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Nininha retira o 'Problemática' do nome em nova fase da carreira e celebra crescimento profissional: "Ocupar novos espaços"

Por Bianca Andrade

Foto: Eve Carvalho

O problema ficou apenas para a matemática. Quando se trata de música, o intuito de Nininha, drag queen criada pelo multiartista Digo Santtos, é ser solução, ou ao menos um alento para o público que curte a sua música. 

 

Após mais de sete anos sendo conhecida como 'Nininha Problemática', a drag queen baiana resolveu uma equação básica para seguir em frente na nova fase da carreira, subtraiu o problema da questão e somou toda experiência conquistada ao longo dos anos para se tornar um vetor de boa música e novos artistas.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Nininha falou sobre a retirada do 'Problemática' do nome artístico, e afirmou que acredita que a mudança será um divisor de águas e também responsável por abrir portas em meio a um mercado complicado, até para quem já está dentro dele.

 

"Eu tenho aproximadamente um pouco mais de sete anos de carreira usando esse nome que me trouxe muitas bênçãos, mas eu tô buscando novas oportunidades e ocupar novos espaços e acredito que por um certo preconceito do mercado, o 'problema' estava me afastando de acessar novos lugares. Então, para que a gente pudesse alcançar novos objetivos, a gente precisava encerrar alguns ciclos. Estou muito feliz com essa decisão, foi pensada já há muito tempo e que também já estava acontecendo naturalmente."

 

 

A nova fase a qual Nininha também envolve o projeto 'Na Muvuca', que irá estrear na Rádio Educadora em agosto deste ano. O programa, que surge como um manifesto cultural aberto à diversidade de ritmos, estilos, estéticas e sexualidades, também conta com uma festa, que teve a primeira edição na sexta-feira, no Bahia Sunset Bar, no Largo dos Aflitos.

 

Questionada pelo site sobre a sensação de ter se tornado uma artista com possibilidade de dar voz a outros nomes da música local, Nininha falou sobre a criação do projeto e a satisfação de conseguir colocar na rua algo com um impacto cultural tão grande como o 'Na Muvuca'.

 

"Quando eu surgi sempre foi muito difícil acessar esses espaços de ter música tocada nas rádios, de ter alguém para me ouvir verdadeiramente quando fala assim de mercado, logicamente. E por já ter vindo desse lugar eu acredito que tendo essa oportunidade de dar visibilidade para outras pessoas é uma continuidade de tudo o que eu sonhei um dia, sabe? Entender, olhar para o meu passado com muito respeito e tentar não fazer igual ao que fizeram comigo, de me fecharem as portas. Eu estou aqui para dar oportunidade para as pessoas e acredito que tem espaço para todo mundo. É por isso que eu ainda luto", afirmou.

 

Foto: Eve Carvalho

 

A luta, para Nininha, vem em diversos aspectos. Por ser uma artista drag, na sigla LGBTQIAPN+, negra e cantar um ritmo que mesmo com o sucesso local e nacional, continua sob o olhar da marginalidade, o pagodão. Ao site, a artista fala sobre um sonho coletivo, o reconhecimento da música popular baiana, do som que toca em todos os cantos e movimenta a economia, mas não tem a aclamação nacional.

 

"Eu, por coincidência, estava me questionando, pensando comigo mesma recentemente se um dia haverá alguém que vai ganhar um Grammy Latino, um Prêmio Multishow para o pagodão, o pagodão raiz, que é um ritmo que movimenta a cultura baiana durante todo o ano, em festas oficiais da Prefeitura e do Governo, no Carnaval, em festas particulares, em festas menores, nas comunidades também, para além do paredão que pavimenta a cultura regional."

 

Os números em streamings, por exemplo, não conseguem refletir o impacto do pagodão na Bahia. Para se ter uma ideia, dos cinco artistas mais ouvidos do estado no Spotify, o único que se aproximou do pagodão tocado nas comunidades foi a faixa 'Zona de Perigo', de Léo Santana. O mesmo se reflete com espaço na mídia tradicional, quando se tem apenas os nomes consolidados em tela.

 

"As pessoas torcendo o bico ou não, querendo aceitar ou não, isso não tá sobre avaliação, isso é um fato, mas ainda é algo muito difícil de se acessar, como também foi para o funk um dia. Hoje a gente vê poucos nomes sendo projetados, apesar do pagodão estar sempre em alta, sempre sendo trend nas redes sociais, se você desce o TikTok você vê muitos vídeos da galera fazendo os passinhos do naipe de baiano, mas você não vê os artistas sendo protagonistas dessas histórias né", afirma Nininha.

 

 

A artista celebrou o crescimento de alguns nomes do pagodão, a exemplo de Danrlei Orrico, O Kannalha, após o feat. com Pabllo Vittar, mas frisa que é necessário olhar para outros talentos do gênero.

 

"A gente tenta acessar esses lugares e fazer aliança com as pessoas que possam nos colocar lá em cima, eu tenho o privilégio de ser uma pessoa conhecida, mas ainda assim estou nesse lugar da marginalidade, da dificuldade de acessar alguns espaços por conta da forma que eu me comunico, para quem eu me comunico, da forma que eu me visto e não tem como não racializar isso também, eu sou uma bicha preta, eu sou um drag queen preta e que leva um discurso de periferia para os palcos. Isso causa uma certa estranheza, mas eu seguirei na luta e se não for comigo essa mudança, que seja com as próximas, mas que pelo menos eu tenha aberto um pouco desse caminho para que as outras venham e não passem por tanta dificuldade que eu passei."

 

Foto: Eve Carvalho

 

Apesar de ter um status diferente de quando começou a carreira, estar um pouco mais estabilizada em comparação aos novos nomes, não exime Nininha de "problemas". A luta, além da busca pelo reconhecimento do gênero, vem também na busca de investimento para se manter viva com a arte.

 

"Não dá para concorrer com um artista que estão injetando muita grana, gravando clipes milionários. Hoje eu consegui parceiros incríveis que tem me apoiado, me ajudado nesses projetos, mas ainda assim é muito difícil conseguir uma grande, é muito difícil conseguir marcas, e como eu tinha falado, o nome também estava me dificultando ter esse tipo de acesso", conta.

 

Para a artista, a valorização da arte com a remuneração devida é o que fará a diferença para os novos artistas e irá movimentar a cena para além da alta temporada.

 

 

"A grana ainda é um grande empecilho, porque a gente sabe que com isso a gente acessa vários espaços, consegue uma estrutura melhor, uma equipe maior. E pagando os valores que precisam ser pagos, não sucateando a cultura, não sucateando a música. E Salvador ainda, infelizmente, vive sucateando seus artistas e jogando eles para as margens, pagando milhões para artistas que viram as costas para a gente assim que o verão acaba."

 

Mesmo com as dificuldades, Nininha celebra as mudanças na carreira e na vida pessoal e vislumbra um futuro promissor não só para si própria, mas também para a nova geração, que tem a artista como uma inspiração.

 

"Eu me sinto honrado e muito feliz e tento ter uma conduta pública muito exemplar para que as pessoas se inspirem em mim de uma forma exemplar também. Que a próxima geração olhe para mim com muito carinho e muito respeito e se identifique com a minha história, minha luta, que conseguiu alçar voos altos de onde saí. E seguirei, enquanto houver vida em mim, irei respirar arte e enquanto eu respirar arte vou lutar por lugares melhores para pessoas ocultas viverem."