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Luis Ganem: Preciso correr léguas

Por Luis Ganem

Foto: Bahia Notícias

“Você sabe do novo buchicho da música? Não? Se você não sabe, fique tranquilo, pois, nada de novo aconteceu nem acontece desde o carnaval. Aliás, se você caro leitor e leitora percebeu, nada aconteceu de novo, nem no carnaval! – musicalmente falando, diga-se de passagem.

 

E olha que esse texto depois de passados quatro meses da festa, poderia ser uma simples redação falando da música na visão de um cara que enxerga o carnaval por um outro prisma e coisa e tal, mas infelizmente a verdade é, que mais nada aconteceu.

 

Minto, existe sim um novo fenômeno musical oriundo das redes sociais e dos tais quinze segundos; nossos artistas se tornaram literalmente digitais influencers e, vivem de dancinha nas redes sociais. Porque, fora isso, somente coisas isoladas do dia a dia, sem interferência no nosso mercado insosso e sonolento baiano.”

 

A perceber as aspas – se é que não percebeu, esse seria o começo do meu texto tentando falar um pouco da música baiana, mas, que resolvi mudar e, falar do comunicado de Ivete Sangalo anunciando o cancelamento da turnê dela em comemoração aos trinta anos de carreira.

 

De pronto, o ideal seria fazer como uma boa parte da crítica especializada fez assim que o pronunciamento foi lançado e, destilar uma série de achismos em cima do fato e da artista, apenas enquanto apontamentos ou, suscitar teorias conspiratórias para todos os lados.

 

Daí, que diante disso, resolvi esperar a “poeira baixar” para poder dar a minha visão disso tudo.

 

Obvio que o anúncio de pronto causou perplexidade quando foi feito. No mercado baiano mesmo, a conversa a “boca miúda” tomou conta das esquinas da vida, com todo mundo abismado de como uma das maiores cantoras do País, cancelou sua turnê e, mais que isso, os “porquês” disso tudo. 

 

Li tanta coisa nesse hiato do anúncio feito por ela até este momento que escrevo, que, confesso, prato cheio pra ser tendencioso e embarcar nos achismos alheios. Pra isso acontecer, era só simplesmente, começar a concordar com tudo e todos, sem discernimento algum e, dai teria essa “análise” feita e, pronta pra ser publicada.

 

Mas, tirando a paixão, bairrismo, ou qualquer outra sensação unilateral de lado, é preciso verificar que estamos falando de um sucesso crescente á trinta anos. Desde que ela cantou a primeira vez na vida, até o dia do anúncio do cancelamento da turnê, Ivete Sangalo só colecionou vitórias. 

 

Vitórias essas estampadas nas Obras fonográficas ao longo da carreira, nos projetos especiais – em quase todos, nos blocos sempre cheios brasis a fora, nos shows em sua maioria lotados, enfim, como disse acima, em quase tudo que fez.

 

Mas, como bem disse Renato Russo “o pra sempre, sempre acaba” e é preciso compreender isso, sabendo a hora de mudar de rumo, ou ao menos restabelecer critérios e planos para o futuro.

 

Algo que nunca se fala, mas é preciso colocar aqui como parâmetro para exemplos é, que a mente criativa da carreira de Ivete passou até a saída do mesmo, por Jesus Sangalo, seu irmão. Incontestavelmente as ideias mais inusitadas, geniais ou não, loucas até, surgiram nos primeiros dezessete anos da carreira de Ivete Sangalo da cabeça do seu irmão Jesus. 

 

Os grandes sucessos alcançados, a exemplo do DVD da Fonte Nova (vou contar essa história aqui em breve), o DVD do Madison (contei essa história aqui) quando ele negociou com a empresa aérea TAM (agora LATAM), às negociações com gravadora e, até com a Rede Globo, tiveram Jesus, como principal articulador e pensador.

 

Não quero com meu texto desmerecer, aos que passaram depois dele, ou aos demais membros da família, mas a figura do Gordo, com suas ideias mirabolantes, deram o tom da carreira de Ivete até sua saída, independentemente do contexto de como ela se deu e, de seus porquês.

 

Daí em diante, repetindo a fórmula deixada, foi só tirar pedido, repetindo a dosagem e, ir navegando ao sabor da maré. Não sei quem começou a pensar a partir desse marco na carreira da cantora, mas a sensação – na minha opinião, é que, quem ficou a frente das ideias foi própria Ivete, ficando os demais membros da sua equipe apenas como executores e, mais nada. 

 

A verdade é, que vimos repetidamente, ano após ano, a fórmula ser aplicada sem tirar um item, num repertório repetitivo, igual do começo ao fim, ousando muito pouco, meio que com receio de mudar a receita e entornar o caldo, sem nada fora da caixa, tudo do mesmo jeito sempre.

 

Já era comentário no mercado, a necessidade de uma mudança na carreira dela. Já se falava sobre a exaustão da fórmula proposta pela mesma e, que um: algo novo, deveria ser pensado. Algo talvez, como a chegada maior a um novo espaço do cenário musical nacional a exemplo da MPB, com incursões mais ousadas até mesmo com um fonograma completo ou um EP voltado pra isso.

 

Exemplo de artistas que viraram a chave em determinado tempo das suas carreiras não falta para exemplificar o que digo. Alguns de forma pretenciosa como Roberto Carlos e outros por força do tempo como a exemplo de Gil, histórias de mudanças não faltam. 

 

Logico, esses artistas e mais alguns que posso aqui citar, não tinham nem tem, como, mola motriz, um mercado próprio, que gira em torno de um evento anual que é o Carnaval de Salvador, uma festa única, que roda a economia de uma cidade e que vende know-how pra fora do Estado e do País até.

 

Mas, nunca é ruim rever conceitos e caminhos. Talvez esse cancelamento da turnê, venha servir pra isso, ou não. Talvez se finja que está tudo bem e que nada aconteceu ou não. Talvez minha análise esteja errada, ou não. Importante nisso tudo é a possibilidade de ser poder ver o copo com água até o meio das duas formas – ainda tem meio copo com água, ou só tem meio copo com água, e dai escolher como ver essa desistência da turnê da cantora.

 

Ivete continuará sendo a uma das maiores cantoras do País, isso é fato. Seu carisma e sua espontaneidade são únicos e seu jeito tranquilo e bastante transparente, aliado ao fato de não fugir de assuntos polêmicos, transformam qualquer dificuldade de interpretação em algo totalmente entendível.

 

Vi no vídeo o quanto ela tentou deixar leve o comunicado, sem transparecer preocupação, mas isso estava meio que evidente no seu semblante. As lições desse acontecimento já devem estar sendo analisadas por  ela, tenho certeza quase que absoluta.

 

No mais, é importante frisar que precisamos revisitar nossos conceitos e, creio, começar a caminhar para criar estrelas musicais locais, sem detrimento das que aí estão, sob pena de em mais alguns anos, vivermos exclusivamente de passado.

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