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Entrevistas

Entrevista

Com visão de atleta e coach, Marcos Santos fala dos planos ao assumir a presidência da Federação Baiana de Fisiculturismo

Por Leandro Aragão

Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias

No final do ano passado, o então vice-presidente da Federação Baiana de Fisiculturismo (IFBB-BA), Marcos Santos, recebeu a notícia de que Marília Sassi estava de saída do cargo de presidente. A conversa com a própria Marília foi ganhando forma de uma espécie de "bomba" quando ela propôs que ele assumisse a vaga. Se desdobrando entre a função de vice, atleta da modalidade, personal trainer e pai de família, não estava nos planos de Marcão ganhar mais uma função naquele momento. Porém, após parar para refletir, resolveu "pular de cabeça" para retribuir tudo o que o esporte lhe deu. "Se chegou ao meu colo, é porque tenho condições de dar conta". Foi com esse pensamento que ele, aos 42 anos, aceitou o desafio.

 

Em visita à redação do Bahia Notícias, o novo presidente da IFBB-BA falou um pouco dos seus planos para o mandato que terá duração de três anos. Com olhar de atleta e treinador pretende melhorar a vida dos associados, principalmente em relação aos campeonatos e eventos, além de desenvolver mais o esporte, que se tornou olímpico e fez parte da programação dos Jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima, no Peru.

 

Você foi vice-presidente na diretoria anterior, teve a eleição e chegou à presidência da IFBB-BA. Como é que foi esse processo?

Antes eu era apenas atleta, mas mesmo assim já tinha participação atuante em ajudar a federação a achar local para pesagem, organizar espaço para realizar os eventos, patrocínios para alguns alunos meus, porque sou educador físico também. Sempre estava participando de forma ativa dentro da federação mesmo como atleta. Foi quando surgiu a eleição da antiga presidente Marília Sassi, que me convidou para ser vice-presidente dela e eu aceitei a proposta. Realizamos o campeonato no ano passado, conseguimos alguns apoios bacanas com o governo do estado. Ela não tinha mais condições de continuar na presidência por motivos pessoais, problemas familiares que precisava resolver e também por novos projetos na vida dela. Aí ela me fez o convite para que eu continuasse como presidente após a saída dela. De início, não era o que eu queria, por conta de ser atleta, ficaria difícil de conciliar a vida de atleta, personal trainer, pai de família com a de presidente, fica muita demanda para pouco tempo do nosso dia. Mas pensei direitinho e vi que tinha aquela retribuição pela gratidão que tenho pelo esporte. É hora de retribuir tudo que o esporte fez na minha vida de positivo. Então aceitei, pulei de cabeça, reuni uma nova equipe para poder direcionar melhor os eventos. Tem o Campeonato Baiano agora em junho e estamos na correria para organizar o campeonato. Aceitei essa missão. Se chegou ao meu colo, é porque tenho condições de dar conta.

 

Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias

 

Como você falou que vai tentar retribuir o que o esporte fez por você até hoje, quais são suas ideias para retribuir isso?

Dentro do esporte tem sempre aquela chateação, aquela mágoa de quem vive os bastidores do esporte. O atleta não tinha aquele reconhecimento que ele deveria ter, sendo a principal atração do evento. O atleta é quem faz o show, se não tem atleta não tem campeonato, não tem festa e nem show para o público. Então, existem algumas queixas do atleta em relação a estrutura em si que é oferecida para que eles participem do campeonato. Tenho alguns projetos onde a ideia é que a gente consiga apoio suficiente do Governo do Estado, da Prefeitura e dos empresários para que esse atleta tenha que pagar para competir. Porque a realidade do esporte amador hoje é essa, ele paga para competir. E o público que vai assistir esses campeonatos, também não deveria pagar para participar e nem para prestigiar o atleta. Deveria ser algo beneficente. Entrar com um quilo de alimento, fraldas, coisas do tipo. Para que a gente possa fazer uma campanha de doação do esporte para várias instituições que têm e precisam desses mantimentos. Essa seria a ideia, que o atleta não precisasse pagar para competir e que o público pudesse, com sua família, ver o campeonato, porque é algo grandioso e mágico. Só quem participa e assiste um campeonato de fisiculturismo, consegue perceber como está além de corpos fortes e malhados, como dizem. Tem todo um projeto também social que a gente pode estar desenvolvendo, não só para o fisiculturismo, como também para outros esportes. O esporte transforma a vida de um indivíduo, não tem como não transformar. Eu sou a prova viva disso.


Você fala dos atletas pagarem para competir em relação a inscrição, não é isso?

Isso, da inscrição. Ele já paga a filiação normal à federação. Ainda assim tem que pagar para subir em cada campeonato que vá. A federação precisa dessa verba para viabilizar o aluguel do espaço, toda a estrutura que a gente tem para poder fazer o campeonato, a gente entende que a federação precisa dessa verba. Porém era bom que os governantes, que têm verba para isso, financiassem e patrocinassem os eventos esportivos. Só que a gente ter acesso a essa verba, hoje eu vejo como presidente, como é difícil, como é burocrático isso acontecer, entendeu? Por conta disso as federações acabam cobrando a inscrição do atleta para poder realizar um campeonato onde ele vai ser a atração principal. Imagine, Ivete Sangalo, Bell Marques terem que pagar para tocar, entendeu? É bem desse jeito.

 

Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias

 

Sim, agora nessa questão também da parte financeira, o que eu converso com atletas que disputam campeonatos é que a preparação é muito cara, mas a premiação, o retorno ao conquistarem um título é muito baixo. Muitos deles, às vezes, decidem não competir mais por causa disso. Quais são as suas ideias para melhorar essa questão?

Eu tenho buscado cada vez mais apoio de empresas privadas e de governo. Eu tenho uma reunião logo mais com o pessoal da Setur [Secretaria de Turismo] para poder promover o turismo através do esporte dentro do estado. Quanto mais apoio a gente tiver, vamos conseguir fazer uma premiação melhor aos atletas. Mas essa premiação não pode ser em dinheiro, porque se trata de esporte amador. E no caso do esporte amador, ele não pode receber premiação em dinheiro pode fazer premiação em dinheiro. Eles podem receber premiação em televisão, motocicleta, coisas assim. Mas em verba, dinheiro na mão do atleta, infelizmente é lei no Brasil e o esporte amador infelizmente ele não pode ser premiado em dinheiro. Principalmente se tratando de esportes olímpicos, é que não pode mesmo. O nome diz, esporte amador, tem que ser realmente por amor ao esporte. Realmente, quando o atleta não consegue entender isso, ele chega no campeonato e ganha, ele vai ganhar um troféu, uma medalha e um pote de suplemento. Um pote de suplemento ele vai gastar em duas semanas de preparação. Então não paga nem um terço do que ele investe para poder chegar no palco com um físico competitivo. Então, até ele virar profissional e poder receber como atleta profissional que recebe dinheiro, os top 5 de cada categoria que for premiado ali, vai receber uma quantia em dinheiro, mas o atleta amador infelizmente dentro do nosso Brasil, não podemos fazer pagamento em dinheiro.

 

E conseguir um patrocinador para que ele dê um ano de patrocínio ao campeão?

Pronto! É isso que a gente tem buscado. Vai ter uma bolsa na academia durante o ano, vai ganhar uma televisão, uma moto ou vai ganhar a suplementação do ano, né? Esse é o apoio que a gente precisa buscar.


Então, quando você era atleta já vinha ajudando a federação. Como é que você recebeu a missão de última hora, quando Marília Sasse falou para você assumir, o que você pensou?

A gente fez uma reunião com a Confederação Brasileira de Fisiculturismo, com a Federação Baiana e ela falou que não tinha mais condições de continuar como presidente. Foi logo antes do Natal e até então também fiquei preocupado, porque não fazia parte dos meus planos assumir agora como presidente. Eu tinha outros planos, com competições e outros eventos que eu tenho para fazer. Aí fui pego de surpresa, né? Mas conversando com todos os outros membros da federação, os conselheiros e a presidente da Confederação Brasileira, eles conseguiram, né? Eu deixei claro que assumiria a posição de presidente, mas desde que todo mundo participasse, porque uma andorinha só não faz verão. Então, todos da equipe se mostraram muito muito prestativos. Eles têm sido também muito prestativos, uma equipe cada vez mais unida. Nunca esteve tão próxima a federação toda, conselheiros, árbitros, dirigentes, sempre estão muito próximos, alinhando todo o pensamento, com relação a promover o melhor evento e está tendo um maior cuidado agora com o atleta, contato direto através do WhatsApp para poder ter essa aproximação que não existia. Existia a presidência, o atleta. Não é para ser assim. É para gente estar cada vez mais próximo, escute o atleta, melhore cada vez mais os eventos. Dê uma estrutura melhor para o atleta dentro do evento e até fora do evento também. Eu consegui um médico para poder acompanhar os atletas, independente da época do ano desde que seja atleta da federação. A gente vai ter um médico que é o mesmo médico que me acompanha há mais de anos, Dr. Pedro. Ele vai estar acompanhando também os atletas na federação. Nutricionista também, conseguimos a doutora Girlane Oliveira, que também vai estar acompanhando. Então vamos buscar ao máximo dar o suporte ao atleta da federação, sem precisar ter um custo para o atleta. Sem precisar ele ter que buscar, "Poxa, vai precisar fazer exame médico ou pagar uma consulta". Então, vamos procurar ao máximo fazer de tudo para conseguir parceiros para que diminua o custo dele na preparação até o campeonato. O máximo que a gente puder fazer, vamos fazer.

 

Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias 

 

Você fala muito dos eventos, das competições, dos atletas já estabelecidos. Seguindo essa linha, você tem alguma ideia de captar novos atletas? Tem muita gente na academia que começa a treinar, aí vai treinando um pouquinho mais pesado, vê resultado e resolve subir no palco.

Hoje a gente conseguiu um espaço, né? Como o esporte olímpico, antigamente era visto como estilo de vida, né? O fisiculturismo hoje se tornou esporte olímpico, então vamos poder representar o Brasil nas Olimpíadas, nos Jogos Pan-Americano. Já começamos desde 2019, tivemos atletas brasileiros disputando. O Brasil e o nosso estado tem uma quantidade de atletas muito grande e com um físico muito competitivo. Através do esporte olímpico, a gente consegue apoio direto com a Sudesb, com o FazAtleta. A gente tem um meio de conseguir verba para que esses atletas tenham interesse de participar. Ele participando como atleta olímpico, ele tem um pagamento mensal para se preparar. A ideia é trazer essa visão para as pessoas, porque muita gente não sabe que hoje em dia o fisiculturismo se tornou um esporte olímpico. Pensam que é só o boxe, futebol, entre outros. Mas não, o fisiculturismo também está entre os esportes olímpicos. E a gente tem esse projeto de ampliar ainda mais essa essa situação para que a gente consiga fazer uma equipe baiana, para junto com a equipe brasileira disputar as Olimpíadas e os Jogos Pan-Americanos.

 

E como vai ser essa a classificação para os Jogos Olímpicos ou Pan-Americanos?

Ele passa primeiro pelo Campeonato Baiano, fica entre os top 3. Vai para o Brasileiro e também se classifica entre os três. Depois tem o Sul-Americano e ele se classifica entre o top 3. Aí temos categorias específicas para disputar as Olimpíadas. Categoria Bikini Fitness na feminina, temos a Games Classic na categoria masculina e a Men 's Physique também na categoria masculina. Aí os campeões, quem tiver o melhor destaque dentro desse cenário de competições, será convocado pela Confederação Brasileira de Fisiculturismo para fazer parte da equipe brasileira para disputar. Eles serão selecionados nas seletivas.

 

Como é que foi para a comunidade do fisiculturismo saber que o esporte dela se tornou olímpico?

Foi meio que 50% positivo, 50% negativo. Porque a gente olha o fisiculturismo e a primeira coisa que a pessoa acha que para ter um físico daquele tamanho tem que usar um monte de esteroides anabolizantes e tal. Dentro do esporte olímpico você precisa fazer exames antidoping, né? E no fisiculturismo já há muito tempo a gente faz exames antidoping no Brasileiro e no Sul-Americano justamente para conseguir espaço como esporte olímpico. Então muita gente, alguns treinadores e alguns atletas não queriam que fosse justamente por causa do uso de esteróides. Mas tem como a gente ter um acompanhamento médico, usando hormônios bioidênticos para que a gente consiga ter uma melhor performance física. Em todos os esportes, independente da modalidade, precisa de uma performance física melhor do que de um indivíduo normal, que não pratica esporte físico competitivo. Então, tem que ter um acompanhamento médico para que isso aconteça. Esse acompanhamento médico encarece a preparação do atleta amador. Por isso que eu busquei essa parceria com um médico, justamente para facilitar isso. Para que consiga organizar o protocolo do atleta para que ele faça o exame antidoping e não seja pego no antidoping e nem tenha nenhum tipo de substância proibida. Tem um mundo de substâncias proibidas no antidoping em relação ao atleta. Então, conseguimos esse apoio para ficar mais fácil. Então muitos atletas não concordaram com a ideia de virar esporte olímpico e outros sim, porque conseguem entender a grandiosidade e visibilidade que o esporte vai ter como esporte olímpico. E o número de pessoas que não vem para o esporte, porque tem a visão marginalizada de que o esporte é feito do uso de esteróides anabolizantes, onde não é bem assim. Mas muitas pessoas ainda tem essa imagem quando vê um cara forte, quando vê um atleta e esquece que sem um bom treinamento, sem alimentação apropriada, sem um bom descanso, nada que use vai dar o resultado ao atleta. Muito pelo contrário, vai destruir a saúde do atleta e nem vai ter vida útil para poder competir. Então, tem todo um contexto em volta. Quando falou que ia virar esporte olímpico, porque já vinha há muito tempo essa tentativa, foi um divisor de águas dentro do esporte muito grande. Alguns atletas concordam, outros não concordam e fica essa balança. Só que eles tem que começar a entender que a visibilidade para o esporte é absurda, os benefícios que eles vão ter. Eles só vão conseguir o Bolsa Atleta, o FazAtleta, apoio da Sudesb justamente por ter se tornado esporte olímpico. Antes, os incentivos financeiros do governo federal, estadual e prefeitura nunca iriam chegar ao esporte. A gente ia continuar sendo apenas 1% da população mundial que, graças a Deus, não mais, porque hoje cresceu bastante. Antes eles não conseguiam entrar para o FazAtleta, podia fazer o que fosse. Era muito difícil conseguir essa bolsa, justamente por não ser esporte olímpico. É a primeira negativa que que era essa: "Ah, vocês não fazem parte do quadro de esporte olímpico". Para conseguir uma verba na Sudesb: "Vocês não fazem parte parte do quadro de esporte olímpico". A gente é a única federação ligada ao Comitê Olímpico do Brasil (COB). Foi maravilhoso para o nosso esporte.

 

No FazAtleta tem aquelas categorias de benefício por ranking cada ranking...

Isso! Cada ranking vai ter uma bolsa melhor. O valor da bolsa só aumenta.

 

Como são essas divisões?

Você é atleta estadual e nacional, aí recebe um valor da bolsa. Atleta internacional recebe o teto máximo da bolsa, porque tem o custo da viagem internacional, sua equipe que vai viajar com você. A gente organiza todo um projeto anual para o atleta e dentro dele classificamos se vai competir o regional, o nacional, os internacionais que vão ter durante o ano. Montamos o projeto e mandamos para o FazAtleta. Infelizmente precisamos de uma empresa para poder financiar 80% desse valor, né? É do governo do estado que ele reduz o ICMS das empresas e 20% a empresa coloca do próprio bolso, né? A gente depende dessa empresa para poder direcionar essa verba. Seria bom se fosse algo direto para o atleta, mas infelizmente não. Só o Bolsa Atleta, que é do governo federal, que é direto para o atleta, não depende da empresa. Mas primeiro ele precisa ser atleta ranqueado internacionalmente para poder conseguir o Bolsa Atleta.

 

Em 2018, fizemos uma matéria mostrando a rixa entre a IFBB e a National Physique Committee (NPC). Gostaria de saber sua visão desse racha. Entrevistando alguns dos seus atletas, eles disseram que você era contra isso. Como presidente da IFBB-BA tem alguma ideia de como contornar essa situação?

Essa união das federações existia há muito tempo atrás, mas acabou justamente por ter se tornado esporte olímpico. A NPC é uma liga e a IFBB é uma federação, se juntaram como um corpo só. Só que quando se tornou esporte olímpico, o dono da NPC nunca concordou com isso, porque ele percebeu que iria perder uma fatia desse bolo da parte financeira. Por causa de interesses financeiros ele decidiu sair da IFBB e seguir sozinho com a NPC. Daí toda a separação e foi no mundo inteiro isso. Eu acho que isso só enfraquece nosso esporte, porque alguns atletas ficaram na IFBB, outros voltaram para a Nabba (Associação Nacional de Fisiculturistas Amadores, em português) e outros com a NPC. A única forma de unir isso seria organizar os calendários com competições próximas tanto da NPC quanto da IFBB para que o atleta pudesse competir nas duas, sem ter nenhum tipo de punição ou penalidade. Acho que seria a única forma de fazer isso. Porque unir novamente acho muito improvável para uma coisa que aconteceu a nível mundial, por conta de questões financeiras. Eles não se preocuparam com o esporte. Virou esporte olímpico, quais são os benefícios que vai ter e eles não se preocuparam com isso, só com a parte financeira dele, que é empresário. Porém, Santorra, da IFBB mundial, se preocupou com o esporte. Porque ele lutou até o fim para virar esporte olímpico. Quando o fisiculturismo foi criado, foi pensando em virar esporte olímpico um dia. Graças a Deus, foi realizado o sonho de quem criou. Mas o empresariado pensa diferente, não está preocupado com o sonho de quem criou algo, está preocupado em lucrar apenas. Hoje Bruna Miyagui é a responsável pela NPC aqui na Bahia, muito minha amiga e fiquei responsável pela Federação Baiana. Vamos alinhar os calendários, os eventos e até a parte da premiação vamos ver se a gente consegue premiar de forma grandiosa todos os eventos que vão acontecer aqui dentro [da Bahia], para que atraia atletas de outros estados virem competir aqui em Salvador, na Bahia. Quanto mais alinhados a gente estiver com relação a premiar o atleta de forma melhor, organizar eventos maiores aqui dentro, promover feiras fitness através da IFBB ou da liga NPC. Antigamente a gente tinha a Fitness Brasil que a IFBB trazia, mas acabou. Aí vai ter o ISA em São Paulo, que é uma feira grandiosa na América Latina, mas não vem para Salvador. Temos o centro de convenções agora depois de um tempo sem, e podemos fazer grandes feiras aqui, mas se tiver essa parceria. Tanto ela pode organizar as feiras com o apoio da IFBB, nem que seja um apoio indireto, mas que o atleta seja o beneficiado. Para um atleta competir hoje tem que pagar R$ 700. É um absurdo isso. Muita gente que é fisiculturista vem de classe média, vem de gente que não tem condição financeira bacana. Paga o almoço ou faz dieta, ou compra Whey ou compra carne. A maioria tem filhos, tem família, tem todo um custo envolvido. Aí vai competir e tem que pagar inscrição de R$ 500, 600, 700. É surreal. Ainda mais quando tem viagem, passagem aérea cara, hospedagem, tudo isso. A federação brasileira sempre consegue alojamentos quando os atletas vão viajar. Quando eu viajava para fora do país pela IFBB Elite Pro, eles davam alojamento. Tudo isso reduz o custo absurdamente. A gente quer fazer alguma coisa com a federação regional, para conseguir os apoios necessários. O atleta vai viajar para disputar o Brasileiro em São Paulo agora em agosto, e aí onde ele vai ficar?

 

Você é atleta e treinador...

Agora como presidente da federação não vou mais poder preparar atleta.

 

Era justamente isso que ia perguntar.

Já não vou mais poder preparar atletas, porque termina influenciando de alguma forma e para evitar que tenha peso na consciência dos árbitros, por mais que a gente confie neles, é melhor que não aconteça isso para não ter nenhum tipo de influência. Então, não preparo mais atletas. Posso treinar como personal trainer, mas preparar como coach, não posso mais.

 

Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias

 

Na questão do fisiculturismo entrar como esporte olímpico, onde 50% dos atletas e treinadores aprovaram e os outros 50% não, por causa dos exames antidoping. Como é essa relação entre saúde e o uso de anabolizantes, que sabemos que é prejudicial?

Quando o atleta tem um médico acompanhando, toda dosagem que ele vai fazer, o tanto de proteína que ingere na dieta, o quanto de hormônio que vai precisar utilizar, porque está deficiente. Todo esse trabalho é acompanhado pelo médico. Então, o atleta faz uma bateria de exames antes de fazer a preparação para o médico do esporte direcionar: "Olhe, não coma mais proteína. Se tem muito carboidrato e se aumentar isso pode desenvolver uma pré-diabetes e diabetes". Tudo isso com o consumo do alimento, não é por causa do hormônio ou algo do tipo não. Tudo precisa de um acompanhamento médico. O que acontece em relação ao esporte é que as pessoas procuram entrar no esporte, fazem tudo que um atleta está fazendo sem antes passar por um médico. Então, vira uma bomba relógio. Ele pode desenvolver diabetes e não sabe por quê. Pode ter um AVC e não sabe por quê. Pode ter um problema cardíaco... Então, tem todo um cuidado que o atleta tem que ter, porque senão ele não dura. Compra tudo [anabolizantes], o colega dele está usando, está comendo, copia a dieta do colega. Então assim, precisa ter um nutricionista, precisa ter um médico do esporte, precisa do coach para direcionar com relação à categoria. Todo esporte de alto rendimento, infelizmente não tem como ser 100% saudável. O treinamento é além do que uma pessoa normal é capacitada a fazer, o descanso, tudo é diferente. Não tem como comparar. O cara que vai jogar tênis no final de semana, não vai comparar com um tenista profissional. Guga teve várias cirurgias, porque ele sabia que para ser um atleta competitivo de alto rendimento, vai ter que correr esse risco. No fisiculturismo, para que você diminua o risco, tem que ter o médico ali colado com você. Porque você ingere mais proteína do que o normal, deveria ingerir 2 kg para uma pessoa normal ter hipertrofia. Um atleta come mais do que 2 kg de proteína por peso corporal. Até a ingestão proteica do atleta é superior ao que uma pessoa normal deveria fazer. Então, o que ele tem que fazer para não sobrecarregar o fígado e os rins? Porque vai haver uma sobrecarga. Então, o médico vai direcionar para que não sobrecarregue. Problema cardíaco, se tiver um abuso de hormônio, vai hipertrofiar o coração. Vários atletas já morreram por problema no coração, porque não teve o acompanhamento médico devido e tem que ter. Se o cara resolver entrar no fisiculturismo ou qualquer outro esporte de alto rendimento, vai precisar de acompanhamento médico para saber se vai suportar o treino. No fisiculturismo, se o cara não tiver uma recuperação boa do treino que ele faz ou devido às competições para voltar a competir de novo no ano, três ou quatro vezes, ele não aguenta. Precisa mais do que nunca procurar um médico do esporte que viva o esporte para poder ver se ele pode ou não seguir no esporte. É a primeira coisa que eu digo. E nada de copiar o que o amigo está fazendo, tomando 10g de proteína... Esqueça! Pegar dieta na internet, olhar o que blogueiro está fazendo, esqueça! Ali, alguém prescreveu para ele. Quando eu posto meus treinos, não falo o que estou fazendo. Já evito, porque a galera quer copiar o treino que estou fazendo achando que vai ficar igual. É horrível isso. Infelizmente a rede social veio com esse poder, tem o lado bom e o lado ruim. As pessoas querem copiar tudo o que vê. Antes de qualquer esporte tem que procurar um médico para ver articulações, porque senão vai se machucar. Tem que ter um profissional acompanhando, um coach para se preparar para saltar. O fisiculturismo não é diferente. Com relação a essa divisão, foi justamente por ter muitos atletas que acham que não precisam passar pelo médico. Só o que o coach disser, o que o amigo faz está valendo, está ficando grande, mas não é só ficar grande. É que fique forte, grande de forma saudável. O cara quer ter filhos, quer ver os netos e como é que faz?

 

No fisiculturismo também tem a questão das poses, que contam nas disputas dos campeonatos.

É tudo bem ensaiado. É tão cansativo quanto os treinos. Exige um cardiorrespiratório muito grande. Até essa parte tem que ser orientada. Tem que treinar o cardio e a pose logo depois do treino para se condicionar melhor quando chegar no palco. É tudo muito complexo o fisiculturismo. E tem que ter um acompanhamento e direcionamento de alguém que entenda e viva aquilo. Porque senão, não adianta.

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