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Carnaval dos cordeiros foi defasado mesmo após reivindicações, afirma presidente do Sindicorda

Por Bianca Andrade

Foto: Sindicorda/ Divulgação

Visíveis a olho nu para quem paga pouco mais de R$ 300 em um abadá, afinal, são eles que delimitam quem fica dentro e quem fica fora do bloco, os cordeiros continuaram invisíveis aos olhos de quem deveria dar condições dignas de trabalho durante os dias oficiais do Carnaval de Salvador em 2024, mesmo com promessas e reivindicações da categoria.

 

Um balanço feito pelo presidente do Sindicato dos Cordeiros (Sindicorda), Matias Santos, apontou que algumas das promessas básicas firmadas em acordos prévios não foram cumpridas, como, por exemplo, a camisa UV e uma alimentação reforçada. Segundo Santos, os atrasos também afetaram a categoria, fazendo com que os profissionais tivessem a carga horária de trabalho dobrada, porém, o valor da diária continuou a mesma, R$ 80.

 

"Esse ano tiveram vários fatores que atingiram os cordeiros, como os atrasos, trio quebrado. Tudo isso afetou diretamente o trabalho da categoria, foi uma desorganização no circuito da Barra. O cordeiro ficou trabalhando mais de 10 horas. Tivemos relatos de cordeiros que chegaram 17h e o trio só foi sair 23h, quando saiu ainda teve o tempo do percurso, totalizando mais de 12 horas de trabalho. A gente não tem nada a ver que um trio quebrou, que faltou organização para a saída dos trios e que teve um contingente de público maior que o esperado. Quem paga isso ao cordeiro?."

 

Foto: YouTube

 

De acordo com o sindicato, cerca de 17 mil cordeiros atuaram no Carnaval de Salvador em 2024 e se dividiram entre mais de um bloco e em dois circuitos. Segundo Matias, cada bloco de grande porte, a exemplo das Muquiranas, Camaleão, Nana, contou com 1500 cordeiros.

 

"A gente tinha um valor de R$ 65 e conseguimos colocar mais um pouco em cima para chegar a R$ 80, alguns blocos pagaram um valor a mais esse ano. Mas tiveram muitos casos de cordeiros que trabalharam em dois lugares. Teve profissional que fez a corda do Algodão Doce no Campo Grande e desceu para fazer outro bloco na Barra."

 

Uma das principais reivindicações da categoria foi um ponto de apoio nos circuitos. Para o presidente do Sindicorda, se o espaço existisse já neste ano, evitaria denúncias por parte dos profissionais ao sindicato sobre falta de auxílio.

 

"Nós não tivemos atendimento do poder público, seja municipal ou estadual. Nós buscamos o ponto de apoio por saber da atenção que se tem ao ambulante, aos catadores, mas os cordeiros tomaram chuva neste ano, antes mesmo do desfile começar. E precisou fazer o percurso inteiro assim, eles ficaram na água. Quando o cordeiro sai desse trio, ele não vai para casa, fica no circuito. Onde é que ele vai descansar? Precisa ter um envolvimento maior. A alimentação também foi uma queixa dos trabalhadores. O lanche era um biscoito e um suco de caixa. Não tem como sustentar um trabalho braçal dessa forma", afirmou.

 

A cobrança passa também para os patrocinadores da festa. Neste ano, o Carnaval teve como principal patrocinador a Ambev, a festa contou também com o apoio do Aposta Ganha, 99 Moto, iFood, Mercado Pago, Zé Delivery, Guaraná e Beats. "O cordeiro faz parte do Carnaval e é um grande atrativo para os turistas, por exemplo, que procuram os blocos pela segurança que ele traz. Ninguém quer estar no Carnaval inseguro, e se pagam caro para os abadás, precisa se pagar bem para os cordeiros. É de interesse também das cervejarias, dos patrocinadores, que haja uma boa remuneração".

 

O sindicato informa ainda que alguns blocos não entregaram os EPIs necessários para o trabalho como as luvas para segurar as cordas, por exemplo. "Existiram várias irregularidades de alguns blocos que não deram luvas, saíram com corda arrastando por terem contratado 50 cordeiros para sair em um bloco com 500 associados. Isso é desumano. O cordeiro não chega no circuito e vai logo trabalhar, ele chega com duas horas de antecedência para estar preparado".

 

Foto: Rafa Mattei

 

Em casos de atrasos, a solução para Matias é de um pagamento de hora extra aos cordeiros. O sábado de Carnaval, dia em que o desfile mais atrasou, o Bloco Coruja de Ivete Sangalo estava previsto para iniciar o desfile às 17h e só deixou o Farol às 20h.

 

"Quando você me diz 'ah, os cordeiros pararam no bloco de Ivete', eles estão certos. Vai gerar hora extra aquele momento? Porque eles têm outros blocos para pegar, o cordeiro não fica exclusivo de um bloco não. O ideal seria que tivesse a cada hora passada uma porcentagem, para que o cordeiro não ficasse penalizado pelo atraso."

 

Questionado sobre a tentativa de um aumento no valor para 2025, Matias afirma que a categoria irá lutar por uma diária melhor no próximo Carnaval. O Sindicorda busca ainda que o valor de transporte não seja incluído na diária dos profissionais.

 

"Queremos um olhar social do poder público para a nossa classe. Com esse auxílio, conseguiremos organizar melhor e cuidar dos profissionais. Vamos atrás do nosso ponto de apoio, de cursos profissionalizantes e de um aumento na diária. Ficou pré-discutido com os blocos um aumento de 20% em cima desse valor de R$ 80 mais o transporte. Não iremos aceitar diária junto com o transporte, vai ter que ter o aumento para valorizar a categoria. Se não for assim, a gente não vai sair no bloco. O Carnaval não é feito de amadores."