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E vai rolar a festa? Empresários pontuam dificuldades para realização de eventos em Salvador e alta nos ingressos

Por Bianca Andrade

Foto: Mateus Ross

Todo dia é festa na Bahia? A frase, que é uma afirmação de George Antonio Miguez Dias e João Carlos Cirgueira Guimarães na música 'Beijo na Boca', de 1996, interpretada pelo cantor Netinho, se tornou uma dúvida para quem vive no estado, mais especificamente em Salvador, de 2022 para cá.

 

Para quem curte e para quem faz festa, é nítido o impacto da pandemia da Covid-19 no setor de eventos. O mercado, um dos mais afetados pelo isolamento social, se recupera do baque e enfrenta outros grandes dilemas na capital, entre eles o alto custo dos fornecedores, a falta de espaços e o comportamento do público diante dos eventos.

 

As queixas do público a respeito dos valores dos ingressos, por exemplo, se tornaram frequentes nas redes sociais e é notada por empresários, que justificam a alta devido ao custo elevado para a produção de eventos de qualidade.

 

Foto: Acervo Pessoal

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, o empresário Marcelo Brito, da Salvador Produções, responsável por grandes eventos na capital baiana e pela gestão da carreira do cantor Léo Santana, avalia que a dificuldade de fazer eventos não é algo restrito à capital baiana.

 

"O que está acontecendo é algo no Brasil inteiro, não é só em Salvador. Houve uma queda na venda de ingressos de eventos privados, muito ofertado pelo que está sendo exposto ao público, que é São João imenso, Réveillon, várias cidades perto da Região Metropolitana e no interior da Bahia realizando grandes shows, falo isso porque nossos artistas tocam em várias cidades. Léo tem uma média de shows de mais de 20 shows no mês e em sua grande maioria da prefeitura."

 

Para Brito, além da grande oferta de eventos gratuitos fazer com que o público opte por não investir em uma festa privada, é necessário considerar o poder aquisitivo do público. "Acho também que o mercado financeiro não está bom, as pessoas estão passando por dificuldades de grana", afirmou.

 

A questão foi pontuada por outro empresário, que preferiu não se identificar, ao Bahia Notícias no final de julho. Na ocasião, o produtor de eventos falou sobre o fato da capital não ter tido datas extras do show de Caetano & Bethânia e explanou o poder de consumo na cidade. "O poder de consumo é muito baixo aqui, o ingresso não pode ser caro. O ticket médio é alto. O show de Caetano e Bethânia demorou de esgotar aqui, no Rio tem 4 datas, em São Paulo tem 3, Recife tem duas datas", disse.

 

Foto: YouTube

 

A dificuldade também existe para produtores que realizam eventos de menores portes, como o empresário Rodrigo Melo, da Pequena Notável. Ao Bahia Notícias, o produtor conta que mesmo obtendo sucesso com as festas que tem realizado em Salvador, foi necessário uma readequação ao mercado e um estudo melhor dos nichos que a empresa atende.

 

"A Pequena Notável trabalha com nicho de público, então a gente adequa as nossas atrações a esse público. Temos um público maduro de 35 a 65 anos, que é um público que curte Jau, Luiz Caldas, nosso Réveillon é com Luiz Caldas. Os locais também são nichados, como a Chácara Baluarte, como o MAM, então eu já direciono o público que eu trabalho. Temos uma parceria com o grupo San e atendemos o Babado Novo, que participa de eventos para o público LGBTQIAPN+, conseguimos definir bem quem queremos atingir com nossos eventos."

 

Para Melo, a queixa do público em relação aos valores do ingresso é justa e natural. "Todos reclamam de preço, é natural, independente de nicho. Assim como reclamam do preço do feijão, da carne, é normal. Porém, o que acontece no período pós-pandemia é um sinalizador muito grande, os valores dos fornecedores e os valores das atrações aumentaram muito e a gente não está conseguindo fechar a conta”.

 

No entanto, o empresário afirma que apesar da alta nos custos para a realização de eventos, a Pequena Notável buscou não aumentar o valor do ticket para manter o público, o que acaba sendo um desafio para a produtora.

 

“Eu pratico os mesmos preços de anos atrás, com preços de fornecedores aumentados. É uma das questões que está inviabilizando os eventos. Hoje você faz um evento e usa a bilheteria para pagar a conta e às vezes você tem o valor do bar ou do patrocinador para ajudar na receita. Se eu fizer um evento onde não tenha esse valor do bar ou do patrocínio, é 99% de chance de dar prejuízo. Eu acho justa a reclamação, porém, para o lado do empresário a gente também reclama do valor das coisas. Então acaba que você estica a corda de um lado, o público de outro, os fornecedores do outro e fica a festa do estica e puxa e você não consegue viabilizar o evento."

 

Foto: Lucas Leawry

 

A situação também é notada por artistas, como Léo Santana e Anitta, que já deram declarações sobre a dificuldade de vender ingressos para shows no país. "Eu falo, mais uma vez, por mim principalmente. Eu ando na estrada a vida toda, o tempo todo, por semana a gente faz sete, oito shows e o mercado não tá fácil. Isso é um fato. Independente das minhas amigas, Lud, Ivete, que tiveram as turnês canceladas, não sei por qual motivo, mas eu falo por mim. Assim, está muito difícil se fazer evento hoje”, disse Léo Santana no início de agosto.

 

Uma outra grande queixa do público quanto aos eventos que são realizados em Salvador é a falta de novos espaços para festas. Para se ter uma ideia, em shows de grande porte a capital baiana conta com três espaços: Parque de Exposições, WET e Arena Fonte Nova.

 

Nos eventos de pequeno e médio porte, Melo pontua a criatividade dos produtores para encontrar espaços em Salvador que abriguem o público. "A questão de espaço sempre foi um dificultador aqui em Salvador. É uma grande dificuldade que temos aqui, local de eventos que contemple o conforto, a segurança, a capacidade de público. É um grande dificultador e a gente tem que usar muito a criatividade para explorar a cidade ou esperar que alguém empreenda nesse negócio e em novos lugares."

 

O tópico foi pauta no Bahia Notícias em março deste ano, quando o produtor Matheus de Morais, organizador do Samba de Quinta, citou a ainda a falta de patrocínio e a mobilidade na capital baiana como pontos dificultadores para movimentar Salvador para além do Carnaval, com eventos para todos os públicos e bolsos. 

 

"Para eventos de grande porte nós temos o Parque de Exposições, que é um espaço de agropecuária, e o WET, um antigo parque aquático. Isso sem contar a Fonte Nova. Quando se passa para espaços menores, nós temos lugares se adaptando aos eventos, mas não temos lugares que sejam próprios para isso. Aí existe a possibilidade de fazer uma festa no Subúrbio. Como eu trago esse público para cá? Na conta, além do valor do ingresso, tem o valor do transporte e isso pesa no bolso. Quem tem mais de R$ 200 para gastar em uma noite?", questionou.

 

Alguns dos espaços aptos para receber eventos de grande, médio e pequeno porte na capital baiana são:

  • Arena Fonte Nova
  • Parque de Exposições
  • WET
  • Arena Daniela Mercury
  • Centro de Convenções
  • Casarão Salvador Hall
  • Trapiche Barnabé
  • Porto Salvador
  • Chácara Baluarte
  • Pupileira
  • Parque Tecnológico
  • Arena Santiago
  • Mali
  • Clube Espanhol
  • Casa Pia
  • Patio da Igreja Santo Antonio Além do Carmo
  • Club Fantoches Da Euterpe
  • Casa Rosa
  • MAM
  • Concha Acústica
  • Largo do Pelourinho
  • Praça Tereza Batista 
  • Praça Quincas Berro D’Água
  • Largo Pedro Arcanjo
  • Praça das Artes
  • Largo da Tieta

 

O CENÁRIO É DEFINITIVO?
Para Brito, o cenário atual do mercado de eventos não é definitivo. "A gente acredita que é momentâneo. Porque evento privado é evento privado, você tem uma maior segurança, um conceito melhor de banheiro, de bar, que no público você não tem. Acho que isso faz parte, vem as eleições aí que é um momento conturbado, mas com certeza a partir de 2025 a gente volta com tudo", afirma o empresário.

 

Uma das saídas tem sido investir na reformulação de grandes eventos, como o Salvador Fest, além de projetos diferentes e especiais, como o Paggodin, lançado por Léo Santana e que acontecerá no Centro de Convenções de Salvador.

 

"É o modelo moderno que caracteriza melhor e personaliza mais o artista, ele consegue fazer mais tempo de show, consegue mostrar mais um outro lado dele. Já vem de vários artistas, de Safadão, Henrique e Juliano, Gusttavo Lima, Luan Santana e a gente não poderia ficar de fora. Chegou o momento de trazer novidades, novos elementos, novos conceitos, novos conteúdos, e a Salvador Produções, uma empresa que está conectada com o mercado e o público, consegue entregar isso".

 

A opinião é compartilhada com Rodrigo Melo, que acredita na volta por cima do mercado e na reinvenção no modo de fazer festa. "Todo mercado é cíclico e a gente tem que se reinventar. É o que a gente sabe fazer e o mercado precisa girar. Já começamos a nos reinventar, a própria pandemia fez com que a nossa empresa se reinventasse com projetos como a Vila Baluarte e o Solar Baía. E agora a gente está se reinventando também, existem muitas saídas para isso".