação é fundamental. Estamos com parceria também com os meios de comunicação, com a mídia, tudo que for possível para dialogar de fato com a sociedade nesse sentido, enfrentar esse esse problema estrutural na sociedade brasileira.

 

Falando um pouco de Salvador, que merece também uma atenção especial por ser a capital e maior cidade do Estado. A senhora tem mantido um diálogo contínuo com a secretaria de Políticas para Mulheres, na figura da secretária Fernanda Lordello, para alinhamento de estratégias aqui em Salvador?

Com certeza. Nós vamos no dia 14, se tudo der certo, inaugurar a Casa da Mulher Brasileira. Tem uma participação, recursos do governo federal, com a prefeitura municipal, com o governo do estado e com todas as outras instituições da rede. Nós vamos fazer uma gestão compartilhada dessa Casa juntos. Dialogo sempre com ela, estamos em vários espaços comuns de debates e de ações políticas e de programas com relação a questão do enfrentamento e prevenção de violência contra as mulheres. E assim, o que importa nesse momento quando a gente vem para o espaço da gestão pública o palanque já foi, o palanque acontece durante as eleições, as disputas partidárias. Aqui a gente tem que atender a todos e todas. Nós estamos fazendo políticas e programas e atendendo a sociedade como um todo. Então o diálogo ele é institucional tem que ser institucional e respeitoso, tem que ser suprapartidário. O importante é a gente atender a população. O importante é a gente ter políticas públicas para as mulheres de todos os segmentos da nossa sociedade baiana e somar as forças que a gente tem, tanto o município, governo estadual e governo federal e a sociedade como um todo para vencer esses grandes desafios, grandes problemas estruturais que temos na sociedade brasileira e baiana.

 

Recentemente vocês lançaram em parceria com o Detran a campanha "Elas à frente no trânsito" contra a importunação sexual nesse ambiente e há muitos registros também nos transportes públicos. É uma ação de conscientização, mas há ações práticas para coibir isso?

Nós temos as ações de sensibilização, nós temos os vídeos de campanha que estão na mídia como um todo. Vamos continuar fazendo a blitz educativa que fizemos na última semana na [Avenida] Paralela. Vamos continuar fazendo nas demais cidades, vamos para Feira de Santana, Vitória da Conquista, Valença. Esse ano ainda vamos realizar mais duas blitz, vamos para Lauro de Freitas. Tem a capacitação para os agentes que trabalham no trânsito, a gente faz essa capacitação de como abordar. A gente disponibiliza a informação dos canais de denúncia que se a pessoa for vítima de uma violência, de importuno ou assédio, a mulher pode denunciar com o canal 180 que é um canal nacional de informação. Aqui na Bahia o 190 e a gente está junto com toda a rede também. É uma campanha conduzida pelo Detran e a SPM, uma campanha de governo mas com todas as parcerias para que a gente possa avançar. Também vamos trabalhar nesse verão com os festejos populares que estão acontecendo vamos estar lá fazendo essas sensibilização e entrega de materiais impresso para que a gente possa ter no ambiente do trânsito um ambiente de paz e de respeito acima de tudo.

 

Sobre o Encontro Estadual de Mulheres Rurais, programado para começar nesta semana, qual é o panorama de discussões para esse evento?

Esse encontro é importantíssimo. A gente tem realizado ele durante esses anos com a feira estadual da agricultura familiar e economia solidária. É o encontro onde a gente reúne mulheres dos diversos segmentos do campo, mulheres da agricultura familiar, pescadoras, indígenas e quilombola. É um encontro fantástico onde a gente tem a oportunidade de trazer informações das políticas. Acima de tudo essas mulheres que vem de representações desses segmentos, de organizações, cooperativas, associações, sindicatos. Então nós vamos fazer esse momento de escuta, de apresentação das políticas, de trazer as experiências que elas estão desenvolvendo. E é um encontro que norteia as ações. E aqui a SPM no que diz respeito a elaboração de programas e políticas no próximo ano. Eu acredito que a gente vai chegar a quase 200 mulheres participando diretamente desse encontro.

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