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Flica: 'Eu não acho que meu pai via o mundo pelo buraco da fechadura', diz filha de Nelson Rodrigues

Foto: Marília Moreira/ Bahia Notícias
Terceira mesa da tarde deste sábado (20) da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), “Nelson Rodrigues e a Sensualidade Canalha” reuniu a escritora e jornalista Sonia Rodrigues, filha do dramaturgo; Adriana Facina, professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e o editor Rosel Soares. Mediando a mesa, Rosel Soares começou a conversa com o questionamento “Quem tem medo de Nelson Rodrigues?”. Primeira a responder, Adriana foi categórica. “Quem tem segredos a revelar tem medo de Nelson Rodrigues”, afirmou.  Para Sonia, quem mais sofria era o seu próprio pai. “Quem mais tinha medo de Nelson Rodrigues era ele próprio. Ver as pessoas é uma coisa assustadora. Quanto mais eu vejo as pessoas, mais eu sinto medo”, disse. E discordou de uma clássica frase, atribuída a Clarice Lispector, de que Nelson Rodrigues via o mundo através do buraco da fechadura. “Eu não acho que Nelson via o mundo pelo buraco da fechadura não, eu discordo da Clarice Lispector. Acho que meu pai via por um buraco gigante”.
 
A novela “Avenida Brasil”, que terminou nesta sexta (19), foi citada em diversos momentos da conversa. “Tem muito de Nelson Rodrigues na novela. A diferença é que Nelson Rodrigues fez ‘Avenida Brasil’ há 60 anos”, disse Sonia, que também selecionou a cena mais rodriguiana da novela. “Uma das melhores cenas de ‘Avenida Brasil’ é quando Carminha diz a Monalisa ‘você nunca amou o Tufão!’”. 
 
Feitas para o teatro, as obras de Nelson Rodrigues figuraram diversas vezes na televisão e nos cinemas. “Eu acho que ‘A vida como ela é’ para televisão não forçou as pessoas a lerem Nelson Rodrigues. É uma boa adaptação, mas é muito Daniel Filho. Acho que a televisão pesa a mão para a sexualidade. Em Nelson Rodrigues, a sensualidade é uma coisa mais implícita. Não sei se TV precisa desse apelo, mas acho que o Daniel Filho precisa”, alfinetou Sonia.
 
Na conversa, Sonia Rodrigues falou ainda sobre o que move sua literatura e sua pesquisa sbre o pai. “O que rende boa literatura não é o rancor, mas a vingança. Quando eu conto essas histórias do meu pai eu estou me vingando não de meu pai, mas de todas as circunstâncias pelas quais ele passou e contou. A literatura é um ato de vingança boa”, afirmou.
 
Questionadas sobre se o “anjo pornográfico” mereceria que seu time de coração, o Fluminense, se torne campeão brasileiro em 2013, Adriana respondeu: “Apesar de eu ser flamenguista, seria uma homenagem válida. Nada mais justo que os deuses do futebol homenageiem Nelson Rodrigues com a vitória do Fluminense em 2013”, desejou. Caso estivesse vivo, Nelson Rodrigues completaria cem anos em 2012.

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